Um debate pela internet

O IPPP participou do Curso I, Metodologias em Parapsicologia, criado e coordenado pelos parapsicólogos Nancy L. Zingrone (EUA) e Carlos S. Alvarado (Porto Rico) e promovido pela Associação Iberoamericana de Parapsicologia, através da Internet, no período de 30 de março a 12 de julho de 1998. Foi criada uma Website para a publicação e discussão dos trabalhos a fim de que os participantes do Curso pudessem fazer seus comentários sobre os mesmos.

O Curso foi dividido em oito módulos ou classes e, além dos dois coordenadores, contou com treze líderes: Alejandro Parra (Buenos Aires, Argentina); Vera Lúcia Barrionuevo O’Reilly Cabral e Tarcísio Roberto Pallú (Curitiba, Brasil); Valter da Rosa Borges e Jalmir Brelaz de Castro (Recife, Brasil); Fátima Regina Machado e Wellington Zangari (São Paulo, Brasil); Brenio Onetto-Bächler (Santiago do Chile); José Raúl Naranjo Muradas (Santiago de Cuba); Moisés Asís (Miami, Florida, Estados Unidos); Eugenio Ledezma R. e Ramón Monroig Grimau (Querétaro, México); e Maria Luísa Albuquerque ( Portugal).

Além dos líderes, cada grupo foi constituído de outros participantes. Somando coordenadores, líderes e participantes, o Curso contou com a participação de 98 parapsicólogos.

 

Foi criada uma Website para a publicação e discussão dos trabalhos a fim de que os participantes do Curso pudessem fazer seus comentários sobre os mesmos.

 

O debate, que se desenvolveu durante várias semanas, teve um inequívoco valor histórico, porque define claramente posições antagônicas em relação ao futuro da Parapsicologia, principalmente na Iberoamérica. Por outro lado, enseja desdobramentos temáticos e reflexões proveitosas sobre as atividades desenvolvidas por parapsicólogos que adotam comportamentos diferenciados no trato da fenomenologia paranormal.

O IPPP, desde a sua fundação, vem adotando uma atitude firme e definida em relação ao desenvolvimento da Parapsicologia, por acreditar que se trata de uma ciência cujo futuro é promissor. Por maiores que sejam as dificuldades do presente, ainda que o seu progresso seja lento, mesmo que continue sendo combatida ferozmente pelo fanatismo dos céticos, a Parapsicologia vem, progressivamente, ganhando respeitabilidade entre cientistas de outras áreas. Trabalhar em Parapsicologia é, acima de tudo, um trabalho para idealistas, dotados de um espírito forte, corajoso, obstinado e criativo. Não é uma atividade para diletantes e tímidos, ou, ainda, para aqueles que apenas acreditam em vitórias fáceis e recompensas imediatas. Toda ciência é uma construção permanente, um contínuo revisar de hipóteses e experimentos, uma coletânea de sacrifícios e satisfações, de conquistas e de fracassos, mas, principalmente, a aquisição da experiência e da competência para lidar com os caprichos da sempre esquiva realidade.

EM DEFESA DA PARAPSICOLOGIA

O debate se iniciou quando Wellington Zangari e Fátima Regina Machado, no seu trabalho intitulado “Incidência e Relevância Social da Experiência Parapsicológica entre Estudantes Universitários Brasileiros”, inserido na Classe 4, afirmaram que as experiências parapsicológicas deveriam ser “objeto legítimo de estudo da psicologia, uma vez que elas são relevantes para as pessoas que as vivenciam.”

O grupo do I.P.P.P. discordou do posicionamento daqueles parapsicólogos, entendendo que era atentatório aos interesses da Parapsicologia como ciência autônoma.

 

Valter da Rosa Borges & Ronaldo Dantas Lins Filgueira:

 

Discordamos do posicionamento do Dr. Wellington Zangari e da Dra. Fátima Regina Machado que, à página 2 do trabalho “Incidência e Relevância Social da Experiência Parapsicológica entre Estudantes Universitários Brasileiros”, afirmaram:

“Assumimos que, independentemente da paranormalidade ou não das “experiências parapsicológicas”, deveríamos tomá-las como objeto legítimo de estudo da psicologia, uma vez que elas são relevantes para as pessoas que as vivenciam.”

Não entendemos porque experiências parapsicológicas devem ser “objeto legítimo de estudo da psicologia”. Isso seria atentar contra o objeto da Parapsicologia que é o fenômeno paranormal ou psi. O argumento de que essas experiências “são relevantes para as pessoas que as vivenciaram” não justifica a transferência dessas experiências para a área da Psicologia. Ora, parece-nos meridianamente claro que essas experiências são sempre relevantes para as pessoas que passam por elas. Por outro lado, fica a incômoda impressão de que somente as experiências parapsicológicas irrelevantes constituem objeto da Parapsicologia.

Nós, que fazemos o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas –I.P.P.P. – sempre fomos contrários às tentativas de reducionismo da Parapsicologia a qualquer outra ciência. Afinal, somos ou não somos parapsicólogos? Se somos, temos de lutar pela sua autonomia no universo científico, evitando a sua psicologização, biologização ou fisicalização. E, se ainda questionamos a realidade do fenômeno paranormal, por que nos intitulamos de parapsicólogos?

Entendemos, ainda, que, pela sua interdisciplinaridade, a Parapsicologia se enriquece com os subsídios de outras ciências.

Conforme o trabalho do Prof. Valter da Rosa Borges e do Dr. Ivo Cyro Caruso, intitulado “Um Modelo para a Parapsicologia” e apresentado no III Simpósio Pernambucano de Parapsicologia, realizado na Universidade Católica de Pernambuco, em outubro de 1985, definiu-se a Parapsicologia como a ciência que tem por objeto o fenômeno paranormal.

Por sua vez, o Prof. Valter da Rosa Borges, no trabalho “A Demarcação da Parapsicologia”, apresentado no IV Congresso Brasileiro de Parapsicologia e Psicotrônica, realizado em Brasília, em junho de 1985, estabeleceu distinções entre as ciências psíquicas, argumentando que, enquanto a Psicologia estuda os fenômenos comuns da mente humana e a Psiquiatria, os fenômenos patológicos da mente humana, a Parapsicologia investiga os fenômenos incomuns da mente humana.

É essa a razão pela qual defendemos, intransigentemente, a Parapsicologia como uma ciência autônoma e com seu universo objetal claramente definido.

 

Carlos Alvarado:

 

El grupo de Recife se opone a la idea que las experiencias parapsicológicas sean parte del estudio legítimo de la psicología, pues ellos ven a la parapsicología como un campo aparte. Dicen que la psicología estudia los fenómenos comúnes en la mente humana, la psiquiatría los fenómenos patológicos y la parapsicología los fenómenos poco usuales. Sin embargo muchos de los fenómenos de la parapsicología no son poco usuales, todo lo opuesto.

 

Ciertamente hay muchas perspectivas para colocar a nuestros fenómenos en relación a otros campos. Nuestra visión, y lo que practicamos en la investigación, es que los fenómenos bajo estudio son fenómenos psicológicos porque están relacionados com el comportamiento humano, con las diferentes variables psicológicas tales como variables de personalidad, y algunos representan posibles formas de percibir el medio ambiente, parte del estudio de la percepción. Es posible que existan aspectos que diferencien a los fenómenos de la parapsicología con los de la psicología, pero nuestos conocimientos no son suficientes para proponer un órden diferente de fenómenos. Ideas de transcendencia e espiritualidad como las propuestas por J.B. Rhine, González Quevedo, y tantas otras personas, no pasan de ser suposiciones, a pesar de haber algunos resultados interesantes y sugestivos.

 

La realidad es que la parapsicología existe porque la psicología y otros campos no quieren prestar atención a los fenómenos.

Existe por necesidad porque nadie más quiere estudiar el tema. Pero hay que notar que el énfasis en el campo es el estudio de los fenómenos siguiendo a la psicología. En realidad no hay mucha diferencia entre la forma general de estudiar a la PES en la parapsicología moderna y la forma en que otras variables se estudian en la psicología. Los controles son diferentes, pero el propósito de la investigacion es el mismo, entender al fenómeno en base a relaciones con el mundo natural. Lo que tenemos ahora es ignorancia de los procesos explicativos de los fenómenos, pero no debemos confundir a esa ignorancia con la idea de que tenemos conocimiento de que los fenómenos son diferentes a los fenómenos de la psicología.

 

El peligro de separar a la parapsicología de otros campos de la ciencia es que estamos creando barreras que refuerzan la idea popular de que la parapsicología estudia lo sobrenatural o lo que no se puede entender. Esto es uin factor que contribuye a mantener a la parapsicología fuera de la ciencia en general. Esto no nos ayuda a entender a nuestros fenómenos. De hecho hace lo opuesto. Co-mo parapsicólogas/os no debemos sentir temor a integrarnos a las otras ciencias. Nuestra responsabilidad es hacer lo posible por entender a los fenómenos. Si esto nos lleva a integrarnos a la psicología, bien, si no, entonces desarrollaremos algo diferente. Pero la forma en que la parapsicología está desarrollada en nuestros países deja mucho que desear desde el punto de vista de la ciencia moderna. No hay ninguna virtud específica en la separación, pues esto no nos ayuda en nada a entender mejor a nuestros fenómenos.

 

Valter da Rosa Borges:

 

Infelizmente a nossa posição não foi bem compreendida.

 

Em momento algum afirmamos que a Parapsicologia deva separar-se de outros campos da ciência. Na verdade, seria uma insensatez de nossa parte, visto que a Parapsicologia é uma ciência de extensa interdisciplinaridade.

 

O que sempre defendemos é a autonomia da Parapsicologia, com o seu campo específico de investigação e seu perfil epistemológico determinado. Autonomia não quer dizer separação, mas identidade própria em relação às demais ciências.

 

Sempre afirmamos que a Parapsicologia tem muito a lucrar nas suas relações interdisciplinares com outros campos do conhecimento humano, pois tais subsídios poderão ajudar e muito os parapsicólogos a compreender melhor a natureza da fenomenologia paranormal. O que não concordamos é com a tentativa de se transferir para outra ciência o estudo e a investigação de fenômenos que pertencem ao domínio da Parapsicologia. Isto, sim, é uma atitude prejudicial ao desenvolvimento científico da Parapsicologia, pois importa na própria fragmentação do seu objeto.

 

Não se pode negar que fenômenos psicológicos estão envolvidos na experiência psi, mas isto não autoriza a transferência destes fenômenos para o campo da Psicologia. Também a experiência psi apresenta alterações fisiológicas, o que não autoriza a transferência dos fenômenos paranormais para o campo da Medicina.

 

O mesmo se diga dos fenômenos de psi-kapa que produzem alterações no universo físico. Deveria, por isso, a Física reclamar que estes fenômenos pertencem ao seu domínio?

 

Os fenômenos sociais também resultam da experiência humana e, por conseguinte, do comportamento humano. Ora, não será, por isso, que a Psicologia deva reivindicá-los como objeto legítimo de seus estudos, em detrimento da Sociologia e da Antropologia.

 

Já se criou uma Psicologia Paranormal. Poderíamos, em contra partida, criar uma Parapsicologia da normalidade.

 

Voltamos, novamente, a afirmar que autonomia não é isolacionismo, mas identidade epistemológica, a qual se enriquece com as contribuições de outras áreas científicas.

 

A declaração de que Parapsicologia existe porque a Psicologia e outras ciências não querem prestar atenção a estes fenômenos me parece desarrazoada. Teríamos de reconhecer, se admitíssemos esta declaração, que a Parapsicologia é uma ciência provisória e ameaçada de extinção, pois no dia em que a Psicologia ou outra qualquer ciência se interessar pelos fenômenos psi, ela se verá irremediavelmente privada de seu objeto ou absorvida pela ciência que se apossou de sua fenomenologia. É isto que nós queremos? Nós, do I.P.P.P., achamos que não e por isto sempre batalharemos pela autonomia da Parapsicologia. Ademais, uma ciência se constitui numa área cognitiva que não foi ocupada por qualquer outra ciência.

 

Queremos lembrar, finalmente, que o I.P.P.P., fundado em 1973, foi a primeira instituição no Brasil a tratar a Parapsicologia como ciência, contrariando a postura religiosa de espíritas e padres parapsicólogos.

 

Cremos ter esclarecido devidamente a questão, mas estamos à disposição para novos esclarecimentos sobre o assunto.

 

Carlos Alvarado, incluindo a polêmica iniciada no Website, no dia 10 de junho, numa seção especial, intitulada “Parapsicologia & Psicologia”, alegou que a discussão seria melhor por este meio do que por intermédio do correio eletrônico.

 

No hay problemas e tener opiniones diferentes pero espero que en el futuro las discusiones se coloquen en el website para acceso de todas/os. Es mejor hacerlo así y no enviando correo electrónico a todas las personas.

 

Los puntos de Borges clarifican su posición un poco. Aun así yo no estoy de acuerdo con su perspectiva de la parapsicología.

Yo considero que nuestros fenómenos (o algunos) son psicológicos y no solo parapsicológicos. Existen independientemente de otros campos por no tener explicación y porque las personas en otros campos no están dispuestas a estudiar lo que ellos/as vem como superstición. Cuando yo estudio experiencias fuera del cuerpo usando cuestionarios y analizando mis datos de forma estadística yo considero que estoy haciendo psicología, pero otros insisten en que es parapsicologia. Podrían aceptarse las dos perspectivas. Las barreras son artificiales, pero no creo que se pueda decir que los fenómenos son propios de la parapsicología por razones intrínsecas porque todavía no tenemos los suficientes conocimientos para decidir esto.

 

Yo creo que la parapsicologia está destinada a desaparecer como disciplina cuando sus fenómenos se integren en otras ramas del saber. Lo que tenemos es un hecho social, la necesidad de un campo debido a que la materia es ignorada. No veo problema con que otras disciplinas manejen lo que la parapsicologia estudia. Lo que es cierto es que esta integración no ocurrirá pronto, lo cual ayudará a la parapsicología a mantenerse como disciplina separada.

 

La identidad de la parapsicología como un campo separado es necesaria a nivel social para mantener recursos de investigación y una comunidad que fomente los estudios. Pero hay que recordar que aparte de esto no hay gran ventaja en mantener autonomía. Lo importante no es el campo de la parapsicología, lo que es importante es nuestro entendimiento de los fenómenos. Si perdemos esta perspectiva nos estamos olvidando del propósito de hacer parapsicología, el cual es el entendimiento de los fenómenos a través de la investigación. Lo importante es avanzar este entendimiento, aún a costa de la identidad de la parapsicología como campo. La historia del campo y su literatura no desaparecerá. Pero ganaremos mucho más en lo que realmente cuenta.

 

Lo ideal seria que en un futuro (lamentablemente lejano) uno pudiera estudiar psicología a nivel graduado y especializarse en el estudio de fenómenos parapsicológicos de la misma manera que algunas personas se especializan es estudios de traumas, percepción, disociacion, desarrollo, y tantas otras áreas. Si pretendemos mantener a la parapsicologia separada de otros campos por el solo hecho de que creemos que es algo autónomo estaríamos condenando al campo a la falta de desarrollo que tiene en Iberoamérica.

 

Una de las consecuencias de mantener a la parapsicología autónoma, algo común en América Latina, es que esta actitud atrae a la parapsicología muchas personas que no están entrenadas en el método científico. Estas personas adquieren la identidad de “parapsicólogos/as” perpetuando así la separación de otras áreas de la ciencia. Como consecuencia tenemos poca investigación y nos alejamos mucho más de la ciencia en general. Pero lo que debemos hacer es lo opuesto, un intento de integrarnos a la ciencia. La insistencia en autonomía no es provechosa porque fomenta esa separacion y afecta de forma negativa el propósito principal de nuestros estudios, el entendimiento de los fenómenos.

 

En cierta forma me parece que este diálogo es interesante y provechoso para comenzar a redefinir el desarrollo futuro de la parapsicología en nuestros países. Quizás se deba organizar un debate en una de las revistas invitando a otras personas a compartir sus puntos de vista. Por ahora yo qui-siera que enfatizáramos la discusión de las lecturas del curso, aunque si alguien quiere comentar al respecto podríamos colocar comentarios cortos en el website. No se envíen mensajes entre sí, esto trería desórden. Aún si los comentarios sobre esto continúan les pido por favor que no perdámos el énfasis en la materia del curso, a pesar de lo interesante del tema.

 

Valter da Rosa Borges:

 

Deve, por certo, existir um sério bloqueio idiomático, impedindo a compreensão de tudo o que dissemos, pois Alvarado afirma que apenas um pouco da nossa posição ficou esclarecido. E, talvez por causa disto, a resposta que nos foi dada, não enfrentou as questões levantadas.

Não há dúvidas de que as barreiras (nós diríamos, fronteiras) entre as ciências são artificiais, porém são didaticamente necessárias para definir o universo objetal de cada uma delas. Como podemos separar, se não artificialmente, as fronteiras da física, da química e da biologia, assim como os fenômenos sociais dos eventos psicológicos?

Ao afirmar que a Parapsicologia está destinada a desaparecer como disciplina, quando seus fenômenos se integrarem em outros ramos do saber, Alvarado está profetizando a inutilidade de todos os esforços para torná-la uma ciência. De que adiantaram, então, os esforços da Parapsychological Association para ser membro da Associação Norte-Americana para o Progresso da Ciência?  Se a Parapsicologia não é uma ciência ou se jamais o será, porque seu destino é ser absolvida por outra ciência, o que estamos fazendo nós, tresloucados Dom Quixotes a pelejar contra moinhos de vento? E qual o sentido de toda essa discussão a respeito de uma ciência natimorta? Por que toda essa canseira de realizar congressos de Parapsicologia, discutir metodologias científicas aplicadas à Parapsicologia, se ela não é uma ciência e jamais o será? Qual o sentido de existirem a Parapsychological Association e a própria Associação Iberoamericana de Parapsicologia? Por que se fundou, recentemente, no Brasil, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Parapsicologia? Como podemos, se admitirmos a posição de Alvarado, lutar pelo progresso de uma ciência inviável?

Discordamos, assim, veementemente do ponto de vista de Alvarado. Nós acreditamos na Parapsicologia e, por isto, além das nossas qualificações acadêmicas, muitos de nós nos intitulamos também de parapsicólogos. Tudo evidencia que a Parapsicologia está evoluindo como ciência e não se encontra com os seus dias contados como se fosse um doente terminal. Aliás, é constrangedor e paradoxal que pessoas que se dizem parapsicólogas não acreditem na Parapsicologia e, à semelhança de modernas Cassandras, façam augúrios pessimistas sobre o destino da ciência que dizem professar. Como se não bastassem os céticos de outras áreas científicas, agora temos os céticos parapsicólogos, aqueles negando os fenômenos paranormais e estes afirmando que a Parapsicologia não tem futuro.

            Lawrence LeShan (O Médium, o Místico e o Físico. Summus Editorial. São Paulo) enfatizou que “os padrões científicos no campo da parapsicologia são muito mais rigorosos do que em muitos outros ramos da ciência.” E, em seu favor, cita a observação de Gardner Murphy: “Se, em qualquer outro campo da ciência, houvesse um décimo das evidências que existem na parapsicologia, ela seria aceita sem o menor questionamento.”

Em nenhum momento, asseveramos que os fenômenos paranormais não possam servir de subsídios às outras ciências, se nós mesmos nos valemos também dos subsídios de outras áreas científicas para a melhor compreensão dos fenômenos paranormais. O que declaramos é que somos contrários à transferência destes fenômenos para o campo de outra ciência, no caso, a Psicologia.

Também discordamos de Alvarado quando ele declara que “a identidade da parapsicologia como um campo separado é necessária a nível social para manter recursos de investigação e uma comunidade que fomente os estudos”. Já afirmamos e voltamos, mais uma vez a afirmar, que em momento algum defendemos o isolacionismo da Parapsicologia, mas, sim, a sua autonomia e interdisciplinaridade. Se não fomos compreendidos da vez anterior, esperamos ser compreendidos desta vez. O que defendemos é que a Parapsicologia, como toda ciência, tenha o seu objeto devidamente identificado e seu território fenomenológico claramente delimitado. Se seguirmos o pensamento de Alvarado de que a identidade da parapsicologia visa apenas a obtenção de recursos de investigação e uma comunidade que fomente os estudos, estamos admitindo que ela não passa de uma farsa, ou, na melhor das hipóteses, de uma simples estratégia financeira para obtenção de recursos para investigação de fenômenos por uma comunidade transitória de parapsicólogos que não acredita na sua própria ciência.

A posição de Alvarado fica ainda mais clara contra os interesses da Parapsicologia como ciência autônoma, ao afirmar que “o ideal seria que num futuro (lamentavelmente distante) se pudesse estudar a psicologia a nível de graduação e se especializar no estudo de fenômenos parapsicológicos da mesma maneira que algumas pessoas se especializam em estudos de traumas, percepção, dissociação, desenvolvimento, e tantas outras áreas.” Na verdade, a nossa divergência com Alvarado é, por causa disto, irremediavelmente definitiva.

