Isa Wanessa Rocha Lima
RESUMO
O objetivo do presente trabalho é apresentar uma proposta de atuação emergencial, realizada através de ação conjunta de um parapsicólogo e um psicólogo, no período de ocorrência da PER, com o intuito de ajudar o agente psi a redirecionar a energia utilizada na deflagração dos fenômenos, reduzindo o nível de tensão e, consequentemente, cessando a PER.
Tal proposta parece-nos adequada para os casos em que a PER possa ser caracterizada como mecanismo de defesa paranormal, sendo deflagrada por agente psi na fase de puberdade ou climatério.
A atuação visa possibilitar o agente psi contatar com formas de harmonização, de acordo com seu tipo de caráter, fundamentado na
Bioenergética, e, usufruindo de técnicas neorreichianas, suspender a deflagração da PER.
Os dados necessários deverão ser obtidos através de anamnese, na qual se estabelecerá a história psicanalítica do agente psi e se realizará sua leitura corporal, seguidos oportunamente de aplicação de testes psicológicos. Para tanto, é mister que o psicólogo envolvido tenha formação em terapia corporal neorreichiana.
Considerando os dados coletados acerca dos traços psicológicos característicos do agente psi deflagrador da PER, aventamos a hipótese de que seu padrão de caráter corresponde ao esquizoide, tendo suas couraças se formado em tenra idade, referindo-se a traumas arcaicos oriundos das fases uterina e oral e não podendo contatar com os sentimentos ameaçadores daí decorrentes, atua através de mecanismo de defesa paranormal.
Proposta de Atuação Emergencial para a Psicocinesia Espontânea Recorrente – PER
Partindo-se do pressuposto que a PER pode ser considerada como mecanismo de defesa paranormal, nos casos em que tal proposta se adequar, concordamos com Nandor Fodor quando afirmou que não via o “poltergeist” apenas como válvula de escape de hostilidades reprimidas, mas sim como uma representação de algo muito mais profundo e traumático (1).
Evidentemente, o mecanismo de deslocamento usado pelo agente psi, doravante chamado de AP, atende ao objetivo a que se propõe: compensar a energia reprimida oriunda da raiva, de forma catártica, além de, como ganho secundário, chamar a atenção do grupo familiar envolvido, como já foi largamente explanado em outro trabalho nosso í2), assim como por outros autores em Parapsicologia. A época havíamos observado também a questão da necessidade do AP em anunciar a aflição pela qual estaria passando, se colocarmos a PER como uma forma de comunicação, do que não temos dúvida. Completando a sequência lógica, veio o questionamento acerca da ocorrência da PER na puberdade e, em menor número, no climatério, fases opostas se vistas do ponto de referência hormonal, mas semelhantes, quando consideramos tais fases como recapitulações do período sexual infantil.
Rogo sabiamente afirma que “se pudermos determinar o quê exatamente o poltergeist está tentando expressar, então seremos capazes de vencê-lo resolvendo o conflito que forçou a liberação da PK”( }.
Dando continuidade à explanação psicanalítica como base para a compreensão da PER, e enriquecendo-a com a bioenergética enquanto suporte teórico-prático, acreditamos ter encontrado a resposta adequada ao questionamento de Rogo.
Observando os traços psicológicos do AP deflagrador da PER, listados nas avaliações de vários casos citados por diversos autores, tais como Ullman, Bender, Rao, Tinoco, Palmer, Roll, Rogo, Pércia de Carvalho e outros, verificamos que há um padrão que parece apontar para um perfil psicológico. Dizemos que parece, porque não tivemos acesso às análises psicológicas realizadas e sim ao amplo estudo de casos constante da bibliografia especializada.
