Um modelo para a parapsicologia

Valter da Rosa Borges & Ivo Cyro Caruso

Este trabalho, apresentado no I Congresso Nordestino de Parapsicologia e III Simpósio Pernambucano de Parapsico­logia, realizados em 1985, no auditório da Universidade Católica de Pernambuco, foi inserido no livro dos autores, intitulado Parapsicologia: um Novo Modelo (e outras teses).

  • – INTRODUÇÃO

A Parapsicologia é uma ciência invejavelmente rica de fenômenos, como também de hipóteses para a ex­plicação dos mesmos. Porém, inexiste uma teoria geral da paranormalidade ou, ao menos, um modelo abrangente capaz de proporcionar unidade e coerência a multiplicidade de suas hipóteses.

Já advertira Abraham Moles (1) que o “papel da ci­ência se acha modificado, não é mais o de prever a marcha do universo em sua minúcia, mas o de construir um mode­lo inteligível que sirva à apreensão da Natureza pelo ho­mem”.

Os modelos são sistemas lógicos de conceitos.

O conceito é a representação intelectual de um objeto.

O conjunto de conceitos forma uma estrutura que se define por um sistema. Esse envolve subsistemas e, por seu turno, é, em si, subsistema de um sistema maior.

Devemos, na acepção de Karl Popper, estabelecer a demarcação da ciência daquilo que não é ciência. Mas, por outro lado, é necessário que façamos a demarcação de cada ciência, definindo, com a precisão desejável, o seu território fenomenológico.

A Parapsicologia necessita, urgentemente, demarcar a sua área objetal, assim como estabelecer um modelo abrangente que, explicando eventos e processos de seu universo fenomenológico, proporcione a integração de seus sistemas classificatórios – psi-gama e psi-kapa – num sistema conceitual coerente, harmonizando hipóteses até agora isoladas.

Assim, dada a dificuldade atual de se elaborar uma teoria geral da paranormalidade, resolvemos, na oportuni­dade da realização do I Congresso Nordestino de Parapsicologia e do III Simpósio Pernambucano de Parapsicologia apresentar, embora de maneira ainda esquemática e sob forma de simples comunicado, um Modelo Geral da Parapsicologia (MGP) à comunidade científica do país.

  • PRINCIPAIS CRÍTICAS À POSIÇÃO OFICIAL DA PARAPSICOLOG1A

Preliminarmente, se faz mister arrolar, resumida­mente, as principais críticas ao atual modelo de Parapsicologia (se este modelo existe) nos seguintes itens:

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Abraham Moles. A Criação Científica. Editora Perspectiva, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1971

 

 

 

  1. Os fatos, chamados paranormais, são examina­dos separadamente, em compartimentos conceituais isola­dos – psi-gama e psi-kapa -, dificultando, assim, o estabele­cimento de uma hipótese ou teoria geral da fenomenologia parapsicológica.
  2. À luz do conceito moderno da metodologia cien­tífica, a Parapsicologia ainda não procedeu à demarcação precisa do seu objeto, de sua área fenomenológica, da na­tureza de seus problemas e de suas relações interdisciplinares com as demais ciências.
  3. A Parapsicologia utiliza, prioritariamente, o mé­todo quantitativo-estatístico-matemático em detrimento de outros procedimentos metodológicos o que poderia propor­cionar um substancioso enriquecimento de seu campo de pesquisa.
  4. A Parapsicologia não adotou uma terminologia própria e descompromissada com a carga semântica de certos vocábulos originários de outras áreas do conheci­mento científico, filosófico e até mesmo religioso, ressen­tindo-se, portanto, da necessária autonomia terminológica no trato dos fenômenos que investiga.

Em nosso Modelo Geral da Parapsicologia (MGP), procuramos enfrentar esses problemas na tentativa de tra­çar o perfil epistemológico adequado da fenomenologia paranormal.

  • – CARACTERÍSTICAS DO MGP

A Parapsicologia é uma ciência de extensa interdisciplinaridade e, assim, é compreensível que as bases do Modelo Geral da Parapsicologia (MGP) possam ser encon­tradas, a título de empréstimo, em teorias e hipóteses de outros domínios científico. As ciências se enriquecem nas suas relações recíprocas, na experimentação de modelos al­ternativos, nos procedimentos análogos de pesquisas e na permanente elaboração de estratégias metodológicas para a compreensão, cada vez mais aprofundada, do que se pos­tula como realidade.