Finalmente, diz Alvarado que “uma das consequências de manter a parapsicologia autônoma, algo comum na América Latina, é que esta atitude atrai para a parapsicologia muitas pessoas que não estão treinadas no método científico” e que “estas pessoas adquirem a identidade de “parapsicólogos/as” perpetuando assim a separação de outras áreas da ciência.”

Não vislumbramos que uma das consequências de manter a Parapsicologia autônoma seja a de atrair para o seu campo pessoas que não estão treinadas no método científico. Teríamos, se isso fosse verdadeiro, de sacrificar a Parapsicologia como ciência, para evitar este hipotético risco? Não teríamos, ao contrário, de lutar pela implantação de Cursos de Graduação em Parapsicologia nas Universidades da América Latina, na criação de uma comunidade de parapsicólogos, em permanente intercâmbio de ideias, com a realização de congressos e fundação de sociedades científicas constituídas de parapsicólogos detentores de formação universitária em outras áreas acadêmicas? Ou será, conforme o velho ditado, que, a pretexto de jogar fora a água suja da banheira, estaremos também fazendo o mesmo com o bebê que nela se encontra?

Se intransigência houver em nosso ponto de vista será sempre a de zelar pela incolumidade da Parapsicologia como ciência autônoma, não separada das demais ciências, mas, pelo contrário, interagindo com elas, numa permanente atividade interdisciplinar. Confiamos no destino da Parapsicologia e o nosso vaticínio é de que ela será, em futuro não muito distante, uma ciência de vanguarda no estudo e na pesquisa da natureza humana.

 

Wellington Zangari:

 

Vejo o debate que se instalou entre posições diferentes muito interessantes. Felicito aos debatedores pelas posições claras.

Humildemente, passo a oferecer minhas posições em relação ao tema.

O fenômeno hipnótico foi objeto de estudo da Pesquisa Psíquica e da Metapsíquica. Por que deixou de ser? Da mesma forma eram o sonambulismo, os próprios sonhos, além dos fenômenos psi, tal como os conhecemos atualmente. Por que deixamos de estudá-los em Parapsicologia?

Longe de considerar que tais fenômenos tenham sido devidamente compreendidos, temos que admitir que sua natureza psicológica, ou melhor, psicofisiológica, tornou-se cada vez mais evidente. Além disso, são fenômenos cuja replicação é possível com facilidade, diferentemente dos fenômenos psi. Minha impressão é de que, à medida que tais fenômenos foram sendo estudados, ficou incontestável sua relação com aspectos psicológicos que estavam relacionados com seu funcionamento, para não dizer que eram causados por processos psicológicos (ou psicofisiológicos). A integração destes à Psicologia e à Medicina foi gradual e, ainda assim, é motivo de muitas controvérsias internas nestas áreas.

À medida que tais fenômenos foram incorporados por ciências já “estabelecidas”, os pesquisadores dedicados à pesquisa deles tiveram espaço acadêmico, científico e, principalmente, recursos financeiros para realizarem suas investigações. Tente,  um(a) pesquisados(a) brasileiro(a),  conseguir recursos públicos para estudar psi! Certamente não os obterá. De outro lado, se estivessem incorporados pela Psicologia, poderíamos ter mais condições de investigá-los.

Mas, aparte da questão de conveniência, está a questão da compreensão da natureza dos fenômenos psi. Pessoalmente, considero que são de natureza psicológica. Evidentemente, existem variáveis físicas, sociais, culturais, orgânicas… que interferem em seu funcionamento. Cabe a nós, com o auxílio de conhecimentos de outras áreas, compreender tais variáveis.

Mas, como outros fenômenos, como o fenômeno religioso, por exemplo, outras ciências poderão investigar psi desde sua própria perspectiva. Assim, um antropólogo tem muito a dizer sobre o fenômeno religioso, como o tem o sociólogo e o psicólogo.

Vocês sabem que eu sou oriundo de um programa de mestrado em Ciências da Religião. Existe lá uma grande discussão sobre se a religião é um fenômeno que merece uma ciência própria que o investigue ou se é melhor que somemos várias ciências para que ele seja conhecido de forma mais abrangente. A opção tem sido aquela que o próprio nome do programa expressa: Ciências da Religião; o conjunto de ciências que oferecem contribuições para um fenômeno complexo.

 

Penso que o mesmo deverá ocorrer com os fenômenos psi. Seu estudo será diluído por várias ciências sem que isso signifique diluir esforços, mas o oposto: significará que pessoas competentes em cada área possam contribuir para o entendimento de psi, ainda que a natureza dos fenômenos seja psicológica.

Considero a natureza dos fenômenos psicológica. Por que? Existem evidências de que são o fruto de processos psicológicos inconscientes. Algumas destas evidências são os efeitos internos que foram encontrados nos resultados dos testes clássicos realizados no Laboratório de Parapsicologia da Duke University. Parecem se alinhar àqueles obtidos em outras áreas de pesquisa psicológica. São evidências a dependência (ou pelo menos a correlação) entre crença em psi e performance psi estudadas por Schimeidler e outros. Da mesma forma como a correlação entre psi e certos traços de personalidade; características cognitivas e afetivas, tanto em pesquisas experimentais como em pesquisas de casos espontâneos. Assim, considero que já existem evidências para que os fenômenos que chamamos de psi sejam chamados de fenômenos psicológicos anômalos. Por que anômalos? Porque, apesar de reconhecermos sua natureza psicológica e algumas de suas variáveis, não temos uma teoria suficientemente abrangente que os abarque com outros fenômenos psicológicos melhor conhecidos. O problema, então, seria teórico.

Por que a Psicologia ainda não incorporou psi? Se fizermos uma rápida apreciação das publicações psicológicas que estão se abrindo para pesquisas psi, teremos uma constatação de que a questão é de tempo! Cada vez mais as revistas especializadas publicam estudos de psi. Mas, não podemos esquecer, como bem analisou James McClenon e outros, que a aceitação de uma nova área de pesquisa é muito mais ligada a fatores retóricos e políticos do que exclusivamente evidencial ou metodológico.

Mais do que nossas evidências, o que decide é o poder, ou o autoritarismo do stablishment científico.

Assim, minha posição se alinha mais para o lado dos argumentos expressados por Carlos Alvarado. Além das questões teóricas que acabo de esboçar, não podemos esquecer as questões práticas já discutidas. Qualquer um que, como eu, tente sobreviver a partir de pesquisas de psi dentro de universidades, sentirá que o fato de a Parapsicologia se constituir como ciência autônoma tem muito mais prejuízos que benefícios. Enquanto meus(minhas) colegas conseguem facilmente bolsas(becas) de investigação, passagens aéreas para participarem de congressos, recursos para montarem seus laboratórios, comprar equipamentos…, tenho que ter outra atividade profissional que me dê condições financeiras para continuar, no tempo que me resta do dia, a pesquisar psi.

Assim, de meu ponto de vista, não apenas existem razões baseadas em evidências empíricas e teóricas, como também existem razões práticas para que os fenômenos psi venham a ser incorporados pela Psicologia e por outras ciências. Louvo para que isso aconteça antes de minha morte e enquanto eu estiver ativo na área, apesar de estar consciente de que isso deverá ocorrer em futuro remoto.

Lutar pela autonomia da Parapsicologia seria, em primeiro lugar, um ato de sobreposição de áreas, já que toda e qualquer pesquisa que façamos de psi tem que estar baseada em conhecimentos prévios (teóricos e metodológicos) da Psicologia (e das Ciências Sociais, pelo menos). Considero que nossas pesquisas de psi são psicológicas. Qualquer pesquisador de uma área psicológica tem esta compreensão. Em segundo lugar, seria uma luta inglória, porque ter-se-ia que tentar se estabelecer uma ciência cujo objeto de estudo é psicológico! Então, por que ser autônoma? É claro que enquanto a Psicologia não se abre definitivamente para o estudo de psi, temos que organizar nossos esforços. A este esforço de pessoas de várias áreas é que chamo Parapsicologia, que, na minha opinião, está fadada a desaparecer com o tempo graças à incorporação de seu objeto de estudo à Psicologia e outras ciências. Isso significará perda? Pelo contrário, significará que o nosso esforço atual surtiu efeitos importantes a ponto de fazer nosso objeto de estudo chegar ao nível de aceitação da maioria dos cientistas. Afinal não estudamos Parapsicologia, estudamos psi. O mais importante é conhecer psi melhor e não fazer culto à Parapsicologia.

Espero ter deixado claras minhas posições e, assim, contribuir para o debate. Evidentemente considero este tema interessante, mas, o mais importante é que continuemos a estudar psi, querendo ou não que psi seja integrado à Psicologia ou que a Parapsicologia seja autônoma ou não. Nosso esforço já é grande o suficiente para que nos mantenhamos no campo e, por conseguinte, não necessitamos provocar um racha entre a meia dúzia de abnegados que somos.

 

Valter da Rosa Borges:

 

Em relação aos argumentos de Zangari e Fátima podemos aduzir as seguintes considerações.

Não somente os fenômenos psi, mas também os psicopatológicos são também de natureza psicológica. E por que não se cogita, então, de se transferir o estudo destes fenômenos para a Psicologia, retirando a autonomia da Psiquiatria? Será que a Psiquiatria é também uma superposição de área com a Psicologia, devendo, por isso, perder a sua identidade epistemológica? O que dirão os psiquiatras a respeito deste ponto de vista reducionista?

Sob o ponto de vista pragmático, poderíamos também indagar se os sociólogos, os matemáticos, entre outros, conseguem facilmente “bolsas(becas) de investigação, passagens aéreas para participarem de congressos, recursos para montarem seus laboratórios, comprar equipamentos” etc? Deveriam, por isso, desacreditarem de suas ciências em virtude dessas dificuldades?

Não entendemos o argumento: “não estudamos Parapsicologia, estudamos psi”. Não é o mesmo que se dizer, mutatis mutandi: não estudamos Psicologia, estudamos fenômenos psicológicos? Por outro lado, defender a autonomia da Parapsicologia não é fazer culto à Parapsicologia. Se admitirmos que a Parapsicologia deva, em futuro próximo ou longínquo, ser extinta e seu espólio repartido entre as diversas áreas científicas, não deveremos, a partir de agora, deixar de nos chamarmos de parapsicólogos?

A ação da mente sobre a matéria ou ação PK é também um fenômeno psicológico? Se não é, deveria ser estudado somente pela Física? Será que as telecinesias, os metafanismos, a dobragem de metais são decorrências de problemas psicológicos? Dispersar os fenômenos psi pelas diversas áreas científicas ajudar-nos-ia a compreendê-los melhor? E por que não unificar o seu estudo e a sua investigação numa só área científica, no caso, a Parapsicologia?

Não vemos por que nossas divergências possam provocar uma ameaça de racha entre os abnegados favoráveis e contrários à autonomia da Parapsicologia. Afinal, amigo de Platão, porém mais amigo da verdade. E a verdade, neste caso, consiste na fidelidade às nossas convicções.

 

Wellington Zangari:

 

Borges disse: “Em relação aos argumentos de Zangari e Fátima podemos aduzir as seguintes considerações. Não somente os fenômenos psi mas também os psicopatológicos são também de natureza psicológica. E por que não se cogita, então, de se transferir o estudo destes fenômenos para a Psicologia, retirando a autonomia da Psiquiatria?”

 

Por não ser psicólogo e por não ser psiquiatra o colega Borges não pode ser acusado de desconhecer áreas que não são de sua competência. Se fossem, jamais afirmaria que os fenômenos psicopatológicos são da alçada exclusiva da Psiquiatria! Mas, por não ser ele das referidas áreas, devo informá-lo, já que ambas se constituem matéria de minha formação direta (Psicologia) e indireta (Psiquiatria — cursei o programa de Psiquiatria ministrado aos médicos por opção e sentimento de dever profissional). A Psicopatologia é tema de ambas as disciplinas!

 

Todas as correntes psicológicas mantêm, inclusive, uma visão própria da etiologia psicopatológica. Assim, há uma Psicopatologia da Psicanálise, uma Psicopatologia da abordagem Existencial Humanista… Há, isso sim, discordância entre a visão psiquiátrica organicista e a maioria das visões psicológicas da etiologia psicopatológica. Mas, divergências estão presentes também entre as visões psicológicas que tratam diferentemente da psicopatologia. Assim, não há uma pretensão da Psiquiatria ser a única detentora da Psicopatologia enquanto disciplina. Aliás, se assim fosse, não haveria tratamentos das psicoses, como o é, por exemplo, o tratamento psicanalítico! Não há, portanto, qualquer “autonomia da Psiquiatria” em relação ao tema!

 

Borges: “Será que a Psiquiatria é também uma superposição de área com a Psicologia, devendo, por isso, perder a sua identidade epistemológica?”

 

Não. A Psiquiatria é uma formação médica e, portanto, busca substratos orgânicos para basear sua compreensão dos comportamentos humanos e propor tratamentos. Isso não significa que o psiquiatra não tenha uma formação psicológica e não possa ter uma visão menos organicista. Apenas como exemplo, ministrei a residentes de Psiquiatria, cursos de Psicanálise, assim como outros colegas ministraram cursos de outras abordagens psicológicas. Da mesma forma, na formação dos psicólogos, há uma base de conhecimentos em Psiquiatria (além de Neurologia, Neuropatologia…) São abordagens complementares a respeito de fenômenos similares.

 

Borges: “O que dirão os psiquiatras a respeito deste ponto de vista reducionista? Qual é o reducionismo? Sob o ponto de vista pragmático, poderíamos também indagar se os sociólogos, os matemáticos, entre outros, conseguem facilmente bolsas(becas) de investigação, passagens aéreas para participarem de congressos, recursos para montarem seus laboratórios, comprar equipamentos’, etc?”

 

Do ponto de vista pragmático a resposta é SIM, apesar de o “facilmente” ser relativo. De fato estes profissionais, quando dentro de instituições de pesquisa (centros de pesquisa e em universidades) têm bolsas à sua disposição! Como psicólogo, pesquisador da área de Psicologia Social na USP, estou pleiteando uma bolsa de pesquisa para estudar os aspectos psicológicos da mediunidade! É muito provável que eu a ganhe, não porque o tema seja interessante, é que existem bolsas disponíveis para pesquisas na Universidade para áreas “reconhecidas”!

 

Borges: “Deveriam, por isso, desacreditarem de suas ciências em virtude dessas dificuldades?”

 

Quais dificuldades? A da dificuldade de conquista das bolsas pela competição entre os profissionais de uma área (como as citadas por Borges) ou pela quase impossibilidade de conquista de bolsas em Parapsicologia? De fato, cada um dos pesquisadores das áreas ‘reconhecidas’ tem limitações próprias da escassez de bolsas. Mas as bolsas existem para eles em número incalculavelmente maior que o que temos em Parapsicologia. As dificuldades que eles têm nada tem a ver com a credibilidade em suas ciências.

 

Borges: “Não entendemos o argumento: ‘não estudamos Parapsicologia, estudamos psi’.”

Não é o mesmo que se dizer, mutatis mutandi: não estudamos Psicologia, estudamos fenômenos psicológicos?”

Nosso objeto de estudo é psi. Nossos esforços são para tornar psi mais compreensível. Nosso objeto de estudo não é a Parapsicologia. O que os parapsicólogos estudam é psi, não a Parapsicologia. A Parapsicologia poderia ser objeto de estudo de um Sociólogo da Ciência ou um Epistemólogo ou um Filósofo da Ciência ou mesmo um parapsicólogo que estivesse fazendo uma análise filosófica, epistemológica… da Parapsicologia. O que estuda um físico? Física ou o mundo físico: esta é distinção que apresentei apenas para marcar a posição de que é mais fundamental que empreendemos esforços na compreensão de psi do que na manutenção irrestrita da Parapsicologia se isso significar maiores e melhores condições de estudar psi.

 

Borges: “Por outro lado, defender a autonomia da Parapsicologia não é fazer culto à Parapsicologia.”

 

Defender a autonomia da Parapsicologia é até interessante. Mas defender a exclusividade do estudo de psi à Parapsicologia é que, parece-me, descabido. Da mesma forma como a Psicopatologia é objeto da Psicologia e da Psiquiatria, psi pode ser estudado por várias ciências. Mas aqui não parece que divergimos. A divergência está que meu ponto de vista é de que psi é de natureza psicológica e, assim, caberia à Psicologia estudá-los de maneira mais sistemática. Se isso vier a acontecer, naturalmente os psicólogos vão fazer exatamente o que fazem atualmente os parapsicólogos! Da mesma forma aconteceu com a hipnose, com os sonhos, com o sonambulismo… que Borges parece ter esquecido de comentar. Estes fenômenos deixaram de ser objeto de estudo da Pesquisa Psíquica e da Metapsíquica. Assim, creio, como ESP e PK poderão deixar de ser objeto da Parapsicologia e passarem a ser objeto de estudo da Psicologia.

Borges: “Se admitirmos que a Parapsicologia deva, em futuro próximo ou longínquo, ser extinta e seu espólio repartido entre as diversas áreas científicas, não deveremos, a partir de agora, deixar de nos chamarmos de parapsicólogos?”

O fato de eu desejar e acreditar que psi venha a ser objeto de estudo da Psicologia, nada garante que assim seja. Mas, de fato, assistimos cada vez mais os parapsicólogos nomearem seus institutos não de institutos de Parapsicologia, mas de Ciências Cognitivas (Ed May), Psicología Paranormal (Parra e Monroyg), Pesquisas da Consciência (Dean Radin), Estudos Integrais (Alvarado e Zingrone), Áreas Fronteiriças da Psicologia (Bender e o atual grupo de Freiburg, Machado e Zangari), Psicobiofísica (Borges e todo o grupo do IPPP), apenas para dar alguns exemplos. Além disso, assistimos, cada vez mais, a utilização de termos mais psicológicos para ESP e PK, como “cognição anômala” e “ação anômala”, por exemplo. Um aspecto interessante é o de repararmos que aqueles que estudamos psi somos de outras formações, em maioria psicólogos, físicos, engenheiros, médicos e cientistas sociais. Mas somos poucos, somos minoria no cenário científico mundial.

Se nos tornássemos maioria, ou seja, se a maioria dos psicólogos, físicos estudassem psi, o que aconteceria com a Parapsicologia? Psi não se tornaria matéria… obrigatória das faculdades de Psicologia, Física…?

 

Borges: “Ação da mente sobre a matéria ou ação PK é também um fenômeno psicológico? Se não é, deveria ser estudado somente pela Física? Será que as telecinesias, os metafanismos, a dobragem de metais são decorrências de problemas psicológicos?”

Problemas psicológicos? Esta abordagem jamais defendi. Dizer que PK tem uma natureza psicológica nada tem a ver com afirmar que PK seja resultado de problemas psicológicos! Considero que psi (ESP + PK) parece ter uma natureza psicológica porque há evidências empíricas para afirmar assim. Somente pela Física? Meu professor de Neurologia das Praxias afirmou que os estudiosos desta área estão, cada vez mais, afirmando que não existe motricidade humana, mas psicomotricidade humana! Da mesma forma parece ser PK, uma ação humana, para “além” do corpo humano. Evidentemente, há neurologistas interessados no modus operandi, por exemplo, dos núcleos da base, do cerebelo… e das subestruturas nervosas, como as células de Purkinje, etc, etc. Mas, “cada vez mais” percebe-se que todo este aparato funciona com certa “personalidade”, com uma assinatura própria daquele indivíduo que, apesar de possuir as mesmas estruturas funcionais que todos os demais seres humanos, o funcionamento de suas estruturas é único! PK, parece-me, tem a mesma característica. O(a)s psicólogo(a)s poderão dar conta do recado, tranquilamente, mas sempre com o auxílio de outras ciências.

 

Borges: “Dispersar os fenômenos psi pelas diversas áreas científicas ajudar-nos-ia a compreendê-los melhor?”

 

Como psi parece ter uma natureza psicológica, a Psicologia poderia se incumbir deles. Outras ciências ofereceriam meios de compreender certos “como” do fenômeno, por exemplo, como a mente pode agir no mundo físico (no caso de PK), por exemplo.

 

Borges: “E por que não unificar o seu estudo e a sua investigação numa só área científica, no caso, a Parapsicologia?”

 

Atualmente isso já é assim. Estamos falando de um futuro possível, quando os(as) psicólogos(as) vierem a aceitar psi como objeto de estudo da Psicologia.

 

Borges: “Não vemos por que nossas divergências possam provocar uma ameaça de racha entre os abnegados favoráveis e contrários à autonomia da Parapsicologia. Afinal, amigo de Platão, porém mais amigo da verdade. E a verdade, neste caso, consiste na fidelidade às nossas convicções.”