Os traços característicos são: apresenta sentimentos de hostilidade e frustração; postura diante da vida é passiva e submissa; ao confrontar-se com sentimentos de agressão, tende a negá-los, evitá-los e fugir; forte sentimento de rejeição; emprego significativo de mecanismo de defesa; infância traumática; raiva intensa subjacente; sentimentos reprimidos de culpa e inutilidade; dificuldade em expressar sentimentos de infelicidade e agressão; tendência à autodestruição; carência afetiva; ansiedade; introversão; agressões projetadas sobre figuras de autoridade; conflitos sexuais e surgimento de maturidade sexual. Em alguns, conflitos religiosos intensos e criatividade bloqueada por sentimento de autodesvalorização.
Sob a ótica da bioenergética, que significado têm tais dados? Alexander Lowen, partindo dos estudos realizados por Wilhelm Reich acerca do caráter, sendo este sinônimo de padrão fixo de comportamento acompanhado de couraças musculares, chegou à definição de estrutura de caráter e suas nuanças, de acordo com a fase de desenvolvimento na qual encontra-se fixado o indivíduo. Assim, podemos ter o caráter esquizoide, oral, psicopático, masoquista e rígido ou genital, nesta disposição, para acompanhar a fase a que se refere. Portanto, o caráter esquizoide é oriundo de traumas que ocorreram nas fases uterina e oral, em princípio, assim como o caráter rígido teve sua origem na fase genital.
O caráter estrutura-se a nível corporal na forma de tensões musculares, em geral inconscientes e crônicas, chamadas por Reich de couraças, as quais bloqueiam ou limitam os impulsos em seu trajeto até o objeto ou fonte de desejo.
A proposta de Lowen integra uma das mais destacadas psicoterapias corporais surgidas a partir da teoria reichiana, ao lado da biossíntese, da biodinâmica e da vegetoterapia, entre outras.
A identidade do caráter psíquico com a estrutura corporal, ou atitude muscular correspondente, é a chave da compreensão da personalidade, vez que nos permite ler o caráter a partir do corpo e explicar uma atitude corporal por meio de seus representantes psíquicos e vice-versa. Ou seja, ao determinarmos a estrutura do caráter, poderemos encarar a problemática mais profunda do indivíduo em questão, e assim ajudá-lo a se soltar das amarras impostas pelas experiências de sua vida passada.
Ao estudarmos os diversos tipos de caráter, observamos que a correlação psicológica do caráter esquizoide pontuada por Lowen, aponta para indícios de uma possível identificação do caráter do AP envolvido na deflagração da PER.
Apesar da bioenergética incluir apropriadamente uma caracterização física de cada tipo de caráter, ainda não dispomos de dados a esse nível, que pudessem ser utilizados neste momento para enriquecer nossa fundamentação. Não nos furtaremos, no entanto, a apresentar tal caracterização, no intuito de que possa ser aproveitada em novas pesquisas e suas subsequentes publicações.
Vejamos então os padrões de comportamento do indivíduo de caráter esquizoide, segundo Alexander Lowen em seu livro O Corpo Traído:
” – A tendência a evitar quaisquer relações próximas com pessoas, timidez, isolamento, acanhamento, sentimentos de inferioridade.
Incapacidade de exprimir diretamente hostilidades e sentimentos agressivos sensibilidade a críticas, suspeição, necessidade de aprovação, tendências a negar ou a distorcer os fatos.
Atitudes autistas – introversão, devaneios excessivos.
Incapacidade de se concentrar, sensação de estar tonto ou dopado, sensações de irrealidade.
Explosões histéricas com ou sem provocação aparente, tais como berros, gritos e acessos de raiva.
Incapacidade de sentir emoções, especialmente prazer, e falta de receptividade emocional a outras pessoas, ou ainda reações exageradas de hiperexcitamento e mania.”(4)
Lowen esclarece que, de acordo com a fase de desenvolvimento em que se encontra, o indivíduo terá sentimentos diferenciados diante das dificuldades vivenciadas. Assim, teremos:
Na criança => insegurança: sensação de ser diferente e de não pertinência;
No adolescente => ansiedade: à beira do pânico, podendo terminar em terror;
No adulto => sentimento interior de frustração/fracasso: núcleo subjacente de desespero,
Agora, se nos reportarmos à casuística da PER e observarmos atentamente as descrições dos agentes psi envolvidos, conforme ratificamos no presente trabalho, e compararmos com o perfil rastreado através da bioenergética, constataremos quão semelhantes são.
