Ivo Cyro Caruso (*)
I – SUMÁRIO
Um método depende do objeto da pesquisa e requer planejamento, isto é, não comporta improvisações. Um sistema do conhecimento científico se ocupa com a expressão total do conhecimento alcançado, referente Á estrutura e comportamento do objeto estudado. constitui-se de vários sub-sistemas coerentemente interligados. Um sistema atua como base objetiva do método. 0 método busca novos resultados e tenta explicá-los e, assim, o método e o sistema se interligam dentro de urna hipótese geral.
A Parapsicologia já detém, ao longo do seu curso, uma série de fatos, muitas tentativas de explicações descritivas e já desenvolveu métodos adequados a agrupamentos coerentes de fenômenos. Todavia se ressente de um corpo geral mais ou menos coerente que reuna os diversos grupos de fenômenos do seu domínio e apresente urna teoria, ou hipótese geral (sistema), que interligue as diversas hipóteses (sub-sistemas) de fenômenos, de modo hierarquizado.
Uma tal teoria despertaria o surto de métodos de pesquisa e se submeteria a urna crítica severa, dentro dos rigores científicos atuais, podendo ser aceita ou refutada, no todo ou em parte.
Além disso, como ciência, deverá desenvolver a sua utilidade no sentido da sua consolidação como conhecimento científico a serviço da sociedade humana.
II – HIPÓTESES OUSADAS
Na Astronomia, a teoria do “Big-Bang”, ou Grande Explosão inicial, gênese do Universo observável, uma das teorias cosmológicas atuais, que está em evidência, não só porque contém um grande conteúdo de observação em seu favor, mas também porque explica uma cópia de eventos astronômicos. Mesmo assim, Robert Jastrow, americano, critica que essa teoria descreve como e quando se formou o hidrogênio e o hélio, mas não esclarece como surgiram os demais elementos da tabela periódica. Esse é um aspecto crítico, porém a teoria como um todo ainda não sofreu refutação e subsiste com outras teorias paralelas que tratam também da gênese do nosso Universo.
A teoria da relatividade esteve a um passo de ser apresentada por Lorentz, ou mesmo Planck, porém somente A. Einstein a intuiu e ousou apresentar, em que ainda faltavam meios de comprovação.
Hernani G. Andrade ousou apresentar uma teoria ampla em “A Teoria Corpuscular do Espírito” (1) e o seu “Modelo Organizador Biológico” também é um vôo intelectual ousado e o citamos mesmo que alguns de seus conceitos sejam sujeitos a crítica, porque ainda não verificáveis experimentalmente. Entretanto a idéia global por ser abrangente merece, ao seu derredor, desenvolver uma metodologia com o fim de aceitar ou refutar tais hipóteses enquanto não for experimentada, posta à prova contudo, essas hipóteses não recebem a chancela de conhecimento científico”, porém serio capazes de gerar de pesquisas, a partir de seu questionamento, quer confirmá-las, quer para refutá-las.
É muito interessante que o Dr. Harold S.Burr tenha realizado diversas experiências e em 1972 tenha exposto (2) : “Embora quase inconcebivelmtente complicados, os campos de vida são da mesma natureza que os campos mais simples conhecidos pela Física moderna e obedecem as mesmas leis. Tal como os campos da Física, os campos da vida fazem parte da organização do universo e são influenciados pelas vastas forças cósmicas. E, a semelhança dos campos da Física, ainda, possuem qualidades organizadoras e direcionais que tem sido reveladas por muitos milhares de experiências”. As conclusões de H.S. Burr (1972) convergem com aquelas de H.G. Andrade (1959).
Através de citações, temos conhecimento de que R. H. Thouless, psicólogo, e B. P. Wiesner, bioquímico, (os mesmos que propuseram o termo PSI aceito no I Congresso Internacional de Parapsicologia) nos idos de 1947 apresentaram a hipótese de que até as percepções sensoriais comuns são percebidas através das meios da função psíquica do homem. Sob o enfoque de ambos a percepção normal ou a paranormal recebem, através dos órgãos sensoriais e do cérebro, os estímulos vindos do exterior, assim como ação da função psi. A função psi julga e avalia essas percepções externas. Através da psicocinesia, a função psi interage com o cérebro e gera a atividade motora do corpo e, assim, o corpo físico obedece a ação diretora da função psi. O sistema nervoso seria o meio através do qual os impulsos psíquicos são transmitidos. Esses impulsos são percebidos de modo simbólico. os símbolos são captados de maneira individual, diferenciadamente, de acordo com o nível sócio-cultural-afetivo.