 

Evidente. Diverjamos a vontade. Mas permaneçamos unidos, em nossa minoria, pelo que nos une.

 

Torço e trabalho firmemente para que a Parapsicologia seja aceita plenamente como ciência. Vou continuar lutando para que isso aconteça. Faço isso de forma particular sempre que posso, apresentando aos demais cientistas o que é Parapsicologia, etc. De forma organizada e social, da mesma forma, luto para que isso aconteça. Mas, minha visão da história da Parapsicologia me mostra que talvez tal aceitação nunca aconteça de fato. Como existe aqui um “talvez”, continuo lutando e com grande disposição. Mas vejo que o resultado de todas as minhas tentativas de trabalho como parapsicólogo em fazer a comunidade científica se abrir para psi é quase nulo se comparado ao resultado que tenho como psicólogo, estudando e apresentando psi para a comunidade científica. Claro, temos que lutar contra o preconceito explicando sempre e sempre a base científica da Parapsicologia. Mas o preconceito é tão grande que tenho questionado a validade dessa luta em larga escala.

Vejo que muitos cientistas, já de saída, não se abrem para ouvir, não vão aos nossos congressos e eventos.

 

Por outro lado, quando Fátima e eu apresentamos nosso survey psi, durante o XXVI Congresso da Sociedade Interamericano de Psicologia, em 1997, em que estavam presentes mais de 2.000 psicólogos(as), na sala de apresentação de nosso trabalho estavam mais psicólogos(as) que todos os(as) parapsicólogos(as) que poderíamos reunir no mundo! Estavam predispostos a ouvir. A partir de então, inúmeros (as) investigadores(as) têm nos procurado para saber mais de psi. Da mesma forma, quando mudamos o nome do instituto (de ECLIPSY — Instituto de Pesquisas Científicas em Parapsicologia para INTER PSI—Instituto de Pesquisas Interdisciplinares das Áreas Fronteiriças da Psicologia) tudo parece ter mudado. Atualmente, cientistas de outras áreas nos convidam para falar sobre psi, sem saber que psi é estudado pela Parapsicologia ou que nós somos parapsicólogos. A mídia nos tem convidado cada vez mais porque querem um “cientista” para falar junto com os “parapsicólogos” (Há duas semanas fui convidado para um debate com o Pe. Quevedo em uma emissora local) Como psicólogo consegui uma boa bolsa de mestrado do CAPES e, pasmem, para uma dissertação intitulada “Parapsicologia e Religião”.

Mas, para os donos do dinheiro, eu era um pesquisador em Ciências da Religião, não um parapsicólogo. Com nossas dissertações de mestrado sobre temas parapsicológicos na PUC-SP, creio que Fátima e eu tenhamos feito mais pela introdução de psi no ambiente científico paulista (para ser modesto) do que todo nosso trabalho como parapsicólogos. Agora, como sabem, estamos trabalhando com temas parapsicológicos em nossos doutorados. É simplesmente impressionante a facilidade com que estamos conquistando espaço universitário e científico com isso. Basta dizer que estamos, novamente, “arriscados” a conseguir nova bolsa de pesquisa, além de espaço para falar sobre psi com todo tipo de cientistas (que têm se interessado muito pelo tema). Que nossa experiência sirva de incentivo para todos(as) parapsicólogos(as) no sentido de, além de fazerem tudo o que puderem para o estabelecimento da Parapsicologia como ciência, NÃO DEIXEM DE INGRESSAR NA ACADEMIA (CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO) COM TEMAS PARAPSICOLÓGICOS.

 

A mesma experiência teve Maria do Carmo Pagan Forti, que também recebeu uma bolsa de pesquisa da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para trabalhar em sua dissertação de mestrado. Há outro colega iniciando um trabalho sobre psi em ambiente religioso, também na PUC-SP. Existe dinheiro. Existe interesse. Existe espaço de debate elevado. O que mais podemos querer para a melhor compreensão de psi? Pragmaticamente, o que mais queremos para nós?

Acredito que, se iniciativas como essas fossem tomadas por todos nós, em poucos anos estaríamos todos dentro das universidades e poderíamos, aí sim, fazer uma instituição nacional (ou internacional) de pesquisadores acadêmicos de “fenômenos anômalos”, por exemplo. Poderíamos ter cursos de pós-graduação oferecido pelas universidades sobre psi. Psi estaria na universidade e teríamos mais condições de estudá-la. O que quero dizer é que é louvável lutarmos pela emancipação da Parapsicologia e tentar fazer que ela ingresse na universidade. Continuemos a fazer tudo isso.

 

Mas posso lhes garantir que a forma mais fácil e rápida de fazer com que nosso objeto de estudo ingresse no mundo acadêmico é através de trabalhos sobre psi que apresentamos como dissertações de mestrado e teses de doutorado. A facilidade é tanta que estamos espantados. O assunto é tão importante que deveríamos pensar em uma ação nacional conjunta para planejarmos uma estratégia a curto, médio e longo prazo. Deveríamos fazer um pequeno fórum para discutir estas estratégias. Fátima e eu, e imagino que Maria do Carmo estaria aberta para o mesmo, poderíamos preparar algum material, caso exista interesse, para transmitir nossa experiência aos colegas. Lembrem-se que Adelaide Petters Lessa (que tem estado em nosso instituto) apresentou uma tese de doutorado sobre precognição na USP e com grande êxito e repercussão. Portanto, há abertura. Apenas é necessário tentar com certo cuidado na apresentação dos projetos. Estou muito disposto em auxiliar aos interessados a montarem seus projetos. Sei da qualidade dos trabalhos dos colegas e tenho experiência própria de que é possível fazê-los serem aprovados nas universidades.

 

Se conseguirmos fazer uma ação conjunta, de ajuda mútua, em poucos anos poderemos ter quórum suficiente para configurar um “novo” ramo de pesquisas universitárias, que congregue nossos esforços. Este “novo” ramo poderia se chamar Parapsicologia? Talvez não. Mas o estudo seria eminentemente o mesmo que fazer sob tal rótulo, mas com melhores condições. Vamos pensar nisso?

 

María Luisa Albuquerque (Portugal):

 

Como eu expliquei num email anterior, não nos foi possível — por questões de trabalho — continuar como alunos, mas somente como ouvintes.

No entanto, tenho lido — não com regularidade — as aulas. Quando digo que não é com regularidade, é que às vezes, são lidas de atacado e depois passa-se um tempo sem ler mais.

Por isso só agora pude dar atenção ao comentário enviado por Valter da Rosa Borges e gostaria de também dar a nossa opinião. Se entenderem colocar no website, muito bem, se entenderem que não devem colocar, também tudo bem…

 

Para começar: todos têm razão — Valter R. Borges, Carlos Alvarado e Wellington Zangari.

 

O Dr. Valter tem razão ao dizer que a parapsicologia tem a lucrar com as relações interdisciplinares. E só pode ser assim, pois é a única maneira de nos defendermos dos franco-atiradores, dos parapsicólogos de geração espontânea que pululam em toda a parte. Mas precisamente por os fenómenos parapsicológicos envolveram experiências Psi, eles deveriam ser objecto de estudo da psicologia, que infelizmente os nega, como todos vamos sabendo. E também penso que PK deveria ser objecto da Física, pois só ela nos dará a explicação destes fenómenos ainda tão carregados pela sombra de explicações fantasiosas. E só a explicação da parte de quem tem saber para tal (o estudioso da Física) nos poderá ajudar.

 

E a sociologia também tem aqui uma palavra a dizer, pois, por exemplo, ao investigar uma casa “assombrada”, temos de ter em conta os dados que um sociólogo nos poderá dar sobre aquela família e aquele local. Lá estamos também a precisar do antropólogo… E se nessa casa ainda houver alguém com ESP, temos de pedir ao filófoso uma ajudinha na explicação…

 

A posição do casal Fátima & Wellington parece a menos extremada e mais dolorosamente perto da realidade. E digo “dolorosamente”, porque Wellington nos mostra a sua experiência de como conseguiu sobreviver numa instituição universitária e apresentar um tema de mestrado sobre o que nós sabemos ser assunto de parapsicologia, com outro nome… Ah o jeitinho brasileiro! Mas podemos tirar deste modo de proceder muito de positivo, não?

 

Por esta interdisciplinaridade, permanecem os fenómenos parapsicológicos classificados dentro do domínio do “incomum”, do “anómalo”, como Wellington tem apresentado nos artigos enviados ao jornal que dirijo, o Jornal de Parapsicologia (passe a publicidade).

 

O parapsicólogo tem de ser um teórico, um investigador, mas tem de trabalhar em interdisciplinaridade. E, já agora, ele mesmo deve possuir a sua formação académica numa ciência ou carreira já estabelecida e reconhecida. Precisamente para se diferenciar dos franco-atiradores. Em nome da seriedade e honestidade.

 

Por isso, aquando do Congresso do Recife eu votei contra a ideia da criação do “dia do parapsicólogo”. Temos tantos dias de tudo…

 

Temos é que trabalhar com seriedade e mostrar os resultados do nosso trabalho, pois, como dizia há dias em Lisboa (na Faculdade de Psicologia) Rupert Sheldrake, os parapsicólogos são os únicos cientistas que mostram os resultados negativos e positivos das suas experiências.

 

Mas é preciso trabalhar sem posições extremadas, como essa de se fazer notar que “o IPPP foi a primeira instituição a tratar a parapsicologia como ciência, contrariando a postura religiosa de espíritas ou padres parapsicólogos”. Espíritas ou padres também podem ser físicos, ou filósofos, ou médicos, ou advogados, etc. Porque não poderiam ser parapsicólogos, ou porque a parapsicologia haveria de se sentir diminuída com isso? Se cada um depois vai buscar conclusões para as suas posições religiosas, é outra questão.

 

Haveria de se ver se epistemologicamente estão certos. Fazer a hermenêutica das conclusões. Abertamente. Sem preconceitos.

 

Carlos Alvarado remete o estudo dos fenómenos Psi, só para a psicologia. Por quê? Não será isto um extremar de posição?

Talvez a psicologia seja a disciplina mais importante neste estudo, mas não é só. Volto a repetir que o diálogo interdisciplinar é imprescindível para uma nova visão do ser humano e do mundo.

Parapsicologia tem como objecto e método de estudo: o mistério do ser humano. Parapsicologia estuda o que acontece de não habitual, de não repetível à vontade com o ser humano e que classificamos como “fenómeno”: facto natural e surpreendente, que impressiona a vista ou a imaginação. Este tipo de factos, embora inerentes ao ser humano, foram durante séculos, ignorados ou pior ainda, negados pela ciência, pelos cientistas, precisamente pela sua característica de irrepetibilidade.

Então, a imaginação impressionada pelo fenómeno, “soltou-se” e não faltaram explicações fantasiosas que mais não fizeram que adensar o mistério inexistente, já que todo o ser humano é por si só, um mistério.

 

Parapsicologia tem de ser uma ciência interdisciplinar. Depois da constatação da existência do fenómeno pelo parapsicólogo, ele tem de fazer a sua análise com a ajuda das outras ciências já estabelecidas. Pois cada fenómeno parapsicológico se situa num campo científico já conhecido, com uma característica própria: dificuldade (mas não impossibilidade) de repetição e conseqüente constatação. São fenômenos que precisam do diálogo interdisciplinar para desfazer a sua aparentemente inexplicabilidade e assim afastar a Parapsicologia de todas as formas de exploração da credulidade pública. A Parapsicologia, pode opôr-se, através dum ensino claro, a eventuais manipulações de “poderes” para fins pessoais, políticos ou sectários e assim se efectuar uma profilaxia social. A Parapsicologia, com vasto campo de estudo, pode contribuir para a prevenção duma psicose milenarista estabelecida que se manifesta por filmes catastróficos sobre eventuais terrorismos extraterrestres e outras fantasias largamente difundidas (1).

 

Parapsicologia: a ciência do diálogo interdisciplinar

 

Os fenómenos parapsicológicos foram negados durante séculos pela ciência estabelecida, para não lhe chamarmos instalada. A palavra “ciência” vem do latim “scire”, que quer dizer “saber”. Mas nem sempre os donos do saber se comportaram como verdadeiros cientistas, pois ao encontrar factos que tinham dificuldade em explicar, tentaram resolver o problema passando-lhe à frente ou mesmo negando-os. Mas, como os factos existiam, foram interpretados pelas religiões, muitas vezes com argumentos de “opção de fé”, o que quer dizer que sem argumentos, sem racionalidade.

 

Considero que o incómodo do estudo dos fenómenos parapsicológicos constitui um abanão aos “marcadores-somáticos” de grande parte dos cientistas e daí a sua dificuldade. O termo “marcador-somático” é definido pelo neuro-cirurgião português — professor de neurologia da Universidade Iowa e no Salk Institute, na Califórnia — António Damásio (2) como “um caso especial do uso de sentimentos que foram criados a partir de emoções secundárias. Estas emoções e sentimentos foram ligados, por via de aprendizagem, a certos tipos de resultados futuros ligados a determinados cenários”. Depreende-se que cada pessoa terá, dependendo das situações vivenciadas, marcadores-somáticos negativos e positivos. “A maior parte dos marcadores-somáticos que usamos para a tomada racional de decisões, foi criada nos nossos cérebros durante o processo de educação e socialização, através de associações de categorias específicas de estímulos a categorias específicas de estados somáticos”. A chamada ciência clássica, houve por bem dedicar-se ao estudo dos fenómenos periódicos e repetíveis, com uma elegância e concisão admiráveis. E exprimem uma verdade: a sua verdade “mas esse tipo de ciência havia ignorado a direcção do tempo — tudo não era mais que a repetição infinita do passado, no futuro”. Com o passar do tempo, a questão alterou-se e com o advento do estudo dos fenómenos parapsicológicos com um cunho diferente do até então estabelecido, foi necessário encontrar um novo paradigma científico abalando os “marcadores-somáticos” já estabelecidos, com formulações que ultrapassaram o quadro conceptual da ciência que até então existia.

 

Vejamos alguns exemplos.

 

                                 PARAPSICOLOGIA E FILOSOFIA

 

Os novos horizontes da percepção cognitiva: O processo geral do conhecimento, a nível habitual, realiza-se numa relação entre um sujeito (S1) e um objecto, ou entre dois sujeitos (S1 e S2). Um objecto ou um sujeito (S2), afectam os sentidos do sujeito (S1). Na apreensão “sensorial” das propriedades do objecto pelo sujeito (S1), ou o mesmo em relação ao sujeito (S2), constitui-se o fenómeno cognitivo habitual. Definindo e demonstrando um conhecimento “paranormal” como não devido aos sentidos, a Parapsicologia apresentou novas estruturas cognitivas e emergiu uma revolução gnosiológica, com consequentes desafios epistemológicos.

 

As investigações científicas sobre Parapsicologia, como todos sabemos, começaram em Londres em 1888. Foram examinados — e verificados — inúmeros casos expontâneos. Os cientistas da época, fanáticos da ciência baseada exclusivamente na matéria, rejeitaram por impossível o que era verificado e negavam o infrequente, não material, não repetível. É uma atitude anticientífica (como se se pudesse negar, por não repetível, um assalto a um Banco, ou o ataque de um tigre) a que todos aqui devem estar, infelizmente, habituados. Consequentemente, desenvolveu-se ao longo dos tempos toda uma posição supersticiosa e fantasista nas explicações sobre a causa de milhões de factos, só porque as Universidades apenas queriam compreender e explicar a matéria.

 

Mas houve quem se lançasse na investigação de laboratório. A humanidade sempre se preocupou com fenómenos de cognição e suas técnicas (mancias): pela mão, pelo voo dos pássaros, com a bola de cristal, astrologia (astromancia) etc. E a causa está no inconsciente do ser humano. Em algo de não material que faz parte do homem e possibilita a comunicação e também o conhecimento de um futuro casual e livre.

 

A ciência, nos primeiros anos de investigação, ainda supôs que se tratava de conhecimento sensorial, como se se desprendesse dos acontecimentos algum tipo de energia física.

 

Ou então apelidavam-na de sexto-sentido, porque nenhum sentido, dos cinco conhecidos, explicava estes factos. Mas sempre supuseram que era algo sensorial. Nasceram assim conceitos estranhos: o 6º sentido, a criptestesia…

 

Assim que Rhine deu a esta faculdade de cognição a designação “extrassensorial” e com as conclusões dos parapsicólogos norte-americanos, surgiu, como sabemos, no mundo das universidades a maior polémica que se conhece no campo das investigações psíquicas. E o desafio, como disse Rhine está em que “a velha crença de que nada pode ser apreendido que não passe pelos órgãos conhecidos dos sentidos, deve ter o mesmo destino que a mecânica de Newton em presença da teoria da relatividade.”

 

 

                                 PARAPSICOLOGIA E TEOLOGIA

 

O termo Teologia vem do grego: Theos = Deus e logos = palavra, estudo da. Aparentemente não há relação com Parapsicologia, mas com a crença, com a religião que será o estudo do inobservável, do sobrenatural, e consequente doutrina.

E como religião é uma “opção de fé”, ficaria assim a Teologia sem argumentos válidos e com caminho aberto à fantasia e gosto de cada um. Upton Sinclair disse que todas as superstições devem ser retomadas pela ciência, neste caso a Parapsicologia.

Quer dizer que todos os factos aceites como sendo fantasiosos, sem argumentos e consequentemente classificados como superstições — que seria o caixote do lixo dos cientistas — precisam voltar a serem estudados para se constatar a sua existência e em seguida analisados, para que a sua explicação não seja “a gosto do consumidor”, mas com bases científicas. O Doutor Hubert Larcher diz que Parapsicologia “também deve estudar os fenómenos apresentados por essa ‘máquina de fazer deuses’ que é a hagiografia” (3).

 

PARAPSICOLOGIA, MEDICINA, FÍSICA E PSICOLOGIA

 

Num fenómeno de aporte, por exemplo, o parapsicólogo constata e analisa o fenómeno, o psicólogo ajuda a resolver o trauma psicológico que o causava, o médico dá acompanhamento e o físico explica como pode acontecer. Nenhum por si só é o “dono” da explicação do caso; cada um precisa de todos, senão continuaria o conflito entre um paradigma científico estabelecido (Psicologia, Medicina, Física) e um paradigma científico emergente (Parapsicologia). Podemos dizer que é uma nova ciência que nasce: a do real. A realidade deixou de ser a natureza morta e passiva, para haver uma compreensão dos processos reais da natureza através duma série de pressupostos e de afirmações não dogmáticas, mas abertas à compreensão da realidade. Esta nova visão, leva-nos a dizer por exemplo que os fenómenos PK são o “calcanhar de Aquiles” da Física, pois vamos verificando que a natureza não é um autómato submisso: antes nos aparece um universo fragmentado, rico de densidades qualitativas e surpresas potenciais (4)

 

Todos nós, parapsicólogos ou já constatamos pessoalmente algum fenómeno de PK, ou temos informações suficientemente credíveis. Isto leva-nos a incluir o estudo deste tipo de fenómenos numa ciência que tem necessariamente ser de “margens” ou “marginal”, abandonando um pensamento científico redutor a um único postulado de objectividade da natureza e recusando admitir no seu domínio, este ser interveniente — o humano — quer se queira ou não, tanto na observação, como na experiência científica, tornando assim a Parapsicologia numa ciência incómoda.

 

Ainda sobre a interligação e colaboração entre Parapsicologia e Medicina, chamo a atenção sobre o estudo importante e necessário que constitui o fenómeno das curas acontecidas sem agente curador habilitado, o médico. Temos chegado à conclusão que o mérito é da auto-sugestão do curado e não de pretensas “virtudes” do curador, embora tal facto não seja reconhecido a nível popular — que prefere a explicação mítica — e seja negado a nível médico. A sugestão vista como “ressonância afectiva” (5), torna-se plausível no contacto médico-doente e faz-nos entender como se desencadeiam processos afectivos vigorosos da parte da pessoa tratada.

 

                                           Conclusão

 

Permitam-me que nesta conclusão seja bastante pessoal, já que para mim, a Parapsicologia é muito mais que a simples “constatação e análise de fenómenos à primeira vista misteriosos”. A Parapsicologia deu-me uma visão global/interdisciplinar do ser humano e do seu mundo. Mostrou-me novas perspectivas do conhecimento humano, até da sua relação do mundo com o Transcendente/Divino. Como diz Blaise Pascal no seu pensamento 434 (6):

 “Que quimera é pois o homem? Que novidade, que monstro, que caos, que tema contraditório, que prodígio! Juiz de todas as coisas, imbecil verme da terra; depositário da verdade, cloaca de incertezas e de erro; glória e refugo do universo. …

Conhece, pois, soberbo, que paradoxo és para ti mesmo. Humilha-te, razão impotente; cala-te, natureza imbecil; aprende que o homem ultrapassa infinitamente o homem e escuta do teu mestre, a tua condição verdadeira que ignoras.”