Mas, que experiências pode ter vivenciado um indivíduo, para que apresente hoje tais dificuldades?
Explanando a caracterização dos fatores históricos e etiológicos, Lowen fala sobre a evidência inequívoca de ter a pessoa deste caráter sofrido uma rejeição logo no início de sua vida, rejeição efetivada pela mãe e que teria sido sentida como ameaça a sua vida. Tal rejeição acompanha-se de uma hostilidade encoberta e, muitas vezes, manifesta por parte da mãe. Assim, rejeição e hostilidade encoberta ou declarada – criam o medo de que toda busca ou tentativa de autoafirmação, conduzirão a este aniquilamento. Quando a mãe hostiliza a criança, inconscientemente, o efeito será o medo de que qualquer exigência possa levá-la ao abandono e à destruição. A criança em contrapartida desenvolverá uma raiva assassina contra o pai ou a mãe, sendo igualmente aterradora. O terror sentido está relacionado portanto, com o medo de perder o controle ou sair de si, deixando aflorar impulsos reprimidos, o que nos parece familiar, quando visualizamos a PER em plena atividade. O efeito disto é a inibição da agressividade, a restrição de atividades e a necessidade de controle, que impõem então rigidez sobre o corpo, provocando a limitação de gestos auto afirmativos. Lowen prossegue afirmando que são típicos a conduta não-emocional e retraimento e as crises de raiva, que, a nosso ver, também são características do AP envolvido na PER. Aliás, “raiva assassina” é uma expressão usada por Lowen, na bioenergética, mas que traduz as explanações de Rogo, na parapsicologia, quando se refere ao tipo II do “poltergeist”, o tipo mais violento, chegando inclusive a propor uma explicação baseada em experiências fora do corpo, quando o AP parece “sair de si*’, ao citar Nandor Fodor, sobre sua análise acerca do caso do “Bruxo Bell”. Fodor chegou a se perguntar se um choque devastador não poderia produzir um rompimento a nível mental tão forte que viesse a organizar-se como se fosse uma entidade desencarnada, porém incapaz de funcionar como uma personalidade autônoma (5). Mais adiante, Rogo nos fala da teoria do elo duplo, de Gregory Bateson, fazendo uma sutil conexão entre a explanação do citado autor, que fundamenta a origem da esquizoidia na atitude ambivalente da mãe, e a origem da PER na raiva reprimida que é direcionada, via de regra, às pessoas emocionalmente ligadas ao AP(6). Rogo também apresenta interessante correlação entre o “poltergeist do tipo II” e a aparente independência dos fenômenos em relação ao AP, e a ideia central explorada no filme Planeta Proibido (Forbidden Planet), onde “as criaturas do id” são mais que imaginárias, estando livres para atuar, assim como o AP “está imbuído da habilidade de criar um ente-PK partindo da culpa, do ódio e da repressão, e que acaba assumindo vida própria para causar destruição”*7*. Tais colocações nos remetem, mais uma vez, ao caráter esquizoide. Lowen diz que o indivíduo esquizoide não se sente conectado nem integrado, com tendência à dissociação, que tem sua representação a nível corporal na falta de conexão somática entre a cabeça e o restante do corpo. Esta tendência produz uma divisão na personalidade, na forma de atitudes antagônicas. Ora, o AP da PER, retraído, aparentemente passivo, apresenta sentimentos de hostilidade, quebra objetos, move-os, agride: expande-se, tomando conta do ambiente.
