DEMARCAÇÃO DAS CIÊNCIAS DO PARANORMAL
Parapsicologia, Psicobiofísica e Psicotrônica, três denominações para um mesmo tipo de investigação científica – o campo do fenômeno paranormal.
Urge, no nosso entender, ou estabelecer uma denominação única para a ciência do paranormal, ou dar atribuições específicas a cada uma dessas denominações.
A palavra Parapsicologia é inadequada, por sua limitação semântica, para abranger o universo da paranormalidade, pois parece situar o seu objeto nos fenômenos psíquicos extraordinários que estão fora do campo da Psicologia e da Psiquiatria.
Psicobiofísica seria a designação mais pertinente, pois abrange, conceitualmente, os fenômenos psíquicos, biológicos e físicos incomuns e, portanto, não estudados pelas demais ciências particulares.
Finalmente, a Psicotrônica já se constitui numa disciplina especializada no campo da fenomenologia paranormal, investigando a ação geral da mente sobre uma forma desconhecida de energia, de natureza orgânica, amplificada e direcionada por instrumentação específica.
Propomos, por isso, neste l9 ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES NO CAMPO DA PARAPSICOLOGIA, PSICOBIOFÍSIÇA e PSICOTRÔNICA, para a solução desse impasse, as seguintes alternativas:
- a) adoção, no Brasil, de uma única denominação para a ciência do paranormal;
- b) ou definição dos parâmetros conceituais das três ciências com a demarcação precisa de seus respectivos objetos.
Se se adotar o critério da unificação, sugerimos, de logo, a escolha da denominação PSICOBIOFÍSICA, em virtude de sua amplitude conceitual, por superar a limitação vocabular do termo Parapsicologia e o significado um tanto dubio da expressão Psicotrônica.
Se, no entanto, se decidir pela permanência das três denominações, sugerimos, para evitar a superposição de campo, a imediata demarcação de cada uma delas e, com essa finalidade, apresentamos a seguinte proposta.
Psicobiofísica – é a ciência que estuda os fenômenos paranormais em sua totalidade, proporcionando uma visão integrada e unitária dos mesmos.
Parapsicologia – é a ciência que estuda o conhecimento paranormal, ou seja, os fenômenos de psigama: telepatia, clarividência « precognição.
Psicotrônica – e a ciência que estuda a ação da mente humana sobre os seres vivos e a matéria em geral, ou seja, os fenômenos de psi-kapa.
Parece-nos, à primeira vista, que esta última alternativa é a mais aceitável, pois especializa e, ao mesmo tempo, unifica o campo da investigação do paranormal, evitando, por conseguinte, a superposição de conceitos e de pesquisas, prevenindo, os prejuízos decorrentes desta confusão.
DEMARCAÇÃO DAS CIÊNCIA DO PARANORMAL
Apenas ad argumentandum, partindo da premissa da adoção da última alternativa, propomo-nos, agora, enfrentar o problema da demarcação da Parapsicologia em relação as outras ciências psíquicas – a Psicologia e a Psiquiatria.
Preliminarmente, temos de salientar que o campus psíquico é objeto comum de investigação da Parapsicologia, da Psicologia e da Psiquiatria. Assim, todo estudioso da mente humana é genericamente um psiquista, sendo, no setor especializado de atuação, denominado de parapsicólogo, psicólogo ou psiquiatra. Por isso, e imprescindível que cada especialista psíquico possua um conhecimento geral do campus psíquico, isto é, que seja também um psiquista e não apenas um parapsicólogo, um psicólogo e um psiquiatra.
Isto posto, vamos estabelecer a demarcação das três ciências psíquicas – Parapsicologia, Psicologia e Psiquiatria – o que não é de espantar, visto que também existem três ciências físicas – a Física Clássica, a Física Relativista e a Física Quântica.
Psicologia: objeto – o estudo dos fenômenos comuns da mente humana e, no plano terapêutico, a solução dos distúrbios emocionais de conteúdo neurótico.
Psiquiatria: objeto – o estudo dos fenômenos patológicos da mente humana e, a nível terapêutico, a resolução ou controle dos distúrbios de comportamento de conteúdo neurótico ou psicótico.
