Agulhas no corpo

Ivo Cyro Caruso

 

De vez em quando aparece no noti­ciário caso de pessoa, na qual se criam” agulhas e outros pequenos objetos metálicos, tais como pregos e parafusos pontudos. Trata-se de pessoas de aparência simplória, mas muito místicas. Pergunta-se, com frequência: este é um fenômeno paranormal? Em caso de autoflagelação, não se trata de fenômeno paranormal. As autoflagelações são frequentes.

Recordemos que em cursos de hipnose, nas seções de sensibilização, de­senvolve-se uma série de testes que incrementa a autoconfiança. Transpassa-se a agulha no corpo, sem sentir-se dor. Assim que a agulha transpassa o corpo, sem deixar marcas e nem provocar infecção, pois pratica-se com agulhas comuns não submetidas à esteri- lização. O indivíduo aprende a perfu­rar a si próprio, sua bochecha e músculos do antebraço. Ora, a auto-hipnose leva o indivíduo a um estado alterado da consciência. A nível inconsciente o sujeito pode autoflagelar-se como resposta a uma ação mental “auto- purificadora”, repetitiva, caracterís­tica da auto-hipnose. Então, o próprio sujeito, a nível inconsciente, com o fim de efetuar uma autoflagelação  “purificadora”, coloca agulhas no inte­rior de seu corpo. Ele acredita que a sua culpa, de fundo místico-religioso será “resgatada”. Além disso, dentro de seu grupo, também místico-religioso, o autoflagelador adquire um destaque, ganha “status”, quando se eleva dentre os demais, enquanto “se purifica”.

Não consideramos tais casos para estudo na parapsicologia.

Recentemente, em programa da TV Bandeirantes, apresentado aos sábados, foi mostrado o caso de um rapaz que discutira com seu pai que é “pai de santo” e faz sessões de quimbanda em sua casa. O pai do rapaz confessou que fez um pacto com o diabo. O rapaz dá mostra de autoflagelação, ou porque discutiu com o pai de santo e também seu pai, contrapondo-se, assim, à autoridade paterna, ou ain­da, à sua fé, ou bem porque deseja fortemente que o pai faça uma rescisão de seu contrato com o diabo. Em qualquer dessas hipóteses, esse simplório rapaz e seu pai já despertaram a atenção do público, através de uma cadeia nacional de televisão. Encontram-se aí todos os ingredientes necessários à preparação de um futuro curandeiro de projeção nacional, nesse nosso contexto místico-religioso e que não deixa de ser um bom veio publicitário.

 

(*) Publicado no Boletim Psi de abril de 1985, do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas – IPPP.

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