 

Para mim, a Parapsicologia faz-me a necessária demarcação entre uma atitude de fé esclarecida e a atitude de crença irreflectida. Provoca-me admiração e espanto perante fenómenos da natureza inerentes ao ser humano, realidades que se tornaram provocação frente à ciência pré-estabelecida que ao pretender tudo englobar em si, muitas vezes se despersonalizou.

A Parapsicologia revela-me um ser humano mais humano — perdoem-me o paradoxo — o elo de união entre a ciência do corpo (p. ex. a Medicina), a ciência do espírito (p. ex. a Filosofia) e a ciência da alma (p. ex. a Teologia), como diz o Doutor Hubert Larcher.

 

                                       Notas bibliográficas:

 

(1) LARCHER, H: 60 années de parapsychologie, ed. Kimé, Paris 1992

(2) DAMÁSIO, A.: O erro de Descartes, Europa-América (16ª ed.) 1996, pág.176 ss.

(3) LARCHER, H.: op. cit.

(4) PRIGOGINE, I.; STENGERS, I.:A nova aliança, Lisboa, Gradiva, pág. 34

(5) STOKVIS, B. e PFLANZ, M.: Suggestion, Basileia 1961, pág. 22 ss.

(6) PASCAL, B.: Pensées, edição separada de Grands écrivais de la France (14 vol., 1908-14) por Brunschwig, ed. Hachette, Paris

 

                                           Bibliografia:

 

60 années de parapsychologie – Hubert LARCHER, ed. Kimé compilada por F. FAVRE, Paris 1992

A Face Oculta da Mente – Oscar Gonzalez-QUEVEDO, S.J., ed. APPACDM, Braga 1996

A nova aliança – Ivers PRIGOGINE e STENGERS, Lisboa, Gradiva

As Forças Físicas da Mente – Oscar Gonzalez-QUEVEDO, S.J, ed. A.O., Braga, 1978

Curandeirismo: um mal ou um bem? – Oscar Gonzalez-QUEVEDO, S.J, ed. A.O., Braga, 1978

Jornal de Parapsicologia – Jornal mensal do C.L.A.P.-Portugal Milagres: a Ciência confirma a Fé – Oscar Gonzalez-QUEVEDO, S.J, ed. Loyola, São Paulo, 1996

O erro de Descartes – António DAMÁSIO,. Europa-América (16ª ed.) 1996

Parapsicologia: Subversão Infinita? – Autores vários, ed. C.L.A.P.-Portugal, 1996

Pensées – Blaise PASCAL, edição separada de Grands écrivais de la France (14 vol., 1908-14) por Brunschwig, ed. Hachette, Paris

Suggestion – B. STOKVIS e PFLANZ, M. Basileia 1961

 

Carlos Alvarado decide que o debate não deve mais prosseguir pelo Website, mas pelo e-mail.

 

“En relacion al reciente debate anadimos los comentarios de Wellington Zangari y de Maria Luisa Albuquerque. Se encuentran al final del documento con los primeros comentarios. Esta discusion no puede proseguir en el Website pues nos distrae del tema del curso. Si quieren continuar favor de hacerlo privadamente por correo electronico entre ustedes. Nosotros no anadiremos mas a este tema.”

 

O debate passou a se desenvolver por e-mail, dirigido aos líderes de todos os grupos e aos coordenadores

 

Valter da Rosa Borges:

 

Afirma Zangari que teríamos afirmado que “os fenômenos psicopatológicos são da alçada exclusiva da Psiquiatria”. Em que trecho de nossa resposta fizemos tal afirmação?

Embora não sejamos “competente” para opinar sobre Psicologia e Psiquiatria, não iríamos dizer tamanha besteira. O que estamos discutindo é o objeto de cada ciência e a autonomia epistemológica de cada uma. Isto não impede – e não haveria qualquer razão plausível para tal – que o objeto de estudo de uma ciência seja também discutido por outras ciências numa atividade proveitosamente interdisciplinar.

Voltamos, mais uma vez, a esclarecer que a autonomia diz respeito à ciência, a qual, como é óbvio, tem o seu objeto determinado e que, portanto, demarca o seu território operacional. Este objeto, porém, não é exclusivo de determinada ciência, mas é a especialização de seu estudo que dá identidade àquela ciência.

Realmente, Zangari discute a questão sob a óptica preponderantemente pragmática e, basicamente, assume uma postura pessimista em relação ao futuro da Parapsicologia, prevendo que ela será absorvida pela Psicologia. Não vemos, assim, como prosperar qualquer discussão a respeito dessas duas posições.

Apesar disso, no que diz respeito a certas vantagens universitárias, Zangari admite que existe uma “quase impossibilidade”. Ou, em outras palavras, que existe uma possibilidade, mesmo que remota ou remotíssima. Afinal, não deixa de ser uma possibilidade. Pior seria se fosse uma impossibilidade.

 

Diz Zangari:

“Da mesma forma aconteceu com a hipnose, com os sonhos, com o sonambulismo… que Borges parece ter esquecido de comentar. Estes fenômenos deixaram de ser objeto de estudo da Pesquisa Psíquica e da Metapsíquica. Assim, creio, como ESP e PK poderão deixar de ser objeto da Parapsicologia e passarem a ser objeto de estudo da Psicologia.”

Pelo fato de a hipnose, os sonhos e o sonambulismo terem passado para o campo da Psicologia, não quer dizer necessariamente que a ESP e a PK também migrarão para o território daquela ciência. Por outro lado, a hipnose, os sonhos e o sonambulismo não foram tão importantes para a Pesquisa Psíquica e para a Metapsíquica como a telepatia, a clarividência, a precognição, a telecinesia, o “poltergeist”, as casas mal-assombradas, as ditas materializações etc. Até o momento, pelo contrário, não há indícios de que isto esteja acontecendo.

 

Diz Zangari:

“Mas, de fato, assistimos cada vez mais os parapsicólogos nomearem seus institutos não de institutos de Parapsicologia, mas de Ciências Cognitivas (Ed May), Psicología Paranormal (Parra e Monroyg), Pesquisas da Consciência (Dean Radin), Estudos Integrais (Alvarado e Zingrone), Áreas Fronteiriças da Psicologia (Bender e o atual grupo de Freiburg, Machado e Zangari), Psicobiofísica (Borges e todo o grupo do IPPP), apenas para dar alguns exemplos.”

Esquece Zangari que o I.P.P.P. tem 25 anos de fundação e o nome de psicobiofísica refletiu àquela época a nossa tentativa inicial e frustrada de dar a esta ciência uma denominação compatível com o seu objeto. Parapsicologia é um vocábulo inadequado, insuficiente para abranger o campo fenomenológico da psi e por isto tem-se aprestado para esta tentativa de sua absorção à Psicologia. Mantivemos a designação original simplesmente por uma razão histórica. Mas, em nenhuma publicação de parapsicólogos do I.P.P.P., aparece a palavra psicobiofísica e, sim, parapsicologia. Nem também qualquer de nós se intitula de psicobiofísico, mas de parapsicólogo. Logo, em relação ao I.P.P.P. esta crítica não tem fundamento.

 

É muito instrutivo sabermos que os fenômenos de PK podem ser explicados agora pela psicomotricidade. Deve ser, por certo, um sucedâneo da Super-Psi.

Como sentencia Zangari, o(a)s psicólogo(a), a partir desta hipótese, “poderão dar conta do recado, tranquilamente, mas sempre com o auxílio de outras ciências”. Será que Zangari incluiria, entre essas outras ciências, a Parapsicologia, visto que, em sua óptica, ela, em futuro, será absorvida pela Psicologia?

 

Argumenta Zangari:

“Um aspecto interessante é o de repararmos que aqueles que estudamos psi somos de outras formações, em maioria psicólogos, físicos, engenheiros, médicos e cientistas sociais. Mas somos poucos, somos minoria no cenário científico mundial.

Se nos tornássemos maioria, ou seja, se a maioria dos psicólogos, físicos estudassem psi, o que aconteceria com a Parapsicologia? Psi não se tornaria matéria… obrigatória das faculdades de Psicologia, Física…?”

O discurso nos parece nebuloso, levando-nos a deduzir que, em virtude de a maioria dos parapsicólogos ser constituída de “psicólogos, físicos, engenheiros, médicos e cientistas sociais”, a Parapsicologia se sustenta em razão de que “somos poucos, somos minoria no cenário científico mundial”. Mas (e aí vem a perigosa conjectura), “se nos tornássemos maioria, ou seja, se a maioria dos psicólogos, físicos estudassem psi, o que aconteceria com a Parapsicologia?”

A conclusão de Zangari é sombria: a Parapsicologia seria desmembrada, fragmentada, pulverizada, tornando-se matéria obrigatória das faculdades de Psicologia, Fí-sica, etc.

Chegamos, então, a um doloroso impasse. Ou continuamos minoria para manter a Psicologia acanhada, mas viva. Ou nos tornamos maioria para a glória masoquista de vê-la destruída e seus despojos devidamente repartidos entre as demais ciências interessadas. Trata-se, na verdade, de uma cena espetacular de antropofagia epistemológica.

 

Diz Zangari:

“Atualmente, cientistas de outras áreas nos convidam para falar sobre psi, sem saber que psi é estudado pela Parapsicologia ou que nós somos parapsicólogos. A mídia nos tem convidado cada vez mais porque querem um “cientista” para falar junto com os “parapsicólogos”

Ótimo! Vê-se que não é necessário mitigar a atenção de cientistas de outras áreas para se informarem sobre a fenomenologia psi. Se eles querem colaborar conosco na investigação destes fenômenos, ótimo também. Porém, é necessário que se esclareça a estes cientistas de outras áreas que somos parapsicólogos e que os fenômenos psi são objeto de estudo da Parapsicologia. E também adotar o mesmo procedimento junto a mídia.

Zangari agiu assim?

 

No final de seu longo arrazoado, Zangari muda um pouco o tom e a cor de sua postura fundamental. Talvez uma piedosa concessão funcionando como misericordioso analgésico para aliviar o clima de pessimismo sobre o sombrio futuro da Parapsicologia. Ele admite um “futuro possível” para a Parapsicologia realizar-se como ciência. Que bom!  Por isso, louvamos o esforço de Zangari que é muito maior do que o nosso, pois luta por aquilo que não acredita, enquanto nós, confortavelmente, lutamos por aquilo em que acreditamos. Zangari, por pragmático estoicismo e nós, por romântico quixotismo.

 

Diz Zangari:

“Torço e trabalho firmemente para que a Parapsicologia seja aceita plenamente como ciência. Vou continuar lutando para que isso aconteça. Faço isso de forma particular sempre que posso, apresentando aos demais cientistas o que é Parapsicologia, etc. De forma organizada e social, da mesma forma, luto para que isso aconteça. Mas, minha visão da história da Parapsicologia me mostra que talvez tal aceitação nunca aconteça de fato. Como existe aqui um “talvez”, continuo lutando e com grande disposição. Mas vejo que o resultado de todas as minhas tentativas de trabalho como parapsicólogo em fazer a comunidade científica se abrir para psi é quase nulo se comparado ao resultado que tenho como psicólogo, estudando e apresentando psi para a comunidade científica. Claro, temos que lutar contra o preconceito explicando sempre e sempre a base científica da Parapsicologia. Mas o preconceito é tão grande que tenho questionado a validade dessa luta em larga escala.

Vejo que muitos cientistas, já de saída, não se abrem para ouvir, não vão aos nossos congressos e eventos.”

Zangari diz que torce e trabalha firmemente para que a Parapsicologia seja aceita plenamente como ciência. Que ciência ou colegiado científico tem competência para decidir que determinada área do conhecimento constitui uma ciência? Isto não aconteceu com nenhuma outra ciência. Por que deveria acontecer com a Parapsicologia? Ademais, o que dá cientificidade a uma ciência não é a aprovação de cientistas de outras áreas: ela se impõe como tal pela utilização de metodologia científica adequada aos fenômenos que investiga.

Zangari diz que faz o seu trabalho pela Parapsicologia “de forma particular” e sempre que pode, “apresentando aos demais cientistas o que é a Parapsicologia.” Por que de “forma particular”?

Embora Zangari não acredite que esta aceitação “nunca aconteça de fato”, afirma que luta “para que isso aconteça”. Reconheço que, neste ponto, Zangari se apresenta com um quixotismo maior que o nosso, pois é capaz de lutar por aquilo que não acredita.

Não vejo por que tanto empenho de se levar o trabalho parapsicológico para outras áreas científicas a fim de mendigar seu apoio. Isso me parece uma atitude de reprovável subserviência intelectual. Devemos fazer um trabalho científico em Parapsicologia e é a seriedade deste trabalho, alicerçado na metodologia científica, que dará respeitabilidade e cientificidade à investigação parapsicológica. O que temos a ver com o preconceito de cientistas de outras áreas? Por que lhes damos tamanha importância, como se eles fossem indispensáveis para o progresso da Parapsicologia?

Ademais, por que este empenho de trazer cientistas de outras áreas para os nossos congressos e eventos, a não ser que eles se mostrem realmente interessados em conhecer a Parapsicologia e colaborar conosco na permuta de informações e experiências?!

 

Diz Zangari:

“Por outro lado, quando Fátima e eu apresentamos nosso survey psi, durante o XXVI Congresso da Sociedade Interamericano de Psicologia, em 1997, em que estavam presentes mais de 2.000 psicólogos(as), na sala de apresentação de nosso trabalho estavam mais psicólogos(as) que todos os(as) parapsicólogos(as) que poderíamos reunir no mundo! Estavam predispostos a ouvir. A partir de então, inúmeros(as) investigadores(as) têm nos procurado para saber mais de psi. Da mesma forma, quando mudamos o nome do instituto (de ECLIPSY – Instituto de Pesquisas Científicas em Parapsicologia para INTER PSI – Instituto de Pesquisas Interdisciplinares das Áreas Fronteiriças da Psicologia) tudo parece ter mudado. Atualmente, cientistas de outras áreas nos convidam para falar sobre psi, sem saber que psi é estudado pela Parapsicologia ou que nós somos parapsicólogos. A mídia nos tem convidado cada vez mais porque querem um “cientista” para falar junto com os “parapsicólogos” (Há duas semanas fui convidado para um debate com o Pe. Quevedo em uma emissora local) Como psicólogo consegui uma boa bolsa de mestrado do CAPES e, pasmem, para uma dissertação intitulada “Parapsicologia e Religião”.

Isto quer dizer: aceita-se o fenômeno psi desde que seja estudado à luz da Psicologia, mas não se aceita a Parapsicologia que, por sua falta de credibilidade acadêmica, torna também sem credibilidade o fenômeno psi. Ou seja: a Parapsicologia é um estorvo para o estudo da psi e, por isto, eugenicamente, deve ser eliminada. Pois bem, é nesta ocasião que o parapsicólogo deve mostrar o que é a Parapsicologia e não fazer coro com os seus opositores e tratar os fenômenos psi na condição de psicólogo. Se aqueles 2.000 psicólogos estavam dispostos a ouvir sobre fenômenos psi, por que se perdeu a oportunidade de se falar sobre a ciência que os estuda, no caso, a Parapsicologia? É assim que estamos trabalhando pela Parapsicologia?

Não sei que modo é este de lutar pela Parapsicologia, escondendo a sua condição de parapsicólogo. Não sei que modo é este de lutar pela Parapsicologia, procurando pesquisar os fenômenos psi em outra área científica que não a da Parapsicologia. Vergonha de ser parapsicólogo e medo de perder status de cientista?

 

Diz Zangari:

“Mas, para os donos do dinheiro, eu era um pesquisador em Ciências da Religião, não um parapsicólogo. Com nossas dissertações de mestrado sobre temas parapsicológicos na PUC-SP, creio que Fátima e eu tenhamos feito mais pela introdução de psi no ambiente científico paulista (para ser modesto) do que todo nosso trabalho como parapsicólogos.”

É realmente chocante ouvir uma declaração como essa, partida de um parapsicólogo. Ao invés de esclarecer aos “donos do dinheiro” que era um parapsicólogo, Zangari permitiu-se ficar na condição de “um pesquisador em Ciências da Religião”, sob o pretexto de despertar o interesse daqueles pelos fenômenos psi. Aliás, na oportunidade, desejaria saber quais são estas “Ciências da Religião” e se a Religião, por acaso, se transmudou em Ciência. Seria bastante ilustrativo conhecer de um pesquisador de tais singulares ciências a metodologia científica por elas utilizada.

 

Diz Zangari:

“Mas posso lhes garantir que a forma mais fácil e rápida de fazer com que nosso objeto de estudo ingresse no mundo acadêmico é através de trabalhos sobre psi que apresentamos como dissertações de mestrado e teses de doutorado. A facilidade é tanta que estamos espantados. O assunto é tão importante que deveríamos pensar em uma ação nacional conjunta para planejarmos uma estratégia a curto, médio e longo prazo. Deveríamos fazer um pequeno fórum para discutir estas estratégias.”

Concordo plenamente com esta posição, desde que deixemos explícito em nossas dissertações de mestrado e teses de dourado que os fenômenos psi são objeto de estudo da Parapsicologia, o que não quer dizer que outras ciências não possam também, numa área interdisciplinar, investigá-los, contribuindo, assim, para a própria pesquisa parapsicológica e maior entendimento sobre a natureza desta fenomenologia.

A inclusão de Cursos de Graduação nas Universidades é uma questão mais de natureza política e de conveniência do que científica. Acaso os cursos de Informática, Ciências Domésticas, Turismo, Jornalismo, Secretariado, entre outros, foram admitidos pela sua qualificação científica? Ou porque existe mercado de trabalho para estes profissionais, considerados, por isso, de formação superior?

Por outro lado, há ciências que não possuem Curso de Graduação nas Universidades de vários Estados brasileiros, como é o caso da Astronomia. Será que isto diminui o status desta ciência, o seu grau de cientificidade e respeitabilidade? Em Pernambuco, por exemplo, não existe Curso de Graduação em Astronomia, nem sequer cadeira de Astronomia em qualquer outro Curso de Graduação, embora haja um extraordinário interesse por esta ciência em nosso Estado e algumas sociedades de Astronomia ministrem cursos de Astronomia e aumentem, por isso, cada vez, o número de astrônomos amadores pernambucanos.

Serão, por acaso, as Universidades que decidem se determinado ramo do conhecimento é ou não científico? Logo, não é o selo ou a chancela acadêmica que irá dar cientificidade à Parapsicologia, mas, sim, o trabalho realizado, mesmo com enormes sacrifícios, pelos parapsicólogos realmente idealistas e que não visem resultados imediatos e pragmáticos. 

Recentemente recebemos convite da Fundação do Ensino Superior de Olinda -FUNESO -, que, em breve se transformará em Universidade, para implantar um Curso de Parapsicologia naquela instituição e já estamos adotando as primeiras providências para a realização deste empreendimento.

 

Diz Zangari:

“O que quero dizer é que é louvável lutarmos pela emancipação da Parapsicologia e tentar fazer que ela ingresse na universidade. Continuemos a fazer tudo isso.”

Se isto é sincero e não apenas uma gentileza dialética, por certo não temos mais nada a discutir sobre o assunto.

Valter da Rosa Borges:

 

Diz Maria Luíza:

“Mas é preciso trabalhar sem posições extremadas, como essa de se fazer notar que “o IPPP foi a primeira instituição a tratar a parapsicologia como ciência, contrariando a postura religiosa de espíritas ou padres parapsicólogos”. Espíritas ou padres também podem ser físicos, ou filósofos, ou médicos, ou advogados, etc. Porque não poderiam ser parapsicólogos, ou porque a parapsicologia haveria de se sentir diminuída com isso? Se cada um depois vai buscar conclusões para as suas posições religiosas, é outra questão.”

Maria Luíza omitiu, por certo involuntariamente, o texto integral da  nossa afirmativa:

“Queremos lembrar, finalmente, que o I.P.P.P., fundado em 1973, foi a primeira instituição no Brasil a tratar a Parapsicologia como ciência, contrariando a postura religiosa de espíritas e padres parapsicólogos.” Dissemos, no Brasil, e isto é fato histórico. E o fato histórico é para ser, não apenas notado, mas também anotado.

Naturalmente Maria Luíza não conhece a história da Parapsicologia brasileira e julgou uma posição extremada a nossa afirmação de termos contrariado “a postura religiosa de espíritas e padres parapsicólogos”. Não dissemos que espíritas e padres não podem ser parapsicólogos, mas, sim, que contrariamos “postura religiosa” que, infelizmente, no Brasil, foi adotada por certos espíritas e padres que militam no campo da Parapsicologia.

Wellington Zangari, em artigo que publicou na Revista Brasileira de Parapsicologia (nº 1, 1992) já reconhecera;

“No Brasil a questão é muito grave. A justificativa de utilização da Parapsicologia em favor de certos credos chega a ser escandalosa. A discussão provinciana entre espíritas e católicos já se faz tola. As mútuas acusações pseudocientíficas entre estes grupos tem sido um desserviço à Parapsicologia, já que tais acusações são feitas também em nome da Parapsicologia.”