Parapsicologia: objeto – o estudo dos fenômenos incomuns da mente humana, sua aplicação pragmática e orientação às pessoas perturbadas por experiências paranormais. Com isso, nos posicionamos, de maneira clara e definitiva, contra a pretensão de uma Parapsicologia Clinica, pois o parapsicólogo só deverá fazer psicoterapia se for um psicólogo ou psiquiatra e somente na condição de psicólogo ou de psiquiatra.
Por conseguinte, são de competência exclusiva do parapsicólogo os fenômenos de telepatia, de clarividência e de precognição e, futuramente, certos fenômenos ainda não aceitos oficialmente pela Parapsicologia, porque ainda em regime de cautelosa observação, como a projeção da consciência e a memória extracerebral.
O MÉDIUM E A PESQUISA PARAPSICOLÓGICA
Na condição de ciência, a Parapsicologia deve, cada vez mais aprimorar n sua metodologia, compatibilizando o controle das experiências com as peculiaridades de cada caso concreto, sempre observando a natureza extremamente complexa do psiquismo humano.
O método é o meio e não o fim da experiência por isso, deve adaptar-se às situações concretas dos fenômenos em observação.
Compete à pesquisa parapsicológica estabelecer determinado fenômeno psíquico é ou não de natureza pai normal, como também se a pessoa que o experimentou é médium. Conforme nosso conceito, médium é aquele que habitualmente apresenta fenômenos paranormais.
No entanto, há pessoas que são predisposta» a passar por experiências paranormais e outras que, esporadicamente, manifestam tais fenômenos.
Na verdade, os médiuns são raros, sendo confundidos como tais as pessoas paranormalmente predispostas. A regra geral é a manifestação paranormal episódica a qual todas as pessoas possivelmente estão sujeitas,
Esta distinção que fazemos é de suma importune na investigação parapsicológica, visto que somente a pesquisa com médiuns é que apresenta uma razoável probabilidade de resultados significativos. Nas pessoas paranormalmente predispostas, esses resultados são aleatórios, não compensando o dispêndio de tempo e de recursos no trabalho com as mesmas.
Na conformidade da proposta apresentada neste trabalho, os parapsicólogos lidam tão somente com os médiuns de psi-gama, reservando-se a pesquisa dos médiuns de psi- kapa aos investigadores da Psicotrônica. Já os psicobiofísicos poderão trabalhar com qualquer modalidade de fenômeno paranormal.
POSTULADOS DA PARAPSICOLOGIA
A Parapsicologia, como ciência, deve assentar-se sobre fundamentos básicos ou postulados fundamentais, os quais ordenarão e dirigirão toda a pesquisa da fenomenologia paranormal. Estes postulados poderão ser, assim, enunciados:
- a presença do médium é condição necessária, mas não suficiente, para a manifestação do fenômeno paranormal.
Isto importa dizer que a presença de um médium torna possível, mas, por si só, não determina a produção daquele fenômeno. Somente em casos excepcionais, a vontade do médium, ou melhor, a ação consciente do médium é capaz de produzir tal resultado. É mister a atuação de um elemento ainda desconhecido, em seu psiquismo inconsciente, para a causação desse efeito. Assim, sem a presença do médium, não há fenômeno paranormal, embora sua presença não determine, mas tao somente torne possível a manifestação psi.
- b) Quanto mais poderoso o médium, maior o índice de probabilidade de ocorrência do evento paranormal.
Se a presença do médium é condição necessária, mas não suficiente, para a produção do fenômeno psi, as suas faculdades paranormais é que determinarão o índice de probabilidade de ocorrência daquele fenômeno.
As possibilidades de êxito, numa pesquisa parapsicológica, aumentarão significativamente, se forem observadas certas regras básicas que anotamos em nosso livro, já esgotado,” INTRODUÇÃO AO PARANORMAL”. Estas regras são as seguintes:
- O médium e os pesquisadores são solidariamente responsáveis pelo êxito ou fracasso das experiências.
- Não exigir do médium aquilo que ele não está habituado a produzir ou que, por circunstancias várias, não pode realizá-lo, de maneira satisfatória.
3- Promover um clima de bom relacionamento entre o médium e os pesquisadores, assim como entre os próprios pesquisadores.
4 – Evitar toda e qualquer forma de coação sobre o sensitivo, exercendo sobre ele uma fiscalização eficiente, mas discreta.
5- Estimular a autoconfiança do médium em suas faculdades, mantendo elevada a sua motivação pelas pesquisas.
6 – Realizar, sempre que possível, as experiências em ambiente tranquilo e confortável.