Carlos Alberto Tinoco, do Instituto Amazonense de Pesquisas Psicobiofísicas (3) apresenta uma tese da interação psicocinética como uma das forças de interação alem daquelas conhecidas pela Física: gravitação, eletromagnética, forças fortes e forças fracas. A psicocinesia “implica nitidamente na capacidade de interação entre o psiquismo dos seres vivos e os objetos do mundo físico”.
O Modelo organizador Biológico em sua ampla idéia é abrangente e merece um aprofundamento analítico em face do conhecimento científico e dos métodos adequados ao seu estudo.
Cabe à Parapsicologia desenvolver e ousar postulados fundamentais da função psi e do campo psi, em concordância com a sua própria fenomenologia, coerente com os demais conhecimentos científicos e sem necessidade de confusão semântica.
A função psi atua em um campo, o campo psi, e este, é dito, que não se encontra sujeito á escala espaço-temporal. O campo psi se interrelaciona com o campo físico (e, portanto, com o cérebro). Não é científico afirmar-se que o campo psi é um campo magnético, ou elé
trico, ou eletromagnético, pois esses campos, no domínio da Física, tem uma conceituação, um processo e característica, bem determinada, qualitativa e quantitativa, definidos. Os canais de comunicação ou as forças de interação, conquanto supostas, entre o campo psi e os campos da física não estão bem definidos e determinados a partir de confirmação experimental.
A função de associação e de conexão entre a função psi e as funções fisiológicas (neurocerebrais) se daria pela via dos fenômenos associados (ao aspecto psíquico e ao sistema nevoso) do homem, por um lado, e por outro lado aos fenômenos de caráter energético por si mesmos. Esse pensamento foi expresso na Conferência de Parapsicologia, Moscou, 1968, tendo surgido o termo “psicotrônica”. Mais incisiva é a decisão do II Congresso de Psicotrônica, Monte Carlo, 1975, ao definir a Psicotrônica “uma ciência que de uma forma interdisciplinar, estuda os campos de interação entre as pessoas e seus ambientes (tanto interno, quanto externo) e os processos energéticos ali envolvidos”. A Psicotrônica reconhece e se fundamenta que a matéria, a energia e a consciência estão interconectadas de tal maneira que contribuí para a nova compreensão das potencialidades dos seres humanos, dos processos biológicos e da matéria em geral.
Parece que a existência de alguns distorcidos aspectos da análise e apreciação da Parapsologia se explica pela adoção do estudioso por certas opções filosófico-religiosas prévias. Essa atitude, no entretanto, não é científica.
III – SALTOS PARADIGMÁTICOS
A observaç;ão é a contemplação de um fenômeno, tal como efetivamente ocorre. Ao observar deve-se permitir que o fenômeno se desenvolva e se apresente tal como é. Em princípio, o observador não deve alterar ou intervir no curso do fenômeno, pois, assim, modificaria os resultados. Além da observação, passa-se ao registro dos fatos e das circunstancias da ocorrência. O fato é descritível e pode ser submetido a um julgamento, quanto a sua veracidade, se é relatado por outra pessoa, considerada confiável.
O homem se encontra condicionado pelo espaço-tempo e terá de usar uma linguagem tanto para a descrição do fenômeno, quanto para a sua explicação. Apreende o conhecimento da realidade por partes, ou partes da realidade, uma de cada vez, sucessiva, progressiva e acumuladamente. O conhecimento se desenvolve no curso do tempo por via árdua, decorrente de fracassos e sucessos. Tal processo é histórico e coletivo, assimilando-se as conquistas do conhecimento científico, notadas por futura de uma situação de transito do já conhecido para o desconhecido, o qual se desnuda permitindo-se a reduzir o campo do desconhecido, iras, nem por isso, reduzindo-se os novos problemas gerados a partir do conhecimento novo. Novo conhecimento, novas dúvidas. Esse é o processo científico consagrado, de aproximações sucessivas em direção à realidade.
A sucessão de registros dos eventos, sem uma ordenação e uma tentativa de explicação, não encontra apoio científico. Alguns saltos já se configuram necessários na Parapsicologia, mormente quando se atinge as fronteiras do conhecimento.