 

As características do MGP podem, assim, ser re­sumidas:

  1. Não se propõe a resolver problemas insolú­veis, tais como a relação mente-corpo, a essência do co­nhecimento ou da realidade, etc.

 

  1. Não trata de questões transcendentais ou metafísicas por não dizerem respeito ao objeto da Parapsicologia.
  2. Estuda, de maneira pragmática, as relações concretas entre o homem e o mundo exterior à luz de processos específicos, ditos paranormais da mente humana.
  3. Estabelece conceitos próprios e mais adequados à fenomenologia paranormal.
  4. Investiga o homem, na situação de sistema aberto, como provável epicentro de relações fenomenológicas de alta complexidade, envolvendo fatores pertinen­tes às mais diversas áreas do conhecimento.
  • – ESTRUTURA DO MGP

Passaremos, agora, ao estudo detalhado, embora conciso, do MGP, onde procuraremos demarcar o território epistemológico da parapsicologia e estabelecer uma nova estrutura terminológica e conceitual da fenomenologia psi.

Antes, porém, firmaremos os conceitos de fe­nômeno paranormal ou psi, de Parapsicologia e de função psi.

  • FENÔMENO PARANORMAL

De maneira sintética, podemos denominar de paranormal ou psi a todo o fenômeno que, tendo o homem como seu provável epicentro, apresenta as seguintes carac­terísticas:

  1. a) Uma modalidade de conhecimento que uma pessoa demonstra de fatos físicos e/ou psíquicos, relativos ao passado, presente ou futuro, sem a utilização (aparente) dos sentidos e da razão, assim como de habilidades que não resultem de prévio aprendizado.
  2. b) Uma ação física que uma pessoa exerce sobre seres vivos e a matéria em geral, sem a utilização de qual­quer extensão ou instrumento de natureza material.
  • PARAPSICOLOGIA

É a ciência que tem por objeto o estudo e a pesquisa do fenômeno paranormal.

Demarcado, portanto, o domínio lógico da Parapsicologia e clarificadas as fronteiras, torna-se possível de­finir as relações interdisciplinares com as demais ciências, a filosofia e a religião.

  • FUNÇÃO PSI

É o conjunto de todos os elementos circunstan­ciais que pode produzir o fenômeno paranormal. Segundo esse novo conceito de função psi os principais conjuntos de elementos circunstanciais se encontram:

  1. a) No Agente Psi (AP)
  2. h) No Meio Psi (MP)
  1. No Fluxo Psi (FP)
  2. O modelo da função psi pode ser expresso por f (Psi) = f { (JAP),(MP),(FP)}, sendo a função psi, ou f(psi), uma função, f, resultado da interação entre os con­juntos de elementos circunstanciais do agente psi (AP), do meio psi (MP) e do fluxo psi (FP). Qualquer elemento ou fator circunstancial, que se encontre envolvido ativamente no fenômeno psi, poderá ser situado em um dos conjuntos acima.
  3. Examinaremos, em separado, cada um de­les.
  4. AGENTE PSI. (AP)

É qualquer pessoa envolvida no fenômeno paranormal, constituindo um dos conjuntos de elementos, ou subsistema, que participa da função psi. O agente psi (AP) conceitua uma agência, enquanto o fenômeno para­normal se manifesta.

A expressão agente psi substitui, no MGP, vocábulos como médium, sensitivo, paranormal e evita, desse modo, estabelecer qualquer questionamento sobre a possível existência de um padrão novo de personalidade – o homem paranormal.

Raríssimas pessoas apresentam alta proba­bilidade de atuar como agente psi (AP). Por isso, as desig­naremos de agente pai confiável (APC). As demais, apenas eventualmente, poderão funcionar como agente psi.

Com fundamento nessa nova estrutura conceituai, poderemos, desde logo, estabelecer os se­guintes postulados:

  1. A presença do agente psi é condição necessária, mas não suficiente, para a manifestação da função psi.
  2. Quanto mais alta for a confiabilidade do agente psi, maior será a probabilidade de manifestação da função psi.

O agente psi é simples, quando, para a manifestação da função psi, concorre uma só pessoa.

O agente psi (AP) é complexo, quando, para a manifestação da função psi, concorrem duas ou mais pessoas.