Perguntamos, então, a Maria Luíza: é posição extremada ser contrário a esta utilização da Parapsicologia em favor do Espiritismo e do Catolicismo? Se for, concordamos com Maria Luíza e reafirmamos o nosso extremismo.

 

Carlos Alvarado:

 

Estimados/as colegas:

 

Gracias por el reciente mensaje electronico continuando debate. Les agradeceremos que en el futuro mantengan la discusion entre ustedes.

Preferimos no recibir mas mensanjes sobre este tema. Realmente no tenemos tiempo pues nos concentramos en la materia del curso y en nuestras investigaciones. De hecho, no hemos leido nada despues de la primera ronda de respuestas.

 

Este debate es un ejemplo de uno de los problemas basicos de la parapsicologia ibero-americana. Se discute mucho sobre ideas y modelos pero se hace poca ciencia. El proposito del curso es concentrarnos en la metodologia para aumentar el numero de trabajos cientificos. Es lamentable que la energia puesta en este debate no sea la misma que se ha puesto en las discusiones del curso (con excepcion del grupo de Sao Paulo).

 

Valter da Rosa Borges:

 

Disse Alvarado:

 

Preferimos no recibir mas mensanjes sobre este tema. Realmente no tenemos tiempo pues nos concentramos en la materia del curso y en nuestras investigaciones. De hecho, no hemos leido nada despues de la primera ronda de respuestas.

 

Resposta:

 

Esta será a nossa última resposta a Alvarado, atendendo, portanto, ao seu desejo de não receber mais mensagens sobre este tema.

Lembramos, porém, que foi o próprio Alvarado quem estimulou o debate através da Website e é lamentável que nada mais tenha lido sobre o assunto a partir da primeira rodada de respostas. Ficou-nos a incômoda impressão de que não deu importância ao debate.

 

Disse Alvarado:

 

Este debate es un ejemplo de uno de los problemas basicos de la parapsicologia ibero-americana. Se discute mucho sobre ideas y modelos pero se hace poca ciencia. El proposito del curso es concentrarnos en la metodologia para aumentar el numero de trabajos cientificos. Es lamentable que la energia puesta en este debate no sea la misma que se ha puesto en las discusiones del curso (con excepcion del grupo de Sao Paulo).

 

Resposta:

 

Acaso discutir ideias e modelos é fazer pouca ciência? É evidente que precisamos também investir mais em pesquisa experimental e em publicar trabalhos sobre as mesmas. Mas isto é um inconveniente que pode ser sanado.

A energia posta no debate não prejudicou a energia gerada pelo curso. Aliás, o debate foi uma consequência do próprio curso. Não foi apenas o grupo de São Paulo que manteve esta energia, mas também os grupos do Recife, de Curitiba e da Argentina, cujas participações, até agora, foram de 100%. E, diga-se de passagem, os grupos de Curitiba e da Argentina não se envolveram no debate. Portanto, não perderam a energia que estão entusiasticamente colocando no Curso.

 

Wellington Zangari:

 

Sem dúvida, aceito continuar nosso diálogo, independentemente da web.

 

Afirma Zangari que teríamos afirmado que “os fenômenos psicopatológicos são da alçada exclusiva da Psiquiatria”. Em que trecho de nossa resposta fizemos tal afirmação?

 

Ora, estamos discutindo a autonomia da Parapsicologia e cada um defendendo uma posição relacionada a qual disciplina corresponderia ter PSI como objeto de estudo. Quando Valter afirma:

“E por que não se cogita, então, de se transferir o estudo destes fenômenos para a Psicologia, retirando a autonomia da Psiquiatria?”, teria que estar supondo que o estudo dos fenômenos psicopatológicos seria de alçada exclusiva da Psiquiatria, caso contrário a própria pergunta não faz qualquer sentido! Se sua posição fosse contrária, ou seja, de que os fenômenos psicopatológicos seriam objeto de estudo tanto da Psiquiatria quanto da Psicologia (como na realidade são), por que falaria em “autonomia”? De fato, a pretendida autonomia não existe, ruindo a base de sua argumentação.

 

Embora não sejamos “competente” para opinar sobre Psicologia e Psiquiatria, não iríamos dizer tamanha besteira. O que estamos discutindo é o objeto de cada ciência e a autonomia epistemológica de cada uma. Isto não impede – e não haveria qualquer razão plausível para tal – que o objeto de estudo de uma ciência seja também discutido por outras ciências numa atividade proveitosamente interdisciplinar.

Novamente aparece o apelo à suposta autonomia da Psiquiatria em relação aos fenômenos psicopatológicos. Para Borges estes seriam objeto de estudo da Psiquiatria e não da Psicologia que, poderia oferecer alguma ajuda na sua compreensão. Não! Os fenômenos psicopatológicos se constituem em objeto de estudo tanto da Psiquiatria quanto da Psicologia e objeto de especialização de ambas as disciplinas. Novamente, o colega não pode ser acusado de desconhecer áreas que não são de sua competência.

 

Voltamos, mais uma vez, a esclarecer que a autonomia diz respeito à ciência, a qual, como é óbvio, tem o seu objeto determinado e que, portanto, demarca o seu território operacional. Este objeto, porém, não é exclusivo de determinada ciência, mas é a especialização de seu estudo que dá identidade àquela ciência.

Não! Apenas para permanecer no exemplo, infeliz exemplo, do colega Borges, Psiquiatria e Psicologia não diferem quanto ao objeto de estudo ou de especialização.

              Diferem, e esta se constitui a demarcação territorial operacional, na abordagem teórica em relação aos fenômenos psicopatológicos, entre outros.

 

Realmente, Zangari discute a questão sob a óptica preponderantemente pragmática e, basicamente, assume uma postura pessimista em relação ao futuro a Parapsicologia, prevendo que ela será absorvida pela Psicologia. Não vemos, assim, como prosperar qualquer discussão a respeito dessas duas posições.

Realmente, minha posição é de que psi passará a ser objeto de estudo (ou de especialidade) da Psicologia. Isso poderá trazer um enorme avanço na compreensão de psi.

Isso é que creio ser importante: a compreensão de psi. Novamente utilizando do exemplo de Borges, creio que ao defender a autonomia da Parapsicologia, faz como se alguém estivesse propondo ou defendendo a autonomia de uma ciência própria para o estudo dos fenômenos psicopatológicos, uma ciência (Psicopatologia) autônoma, o que me parece absolutamente descabido já que reconhecemos a natureza psicológica tanto dos fenômenos psicopatológicos quanto dos fenômenos psi.

 

Apesar disso, no que diz respeito a certas vantagens universitárias, Zangari admite que existe uma “quase impossibilidade”. Ou, em outras palavras, que existe uma possibilidade, mesmo que remota ou remotíssima.

Afinal, não deixa de ser uma possibilidade. Pior seria se fosse uma impossibilidade.

Por razões práticas e intelectuais prefiro a possibilidade que a “quase impossibilidade”, mas o colega é livre para escolher o contrário.

Pelo fato de a hipnose, os sonhos e o sonambulismo terem passado para o campo da Psicologia, não quer dizer necessariamente que a ESP e a PK também migrarão para o território daquela ciência.

Necessariamente não, mas provavelmente sim. Psi é considerado atualmente como anomalia científica, como o eram aqueles fenômenos.

 

Por outro lado, a hipnose, os sonhos e o sonambulismo não foram tão importantes para a Pesquisa Psíquica e para a Metapsíquica como a telepatia, a clarividência, a precognição, a telecinesia, o “poltergeist”, as casas mal-assombradas, as ditas materializações, etc. Até o momento, pelo contrário, não há indícios de que isto esteja acontecendo.

A migração está acontecendo. Livros texto de Psicologia, utilizados amplamente em universidades, estão trazendo informações favoráveis em relação à psi. Um exemplo é o  Introduction to Psychology (Atinkson et all, 1993) que traz uma longa análise favorável  das pesquisas ganzfeld e psi. Por outro lado, algumas das principais revistas de Psicologia estão publicando artigos de estudos de psi, por exemplo, o Psychological Bulletim, que publicou um artigo de Bem e Honorton sobre a evidência psi em ganzfeld.

 

Esquece Zangari que o I.P.P.P. tem 25 anos de fundação e o nome de psicobiofísica refletiu àquela época a nossa tentativa inicial e frustrada (…) Nem também qualquer de nós se intitula de psicobiofísico, mas de parapsicólogo.

Logo, em relação ao I.P.P.P. esta crítica não tem fundamento.

Não foi uma crítica. Foi uma constatação.

 

É muito instrutivo sabermos que os fenômenos de PK podem ser explicados agora pela psicomotricidade. Deve ser, por certo, um sucedâneo da Super-Psi.

Como sentencia Zangari, o(a)s psicólogo(a), a partir desta hipótese, “poderão dar conta do recado, tranquilamente, mas sempre com o auxílio de outras ciências”. Será que Zangari incluiria, entre essas outras ciências, a Parapsicologia, visto que, em sua óptica, ela, em futuro, será absorvida pela Psicologia?

Afirmei que PK parece ter as mesmas características que os fenômenos psicomotores e não que a psicomotricidade poderia explicar PK. Uma distração do colega. Vejamos o que escrevi:

 

*Considero que psi (ESP + PK) parece ter uma natureza psicológica porque há evidências *empíricas para afirmar assim. Somente pela Física? Meu professor de Neurologia das Praxias *afirmou que os estudiosos desta área estão, cada vez mais, afirmando que não existe *motricidade humana, mas psicomotricidade humana! Da mesma forma parece ser PK, uma ação *humana, para “além” do corpo humano. Evidentemente, há neurologistas interessados no modus *operandi, por exemplo, dos núcleos da base, do cerebelo…, e das subestruturas nervosas, como *as células de Purkinje, etc, etc. Mas, “cada vez mais” percebe-se que todo este aparato funciona *com certa “personalidade”, com uma assinatura própria daquele indivíduo que, apesar de possuir *as mesmas estruturas funcionais que todos os demais seres humanos, o funcionamento de suas *estruturas é único! PK, parece-me, tem a mesma característica. O(a)s psicólogo(a)s poderão dar *conta do recado, tranquilamente, mas sempre com o auxílio de outras ciências.

 

A conclusão de Zangari é sombria: a Parapsicologia seria desmembrada, fragmentada, pulverizada, tornando-se matéria obrigatória das faculdades de Psicologia, Física etc.

Chegamos, então, a um doloroso impasse. Ou continuamos minoria para manter a Psicologia acanhada, mas viva. Ou nos tornamos maioria para a glória masoquista de vê-la destruída e seus despojos devidamente repartidos entre as demais ciências interessadas. Trata-se, na verdade, de uma cena espetacular de antropofagia epistemológica.

O panorama é talvez pior. A Parapsicologia não seria desmembrada, seria desnecessária. Deixaria de existir. Mas, o que é fundamental, os fenômenos psi seriam investigados com todas as garantias acadêmicas e científicas que atualmente não têm.

 

Ótimo! Vê-se que não é necessário mitigar a atenção de cientistas de outras áreas para se informarem sobre a fenomenologia psi. Se eles querem colaborar conosco na investigação destes fenômenos, ótimo também. Porém, é necessário que se esclareça a estes cientistas de outras áreas que somos parapsicólogos e que os fenômenos psi são objeto de estudo da Parapsicologia. E também adotar o mesmo procedimento junto à mídia. Zangari agiu assim?

Sim, sempre digo que, pelo menos por enquanto, a Parapsicologia é que estuda esta classe de fenômenos e que, pelo menos por enquanto, os parapsicólogos são os cientistas que os estudam.

Digo também que espero que cada vez mais estes fenômenos sejam integrados à Psicologia e façam parte de seu escopo, como já parece estar acontecendo!

 

No final de seu longo arrazoado, Zangari muda um pouco o tom e a cor de sua postura fundamental. Talvez uma piedosa concessão funcionando como misericordioso analgésico para aliviar o clima de pessimismo sobre o sombrio futuro da Parapsicologia. Ele admite um “futuro possível” para a Parapsicologia realizar-se como ciência. Que bom!  Por isso, louvamos o esforço de Zangari que é muito maior do que o nosso, pois luta por aquilo que não acredita, enquanto nós, confortavelmente, lutamos por aquilo em que acreditamos. Zangari, por pragmático estoicismo e nós, por romântico quixotismo.

Gosto dos românticos, mas não houve intenção de oferecer misericórdia àquele que não se crê agonizante.

 

Zangari diz que torce e trabalha firmemente para que a Parapsicologia seja aceita plenamente como ciência. Que ciência ou colegiado científico tem competência para decidir que determinada área do conhecimento constitui uma ciência? Isto não aconteceu com nenhuma outra ciência. Por que deveria acontecer com a Parapsicologia? Ademais, o que dá cientificidade a uma ciência não é a aprovação de cientistas de outras áreas: ela se impõe como tal pela utilização de disciplina. Apenas ofereci um testemunho de quão abertos estão ao tema, e quão fechados estão ao rótulo “parapsicologia”. Estão dispostos a ouvir metodologia científica adequada aos fenômenos que investiga.

Cochilou, novamente, o colega. Não vejo os colegas cientistas como os detentores do poder de referendar a cientificidade de qualquer, sem preconceitos, quando falam com alguém que não seja reconhecido, de imediato, como parapsicólogo, falando de Parapsicologia. Depois de ouvirem e entenderem a proposta, dizem que gostaram, mas, como eu, dizem isso é assunto que a Psicologia deveria abraçar, mais intensamente. É uma questão de tempo e isso já está acontecendo.

 

Zangari diz que faz o seu trabalho pela Parapsicologia “de forma particular” e sempre que pode, “apresentando aos demais cientistas o que é a Parapsicologia.” Por que de “forma particular”?

De “forma particular” e “de forma organizada e social”, diz o texto logo em seguida. Extraído do contexto perde o sentido!

 

Embora Zangari não acredite que esta aceitação “nunca aconteça de fato”, afirma que luta “para que isso aconteça”. Reconheço que, neste ponto, Zangari se apresenta com um quixotismo maior que o nosso, pois é capaz de lutar por aquilo que não acredita. Não vejo por que tanto empenho de se levar o trabalho parapsicológico para outras áreas científicas a fim de mendigar seu apoio. Isso me parece uma atitude de reprovável subserviência intelectual. Devemos fazer um trabalho científico em Parapsicologia e é a seriedade deste trabalho, alicerçado na metodologia científica, que dará respeitabilidade e cientificidade à investigação parapsicológica. O que temos a ver com o preconceito de cientistas de outras áreas? Por que lhes damos tamanha importância, como se eles fossem indispensáveis para o progresso da Parapsicologia?

Não tenho qualquer garantia de que tal aceitação aconteça. Se ela vier a acontecer, provavelmente serei incapaz de vislumbrá-la em vida. Assim, o único meio que me resta de dialogar com aqueles que estudam cientificamente psi é através de certo empenho de organização. Por outro lado, apesar de considerar a aceitação da Parapsicologia como ciência de forma ampla algo difícil, creio que é fundamental que os estudiosos de psi possam usufruir da opinião de pesquisadores de outras ciências sobre nossas pesquisas. Assim acontece nas universidades. Assim, vejo que o diálogo que não vejo comumente no Brasil (pelo menos) entre parapsicólogos e demais cientistas, seria fundamental para o desenvolvimento da nossa compreensão de psi.

Ademais, por que este empenho de trazer cientistas de outras áreas para os nossos congressos e eventos, a não ser que eles se mostrem realmente interessados em conhecer a Parapsicologia e colaborar conosco na permuta de informações e experiências?!

Não me preocupa que estejam interessados em Parapsicologia, mas que estejam interessados em ajudar a compreender os fenômenos psi.

Isto quer dizer: aceita-se o fenômeno psi desde que seja estudado à luz da Psicologia, mas não se aceita a Parapsicologia que, por sua falta de credibilidade acadêmica, torna também sem credibilidade o fenômeno psi. Ou seja: a Parapsicologia é um estorvo para o estudo da psi e, por isto, eugenicamente, deve ser eliminada. Pois bem, é nesta ocasião que o parapsicólogo deve mostrar o que é a Parapsicologia e não fazer coro com os seus opositores e tratar os fenômenos psi na condição de psicólogo. Se aqueles 2.000 psicólogos estavam dispostos a ouvir sobre fenômenos psi, por que se perdeu a oportunidade de se falar sobre a ciência que os estuda, no caso, a Parapsicologia? É assim que estamos trabalhando pela Parapsicologia?

Novamente, o colega parece pressupor mais do que compreender! O testemunho serve para mostrar o interesse dos psicólogos em relação ao tema e de porque considero que os fenômenos psi serão incorporados à Psicologia. Borges pressupõe ao afirmar que fizemos coro com os opositores da Parapsicologia. Em todas as nossas apresentações deixamos claro que é a Parapsicologia é que tradicionalmente estuda tais fenômenos. Mas é importante lembrar que essas oportunidades nos foram abertas porque não nos apresentamos, de imediato, como parapsicólogos. Foi quando mudamos de estratégia que nossos trabalhos começaram a ser aceitos.

Não sei que modo é este de lutar pela Parapsicologia, escondendo a sua condição de parapsicólogo. Não sei que modo é este de lutar pela Parapsicologia, procurando pesquisar os fenômenos psi em outra área científica que não a da Parapsicologia. Vergonha de ser parapsicólogo e medo de perder status de cientista? Não tenho qualquer status de cientista a perder.

Meu modo de lutar pelo estudo científico dos fenômenos psi é diferente do apego “romântico” à Parapsicologia. Se tivesse vergonha de ser parapsicólogo não me apresentaria como tal nos programas de maior audiência na televisão brasileira e nos maiores e melhores congressos de Psicologia do país. A questão é como fazer isso, aproveitando a oportunidade e tendo consciência de que a questão do reconhecimento de psi, como afirmou James McLenon, é uma questão retórica e política além de metodológica.

É realmente chocante ouvir uma declaração como essa, partida de um parapsicólogo. Ao invés de esclarecer aos “donos do dinheiro” que era um parapsicólogo, Zangari permitiu-se ficar na condição de “um pesquisador em Ciências da Religião”, sob o pretexto de despertar o interesse daqueles pelos fenômenos psi.

O nobre colega Borges parece não estar a par do processo de aquisição de bolsas no país. Isto é uma pena, já que valeria a pena ter a experiência de ter algum trabalho parapsicológico seu julgado por uma comissão de cientistas de outras áreas. Os “donos do dinheiro” não sabem se sou ou não um parapsicólogo. Eles julgam um projeto de pesquisa que lhes é encaminhado. Como candidato à bolsa, não posso sequer conhecer quem foram os examinadores do projeto. Mas, é importante que o colega saiba que o currículo que enviei aos “donos do dinheiro” está repleto de informações quanto as minhas atividades parapsicológicas. O que interessava a eles era saber da qualidade do projeto apresentado. O simples fato de eu estar fazendo um curso de mestrado em Ciências da Religião, fez de mim um pesquisador dessa área. Não houve o tal “pretexto de despertar o interesse daqueles pelos fenômenos psi” mas estou consciente de que ser naquela altura um pesquisador em Ciências da Religião facilitou as coisas. Tente, por exemplo, o IPPP pedir uma bolsa de pesquisa para os órgãos de incentivo à pesquisa governamentais.

Aliás, na oportunidade, desejaria saber quais são estas “Ciências da Religião” e se a Religião, por acaso, se transmudou em Ciência. Seria bastante ilustrativo conhecer de um pesquisador de tais singulares ciências a metodologia científica por elas utilizada. Com todo o prazer.

Ciências da Religião é o nome dado ao conjunto das ciências que analisam o fenômeno religioso de um ponto de vista científico. As tais “singulares ciências” são, nada menos, que a Natropologia, a Sociologia, a Psicologia e outros saberes como a Filosofia. A metodologia? A mesma empregada por tais “singulares ciências” ao analisarem qualquer outro fenômeno.

Concordo plenamente com esta posição, desde que deixemos explícito em nossas dissertações de mestrado e teses de dourado que os fenômenos psi são objeto de estudo da Parapsicologia, o que não quer dizer que outras ciências não possam também, numa área interdisciplinar, investigá-los, contribuindo, assim, para a própria pesquisa parapsicológica e maior entendimento sobre a natureza desta fenomenologia.

Já comentei minha posição a respeito dessa questão.

Serão, por acaso, as Universidades que decidem se determinado ramo do conhecimento é ou não científico? Logo, não é o selo ou a chancela acadêmica que irá dar cientificidade à Parapsicologia, mas, sim, o trabalho realizado, mesmo com enormes sacrifícios, pelos parapsicólogos realmente idealistas e que não visem resultados imediatos e pragmáticos.

