Parapsicologia e psicopatologia

Jalmir Freire Brelaz de Castro

Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas

jbrelaz@uol.com.br

 

Apresentado na Mesa Redonda do IV Encontro Psi: Implicações e Aplicações da Psi. Campus Universitário Bezerra

de Menezes – Faculdades Integradas “Espírita” – Curitiba – PR – 10 a 13.07.2008

Culturalmente tendemos a acreditar que existe uma realidade objetiva independente de nós.

Esse assunto desta mesa redonda é ainda pouco discutido entre os parapsicólogos. Pretendemos trazer algumas considerações de parapsicólogos brasileiros e também algumas reflexões sobre o assunto.

As abordagens clássicas tratam dos fenômenos psi quando ocorrem associados aos fenômenos dissociativos da personalidade. Devido à abordagem ainda restrita sobre o assunto entendemos que os parapsicólogos estão pouco capacitados a responder as seguintes perguntas: podem fenômenos paranormais causar psicopatologias? Ou ainda, nas psicopatologias podem ocorrer fenômenos psi?

Contribuições a este tema podem ser dadas pelas neurociências no seu atual estágio de desenvolvimento, notadamente através do PET scan e o fMRI. As disfunções do lobo temporal direito têm chamado à atenção de alguns parapsicólogos. Palmer e Neppe (2002) sugerem existir relação entre essas disfunções e as experiências paranormais subjetivas. Também Roll e Persinger (1998) analisaram as disfunções do deste lobo temporal apresentadas por Sean Harribanceos para relacioná-las a experiências psi por ele vivenciadas.

Considero as funções psi, ou paranormalidade, como inerente às funções humanas. Ou, como postula o biólogo Sheldrake (2004), ser a paranormalidade um sétimo sentido, não só humano, mas como inerente a todas as espécies, já que o sexto sentido foi atribuído a percepção de campos elétricos e magnéticos por algumas espécies. Por este raciocínio, as psicopatologias estão inseridas em um contexto natural e como tal permeáveis a psi.

Sem se aterem a aspectos paranormais, alguns profissionais da saúde fazem uma abordagem integrada da doença como inerente ao modo de viver e ser das pessoas. É o que defendem o psicólogo Thorwald Dethlefsen e o médico Rüdiger Dahlke numa abordagem psicossomática das doenças. No livro “A Doença como Caminho” (Cultrix, 1992) chamam atenção para os aspectos metafísicos do fato de se adoecer. Propõem que o doente é de fato o autor da doença e não uma vítima inocente de alguma imperfeição da natureza, o que resulta numa abordagem desafiante para os organicistas. Colocam as causas psíquicas como as primeiras na condição de doença, invertendo a lógica usual.

Posteriormente, Dahlke, na obra de “A Doença com Linguagem da Alma” (Cultrix, 2007), estende a abordagem para uma filosofia da significação dos sintomas do surgimento da doença. Chega a especular sobre a existência de campos formativos, para explicar os casos de sincronicidade, ou seja, de telepatia, na linguagem dos parapsicólogos.

Embora não defenda uma linha da “psicologização” plena das doenças, ou os aspectos psíquicos como causa primária, entendo que os diferentes aspectos psicossomáticos estão cada vez mais sendo considerados nas psicopatologias. O estudo do efeito placebo na aplicação dos medicamentos, a doença como manifestação do estilo de vida das pessoas estão a miúde sendo pesquisados. Resta especular se o efeito placebo é, em última análise, uma consequência das crenças de cada pessoa. Falta ainda acrescer a esses estudos o papel das funções psi.

O psiquiatra e parapsicólogo Silvino Alves da Silva Neto, no seu livro Paranormalidade e Doença (IPPP, 1996) faz uma abordagem sobre a doença no contexto do paranormal. Trata do fenômeno paranormal tanto como causa quanto sintoma de distúrbios psíquicos.

Silva Neto argumenta que diversos fatores e também os fenômenos psi-gama, são passíveis de provocar o surgimento de doenças mentais. Analisa nove casos para embasar suas argumentações. Também especula a possibilidade de tratamento por meios paranormais de distúrbios mentais, apresentando um caso para reflexão. Na argumentação sobre a possibilidade do fenômeno paranormal como manifestação de distúrbios psíquicos, apresenta 28 dos mais diversos casos psi, analisando desde poltergeists, a transtornos de transe e possessão para fundamentar seu pensamento.

O sociólogo e parapsicólogo Erivam Félix Vieira, no seu livro à Feitiçaria: Aspectos Psigâmicos de um Problema Sócio- Cultural (1994), aborda a dinâmica do feitiço a luz da parapsicologia. Levanta duas perguntas: Pode o feiticeiro atingir suas “vítimas” através de influências mágicas? E se atinge detém “poderes sobrenaturais “ou é por causa da credibilidade das “vítimas”? Conclui que a feitiçaria , como subjugação telepsíquica (e as psicopatologias associadas), é um fenômeno exclusivamente do percipiente, quando este assimila a sugestão do emissor. Sua concretização efetua-se pelas vias do condicionamento históricos e sociológicos de cada povo. Considera que por ocasião da interação do campo psi, os sinais psigâmicos são captados pelo receptor de acordo com as suas representações mentais, que são consequências do universo sociocultural.

Em conclusão, entendo como possível às relações entre a parapsicologia e as psicopatologias. Faz-se necessário que profissionais da saúde tenham informações sobre o tema da paranormalidade. A complementaridade, neste tema, das pesquisas parapsicológicas, psicológicas, sociológicas, neurofisiológicas e a análise de casos clínicos são essenciais ao aprofundamento deste importante assunto da doença na nossa sociedade.

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