É importante esclarecer que quando Lowen fala em agressividade, não está se referindo a ação que envolva agressão, mas à capacidade do indivíduo de lutar por seus objetivos, mover-se, mobilizar-se para alcançá-los. E esta função está prejudicada no caráter esquizoide. O corpo do indivíduo esquizoide demonstra tal limitação. O retraimento da realidade manifesta-se pela ausência de vividez e falta de responsividade emocional do corpo. Os olhos são vazios, distantes ou apresenta olhar de perplexidade e medo. Há ausência de expressão facial. O andar é mecânico ou parece de um fantasma. O corpo é rijo e há falta de espontaneidade. Tudo isto faz parte da defesa esquizoide contra o sentimento.
Outro dado importante é que se houve um excesso de proteção na fase edípica, por motivos sexuais – como por exemplo a mãe proibir a filha de sentar no colo do pai, pode-se acrescer um elemento paranoico à personalidade, o que daria margem a um pouco de “acting-out” ou atuação, ato de se chamar a atenção exageradamente, no final da meninice e durante a fase adulta. Mas não é o que faz o AP nas deflagrações da PER? Melhor forma de chamar a atenção é difícil de visualizar.
Em trabalho anterior (8), explanamos a correlação entre a onipotência vivida pela criança e o manejo ou controle de objetos via telecinesia, na PER, o que reforça a hipótese do caráter do AP ser esquizoide, oriundo que é das fases iniciais da vida de um indivíduo, quando tem lugar, naturalmente, a onipotência.
Explanando a questão da onipotência, temos que, quando originária, reflete o poder ilimitado sobre tudo, decorrente da falta de limite que acomete a criança. Ao passo que, quando está deslocada, opera de forma distorcida, através da autoestima baixa representada, no entanto, pelo sentimento de ser especial ou superior aos demais. Em outras palavras, por trás do narcisista, há o rejeitado, com sentimento de menor valia: retrato de caráter esquizoide e do AP responsável pela PER.
Lowen prossegue: “o caráter esquizoide apresenta-se hipersensível devido a um limite precário em torno do ego, o qual é a contrapartida psicológica da falta de carga periférica. Esta fraqueza reduz a resistência a pressões vindas de fora, forçando a pessoa a refugiar-se nas autodefesas” í9). Ou seja, uma vez reduzida a resistência à pressão, teremos as condições para a instalação de um mecanismo de defesa. Lowen diz ainda que tal indivíduo apresenta pronunciada tendência a evitar relacionamentos íntimos e afetuosos, que, completando nosso raciocínio, estaria em contrapartida, reprimindo emoções e afetos. Por isso, desenvolve formas de pseudo-contatos: palavras, em lugar do toque; interpretação de papéis, ao invés do envolvimento emocional em uma determinada situação e, acrescentamos, deflagra uma psicocinesia espontânea recorrente, onde atua sua raiva, porque não a contata. O indivíduo esquizoide tem consciência daquilo que o cerca, mas a nível físico ou emocional está fora de contato com a situação. E aí, não contatando, atua, através do mecanismo de defesa paranormal, quando AP, mesmo que eventual.
O esquizoide é incapaz de focalizar seu olhar porque teme que este exprima ativamente medo ou raiva, o que o tornaria consciente desses sentimentos. Suas pernas e pés apresentam distúrbios: os joelhos são rijos, os tornozelos congelados, os pés retraídos, reduzindo a flexibilidade das pernas. Os pés podem ainda se apresentar invertidos, voltados para dentro, o que ocasiona o peso do corpo passar para a parte externa dos pés, entortando ligeiramente as pernas. Os músculos dos pés estão contraídos de forma crônica, para sustentar o peso do corpo. Tal posição sugere a condição pré-natal, onde os pés se voltam um de frente para o outro, tratando-se portanto de uma falha no desenvolvimento, indicando fixação a um nível infantil. Na mulher esquizoide não há rotação da pelve para baixo, junto com alargamento parcial dos quadris. A pelve mantém sua inclinação para frente e há visível separação entre as coxas. Lowen chama a atenção para a presença de traços que são do sexo oposto. É importante ressaltar que algumas dessas características só poderão ser observadas após a puberdade, não sendo possível portanto, subsidiar o estudo de agentes psi que estejam nessa fase de desenvolvimento. No entanto, a caracterização física possível, aliada ao perfil psicológico traçado na anamnese, através da história psicanalítica do AP, assim como a leitura corporal que deve ser feita, trará subsídios relevantes para a compreensão da psicodinâmica da fenomenologia parapsicológica da PER.