Concordo em parte. Meu idealismo está em ver psi integrado aos temas discutidos nas universidades. Por que? Porque não conheço ambiente melhor que as universidades para isso, tanto pelas questões práticas (local, equipamentos…) quanto pela possibilidade de intercâmbio com colegas de outras disciplinas. Para conquistar meu ideal estou sendo prático e tenho obtido resultados imediatos. Com isso, os fenômenos psi têm conseguido espaço acadêmico e, apesar de eu acreditar na possibilidade do fim da Parapsicologia no futuro, atualmente ela tem se beneficiado com a estratégia adotada. Uma vez aberta a possibilidade, todos os acadêmicos acabam por saber que a Parapsicologia é a ciência tradicionalmente estuda psi…….

Recentemente recebemos convite da Fundação do Ensino Superior de Olinda -FUNESO -, que, em breve se transformará em Universidade, para implantar um Curso de Parapsicologia naquela instituição e já estamos adotando as primeiras providências para a realização deste empreendimento.

Todas as oportunidades devem ser aproveitadas para que psi tenha espaço na academia. Esta me parece uma grande oportunidade. Sucesso. Pelo menos enquanto a Parapsicologia existir.

 

“O que quero dizer é que é louvável lutarmos pela emancipação da Parapsicologia e tentar fazer que ela ingresse na universidade. Continuemos a fazer tudo isso.”        Se isto é sincero e não apenas uma gentileza dialética, por certo não temos mais nada a discutir sobre o assunto.

Sempre tive e sempre terei imenso prazer em dialogar com Borges, uma das principais forças de resistência da Parapsicologia no Brasil.

 

Valter da Rosa Borges:

 

            Cita-nos Zangari:

 

Afirma Zangari que teríamos afirmado que “os fenômenos psicopatológicos são da alçada exclusiva da Psiquiatria”. Em que trecho de nossa resposta fizemos tal afirmação?

 

E argumenta:

 

“Ora, estamos discutindo a autonomia da Parapsicologia e cada um defendendo uma posição relacionada a qual disciplina corresponderia ter PSI como objeto de estudo. Quando Valter afirma:

“E por que não se cogita, então, de se transferir o estudo destes fenômenos para a Psicologia, retirando a autonomia da Psiquiatria?”, teria que estar supondo que o estudo dos fenômenos psicopatológicos seria de alçada exclusiva da Psiquiatria, caso contrário a própria pergunta não faz qualquer sentido! Se sua posição fosse contrária, ou seja, de que os fenômenos psicopatológicos seriam objeto de estudo, tanto da Psiquiatria quanto da Psicologia (como na realidade são), por que falaria em “autonomia”? De fato, a pretendida autonomia não existe, ruindo a base de sua argumentação.”

 

Nossa resposta:

 

Zangari insiste em confundir objeto de uma ciência com exclusividade no estudo deste objeto. Os parapsicólogos não apenas podem, mas devem estudar fenômenos de outras áreas do conhecimento científico que possam trazer subsídios à Parapsicologia. Todavia, não se pode dizer que, por causa disto, esses fenômenos passem a ser objeto da Parapsicologia. Se as ciências não tivessem uma área específica de estudos – o seu objeto – elas não teriam identidade própria. É a esta identidade própria que se dá o nome de autonomia. Autonomia existe sim, por mais que Zangari não queira. O que não existe é exclusividade. Logo, nada impede que psicólogos, psiquiatras, físicos, biólogos estudem os fenômenos psi, embora não sejam estes fenômenos o objeto de suas respectivas ciências.

 

Cita-nos Zangari:

 

Embora não sejamos “competente” para opinar sobre Psicologia e Psiquiatria, não iríamos dizer tamanha besteira. O que estamos discutindo é o objeto de cada ciência e a autonomia epistemológica de cada uma. Isto não impede – e não haveria qualquer razão plausível para tal – que o objeto de estudo de uma ciência seja também discutido por outras ciências numa atividade proveitosamente interdisciplinar.

E argumenta:

 

“Novamente aparece o apelo à suposta autonomia da Psiquiatria em relação aos fenômenos psicopatológicos. Para Borges estes seriam objeto de estudo da Psiquiatria e não da Psicologia que, poderia oferecer alguma ajuda na sua compreensão. Não! Os fenômenos psicopatológicos se constituem em objeto de estudo tanto da Psiquiatria quanto da Psicologia e objeto de especialização de ambas as disciplinas. Novamente, o colega não pode ser acusado de desconhecer áreas que não são de sua competência.”

 

Nossa resposta:

 

Zangari, em outras palavras, argumenta que Psicologia e Psiquiatria são a mesma coisa porque “os fenômenos psicopatológicos se constituem em objeto de estudo tanto da Psiquiatria quanto da Psicologia”. Acaso a Parapsicologia também estuda fenômenos psicológicos e psicopatológicos? Acaso a Psiquiatra estuda fenômenos paranormais ou psi? Ora, segundo Zangari, a Psicologia estuda também fenômenos psicopatológicos e paranormais. O que leva à conclusão de que a Psicologia, em futuro, absorverá também a Psiquiatria e não apenas a Parapsicologia. Então, desaparecerão psiquiatras e parapsicólogos e todos serão denominados psicólogos. A dificuldade acadêmica, porém, é de que a Psicologia vai ter que substituir a Psiquiatria na área médica. Teremos, então, a figura do psicólogo médico ou do médico psicólogo.

 

Cita-nos Zangari:

 

Voltamos, mais uma vez, a esclarecer que a autonomia diz respeito à ciência, a qual, como é óbvio, tem o seu objeto determinado e que, portanto, demarca o seu território operacional. Este objeto, porém, não é exclusivo de determinada ciência, mas é a especialização de seu estudo que dá identidade àquela ciência.

 

E argumenta:

 

“Não! Apenas para permanecer no exemplo, infeliz exemplo, do colega Borges, Psiquiatria e Psicologia não diferem quanto ao objeto de estudo ou de especialização.

“Diferem, e esta se constitui a demarcação territorial operacional, na abordagem teórica em relação aos fenômenos psicopatológicos, entre outros.”

 

Nossa resposta:

 

A demarcação territorial que dá identidade epistemológica a uma determinada área do conhecimento científico é determinada pelo seu objeto. E este objeto não constitui uma simples demarcação didática, formal, mas operacional e metodológico. É isso o que difere as ciências que têm praticamente o mesmo objeto, como a Sociologia, a Antropologia e a Etnologia. E também entre o que é ciência e o que não é ciência como a Astronomia e a Astrologia

 

            Cita-nos Zangari:

 

Realmente, Zangari discute a questão sob a óptica preponderantemente pragmática e, basicamente, assume uma postura pessimista em relação ao futuro da Parapsicologia, prevendo que ela será absorvida pela Psicologia. Não vemos, assim, como prosperar qualquer discussão a respeito dessas duas posições.

 

E argumenta:

 

“Realmente minha posição é de que psi passará a ser objeto de estudo (ou de especialidade) da Psicologia. Isso poderá trazer um enorme avanço na compreensão de psi.

Isso é que creio ser importante: a compreensão de psi. Novamente utilizando do exemplo de Borges, creio que ao defender a autonomia da Parapsicologia, faz como se alguém estivesse propondo ou defendendo a autônoma de uma ciência própria para o estudo dos fenômenos psicopatológicos, uma ciência (Psicopatologia) autônoma, o que me parece absolutamente descabido já que reconhecemos a natureza psicológica tanto dos fenômenos psicopatológicos quanto dos fenômenos psi.”

 

Nossa resposta:

 

Zangari não acredita no futuro da Parapsicologia e entende que o avanço da compreensão da psi só se dará quando ela passar a ser objeto de estudo (ou de especialidade) da Psicologia.

Ficou meridianamente claro que Zangari é apenas, estrategicamente, um parapsicólogo e que pertence a sociedades de Parapsicologia apenas por conveniência. Logo, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Parapsicologia, da qual ele é um dos idealizadores e fundadores, é um sofisma institucional. Como esta sociedade é para o progresso da Parapsicologia, se o seu criador não acredita no futuro de sua criatura? Quando gentilmente fui convidado por Zangari para ser um dos fundadores desta Sociedade, aceitei o convite com muita alegria, pois sempre acreditei e continuo acreditando no progresso da Parapsicologia.

 

Cita-nos Zangari:

 

Apesar disso, no que diz respeito a certas vantagens universitárias, Zangari admite que existe uma “quase impossibilidade”. Ou, em outras palavras, que existe uma possibilidade, mesmo que remota ou remotíssima.

Afinal, não deixa de ser uma possibilidade. Pior seria se fosse uma impossibilidade.

 

E argumenta:

 

“Por razões práticas e intelectuais prefiro a possibilidade que a “quase impossibilidade”, mas o colega é livre para escolher o contrário.”

 

Nossa resposta:

 

Eis outro trecho confuso e contraditório. Zangari havia afirmado que existia uma “quase impossibilidade” e agora “por razões práticas e intelectuais” prefere “a possibilidade que a “quase impossibilidade” e ainda diz que “o colega é livre para escolher o contrário” “. E tudo isso, por razões práticas e intelectuais. É realmente uma nebulosidade prática ou uma prática do nebuloso.

 

Cita-nos Zangari:

 

Pelo fato de a hipnose, os sonhos e o sonambulismo terem passado para o campo da Psicologia, não quer dizer necessariamente que a ESP e a PK também migrarão para o território daquela ciência.

 

E argumenta:

 

“Necessariamente não, mas provavelmente sim. Psi é considerado atualmente como anomalia científica, como o eram aqueles fenômenos.”

 

Nossa resposta:

 

Depende do que se quer conceituar como anomalia científica. Há parapsicólogos que substituíram o vocábulo paranormal pela palavra anômalo. E daí? Qual o resultado prático desta mudança? Na nossa opinião, o que denominamos de paranormal é o normal incomum, extraordinário. Não acreditamos que o paranormal, um dia, passe a ser normalizado. É o mesmo que se pretender que os eventos quânticos se comportem, um dia, como os fenômenos da Física Clássica. Na verdade, a Parapsicologia está para a Psicologia como a Física Quântica está para a Física Clássica.

Aliás, estas pretensões colonialistas não são incomuns entre os cientistas. Edward O. Wilson vaticinava que a Sociobiologia acabaria por abranger a Sociologia, a Antropologia e a Psicologia, enfim, todas as ciências sociais e até a Filosofia.

É ainda importante lembrar que a Sociologia, a Antropologia e a Etnologia possuem, praticamente, o mesmo objeto e, no entanto, os cientistas destas áreas não vivem litigando entre si, para saber qual desta ciência deve absorver as demais.

 

Cita-nos Zangari:

 

Por outro lado, a hipnose, os sonhos e o sonambulismo não foram tão importantes para a Pesquisa Psíquica e para a Metapsíquica como a telepatia, a clarividência, a precognição, a telecinesia, o “poltergeist”, as casas mal-assombradas, as ditas materializações etc. Até o momento, pelo contrário, não há indícios de que isto esteja acontecendo.

 

E argumenta:

 

“A migração está acontecendo. Livros texto de Psicologia, utilizados amplamente em universidades, estão trazendo informações favoráveis em relação à psi. Um exemplo é o Introduction to Psychology (Atinkson et all, 1993) que traz uma longa análise favorável das pesquisas ganzfeld e psi. Por outro lado, algumas das principais revistas de Psicologia estão publicando artigos de estudos de psi, por exemplo, o Psychological Bulletim, que publicou um artigo de Bem e Honorton sobre a evidência psi em ganzfeld.”

 

Nossa resposta:

 

Mais uma vez, Zangari não responde à objeção e coloca o ganzfeld, que é mais uma ferramenta para a investigação da psi, como prova de que os fenômenos ESP estão migrando para o campo da Psicologia. Ora, utiliza-se também a hipnose na pesquisa ESP. Por ventura, a hipnose é uma ferramenta usada apenas por psicólogos?

Quais são os fenômenos PK que estão passando para o campo da Psicologia? Zangari nem sequer tocou no assunto.

A Parapsicologia pode utilizar laboratórios de física na investigação dos fenômenos de PK. Em razão disto, haverá o perigo de os fenômenos de PK migrarem para a Física?

 

Cita-nos Zangari:

 

Esquece Zangari que o I.P.P.P. tem 25 anos de fundação e o nome de psicobiofísica refletiu àquela época a nossa tentativa inicial e frustrada (…) Nem também qualquer de nós se intitula de psicobiofísico, mas de parapsicólogo.

Logo, em relação ao I.P.P.P. esta crítica não tem fundamento.

 

E se explica:

 

Não foi uma crítica. Foi uma constatação.

 

Nossa resposta:

 

Constatação de um fato passado que não se aplica ao presente.

 

Cita-nos Zangari:

 

É muito instrutivo sabermos que os fenômenos de PK podem ser explicados agora pela psicomotricidade. Deve ser, por certo, um sucedâneo da Super-Psi.

Como sentencia Zangari, o(a)s psicólogo(a)s, a partir desta hipótese, “poderão dar conta do recado, tranquilamente, mas sempre com o auxílio de outras ciências”. Será que Zangari incluiria, entre essas outras ciências, a Parapsicologia, visto que, em sua óptica, ela, em futuro, será absorvida pela Psicologia?

 

E argumenta:

 

“Afirmei que PK parece ter as mesmas características que os fenômenos psicomotores e não que a psicomotricidade poderia explicar PK. Uma distração do colega. Vejamos o que escrevi:

 

*Considero que psi (ESP + PK) parece ter uma natureza psicológica porque há evidências *empíricas para afirmar assim. Somente pela Física? Meu professor de Neurologia das Praxias *afirmou que os estudiosos desta área estão, cada vez mais, afirmando que não existe *motricidade humana, mas psicomotricidade humana! Da mesma forma parece ser PK, uma ação *humana, para “além” do corpo humano. Evidentemente, há neurologistas interessados no modus *operandi, por exemplo, dos núcleos da base, do cerebelo…, e das subestruturas nervosas, como as células de Purkinje, etc, etc. Mas, “cada vez mais” percebe-se que todo este aparato funciona *com certa “personalidade”, com uma assinatura própria daquele indivíduo que, apesar de possuir *as mesmas estruturas funcionais que todos os demais seres humanos, o  funcionamento de suas *estruturas é único! PK, parece-me, tem a mesma característica. O(a)s  psicólogo(a)s poderão dar *conta do recado, tranquilamente, mas sempre com o auxílio de outras  ciências.”

 

Nossa resposta:

 

            Segundo Zangari, o seu professor de Neurologia das Praxias “afirmou que estudiosos desta área estão, cada vez mais, afirmando que não existe motricidade humana, mas psicomotricidade humana”. E se afirma que “da mesma forma parece ser PK uma ação humana, para “além” do corpo.”

            Qual a relação entre as duas coisas, ou seja, a psicomotricidade e a PK? Foi esta a nossa primeira impressão. Mas, logo adiante, Zangari parece estabelecer um vínculo entre a psicomotricidade e a PK, afirmando que possuem as mesmas características.

            Ora, se houve “distração” da nossa parte, esta decorreu da própria nebulosidade da argumentação. Quando Zangari não quer ser claro, ele o é com extrema maestria. Pode-se ainda compreender esta nebulosidade: afinal, Zangari não é médico e por isso, não é competente para tratar de questões ligadas à Neurologia.

           

            Cita-nos Zangari:

 

A conclusão de Zangari é sombria: a Parapsicologia seria desmembrada, fragmentada, pulverizada, tornando-se matéria obrigatória das faculdades de Psicologia, Física etc.

Chegamos, então, a um doloroso impasse. Ou continuamos minoria para manter a Parapsicologia acanhada, mas viva. Ou nos tornamos maioria para a glória masoquista de vê-la destruída e seus despojos devidamente repartidos entre as demais ciências interessadas. Trata-se, na verdade, de uma cena espetacular de antropofagia epistemológica.

 

Argumenta Zangari:

 

“O panorama é talvez pior. A Parapsicologia não seria desmembrada, seria   desnecessária. Deixaria de existir. Mas, o que é fundamental, os fenômenos psi seriam investigados com todas as garantias acadêmicas e científicas que atualmente não têm.”

 

Nossa resposta:

 

Uma vez mais, Zangari confirmou a sua fundamental descrença na Parapsicologia. É um direito que lhe assiste aliar-se aos céticos da Parapsicologia. Só com uma diferença: os céticos não se proclamam parapsicólogos.

 

Cita-nos Zangari:

 

Ótimo! Vê-se que não é necessário mitigar a atenção de cientistas de outras áreas para se informarem sobre a fenomenologia psi. Se eles querem colaborar conosco na investigação destes fenômenos, ótimo também. Porém, é necessário que se esclareça a estes cientistas de outras áreas que somos parapsicólogos e que os fenômenos psi são objeto de estudo da Parapsicologia. E também adotar o mesmo procedimento junto à mídia. Zangari agiu assim?

 

E argumenta:

 

“Sim, sempre digo que, pelo menos por enquanto, a Parapsicologia é que estuda esta classe de fenômenos e que, pelo menos por enquanto, os parapsicólogos são os cientistas que os estudam.

Digo também que espero que cada vez mais estes fenômenos sejam integrados à Psicologia e façam parte de seu escopo, como já parece estar acontecendo!”

 

Nossa resposta:

 

Eis uma confissão explícita e pública de Zangari, esclarecendo a cientistas de outras áreas que, “pelo menos por enquanto, a Parapsicologia é que estuda esta classe de fenômenos e que, pelo menos por enquanto, os parapsicólogos são os cientistas que os estudam.” 

E mais enfaticamente esclarece àqueles cientistas:

“Digo também que espero que cada vez mais estes fenômenos sejam integrados à Psicologia e façam parte de seu escopo, como já parece estar acontecendo!”

Isto é que é um invejável serviço prestado a Parapsicologia por um… parapsicólogo. Zangari é mesmo um parapsicólogo?

 

Cita-nos Zangari:

 

No final de seu longo arrazoado, Zangari muda um pouco o tom e a cor de sua postura fundamental. Talvez uma piedosa concessão funcionando como misericordioso analgésico para aliviar o clima de pessimismo sobre o sombrio futuro da Parapsicologia. Ele admite um “futuro possível” para a Parapsicologia realizar-se como ciência. Que bom!  Por isso, louvamos o esforço de Zangari, que é muito maior do que o nosso, pois luta por aquilo que não acredita, enquanto nós, confortavelmente, lutamos por aquilo em que acreditamos. Zangari, por pragmático estoicismo e nós, por romântico quixotismo.

 

E argumenta:

 

“Gosto dos românticos, mas não houve intenção de oferecer misericórdia àquele que não se crê agonizante.”

 

Nossa resposta:

 

            Zangari procura fazer de suas contradições um exercício dialético. Ora ele prega que a Parapsicologia é uma ciência inviável, ora ele admite “um futuro possível”  para a Parapsicologia. Ele é um obstinado cultor do paradoxo.

 

            Cita-nos Zangari:

 

Zangari diz que torce e trabalha firmemente para que a Parapsicologia seja aceita plenamente como ciência. Que ciência ou colegiado científico tem competência para decidir que determinada área do conhecimento constitui uma ciência? Isto não aconteceu com nenhuma outra ciência. Por que deveria acontecer com a Parapsicologia? Ademais, o que dá cientificidade a uma ciência não é a aprovação de cientistas de outras áreas: ela se impõe como tal, pela utilização de disciplina.

 

E argumenta:

 

“Apenas ofereci um testemunho de quão abertos estão ao tema, e quão fechados estão ao rótulo “parapsicologia”. Estão dispostos a ouvir metodologia científica adequada aos fenômenos que investiga.

Cochilou, novamente, o colega. Não vejo os colegas cientistas como os detentores do poder de referendar a cientificidade de qualquer, sem preconceitos, quando falam com alguém que não seja reconhecido, de imediato, como parapsicólogo, falando de Parapsicologia. Depois de ouvirem e entenderem a proposta, dizem que gostaram, mas, como eu, dizem isso é assunto que a Psicologia deveria abraçar, mais intensamente. É uma questão de tempo e isso já está acontecendo.”

 

Nossa resposta

 

É, justamente, neste ponto que o parapsicólogo deve demonstrar aos cientistas de outras áreas, abertos ao tema da psi, como a Parapsicologia, na sua condição de ciência, vem pesquisando os fenômenos paranormais. Zangari assim o fez?

Não diz Zangari onde foi que cochilamos. E o seu arrazoado seguinte é um simples palavreado sem qualquer objetividade. Fraquezas da erística.

 

Cita-nos Zangari:

 

Zangari diz que faz o seu trabalho pela Parapsicologia “de forma particular” e sempre que pode, “apresentando aos demais cientistas o que é a Parapsicologia.” Por que de “forma particular”?

 

E argumenta:

 

“De “forma particular” e “de forma organizada e social”, diz o texto logo em seguida. Extraído do contexto perde o sentido!”