O MODELO CIENTÍFICO DA PARAPSICOLOGIA
Do exposto se vê que o modelo científico da investigação parapsicológica é especificamente probabilístico. Toda pesquisa, portanto, deve ser orientada no sentido de aumentar, em cada nova experiência, as chances de manifestação paranormal. E o bom pesquisador é aquele que consegue, quase sempre, ampliar o índice estatístico da produção desse fenômeno, possibilitando o médium funcionar na plenitude de seus poderes parapsicológicos.
A metodologia utilizada, seja ela o método qualitativo, seja o método quantitativo-estatístico-matemático deve observar as circunstâncias específicas de cada pesquisa, notadamente no que diz respeito às peculiaridades da personalidade e da faculdade paranormal de cada médium. Se um método funciona bem com determinado médium, pode, no entanto, constituir-se em estorvo para outro. E, como o método é o meio e não o fim da pesquisa, ele é tão somente uma simples ferramenta de trabalho científico e, por conseguinte, deve adaptar-se às singularidades do objeto da pesquisa e não este àquele.
Se a Parapsicologia adotar, unicamente, o método quantitativo-estatístico-matemático da escola norte-americana, não poderá investigar, adequadamente, todos os fenômenos da paranormalidade. É mister que o procedimento científico não amesquinhe o objeto da pesquisa, mas possua a necessária versatilidade experimental para lidar com a riqueza e a complexidade de tais fenômenos.
Não há, pois, que se cogitar de um método sui generis para a Parapsicologia, mas, sim, da adoção daquele procedimento científico compatível com o fenômeno paranormal a ser investigado.
CORPO, MENTE E UNIVERSO
Conhecemos os limites físicos do nosso corpo. Mas não conhecemos os limites de suas relações com o mundo exterior.
Os nossos sentidos nos põem em relação com aquilo que chamamos de realidade. Mas eles não representam os limites de nossa capacidade perceptual. Isto quer dizer que não sabemos o quanto percebemos da realidade que nos cerca, mas tão somente aquilo que foi filtrado e selecionado pelo nosso cérebro.
Sabemos, assim, que percebemos, mas não o quanto percebemos. E o fenômeno paranormal é a revelação de que somos muito mais do que aquilo que conscientizamos.
O nosso organismo, altamente bem sucedido no processo da evolução, possui uma extraordinária capacidade de adaptação às mudanças ambientais. E adaptação quer dizer capacidade informacional, que se consubstancia na versatilidade dos recursos sensoriais, capazes de pôr o organismo em permanente estado de alerta em relação às alterações da realidade circunjacente.
Mente e corpo formam uma unidade. Leibniz já reconhecera que ”o corpo responde a todos os pensamentos da alma” (1). E, hoje, a pesquisa parapsicológica tem verificado que o corpo não responde apenas aos pensamentos do pensador, mas também aos pensamentos de outras pessoas, como acontece no processo telepático.
Comunicamo-nos com os nossos semelhantes através da fala, da postura corporal, da sensibilidade hiperestésica e da percepção-extra-sensorial. A Parapsicologia elegeu este último veículo de comunicação como objeto exclusivo de sua investigação científica, objetivando uma melhor compreensão da trindade mente, corpo e universo.
CAMPOS COMUNS DAS CIÊNCIAS PSÍQUICAS
Conquanto em nosso trabalho tenhamos delimitado o campo de ação das três ciências psíquicas – Parapsicologia, Psicologia e Psiquiatria – é mister reconheçamos a existência de territórios comuns e de relações necessárias entre elas. Esses territórios e relações se referem aos seguintes fenômenos que passamos a analisar.
1 – CRIPTOMNÉSIA
A criptomnésia é um fenômeno psíquico que consiste na emersão de conteúdos inconscientes para o consciente.
Ela é de natureza psicológica se o material psíquico conscientizado pertencer ao patrimônio mnemônico de uma pessoa.
Se o material psíquico conscientizado não é atribuível, porém, á vivência ou à formação intelectual de uma pessoa, então a criptomnésia passa ser um fenômeno de natureza parapsicológica.
A criptomnésia pode também apresentar-se sob forma dramatizada, manifestação essa que é conhecida como personalidade secundária.
Se a personalidade secundaria não possui referencial biográfico constatável ou constatado, ela nada mais é do que o produto de uma atividade psicológica de natureza compensatória, decorrente de profundos desajustes psíquicos que não puderam permanecer represados no inconsciente.