Partindo da conjunção de tais dados, achamos adequado supor que os mesmos nos fornecem fortes indícios de que nossa proposição está correta. Ou seja, uma vez caracterizado o tipo de estrutura de caráter predominante do AP deflagrador da PER, estaremos nos aproximando mais das necessidades implícitas em sua ocorrência, quando considerada como mecanismo de defesa paranormal. Diante disto, poderemos encontrar sugestões alternativas para quebrar tal mecanismo e oferecer uma possibilidade sadia de compensação de tais impulsos reprimidos, viabilizadas através de atividades que subsidiem o redirecionamento da energia aí aplicada.
As terapias corporais são muitas, mas as linhas de atuação são basicamente duas: catártica e harmonizadora. Considerando a PER como atividade catártica, e a hipótese de que o caráter dominante do AP é do tipo esquizoide, optamos por sugerir atividades harmonizadoras para subsidiar o AP a sair da crise.
Diversos pesquisadores em parapsicologia já tentaram redirecionar a “força do poltergeist” sem, no entanto, obterem êxito. Achamos que os resultados infrutíferos decorreram das formas propostas para alcançar tal objetivo. Assim, manipular a PK sob condições controladas, levando o AP para um laboratório, colocando-o em foco, não funcionaram e nem poderiam; porque incitar a ocorrência da PK, no caso da PER, é tentar induzir nova catarse. Acontece que, se a PER funciona como um mecanismo de defesa paranormal, o AP atua sua raiva, quando da ocorrência da PER, não contatando, portanto, com o sentimento que a originou e nem devemos instá-lo a contatar, sem que antes alcance estrutura para suportar tal peso afetivo aí contido.
A questão de colocar o AP em um laboratório, também não funciona porque, se ele usa a PER como mecanismo de defesa, significa que tal prática é fruto de seu inconsciente, porque permanecendo incógnito, poderá “…expressar involuntariamente sua hostilidade sem culpa e sem ameaça de punição ou represália”, como coloca Rogo oportunamente, quando se refere à adequação da PER às necessidades do AP(1OÍ.
A nosso ver, Nandor Fodor estava certo quando disse: “encontre o talento criativo frustrado, levante um ego destruído, dê amor e confiança, e o poltergeist cessará”11), acreditando que, se encontrarmos uma forma de redirecionar a energia usada na PER, sua manifestação se extinguira.
Apesar de apropriada, a proposta de Fodor traz uma dificuldade inicial: nem sempre é fácil identificar qual o talento criativo que está frustrado. Há também o perigo de sugerirmos atividades tão elaboradas sem verificar antes a estrutura de caráter do AP envolvido, vez que podemos com tal proposta, suscitar outros núcleos afetivos conflituosos e, ao invés de ajudar o AP a sair desta crise, induzi-lo a outra talvez mais ameaçadora, a nível psicológico.
Então, a atividade a ser proposta, para ser adequada, deverá, além de não ser catártica, estar fundamentada nas necessidades contidas na dinâmica do caráter esquizoide, de forma que não apenas substitua a PER, mas quebrando a violência contida em tal deflagração, ajude o AP a se reestruturar.
Evidentemente que, mesmo com os subsídios obtidos através da leitura corporal, temos que considerar que a tensão presente no AP será encontrada também no núcleo familiar e que a coleta de dados (história psicanalítica), nem sempre será obtida facilmente, inclusos os testes psicológicos.