Tal foi o salto na própria Física provocado pelo “princípio da incerteza” de W. Heisenberg (1927) conhecido na Física e que passou a significar que, para estudar um fato, o observador deve intervir no seu curso natural, porquanto o pesquisador não pode ter toda a informação relevante que precise ao mesmo tempo.
O princípio da incerteza tem sido invocado, em Psicologia, nas discussões sobre assuntos como a introspecção (A.J. Bachrach e outros), porque não é realmente possível ao homem olhar-se para si mesmo com total clareza.
Se adotarmos a orientação de Mário Bunge(4) de que a metodologia é o separador de águas no processo da busca da realidade, classificaríamos aí a Parapsicologia como ciência factual (porque, se preocupa com fatos) e natural (são fatos e processos da natureza).
Os enunciados parapsicológicos referem-se a fenômenos e a processos naturais. E até aqui nos atemos aos enunciados do I Congresso Internacional de Parapsicologia, Utrecht, Holanda, 1953. Desde então, o campo dos fenômenos paranormais se ampliou.
As ciências factuais necessitam do experimento da observação, para confirmar (demonstrar) os seus postulados. A metodologia e as técnicas perseguem alterar deliberadamente os objetos, fenômenos ou processos para verificar até.. :que situação as hipóteses que lhes serviram de base, se ajustam aos fatos.
Ainda com M. Bunge(4), repetindo-o: “a coerência com um sistema de idéias previamente admitido é condição necessária, mas não suficiente”. Isso significa que o conhecimento científico não só depende de investigação metódica e sistemática, mas também deve ser planejada e obedecerá a um método preestabelecido, que se fundamenta em hipótese. Devemos concluir que os fatos não falam por si; o observador pode ir vais além, na busca de explicação dos fatos e as suas correlações, para que os mesmos se transformem em fundamentos coerentes que sirvam a constatação de uma teoria.
Ainda segundo M. Bunge (obra citada) o método científico merece atenção como “conjunto de procedimentos por intermédio dos quais (a) se consegue repetir ou Observar fatos, (b) se propõem problemas científicos, e c) se colocam a prava as hipóteses científicas”. O desenvolvimento dos conceitos de metodologia científica se encontra difundida por diversos autores.
Cabe ressaltar a posição de Karl Popper(5) que aplicando o seu método da crítica do conhecimento, cita “o avanço da ciência não se deve ao fato de se acumularem ao longo do tempo mais e mais experiências”, ao criticar que é impossível atingir o infinito, o conhecimento universal, por maior que seja a quantidade de fatos observados. A decisão em admitir-se o que seja verdade depende do grau de confiabilidade, ou da significação probabilística elevada das leis, postulados e hipóteses explicarem os fatos.
Para Popper quanto mais falseável for o enunciado, mais científico será e mais falseável será, quanto mais informativo e mais conteúdo empírico contiver. K. Popper utiliza o método hipotético-dedutivo, que, de 1975 a esta parte, mereceu, com algumas variantes, o desenvolvimento de seus seguidores (M.Bunge, Irving M. Copi, Aluisio J. M. de Souza e outros) e não teríamos espaço para resumí-las. Em suma, para o seguidores de K. Popper, toda hipótese é válida desde que se submeta ao teste empírico e intersubjetivo de falseamento (6).
Charles A. Tart (7) aponta a via metodológica a ser utilizada ao analisar os fundamentos científicos para um abrangente estudo de “estados alterados da consciência”, a partir da modificação do paradigma. O paradigma, segundo C. A. Tart, é um sistema lógico que possui certas hipóteses, objetos e conceitos que não são questionados, dentro do conjunto dos diversos campos do saber, bem como regras de trabalho, que se derivam desse sistema. Esse sistema não é fechado. Em seu interior existem muitos problemas a serem resolvidos. Pela modificação do paradígma e estrutura “lógica” do raciocínio na construção de hipóteses, pode alterar-se radicalmente. Poderíamos concluir que se os paradigmas dos parapsicólogos se aproximam em muitas hipóteses, notar-se-á multo mais difícil o entendimento (porque se inserem em paradígmas bastante diferenciados) entre físicos e parapsicólogos. As relações eu-mundo e cosmovisionais entre eles serão mais divergentes. caberá ao parapsicólogo partir do conhecimento científico aceito, para o salto paradigmático, utilizando as técnicas e procedimentos das ciências fronteiras (e ínterdisciplinares) em as adaptando e criando outras técnicas e procedimentos adequados às novas exigências dos fatos paranormais. O contrário, seria uma postura ingênua.