 

Nossa resposta:

 

Depois de tudo o que Zangari disse, cabe-nos indagar qual o trabalho que ele, realmente, faz pela Parapsicologia?. Talvez possamos entender que, “de forma particular”, ele trabalhe pela Parapsicologia, mas “de forma organizada e social”, faça o contrário.

 

Cita-nos Zangari:

 

Embora Zangari não acredite que esta aceitação “nunca aconteça de fato”, afirma que luta “para que isso aconteça”. Reconheço que, neste ponto, Zangari se apresenta com um quixotismo maior que o nosso, pois é capaz de lutar por aquilo que não acredita. Não vejo por que tanto empenho de se levar o trabalho parapsicológico para outras áreas científicas a fim de mendigar seu apoio. Isso me parece uma atitude de reprovável subserviência intelectual. Devemos fazer um trabalho científico em Parapsicologia e é a seriedade deste trabalho, alicerçado na metodologia científica, que dará respeitabilidade e cientificidade à investigação parapsicológica. O que temos a ver com o preconceito de cientistas de outras áreas? Por que lhes damos tamanha importância, como se eles fossem indispensáveis para o progresso da Parapsicologia?

 

E argumenta:

 

“Não tenho qualquer garantia de que tal aceitação aconteça. Se ela vier a acontecer, provavelmente serei incapaz de vislumbrá-la em vida. Assim, o único meio que me resta de dialogar com aqueles que estudam cientificamente psi é através de certo empenho de organização. Por outro lado, apesar de considerar a aceitação da Parapsicologia como ciência de forma ampla algo difícil, creio que é fundamental que os estudiosos de psi possam usufruir da opinião de pesquisadores de outras ciências sobre nossas pesquisas. Assim acontece nas universidades. Assim, vejo que o diálogo que não vejo comumente no Brasil (pelo menos) entre parapsicólogos e demais cientistas, seria fundamental para o desenvolvimento da nossa compreensão de psi.”

 

Nossa resposta:

 

Em momento algum falamos em garantias para que tal aceitação aconteça. O que, enfaticamente, afirmamos foi que não precisamos mendigar o apoio de cientistas de outras áreas para realizar as nossas pesquisas parapsicológicas. Zangari, realmente, procura usar de prestidigitação intectual para camuflar a inconsistência de sua argumentação. Não é, portanto, à toa que ele é especialista também em mágica.

 

Cita-nos Zangari:

 

Ademais, por que este empenho de trazer cientistas de outras áreas para os nossos congressos e eventos, a não ser que eles se mostrem realmente interessados em conhecer a Parapsicologia e colaborar conosco na permuta de informações e experiências?!

 

E argumenta:

 

“Não me preocupa que estejam interessados em Parapsicologia, mas que estejam interessados em ajudar a compreender os fenômenos psi.”

 

 

Nossa resposta:

 

Claro. Claríssimo. Zangari não tem interesse pela Parapsicologia, mas pelos fenômenos psi e seu empenho é direcioná-los para a Psicologia.

 

Cita-nos Zangari:

 

Isto quer dizer: aceita-se o fenômeno psi, desde que seja estudado à luz da Psicologia, mas não se aceita a Parapsicologia que, por sua falta de credibilidade acadêmica, torna também sem credibilidade o fenômeno psi. Ou seja: a Parapsicologia é um estorvo para o estudo da psi e, por isto, eugenicamente, deve ser eliminada. Pois bem, é nesta ocasião que o parapsicólogo deve mostrar o que é a Parapsicologia e não fazer coro com os seus opositores e tratar os fenômenos psi na condição de psicólogo. Se aqueles 2.000 psicólogos estavam dispostos a ouvir sobre fenômenos psi, por que se perdeu a oportunidade de se falar sobre a ciência que os estuda, no caso, a Parapsicologia? É assim que estamos trabalhando pela Parapsicologia?

 

E argumenta:

 

“Novamente, o colega parece pressupor mais do que compreender! O testemunho serve para mostrar o interesse dos psicólogos em relação ao tema e de porque considero que os fenômenos psi serão incorporados à Psicologia. Borges pressupõe ao afirmar que fizemos coro com os opositores da Parapsicologia. Em todas as nossas apresentações deixamos claro que é a Parapsicologia é que tradicionalmente estuda tais fenômenos. Mas é importante lembrar que essas oportunidades nos foram abertas porque não nos apresentamos, de imediato, como parapsicólogos. Foi quando mudamos de estratégia que nossos trabalhos começaram a ser aceitos.”

 

Nossa resposta:

 

Zangari é, inegavelmente, um mestre em contradições. Ele não acredita na viabilidade da Parapsicologia, faz essa afirmação perante cientistas de outras áreas. E protesta que é nossa pressuposição que ela integre o coro dos opositores da Parapsicologia. Zangari deixou bem patente que não trabalha pela Parapsicologia, mas pela compreensão dos fenômenos psi, os quais devem ser estudados pela Psicologia. Ora, isto não é favorecer a causa dos opositores da Parapsicologia?

A posição de Zangari, no time da Parapsicologia, é realmente singular. Veste, aparentemente, a camisa da Parapsicologia, mas não acredita na vitória do time e, em algumas oportunidades facilita o jogo do adversário e chega até a fazer gol contra. Este é um exemplo que se aplica bem ao caso.

 

Cita-nos Zangari:

 

Não sei que modo é este de lutar pela Parapsicologia, escondendo a sua condição de parapsicólogo. Não sei que modo é este de lutar pela Parapsicologia, procurando pesquisar os fenômenos psi em outra área científica que não a da Parapsicologia. Vergonha de ser parapsicólogo e medo de perder status de cientista? Não tenho qualquer status de cientista a perder.

 

E argumenta:

 

“Meu modo de lutar pelo estudo científico dos fenômenos psi é diferente do apego “romântico” à Parapsicologia. Se tivesse vergonha de ser parapsicólogo não me apresentaria como tal nos programas de maior audiência na televisão brasileira e nos maiores e melhores congressos de Psicologia do país. A questão é como fazer isso, aproveitando a oportunidade e tendo consciência de que a questão do reconhecimento de psi, como afirmou James McLenon, é uma questão retórica e política além de metodológica.”

 

Nossa resposta:

 

            É preferível o apego “romântico” à Parapsicologia do que o modo “kamikase” de “defendê-la”. Apresentar-se como parapsicólogo na televisão é realmente muito corajoso. Nós o parabenizamos por isso. Mas, é preciso só um pouquinho de coragem a mais: defender a Parapsicologia como uma ciência em evolução e não como uma ciência em extinção.

 

            Cita-nos Zangari:

 

É realmente chocante ouvir uma declaração como essa, partida de um parapsicólogo. Ao invés de esclarecer aos “donos do dinheiro” que era um parapsicólogo, Zangari permitiu-se ficar na condição de “um pesquisador em Ciências da Religião”, sob o pretexto de despertar o interesse daqueles pelos fenômenos psi.

 

E argumenta:

 

“O nobre colega Borges parece não estar a par do processo de aquisição de  bolsas no país. Isto é uma pena, já que valeria a pena ter a experiência de ter algum trabalho parapsicológico seu julgado por uma comissão de cientistas de outras áreas. Os “donos do dinheiro” não sabem se sou ou não um parapsicólogo. Eles julgam um projeto de pesquisa que lhes é encaminhado. Como candidato à bolsa, não posso sequer conhecer quem foram os examinadores do projeto. Mas, é importante que o colega saiba que o currículo que enviei aos “donos do dinheiro” está repleto de informações quanto as minhas atividades parapsicológicas. O que interessava a eles era saber da qualidade do projeto apresentado. O simples fato de eu estar fazendo um curso de mestrado em Ciências da Religião, fez de mim um pesquisador dessa área. Não houve o tal “pretexto de despertar o interesse daqueles pelos fenômenos psi” mas estou consciente de que ser naquela altura um pesquisador em Ciências da Religião facilitou as coisas. Tente, por exemplo, o IPPP pedir uma bolsa de pesquisa para os órgãos de incentivo à pesquisa governamentais.”

 

Nossa resposta.

 

Novamente o argumento pragmático de Zangari. Só que sabemos que tal empenho não é em favor da Parapsicologia, mas, sim, da pesquisa dos fenômenos psi em outra área científica, no caso, a Psicologia.

Não há, no momento, interesse do IPPP em solicitar recursos para a pesquisa parapsicológica a órgãos governamentais. Zangari já recebeu ajuda governamental para suas pesquisas em Psicologia? O que podemos assegurar é que, um dia, se esta possibilidade surgir, o IPPP não desperdiçará  a feliz oportunidade e os fenômenos paranormais serão estudados no campo a que eles realmente pertencem – o da Parapsicologia.

 

Cita-nos Zangari:

 

Aliás, na oportunidade, desejaria saber quais são estas “Ciências da Religião” e se a Religião, por acaso, se transmudou em Ciência. Seria bastante ilustrativo conhecer de um pesquisador de tais singulares ciências a metodologia científica por elas utilizada. Com todo o prazer.

 

E nos informa:

 

“Ciências da Religião é o nome dado ao conjunto das ciências que analisam o fenômeno religioso de um ponto de vista científico. As tais “singulares ciências” são, nada menos, que a Antropologia, a Sociologia, a Psicologia e outros saberes como a Filosofia. A metodologia? A mesma empregada por tais “singulares ciências” ao analisarem qualquer outro fenômeno.”

 

            Nossa resposta:

 

            Um colegiado de ciências, formando uma nova ciência não deixa de ser uma singularidade, principalmente quando esta ciência colegiada estuda o fenômeno religioso. E deste colegiado científico ainda faz parte a Filosofia.

            Ora, um cientista de uma ciência colegiada deve ser, na verdade, um cientista também singular.

 

            Cita-nos Zangari:

 

Concordo plenamente com esta posição, desde que deixemos explícito em nossas dissertações de mestrado e teses de dourado que os fenômenos psi são objeto de estudo da Parapsicologia, o que não quer dizer que outras ciências não possam também, numa área interdisciplinar, investigá-los, contribuindo, assim, para a própria pesquisa parapsicológica e maior entendimento sobre a natureza desta fenomenologia.

 

E relembra, laconicamente, o que não é do seu estilo:

 

“Já comentei minha posição a respeito dessa questão.”

 

Nossa resposta, também lacônica, como é do nosso estilo:

 

Claro. A posição de Zangari não deixa dúvida a respeito.

 

Cita-nos Zangari:

 

Serão, por acaso, as Universidades que decidem se determinado ramo do conhecimento é ou não científico? Logo, não é o selo ou a chancela acadêmica que irá dar cientificidade à Parapsicologia, mas, sim, o trabalho realizado, mesmo com enormes sacrifícios, pelos parapsicólogos realmente idealistas e que não visem resultados imediatos e pragmáticos.

 

E argumenta:

 

“Concordo em parte. Meu idealismo está em ver psi integrado aos temas discutidos nas universidades. Por que? Porque não conheço ambiente melhor que as universidades para isso, tanto pelas questões práticas (local, equipamentos…) quanto pela possibilidade de intercâmbio com colegas de outras disciplinas. Para conquistar meu ideal estou sendo prático e tenho obtido resultados imediatos. Com isso, os fenômenos psi têm conseguido espaço acadêmico e, apesar de eu acreditar na possibilidade do fim da Parapsicologia no futuro, atualmente ela tem se beneficiado com a estratégia adotada. Uma vez aberta a possibilidade, todos os acadêmicos acabam por saber que a Parapsicologia é a ciência tradicionalmente estuda psi…” 

 

Nossa resposta:

 

Na verdade, não vejo qualquer lucro para a Parapsicologia nesta estratégia utilizada por Zangari, se ele apresenta trabalhos de investigação da psi no universo acadêmico na condição exclusiva de psicólogo. Por que não declarar que é também parapsicólogo e não apenas um psicólogo interessado neste tipo de fenômeno?

 

Cita-nos Zangari:

 

Recentemente recebemos convite da Fundação do Ensino Superior de Olinda -FUNESO -, que, em breve, transformar-se-á em Universidade, para implantar um Curso de Parapsicologia naquela instituição e já estamos adotando as primeiras providências para a realização deste empreendimento.

E até nos estimula:

 

“Todas as oportunidades devem ser aproveitadas para que psi tenha espaço na academia. Esta me parece uma grande oportunidade. Sucesso. Pelo menos enquanto a  Parapsicologia existir.”

 

Nossa resposta agradecida:

 

            Eis uma questão de fé. Acreditamos. E com a mesma intensidade que Zangari acredita, porém ao contrário.

 

            Cita-nos Zangari:

 

“O que quero dizer é que é louvável lutarmos pela emancipação da Parapsicologia e tentar fazer que ela ingresse na universidade. Continuemos a fazer tudo isso.”

 

Se isto é sincero e não apenas uma gentileza dialética, por certo não temos mais nada a discutir sobre o assunto.

 

A resposta é uma gentileza:

 

“Sempre tive e sempre terei imenso prazer em dialogar com Borges, uma das principais forças de resistência da Parapsicologia no Brasil.”

 

E, por isso, retribuímos.

 

A recíproca é verdadeira. Mas, as nossas resistências são em direção contrária.

 

Brenio Onetto-Bächler (Chile)

 

Estimado Valter da Rosa Borges:

Concuerdo plenamente con Ud. respecto a lo que Ud. opina sobre el foro-debate sobre la Parapsicología como Ciencia autónoma y no podría concebirla de outro modo (cf. escribí al respecto ya en 1961 en el JP de Rhine rerspondiendo,al típico epistemólogo antimetafísico de Michael Scriven, que también veía un “trend” evaporativo en esta Ciencia).

De paso le felicito por su nombramiento en la PA Association como full member. Creo que deberíamos proponer al prof. Naum Kreiman en un cargo similar por sus meritos en el area EXPERIMENTAL de los fenómenos Psi.

Cordialmente suy . Dr.Brenio Onetto

 

Observação: Infelizmente, semanas após a participação de Brenio Onetto-Bächler, um dos mais prestigiados parapsicólogos iberoamericanos, tivemos a triste notícia de seu súbito falecimento.

 

Wellington Zangari:

 

Esta será minha última contribuição para o debate estabelecido a partir dos comentários de Borges às observações de Alvarado. Última não porque creia que o debate não devesse continuar, mas porque ele está tomando uma direção para qual não estou disposto a me dirigir. Enquanto o diálogo se estabelecia entre pontos de vista diferentes, e até antagônicos, ele mereceu minha atenção, minhas reflexões, meu tempo. Todos nós, latinos, somos levados, muitas vezes, a utilizarmo-nos de estratégias retóricas as mais diversas, algumas mais apimentadas, outras mais brandas. Como não temos como gesticular e alterar o tom de voz pela Internet, utilizamos, vez ou outra, expedientes discursivos que visam ampliar nossas vias de expressão. Tais expedientes são todos bem-vindos. Fazem parte da comunicação humana. Mas, quando o diálogo sobre as ideias parte para o território do apelo ao ataque pessoal, não há comunicação possível.

Rompe-se o tênue fio que nos liga à civilidade.

 

Borges, em suas mensagens, sobretudo a última delas, expõe, uma sua faceta a que eu nunca tivera acesso, nem julgava existir em sua personalidade. Atacando-me, pessoalmente (não apenas os meus argumentos como seria de esperar), de maneira sórdida, despertou em alguns colegas (aos quais agradeço as mensagens de apoio) indignação e pedidos para que me calasse diante de tal brutalidade por considerarem absoluta perda de tempo continuar a usar meu tempo a responder  agressões infundadas. Em mim produziu-se consternação e pena.

 

Alguns exemplos dos ataques pessoais que Borges fez a mim podem ser lidos abaixo:

 

* Zangari realmente procura usar de prestidigitação intectual para camuflar a inconsistência de sua argumentação. Não é, portanto, à toa que ele é especialista também em mágica.

 

* A posição de Zangari no time da Parapsicologia é realmente singular. Veste, aparentemente, a camisa da Parapsicologia, mas não acredita na vitória do time e, em algumas oportunidades facilita o jogo do adversário e chega até a fazer gol contra.

 

* Apresentar-se como parapsicólogo na televisão é realmente muito corajoso. Nós o parabenizamos por isso. Mas, é preciso só um pouquinho de coragem a mais: defender a Parapsicologia como uma ciência em evolução e não como uma ciência em extinção.

 

* Ficou meridianamente claro que Zangari é apenas, estrategicamente, um parapsicólogo e que pertence a sociedades de Parapsicologia apenas por conveniência

 

* Quando Zangari não quer ser claro, ele o é com extrema maestria.

 

* É um direito que lhe assiste aliar-se aos céticos da Parapsicologia. Só com uma diferença: os céticos não se proclamam parapsicólogos.

 

* E mais enfaticamente esclarece àqueles cientistas: “Digo também que espero que cada vez mais estes fenômenos sejam integrados à Psicologia e façam parte de seu escopo, como já parece estar acontecendo!” Isto é que é um invejável serviço prestado à Parapsicologia por um… parapsicólogo. Zangari é mesmo um parapsicólogo?

 

* Zangari procura fazer de suas contradições um exercício dialético. Ora ele prega que a Parapsicologia é uma ciência inviável, ora ele admite “um futuro possível” para a Parapsicologia. Ele é um obstinado cultor do paradoxo.

 

* Depois de tudo o que Zangari disse, cabe-nos indagar qual o trabalho que ele realmente faz pela Parapsicologia? Talvez possamos entender que, “de forma particular”, ele trabalhe pela Parapsicologia, mas, “de forma organizada e social”, faça o contrário.

 

(Àqueles que não leram os comentários de Borges na íntegra, sugiro que leiam para que não imaginem que os trechos acima foram retirados de seu contexto.)

 

Borges, questiona minha conduta como parapsicólogo; questiona minha capacidade argumentativa; coloca-me entre os céticos da Parapsicologia; sustenta que eu não tenho coragem para defender a Parapsicologia (nos termos em que ele crê que deveria haver tal defesa); que pertenço às sociedades de Parapsicologia por conveniência (sem explicitar qual seria esta conveniência); que sou paradoxal, etc, etc, etc. Ali não estão presentes contra-argumentos aos argumentos que apresentei. Borges não está dizendo apenas que meus argumentos são frágeis, como se poderia esperar de alguém com opiniões diferentes, está dizendo que Zangari é cético; Zangari não tem coragem suficiente; Zangari não é parapsicólogo…

Não serei eu a me defender apresentando minhas credenciais de parapsicólogo ou de capacitação intelectual. Apenas cabe-me, segundo meus preceitos éticos, repudiar tal atitude de Borges e augurar que a prática de tentativa de aniquilamento daqueles que ousam pensar de maneira diferente não macule nossos esforços de diálogo em elevado nível científico. Assisto estarrecido a esta conduta que não tenho experimentado pessoalmente, nem ter visto ocorrer com outros, em minhas atividades científicas na universidade.

 

Independentemente de minha indignação por ter sido atacado pessoalmente, dirijo-me à comunidade científica que tem acompanhado o debate, para uma vez mais, explicitar, meu posicionamento em relação aos temas levantados por Borges. Para não tornar a mensagem muito longa recopiando os argumentos e contra-argumentos já apresentados, peço a gentileza de que os(as) interessados(as) tenham a última mensagem de Borges em mãos para poder acompanhar a discussão.

 

Sobre a questão “objeto de estudo – exclusividade – autonomia”:

 

Não confundo, como afirma Borges, objeto de estudo com exclusividade. Também é minha opinião de que há temas que interessam ao parapsicólogo e que são objeto de estudo de outras ciências e que PSI é o objeto de estudo da Parapsicologia. Concordo que este objeto de estudo é o que configura autonomia à Parapsicologia. A diferença entre a posição de Borges e a minha está em que eu acredito (a partir da compreensão histórica do estudo de psi que faço) que PSI deverá passar a ser objeto de estudo da Psicologia. Esta “passagem” deverá ser gradual, não de chofre. Assim, a Parapsicologia deixaria de existir. Borges defende a permanência de PSI como objeto de estudo da Parapsicologia e, portanto, a permanência da Parapsicologia. Eu não vejo problemas na dissolução da Parapsicologia, desde que PSI seja “reintegrado” à alçada da Psicologia.

O que mais me interessa, enquanto interessado no estudo de PSI, é que PSI seja estudado, seja pela Parapsicologia seja pela Psicologia ou qualquer outra ciência. Minha posição é de que PSI deveria ter sido admitido como objeto de estudo da Psicologia, já no início de seu estudo científico.

Mas, de fato, isso não ocorreu. Outros fenômenos (hipnose, sonhos, sonambulismo…) tiveram o mesmo início, sendo marginalizados do estudo da Psicologia. Atualmente, e de há muito, tais fenômenos já foram integrados à Psicologia. Creio que o mesmo fim terá PSI. Não houve, na história da Psicologia, qualquer “Onirólogo”, “Hipnólogo” ou “Sonambulólogo” ou mesmo Pesquisador Psíquico que tenha feito qualquer argumentação para manter sua ciência (Onirologia…) autônoma da Psicologia por considerar que aqueles fenômenos não pertenciam ao escopo da Psicologia. Daí em diante, o máximo que poderíamos admitir seria uma subdisciplina da Psicologia, dedicada ao estudo dos sonhos, mas não uma ciência autônoma. Implícito em meu posicionamento está que considero PSI fenômeno psicológico.