Junte-se a isso, a necessidade de fazer cessar a crise, porque, como nos lembra Rogo, as pessoas que estão envolvidas na ocorrência da PER, precisam é de ajuda e não de investigação, quando questiona se sabemos o suficiente sobre o “poltergeist” ao ponto de conseguir efetivar tal socorro *
É Rogo ainda que, quando se refere ao fato de que “nossas faculdades psíquicas são parte normal de nossa constituição biológica e psicológica”‘13‘, alerta-nos que estas podem ser tanto destrutivas quanto altruístas. Sua preocupação é genuína, porquanto se refira à hostilidade e subsequente manifestação de violência constante da PER, devendo portanto ser estancada, antes que cause maiores danos.
Rogo coloca que o pesquisador deva “…também tentar chegar às raízes psicológicas do problema e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para ‘curálo”‘tl4).
Diante então da necessidade premente de cessar a crise ocasionada pela PER, só uma atuação emergencial é que a atenderá. É a nossa expectativa.
Nossa proposta para tal atuação emergencial é, uma vez confirmada a hipótese do caráter do AP ser do tipo esquizoide, iniciarmos uma intervenção composta por atividades simples que visem primordialmente reduzir-lhe a carga envolvida, tirando o AP da crise caracterizada pela deflagração da PER. Tais atividades estarão de acordo com as necessidades primordiais do caráter esquizoide, visando proporcionar-lhe o mínimo suporte necessário para aliviar-se a tensão.
Analisando o caráter esquizoide, podemos dizer que sua maior necessidade é de reestruturação do ego, na qual possa o indivíduo resgatar seus direitos de existir, ter segurança nas próprias necessidades, ser autônomo e independente e de ter desejos e agir para satisfazê-los.
Evidentemente que tais objetivos não poderão ser alcançados em curto prazo, muito menos em uma atuação emergencial. A bioenergética, associada a outras técnicas neorreichianas, parece-nos adequada para, após a atuação emergencial, ser aplicada em favor do resgate de tais direitos, através de acompanhamento psicoterapêutico do AP.
Mas, o que fazer então para constituir de fato uma atuação emergencial que seja eficaz, dentro da hipótese da PER como mecanismo de defesa paranormal deflagrada por AP caraterizado como esquizoide?
A bioenergética, assim como as demais terapias neorreichianas, parte do princípio de que o indivíduo, seja qual for sua problemática, só contatará com suas dificuldades, quando tiver estrutura para tal. Para tanto, desenvolveu uma série de técnicas que visam dar “grounding” – ou estrutura – e centramento, para que possa o indivíduo ir contatando com seus núcleos, de acordo com seu tipo de caráter, para resolvê-los, refazendo sua história de vida.
No caso da PER, sugerimos a prática de tais exercícios e de atividades que igualmente subsidiem “grounding” e centramento, ou seja, ter estrutura, estar em contato com o chão, com o mundo e estar centrado, situado em relação a si e ao mundo.
Um exemplo de atividade simples é o caminhar, bastante adequado para o caráter esquizoide, que tem dificuldade em situar-se, em manter “os pés no chão”, como popularmente se diz.
Outra atividade, da mesma forma apropriada, é a hidroginástica, onde o contato com a água, de forma harmonizadora, poderá atuar como elemento terapêutico facilitador, na reparação de vivências de experiências traumáticas oriundas da fase uterina. Esclarecemos que a natação, apesar de manter o indivíduo em contato com a água, é uma atividade de performance, não sendo portanto adequada para o caráter esquizoide e para o AP.
Os exercícios para desenvolver “grounding” são inúmeros. A título de ilustração, citaremos dois exemplos: técnica da bioenergética: indivíduo fica em pé, mantém os joelhos dobrados (posição para “grounding”), para amolecer a rigidez das pernas e proporcionar melhor contato com o solo, o que vai contrariar a tendência do esquizoide em ficar em pé com os joelhos travados e pernas rijas (15)técnica da biossíntese: indivíduo em “grounding”, de frente para outro na mesma posição, vai esticar lentamente os braços, enquanto o outro faz o mesmo, até atingir o estiramento completo dos braços e ficar assim durante o tempo que suportar. Este exercício visa desenvolver a precária noção de limite, bem como possibilitar que o
AP entre em contato direto com um confronto que não seja destruidor.