IV – ATITUDES INIBITÓRIAS E ATIVADORAS
A configuração da Parapsicologia como ciência se verificou em 30 de dezembro de 1969, quando a A.A.A.s.(American Association for the Advancement of Science) aceitou a afilação da “Parapsichological Association”. A partir de então, os parapsicólogos se mantém atentos a uma posição responsável, perante a comunidade científica, conquanto alguns problemas ainda os inibem.
Um dos problemas é o da replicabilidade, o que não deve preocupar no estágio atual do conhecimento. Comparadamente, não é a Astronomía uma ciência que se baseia na observação, conquanto haja no seu sistema maior predictibibidade? As ciências ditas humanas (sociais na classificação de M. Bunge) também sofrem dificuldades de réplica e da predição, segundo o maior ou menor grau informacional dos fatores circunstanciais envolvidos.
O sucesso ou não, que for obtido em face ao fenômeno paranormal, pelo observador ou pesquisador menos ou mais cético, é outro aspecto inibitório, mas que se encontra em outras ciências, explicável devido Ás diferenças de paradigma. Um físico e um psicólogo (ou até mesmo um biólogo) diante de um fato poderão discordar nos métodos e análises. A atitude do pesquisador científico deve ser de curiosidade e atento ante o fato. crença ou descrédito não são atitudes científicas. Porém a dúvida corresponde a uma postura científica.
Não é só a Parapsicologia que obtém resultados diferentes de diversos sujeitos sob condições experimentais semelhantes. Esta variabilidade de desempenho também ocorre com as ciências ditas humanas. cada homem tem uma vivência distinta, uma historia própria e um acervo sócio cultural que lhe imprimem respostas diferenciadas.
A expressão paranormal ou extra-sensorial parece escandalizar aqueles que não são parapsicólogos, país a ciência parte da afirmação básica de que os eventos na natureza (icluindo o comportamento) sãc ordenados e obedecem a leis e de que o objetivo de um cientista é buscar a ordem ande existe o caos. A expressão “percepção extra-sensorial” adquiriu uma conotação de à margem da percepção sensórial porém bastaria dar atenção aos estudos de A.R.Luria (8), neuropsicólogo russo (1903-1978) alegando, em suas conclusões, que ainda se sabe “muito pouco a respeito da natureza interna e da estrutura neurológica”. Tratando do pensamento A. R.Luria (obra citada) se refere a escolha dos métodos e do ato operante mental que serão adequados e desenvolve: “Nessas operações são mais freqüentes o uso de algoritmos (lingüísticos, lógicos, numéricos) adequados, já prontos, que se desenvolveram no curso da historia social e que se prestam bem a representar um tal esquema ou uma tal hipótese”.
Trata-se de uma conceituação cibernética e entro se nota que mesmo os neurologistas não idealistas “encontraram dificuldades de achar um componente fundamental do ato intelectual em um subtrato cerebral para idéias abstratas” no dizer de Goldstein, mencionado por A. R. Luria (obra citada).
Temos aí a noção de uma separação do conceito cérebro como a máquina (o mecanismo duro – o “hardware”) e o pensamento e outros atos intelectuais como o programa (a lógica – o “software”) que opera a máquina, conceitos tomados à informática.
Quando Hernani G. Andrade (1) estuda o ectoplasma, manifesta o seu pensamento de maneira aberta, “As teorias podem não corresponder totalmente a verdadeira natureza dos fatos, mas conseguem proporcionar certa antecipação ao conhecimento, sugerindo novos meros e métodos de pesquisa da verdade”. E continua logo a seguir que “uma vez enunciada uma hipótese, ela deve ser imediatamente verificada e não colocada em um pedestal”. E concluí: “com essa advertência e com esse espírito, ousamos expor mais uma teoria sobre o ectoplasma,…”
O grifo é nosso, exaltando a atitude do autor citado, um dos mestres da Parapsicologia deste país, mesmo que ousemos discordar e consideremos dependentes de prova experimental alguns enunciados fundamentais da sua teoria. Trata-se porém de uma ação ativadora da criação intelectual e de um salto paradigmático, que estamos defendendo neste trabalho.
O aspecto duplo, hoje defendido pelos físicos na abordagem da natureza da luz e outras partículas subatômicas, que era aparentemente um beco-sem-saída, passou a ter enfoques analíticos “complementares” como corpuscular e como eletromagnética. Isso é uma alteração de paradigma, que surge de urna nova concepção teórica que passa a explicar o mesmo fenômeno sob maneiras de enfocar diferentes uma teoria já existente, ou um fenômeno conhecido.