 

Também deixei claro que lutarei pela Parapsicologia como ciência enquanto ela existir, se é que deixará de existir como creio. Borges parece desconsiderar minha posição explícita de que não há qualquer garantia de que realmente a Parapsicologia deixe de existir apesar de minha compreensão pessoal da história da Parapsicologia e de fenômenos anômalos. Ninguém vai cruzar os braços esperando que a Parapsicologia deixe de existir. Borges parece suspeitar que eu desejo que a Parapsicologia desapareça. Não se trata de desejo, mas, como disse muitas vezes, de crença, baseada em minha compreensão histórica. Por outro lado, considero que, caso isso realmente venha a ocorrer – que a Psicologia venha a ter PSI como objeto de estudo, não vejo nenhuma dificuldade prática ou teórica. A história do estudo de PSI terá como protagonista a Parapsicologia. Ninguém poderá desprezar a importância da Parapsicologia em tratar cientificamente PSI durante décadas (talvez séculos) até que a Psicologia se encarregasse de PSI. A Psicologia terá que render sua gratidão a ela. Em termos práticos, teremos centenas de milhares de instituições em todo o mundo onde poderemos lecionar e pesquisar PSI, facilitando nosso trabalho e aumentando a chance de compreendermos mais rapidamente PSI.

Mais de uma vez mencionei que as diferenças entre Psicologia e Psiquiatria residem na diferença de abordagens e não no objeto de estudo.

Borges afirmou que os fenômenos psicopatológicos seriam objeto de estudo da Psiquiatria. Eu, como psicólogo, discordo. A Psiquiatria classicamente tem sustentado modelos baseados em disfunções neurológicas para a compreensão dos fenômenos psicopatológicos, enquanto a Psicologia tem oferecido modelos psicológicos. Dizer que os fenômenos psicopatológicos se constituem em objeto de estudo da Psicologia E da Psiquiatria não significa dizer que ambas são uma mesma ciência. Cada uma tem uma abordagem específica, o que as caracteriza como ciências distintas.

Assim, não existirá, conforme a imaginação de Borges supõe que eu teria feito supor, uma expansão da Psicologia a tal ponto de haver a eliminação da Psiquiatria, ou a existência da figura do psicólogo médico ou do médico psicólogo.

 

Talvez após exemplificar seu posicionamento utilizando-se de exemplos relacionados à Psiquiatria e à Psicologia, Borges toma outras áreas como exemplo. Borges parece contradizer seu maior argumento de que a Parapsicologia tem que manter-se eternamente autônoma porque seu objeto de estudo é bem delimitado ao afirmar que a Sociologia, a Etnologia e a Antropologia têm “quase o mesmo objeto de estudo”. O argumento foi salvou pelo “quase”? Existe, por acaso “quase virgem” ou “quase grávida”? Borges evoca, posteriormente, a presença da Astrologia e da Astronomia para demonstrar como é importante demarcar o território de uma ciência de outro que não é ciência. A argumentação demonstra-se frágil: Astrologia e Astronomia têm o mesmo objeto de estudo? Se têm, então não haveria distinção entre elas segundo o argumento de Borges, que sustenta que é a distinção territorial que faria a distinção entre as diversas ciências.

Se não têm o mesmo objeto de estudo: onde estaria a distinção entre ambas senão na abordagem, conforme sustento no caso da Psicologia e da Psiquiatria em relação aos fenômenos psicopatológicos? No caso da abordagem da Astronomia (abordagem científica) temos uma distinção muito nítida em relação à Astrologia. Para alguém de fora da Psicologia e da Psiquiatria, como Borges, a distinção da abordagem talvez não pareça tão clara!

 

Não posso compreender a afirmação de Borges de que eu entenderia que “a compreensão de psi só se dará quando ele passar a ser objeto de estudo (ou especialidade) da Psicologia”. Nunca fiz tal afirmação. Percorri novamente meus comentários para verificar se eu havia cometido algum lapso, mas não pude encontrar nada que pudesse validar tal observação. Em relação ao tema minhas ideias foram apresentadas de maneira clara: apesar de eu vislumbrar uma crescente abertura da Psicologia em relação a PSI e de acreditar que, um dia (talvez daqui há séculos!) a Psicologia terá PSI como seu objeto de estudo, a Parapsicologia é a ciência que tem PSI como objeto de estudo. Temos que desenvolver a Parapsicologia até o limite das nossas possibilidades. PSI tem que continuar a ser estudado cientificamente. Atualmente, e sabe-se lá por quantos séculos, a Parapsicologia tem esse papel. Atualmente, somos nós, os(as) parapsicólogos(as) que temos tal atividade. Desenvolver a Parapsicologia para mim significa aumentar nossa capacidade pessoal e social para compreender os fenômenos PSI.

 

Paranormal – Anômalo:

 

Borges novamente parece negligenciar a história dos fenômenos hipnóticos, sonambúlicos e oníricos. Estes eram considerados “paranormais” (ou anômalos). Não são mais considerados assim segundo minha compreensão. E passaram a ser “normais”. Assim, quando afirma que “Não acreditamos que o paranormal, um dia, passe a ser normalizado”, nega a história. Assim, se há fenômenos que foram considerados paranormais no passado não o são atualmente, porque PSI não poderá, um dia, ser considerado “normal”? Não estou afirmando que o serão, estou deixando a possibilidade aberta!

 

Ganzfeld – Hipnose – ESP – PK…:

 

Não apresentei ganzfeld como prova de que os fenômenos ESP estejam migrando para a Psicologia, como supõe Borges. Apresentei algumas publicações sobre Ganzfeld E PSI, não ganzfeld isoladamente. Ele mesmo transcreve o trecho em que eu afirmo:

 

“Livros texto de Psicologia, utilizados amplamente em universidades, estão trazendo informações favoráveis em relação à psi. Um exemplo é o Introduction to Psychology (Atinkson et all, 1993) que traz uma longa análise favorável  das pesquisas ganzfeld e psi. Por outro lado, algumas das principais revistas de Psicologia estão publicando artigos de estudos de psi, por exemplo, o Psychological Bulletim, que publicou um artigo de Bem e Honorton sobre a evidência psi em ganzfeld.”

 

Portanto, minha argumentação está baseada sobre as publicações, não sobre a técnica ganzfeld (ou da hipnose) em outros contextos. Borges não deu sua opinião sobre estas publicações: seriam elas desprezíveis, ou se constituiriam elas em uma mudança (no sentido de abertura) da postura tradicional da Psicologia? Borges nada comentou sobre o foco de minha argumentação.

Não mencionei PK porque não conheço, de fato, qualquer publicação psicológica que tenha se ocupado, exclusivamente, dela. Mas há artigos em revistas de Psicologia, Neurologia, Ciências Cognitivas… nos quais ESP e PK são tratados como fenômenos psicológicos. Por exemplo, o artigo de Palmer e Rao, no Brain and Behavioral Sciences. (Posso dar a indicação exata se alguém não conhecer o referido texto) Mas, Borges não conhece tais publicações? Se as conhece, teria alguma razão para desprezá-las? O que será que pensará delas? As publicações citadas não merecem sua atenção? As considera de má qualidade e, portanto, não as julga relevantes? Não concorda com os editores, com os autores? Nada disso foi comentado por Borges.

 

IPPP – Psicologia Paranormal – Estudos da Consciência – Fronteiras da Psicologia…:

 

Borges menciona apenas o fato de o IPPP manter tal nome por um erro de percurso. Minha argumentação baseia-se em vários outros centros de pesquisa que não têm o nome “Parapsicologia”. Borges não vê nisso uma tendência mundial? Seria apenas uma coincidência? O que Borges pensa da argumentação dos parapsicólogos que não colocam “Parapsicologia” no nome de seus institutos? Borges está a par de tal argumentação? Borges nada disse sobre o foco de minha argumentação!

 

Psicomotricidade e PK:

 

Realmente não me sinto competente em Neurologia, ainda que esteja estudando também essa área em meu doutoramento na Universidade de São Paulo. Por isso, quando utilizei do exemplo da Neurologia, o fiz pelas palavras de um Professor de Neurologia. O próprio Borges reedita a frase em que eu falo de meu professor: “Meu professor de Neurologia das Praxias afirmou que os estudiosos desta área estão, cada vez mais, afirmando que não existe motricidade humana, mas psicomotricidade humana!” Apenas para aclarar o que Borges chamou de “nebulosidade” da argumentação, de forma bem simples: os fenômenos motores, que sempre foram considerados apenas como fenômenos de base orgânica, revelaram-se aos neurologistas, como fenômenos também de natureza psicológica! Tudo isso segundo meu professor. PK, parece-me, apesar de sua evidente manifestação no meio ambiente, apresenta, segundo as evidências de pesquisas parapsicológicas, uma natureza psicológica! Mas Borges nada comentou sobre o ponto fundamental de minha argumentação a esse respeito, sobre a base psicológica de PK.

 

Bolsas governamentais?

 

Recebi uma bolsa governamental para desenvolver o seguinte projeto de pesquisa: “Parapsicologia e Religião: a importância do estudo das experiências parapsicológicas para uma compreensão mais abrangente dos fenômenos religiosos”, que, aliás se constitui em minha dissertação de mestrado na PUC-SP, que teve na banca de avaliação o Dr. Stanley Krippner, um parapsicólogo, que foi apresentado por mim como tal, da mesma forma como me apresentei como tal, inclusive na dissertação. (Nada mal para um cético da Parapsicologia!) A estratégia está na forma de entrar na universidade. Não é necessário omitir que se é parapsicólogo ou que se estuda Parapsicologia. Mas não existem recursos destinados à parapsicólogos, mas a Psicólogos, cientista da religião, sociólogos…, que estudam temas parapsicológicos. A estratégia está em como apresentar o projeto e de como obter os recursos, como já me referi anteriormente.

 

Ciências da Religião

 

Borges compreendeu que as Ciências da Religião seriam “Um colegiado de ciências, formando uma nova ciência não deixa de ser uma singularidade.”

Quem disse que se trata de “uma nova ciência”? Afirmei que é o conjunto de ciências que têm a Religião como objeto de estudo.

 

Penso ter deixado clara minhas ideias. Independentemente deste debate, estou disposto a trocar ideias com todos aqueles e aquelas que estiverem interessados em discuti-las, opondo-se ou não a elas.

 

Valter da Rosa Borges:

 

Zangari propõe encerrar o debate e concordamos com ele embora, por motivos diferentes: ele, por entender que sofreu ataques pessoais, incivilizados e sórdidos; nós, por reconhecermos que as posições divergentes a respeito da Parapsicologia já estavam claramente definidas e, a partir de agora, o debate se encaminharia, inevitavelmente, para a repetição dos mesmos argumentos apenas sustentado por variações sobre o temário.

 

O que nos surpreendeu foi Zangari ter interpretado veemência e ironia, recursos utilizados na erística, como ofensas pessoais, mesmo reconhecendo que:

 

“Todos nós, latinos, somos levados, muitas vezes, a utilizarmo-nos de estratégias retóricas as mais diversas, algumas mais apimentadas, outras mais brandas.  Como não temos como gesticular e alterar o tom de voz pela Internet, utilizamos, vez ou outra, expedientes discursivos que visam ampliar nossas vias de expressão. Tais expedientes são todos bem-vindos.”

 

Talvez tenhamos exagerado na pimenta, o que, por certo, desagradou ao paladar de Zangari. Mas daí, afirmar que nós o atacamos pessoalmente, de maneira sórdida, é um desabafo emocional e inconsistente que, por ser infundado, não merece resposta. Será ofensa pessoal e sórdida argumentar que alguém é paradoxal, faz prestidigitação intelectual em sua argumentação, que sua argumentação é inconsistente, que é um cético de sua própria ciência? Se não mudou a semântica, o vocábulo “sórdido” é sinônimo de asqueroso, imundo, nojento, repugnante, torpe, vil, indigno, indecente, obsceno, vergonhoso. São as nossas afirmações, apontadas por Zangari, algo desse tipo? Acreditamos que se trata de um insólito recurso literário, porque oriundo de uma pessoa normalmente tranquila e cortês como Zangari.

O que nos surpreendeu foi a mudança de Zangari, o qual, até então, considerávamos um dos grandes baluartes da Parapsicologia, quando ele deixou bem claro que o que o interessava não era a Parapsicologia, mas o fenômeno psi e que este, futuramente, seria objeto da Psicologia. Tratava-se, agora, de um Zangari diferente daquele Zangari entusiasta e vibrante pela Parapsicologia, que nos causou profunda impressão, quando ousadamente publicou a sua Revista Brasileira de Parapsicologia, infelizmente não mais editada desde 1994. Questionamos, portanto, o que Zangari atualmente faz pela Parapsicologia, com base no que ele próprio declarou, e não o que ele fez, pois o seu trabalho passado é digno de louvor. E discordamos, fundamentalmente, de sua estratégia e de sua descrença em relação à Parapsicologia. De nossa parte, se um dia não mais acreditarmos na Parapsicologia como ciência, nós a abandonaremos e não mais nos denominaremos de parapsicólogos, embora continuemos como estudiosos dos fenômenos paranormais. Simples questão de coerência.

Foi ainda com base nas próprias declarações de Zangari que aduzimos que ele é, estrategicamente, um parapsicólogo, porque utiliza a Parapsicologia como um modo conveniente de pesquisar psi, o que poderia fazê-lo na condição de psicólogo, que parece ser a sua vocação maior.

 

Diz Zangari:

 

“Não posso compreender a afirmação de Borges de que eu entenderia que “a compreensão de psi só se dará quando ele passar a ser objeto de estudo (ou especialidade) da Psicologia”. Nunca fiz tal afirmação. Percorri novamente meus comentários para verificar se eu havia cometido algum lapso, mas não pude encontrar nada que pudesse validar tal observação.”

 

Havíamos comentado a seguinte afirmação de Zangari:

 

“Realmente minha posição é de que psi passará a ser objeto de estudo (ou de especialidade) da Psicologia. Isso poderá trazer um enorme avanço na compreensão de psi.

 

E ele nos respondeu:

 

“Isso é que creio ser importante: a compreensão de psi. Novamente utilizando do exemplo de Borges, creio que ao defender a autonomia da Parapsicologia, faz como se alguém estivesse propondo ou defendendo a autônoma de uma ciência própria para o estudo dos fenômenos psicopatológicos, uma ciência (Psicopatologia) autônoma, o que me parece absolutamente descabido já que  reconhecemos a natureza psicológica tanto dos fenômenos psicopatológicos quanto dos  fenômenos psi.”

 

A nossa resposta, naquela ocasião, foi a seguinte:

 

Zangari não acredita no futuro da Parapsicologia e entende que o avanço da compreensão da psi só se dará quando ela passar a ser objeto de estudo (ou de especialidade) da Psicologia.

 

Mantemos, por isso, a nossa conclusão.

 

Ainda no mesmo parágrafo Zangari afirma:

 

“Em relação ao tema minhas ideias foram apresentadas de maneira clara: apesar de eu vislumbrar uma crescente abertura da Psicologia em relação a PSI e de acreditar que, um dia (talvez daqui há séculos!) a Psicologia terá PSI como seu objeto de estudo, a Parapsicologia é a ciência que tem PSI como objeto de estudo. Temos que desenvolver a Parapsicologia até o limite das nossas possibilidades. PSI tem que continuar a ser estudado cientificamente. Atualmente, e sabe-se lá por quantos séculos, a Parapsicologia tem esse papel. Atualmente, somos nós, os(as) parapsicólogos(as) que temos tal atividade. Desenvolver a Parapsicologia para mim significa aumentar nossa capacidade pessoal e social para compreender os fenômenos PSI.”

 

Felizmente, Zangari nos dá uma esperança: a Psicologia terá a psi como seu objeto “talvez daqui a séculos”.

 

Concordamos com Zangari quando ele declara:

 

“Temos que desenvolver a Parapsicologia até o limite das nossas possibilidades. PSI tem que continuar a ser estudado cientificamente. Atualmente, e sabe-se lá por quantos séculos, a Parapsicologia tem esse papel. Atualmente, somos nós, os(as) parapsicólogos(as) que temos tal atividade.”

 

Como a transferência da psi para a Psicologia pode durar séculos – se é que isto ocorrerá – será realmente pragmático continuar a nossa atividade de parapsicólogos sem divulgar para os cientistas de outras áreas que a Parapsicologia é uma ciência em extinção. Afinal, nenhum de nós viverá séculos para conferir esta possibilidade.

 

Diz Zangari:

 

“Mas Borges nada comentou sobre o ponto fundamental de minha argumentação a esse respeito, sobre a base psicológica de PK.”

 

Não comentamos, porque não houve essa tal argumentação.

 

Diz Zangari:

 

“Borges menciona apenas o fato de o IPPP manter tal nome por um erro de percurso. Minha argumentação baseia-se em vários outros centros de pesquisa que não têm o nome “Parapsicologia”. Borges não vê nisso uma tendência mundial? Seria apenas uma coincidência? O que Borges pensa da argumentação dos parapsicólogos que não colocam “Parapsicologia” no nome de seus institutos? Borges está a par de tal argumentação? Borges nada disse sobre o foco de minha argumentação!”

 

Não mantivemos o nome do IPPP por um “erro de percurso”, mas em razão da própria história da instituição e isto, aliás, já foi dito.

Como o debate chegou ao fim, não teremos a oportunidade de conhecer a argumentação dos parapsicólogos que não colocaram o nome “Parapsicologia” em seus institutos. Esta “tendência mundial” é uma interpretação de Zangari que mereceria um aprofundamento maior, visto que ele esquece o aumento extraordinário de obras de Parapsicologia, evidenciando a crescente vitalidade desta ciência.

 

Diz Zangari:

 

“Portanto, minha argumentação está baseada sobre as publicações, não sobre a técnica ganzfeld (ou da hipnose) em outros contextos. Borges não deu sua opinião sobre estas publicações: seriam elas desprezíveis, ou se constituiriam elas em uma mudança (no sentido de abertura) da postura tradicional da Psicologia? Borges nada comentou sobre o foco de minha argumentação.”

 

O fato de que livros textos de Psicologia são utilizados amplamente em universidades e trazem informações e análises favoráveis em relação à psi e que revistas de Psicologia publiquem artigos sobre psi não quer dizer que este fenômeno esteja migrando para a Psicologia, mas evidenciando o interesse dos psicólogos por ele, principalmente, em razão do emprego do ganzfeld.

 

Diz Zangari:

 

“Não mencionei PK porque não conheço, de fato, qualquer publicação psicológica que tenha se ocupado, exclusivamente, dela. Mas há artigos em revistas de Psicologia, Neurologia, Ciências Cognitivas… nos quais ESP e PK são tratados como fenômenos psicológicos. Por exemplo, o artigo de Palmer e Rao, no Brain and Behavioral Sciences. (Posso dar a indicação exata se alguém não conhecer o referido texto) Mas, Borges não conhece tais publicações? Se as conhece, teria alguma razão para desprezá-las? O que será que pensará delas? As publicações citadas não merecem sua atenção? As considera de má qualidade e, portanto, não as julga relevantes? Não concorda com os editores, com os autores? Nada disso foi comentado por Borges.”

 

Não se está negando que alguns fenômenos de PK possam ter um componente psicológico, tal como o poltergeist. Mas eles também possuem um componente físico. E daí?  Por causa disto eles não são parapsicológicos? Zangari entende que psi é de natureza psicológica. É este seu ponto de vista que o leva à crença de que os fenômenos paranormais pertencem ao campo da Psicologia.

Finalmente, como também concordamos com o encerramento do debate, comprometemo-nos, de nossa parte, a não voltar mais a tratar do assunto.

 

Wellington Zangari:

 

Caro Valter,

 

Fiquei feliz por receber sua mensagem na qual afirma não ter pretendido fazer ataques pessoais a mim. Realmente meu paladar tem estado cada vez mais sensível a toda sorte de “pimenta”! Ainda assim, espero ter o prazer de podermos comer juntos um desses maravilhosos pratos típicos do Nordeste em que o calor sempre se faz presente.

 

Um fraternal abraço,

 

Wellington

 

Valter da Rosa Borges:

 

Caro Wellington:

 

Este calor nordestino não é apenas físico, mas afetivo e intelectual. As divergências ideológicas, mesmo tratadas numa linguagem de sol a pino, não ressecam e desidratam as relações pessoais.

O momento em que você e Fátima vierem ao Recife será sempre um motivo de festejo para todos nós.

 

Fraternalmente,

Valter