Há que se fazer uma observação importante: a questão do “grounding” aborda a dificuldade que o indivíduo tem de aguentar-se sobre os seus próprios pés, expressão que reflete a capacidade de ter coragem de contatar com seus sentimentos. Ou seja, aguentar-se sobre seus próprios pés e aguentar o sentimento parecem estar bastante relacionados ”
CONCLUSÕES
Observamos que, a partir da fundamentação obtida através da bioenergética, pudemos caracterizar o agente psi deflagrador da psicocinesia espontânea recorrente, enquanto mecanismo de defesa paranormal, como tendo sua estrutura de caráter do tipo esquizoide, coincidindo com o perfil psicológico apontado pelo estudo de casos relatado na vasta bibliografia especializada em parapsicologia.
Observamos também que as propostas aventadas por diversos parapsicólogos para cessar a deflagração da PER, foram infrutíferas quando tentaram conduzir o AP, em laboratório, a realizar novas ocorrências de PK. No entanto, outras proposições obtiveram êxito, porque foram direcionadas para tirar o AP da crise, através de atividades harmonizadoras condizentes com suas necessidades.
Chegamos então a uma proposta de atuação emergencial onde o AP realizaria exercícios e atividades que lhe proporcionassem “grounding” necessário para abdicar da deflagração da PER, como forma de compensar sua energia reprimida, enquanto mecanismo de defesa paranormal. Tal é a nossa expectativa, diante desta proposta de trabalho: há que ser testada para averiguarmos se logrará êxito.
Os dados necessários para comprovar tal hipótese, do caráter esquizoide do AP, serão obtidos através de anamnese, na qual se estabelecerá a história psicanalítica do AP e sua leitura corporal, além de aplicação de testes psicológicos.
Há que se fazer uma ressalva quanto a apresentação da teoria bioenergética neste trabalho, que apenas enfocou alguns aspectos considerados indispensáveis â fundamentação proposta, sem no entanto, esgotar-lhe as possibilidades.
BIBLIOGRAFIA
(1). ROGO, D. Scott. A Inteligência do Poltergeist, IBRASA, 1995 SP Brasil, pág.228.
(2).LIMA, Isa Wanessa Rocha. A Interpretação do Poltergeist como Mecanismo de Defesa Paranormal, Bagaço, 1994 PE Brasil.
(3). ROGO, D. Scott. A Inteligência do Poltergeist, IBRASA, 1995 SP Brasil, pág. 244.
(4). LOWEN, Alexander. O Corpo Traído, Summus Editorial, 1979 SP Brasil, pág. 42.
(5). ROGO, D. Scott. A Inteligência do Poltergeist, IBRASA, 1995 SP Brasil, pág. 214/215.
(6). ROGO, D. Scott. IDEM, pág.243.
(7). ROGO, D. Scott. IDEM, pág.224.
(8). LIMA, Isa Wanessa Rocha. A Interpretação do Poltergeist como Mecanismo de Defesa Paranormal, Bagaço, 1994 PE Brasil, págs. 35,36 e 56.
(9). LOWEN, Alexander. Bioenergética, Summus Editorial, 1982 SP Brasil, págs. 134/135
(10). ROGO, D. Scott. A Mente e Matéria, IBRASA, 1992 SP Brasil, pág.44.
(11). ROGO, D. Scott. A Inteligência do Poltergeist, IBRASA, 1995 SP Brasil, pág.238.
(12). ROGO, D. Scott. IDEM, pág.226. (13).
ROGO, D. Scott. IDEM, pág.252.
(14). ROGO, D. Scott. IDEM, pág.243.
(15). LOWEN, Alexander. O Corpo Traído, Summus Editorial, 1979 SP Brasil, pág.75
(16). LOWEN, Alexander. IDEM, pág.75.
(*) Trabalho apresentado no I Congresso Internacional e Brasileiro de Parapsicologia, realizado em 1997, no Recife – PE