No estágio atual, exigir-se a fenomenologia parapsicológica fundada no “desconhecido” inconsciente, trata-se de reducionismo aparente, na medida que o inconsciente não explica, plenamente, todos ou mesmo alguns fatos parapsicológicos. A abordagem do fenômeno parapsicológico envolve um elevado grau de complexidade e parece exigir mais de uma hipótese para a complementação explicativa. Por que não reexaminar-se a hipótese do Modelo Organizador Biológico, como o fez Carlos A. Tinôco? É outra teoria já existente e que se pode constituir em fonte de indagações metodológicas, de técnicas de estudo e de instrumentação e maquinário, antes de passar-se para outras hipóteses. E se for caso de efetuar-se revisões, iremos à obra! Apresentaríamos a sugestão de os Institutos de Parapsicologia existentes no país, efetuarem um levantamento de seus recursos humanos e materiais e coordenar um estudo amplo, em se dividindo as tarefas e as diversas etapas, num projeto exeqüível, em torno de urna ou de ambas as hipóteses mais abrangentes da atualidade.
V – METODOLOGIA PRÓPRIA E HUMANA
Sob a perspectiva do homem com suas relações consigo mesmo e com o mundo, a tarefa do parapsicólogo é sentir a sua presença e observar uma comunicação no reencontro homem-eu-mundo. Nâo sendo ciência do corpo (se a neurofisiologia não vier a comprovar o contrário) a Parapsicologia deve considerar a significação do homem no mundo, compreendendo-se a si próprio. Como tal, a Parapsicologia se funda como ciência do real-subjetivo. É provável que esse seja um conceito de difícil compreensão àqueles que não se encontram afeitos à fenomenologia paranormal.
Desse modo, na Parapsicología não poderá prevalecer os métodos a que se submetem as ciências físico químico-biológicas (ciências naturais). Se esse sentido estiver correto, um psicólogo behaviorista terá paradigma conflitante com o do parapsicólogo e, portanto, este último não deverá utilizar, por princípio, a metodología positivo-mecanicista-comportamentalista.
Entendemos que o parapsicólogo observa “seres humanos” (que poderá ser estendido a “seres vivos”) e não máquinas, nem autômatos. Seres humanos são complexos que se expressam, percebem pelos sentidos, pensam, sentem emoções e manifestam-se através de canais ainda não totalmente identificados. Tais canais pertencem ao campo da Parapsicologia.
Entendemos que ao parapsicólogo não cabe qualquer constructo económico reducionista do homem a um autômata infra-humano, descrito por Ludwig von Bertalanffy (9). Nem mesmo como Jacques Monod ao reduzir o corpo à máquina.
O método introspectivo que pode preocupar o parapsicólogo, não consiste em uma questão importante, bastando o estudioso aproveitar os ensinamentos da posição metodológica, na psicologia, de Binet e Ribot, que aplicam os métodos e suas distinções) introspectivas: introspecção individual e introspecção comparada.
Dentro dessa conceituação, deve-se evitar o homem-rato (o homem de laboratório comparado dos ratos e macacos) na visto parapsicológica. Ou o método que reduza o homem ao que se obtém do comportamento do rato de laboratório. Também não se necessitará sacralizar o homem.
Nem o homem-rato, nem o autômato, nem o homem pecuniário, ou utilitário, nem o homem divino, nem de qualquer forma marginal a sua própria essência. Livre de qualquer adjetivo, o parapsicólogo examinará o homem, um ser complexo, inteligente, lúdico, liberto, mas gregário e que transcende às demais criações, devido mesmo às suas atividades psíquicas, algumas das quais (ou todas) a espera de uma teoria explicadora do que se constitui o seu campo psi individual e por qual modo se interrelaciona com o campo psi universal do qual faz parte.
VI – RECENTRANDO O HOMEM
Outrora os homens participavam do conhecimento. A ciência de que participavam todos os homens se transforma, com o curso dos séculos, em um conhecimento deveras difícil e geradora de técnicas que se desenvolveram de maneira avassaladora tal que força explosiva abalando o homem atual reduzindo-o a um estranho humilhado.