Quando se colocam os agentes psi em po­sições relativas nos processos de emissão e de recepção, podemos designá-los de:

  1. Agente psi emissor (APE), quando se encontra na extremidade emissora, no instante em que se examina o fluxo psi.
  2. Agente psi receptor (APR), quando se encontra na extremidade receptora, no instante as que se examina o fluxo psi.
  • – MEIO PSI (MP)

É o espaço onde ocorre o fenômeno para- normal, constituindo-se de todos os elementos circunstan­ciais que se interagem com os demais elementos da função psi.

 

4.5.1 – CAMPO PSI (CP)

Um dos elementos que se evidencia no meio psi (MP) é o campo psi (CP), ou seja, o domínio de ação das atividades superiores do cérebro e que interage com a estrutura energética do espaço. A nível das células do cérebro, funções elementares bioenergéticas produzem efeitos de campos complexos, microscópicos e localizados, onde é possível a reversibilidade e as permutas entrópicas e anatrópicas das energias postas em jogo.

  • – FLUXO PSI (FP)

É, no instante operacional do agente psi, um fator circunstancial da função psi e se constitui da inte­ração de informação e energia.

O fluxo se estabelece entre estados do processo psi.

A análise do FP se procede segundo um aspecto de dupla polarização

  1. Matéria/energia, quando estudado o aspecto

energia.

  1. Ação/comunicação, quando estudado o as­pecto informação.

Como resultante da interação energia/informação observa-se a dominância de um aspecto sobre o outro.

Do desdobramento de uma análise dessa domi­nância, distinguiremos:

  1. o fluxo psi informacional (FPI), quando, nele, a informação é dominante em relação à energia.
  2. o fluxo psi energético (FPE), quando, nele, a energia é dominante em relação à informação.

O fluxo psi (FP) apresenta duas formas de mani­festação:

  1. Endopsi, quando a informação ou a energia se transfere do nível inconsciente (Nl) para o nível consciente (NC) do agente psi ou vice-versa.
  2. Exopsi, quando o agente psi, nas suas rela­ções com o meio psi, exterioriza ou recolhe conteúdos informacionais ou energéticos.

Impossível, porém, é o AP tornar conhecimento da entrada da informação ou da energia em seu psiquismo, porque essa entrada se processa em nível inconsciente. Ou seja: uma pessoa só sabe que foi afetada por FPI ou FPE, como receptor, se ocorrer a conscientização do FP. Porém, essa situação de latência do FP, em nível inconsciente, po­derá resultar em alterações psicológicas e/ou orgânicas na pessoa do receptor.

  • – CONCLUSÃO

Estamos esperançosos de que o Modelo Geral da Parapsicologia (MGP) sirva de ponto de partida a debates provocados pelo estudo crítico de cada um dos seus ele­mentos estruturais — agente psi, meio psi, fluxo psi, etc. A natureza de cada elemento desses conjuntos (ou subsiste- mas) ainda contém uma, ou mais de uma, caixa preta. Adotando-se a metodologia transcientífica da Cibernética de que as caixas pretas, encontradas nos subsistemas do MGP, não impedem a continuação dos estudos dos proces­sos envolvidos, de logo se descortina a perspectiva de fér­teis discussões, ensejando novas hipóteses e procedimen­tos de pesquisas. Assim, o MGP poderá tornar-se, em futu­ro próximo, o alicerce epistemológico para uma teoria ge­ral da paranormalidade.

O êxito, porém, deste Modelo depende, não apenas do trabalho pioneiro e isolado da equipe do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, mas, princi­palmente, da colaboração crítica de parapsicólogos e de Institutos de Parapsicologia, na busca permanente de expli­cações e descrições, cada vez mais adequadas, da comple­xa fenomenologia paranormal.

NC; nível consciente NI; nível inconsciente FP: Fluxo psi

Partindo da imagem A até à imagem A'” exteriorizada pelo Agente psi, tem-se: a imagem A através do FP exopsi é captada em NI como imago (imagem derivada da imagem anterior) A’, a qual, pelo FP endo-psi é levado em NC, sendo captada como imago A”, a qual é conscientizada e, por sua vez, é transmitida semiologicamente, resultando na imago A'”. Cada imago (imagem derivada da anterior) A’, A”, A'”, sofreu a ação de ruídos e distorções de acordo com a capacidade interpretativa do agente psi.

Por raciocínio análogo, o leitor poderá inverter o percurso do FP, atribuindo aos elementos acima analisa­dos, os sentidos adequados.

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