Analisando que o homem médio desconhece o que se passa na área da ciência e da tecnologia atual, conclui-se a causa dessa alienante humilhação. Por causa dessa humilhação da tecnologia predadora, o homem médio moderno aceita as construções técnicas como algo terrível, porém desconhecido e que no entanto atende à sua vontade, o que se pode rotular de magia. Daí o homem entregar-se, como compensação, às suas frustrações em face do incógnito tecnológico, às superstições, feitiçarias e magias de diferentes graus.
A idéia utópica do autômato, já está ultrapassando Á realidade, alienando o homem e criando-lhe os conflitos e nova descentralização em sua relação eu-mundo.
Joseph B. Rhine (10) analisa que as experiências psíquicas não podem ser explicadas por maneira “não-psíquica”, sob pena de perderem a sua significação. Afirma o autor mencionado que a Parapsicologia “é o primeiro novo mundo da Ciência além da Física”. O grifo é nosso. O conceito de o “novo mundo” traduz-se por uma ruptura na ciência positivista, pois somente nela não se podem considerar as manifestações introspectivas humanas, próprias de sua natureza.
Geralmente toda descoberta científica implica o uso de temas ou idéias adaptáveis à ideologia dominante da época. A ruptura com esses temas e idéias originam um novo discurso, no sentido de urna nova linguagem, que possibilite revelar-se adequado ao objeto da ciência. Considera-se que uma ciência e sua respectiva aplicação somente tenha utilidade se servir ao sistema vigente, globalizante, respondendo aos interesses (não só de um país, mas de conjunto de povos e nações) ao que se habitua designar-se por complexo industrial-político-militar dominante. Fora isso, conflitantes interesses ideal-pragmáticos e de acmodações poderío tornar-se aflitivos ou alienantes. os aspectos conflitantes poderiam interferir no homem e gerar problemas que o estágio atual da neurofisiologia, não conseguindo explicar, ativariam reações e respostas “parapsicológicas” ou consideradas, erroneamente como tais. E aqueles que efetuam pesquisas parapsicológicas seriam levados àquelas respostas em função do princípio das “reações reforçadas” tão bem examinadas pela Psicologia.
Na medida em que a Parapsicologia não ofereça interesse ou utilidade ao sistema dominante, conforme esboçado acima, deixaria de constituir-se em uma força social, mas apenas em inócua discussio académica. Todavía a Parapsicología poderá vir a alterar o comportento do homem, em evitando que a imagem do “homem-autémato” prevaleça. Em recolocando o homem como o centro, recentrando-o, no universo e nas relações eu-mundo de sua visão. Deveriam ser feitas avaliações de natureza utilitária, porém de modo a ser ciência aplicada ao homem e ao seu sistema social. E finalmente ponderar mais intensamente as avaliações idealistas, para que, como ciência, se proponha ao homem à obtenção dos seus mais superiores objetivos sem agredir-se a si próprio, nem à humanidade nem a natureza.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(1) Andrade, Hernani G. A Teoría Corpuscular do Espírito. Ed. Bentivegna, Sio Paulo, 1959, 2a edição.
(2) Burr, Harold S. Blueprint for Immortality, the Electrical Patterns of Life. NeAlle Spearman, London, 1972.
(3) Tinoco, Carlos Alberto. Psicocinesia como uma Forma de Interação Física. Tese apresentada no II Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrénica, auditorio de Sheraton Hotel, Río de Janeiro, 1979.
(4) Bunge, Mário. La Ciencia su Método y su Filosofia. Siglo Veinte, Buenos Ayres, 1974.
(5) Popper, Karl. A Lógica da Pesquisa Científica. Tradução Ed. Cultrix, São Paulo, 1975.
(6) Lakatos, Eva M. e Marconi, Marina de A. Metodología científica. Ed. Atlas, São Paulo, 1982.
(7) Tart, Charles A. Pequeno Tratado de Psicologia Transpessoal. Vol II, Ed. Vozes, Petrópolis, Río de Janeiro, 1978.
(8) Luria, A. R. Fundamentos de Neuropsicologia. Tradução Ed. da Universidade de São Paulo, S.Paulo, 1981. do inglês; original russo.
(9) Bertalantty, Ludwig von. Robbots, Men and Mind, 1967.
(l0) Rhine, Joseph Banks. O Novo Mundo do Espírito. Tradução, Ed. Best Seller, São Paulo, 1966.
(*) Tese apresentada no III Congresso Nacional de Parapsicologia
e Psicotrônica, Auditório do Sheraton Hotel, Rio de Janeiro,
25 a 28 de julho de 1982.