Se a personalidade secundária é referenciada a pessoa falecida a qual não conhecera quem a personifica, estamos, então, perante um evento parapsicológico, interpretado, segundo as circunstâncias, como uma evidência em favor da sobrevivência pelos parapsicólogos que defendem a existência de fenômeno de psi-teta.
Se a personalidade secundária é referenciada a alguém já falecido com a qual a pessoa que está sob seu domínio se identifica, dizendo ter sido ela em vida anterior, estamos, agora, perante um fenômeno conhecido por memória extracerebral, o qual, para alguns parapsicólogos, constitui forte indício em favor da hipótese da reencarnação.
A mente humana é tão fértil que, em situações especiais, é capaz de criar réplicas psíquicas de si mesma e elaborar o que Theodore Flournoy denominou de “romances subliminares”, principalmente quando a personalidade vigílica é inidônea para utilizar adequadamente o material excedente de forças criadoras.
2 – ALUCINAÇÃO
A alucinação, na definição de Bali, “é uma percepção sem objeto”.
Afirma Hans Seyle que “certos produtos da adrenalina podem causar alucinação” (2). De maneira mais genérica, toda modificação química do cérebro é suscetível de produzir experiências alucinatórias, sejam elas ocasionadas por distúrbios endógenos, por ingestão de tóxicos ou, ainda, por estimulação telepática.
A alucinação é de natureza psicológica, se se tratar de um acontecimento esporádico na vida de uma pessoa.
É de natureza psiquiátrica se apresentar manifestações recorrentes, Aliás, Henry Ey, de maneira dogmática, afirmara que “toda alucinação é essencialmente patológica”.
Porém, se a alucinação está relacionada com um acontecimento verídico, que afeta emocionalmente a pessoa que a experimenta, é possível tratar-se de um fenômeno de telepatia ou de clarividência, sendo, portanto, de natureza parapsicológica.
3 – O SONHO
O sonho é a linguagem por excelência do inconsciente.
Para Freud, a sua função é a de guarda do sono e de realização dos desejos.
Para Jung, o sonho é mais do que isso: seu objetivo e também o de realizar “compensações da situação da consciência em determinado momento”. O sonho, na concepção junguiana, é “uma auto representação, uma forma espontânea e simbólica, da situação atual do inconsciente”, incluído. entre seus fatores determinantes, a telepatia.
Os sonhos são mensagens criptomnésicas, noticiando situações psicológicas, fisiológicas, principalmente as de natureza patológica, como também mensagens telepáticas, que, durante a vigília, não tenham alcançado o nível da consciência.
Hipócrates já ensinara que a alma pode captar causas das doenças em imagens durante o sono, pois a saúde do sonhador se reflete no seu sonho. Segundo Aristóteles, uma pessoa, durante o sono, se torna muito mais sensível aos pequenos distúrbios de natureza orgânica.
Os sonhos podem também revelar a situação psíquica e/ou orgânica de uma pessoa efetivamente ligada ao sonhador. A literatura paranormal registra alguns casos esporádicos de sonhos compartilhados por duas pessoas na mesma noite.
Informa René Sudre que, no Congresso de Utrecht, de 1953, o Dr. Montague Ullman afirmou que os sonhos telepáticos ocorrem com muita frequência entre pacientes esquizofrênicos.
PARAPSICOLOGIA E PSICOTERAPIA
Jan Ehrenwald observou a “estreita correlação existente entre a telepatia e a transferência psicanalítica” e asseverou que “a telepatia poderia ser, em realidade, um fator poderoso nos dinamismos do tratamento psicológico, seja psicanalítico ou não” (5).
Jung, por sua vez, chamou a atenção para a existência de um campo de interesse comum entre Psicoterapia e a Parapsicologia, ao declarar: “A relação médico-doente, principalmente quando intervém uma transferência do doente ou uma identificação mais ou menos inconsciente entre médico e doente pode conduzir ocasionalmente a fenômenos de natureza parapsicológica” (6).
Compete, por conseguinte, ao parapsicólogo averiguar se a pessoa que o procura, dizendo-se acicatada por acontecimentos estanhos e aparentemente inexplicáveis, está realmente passando por experiências paranormais e se, em caso positivo, é um médium ou tão somente alguém que, eventualmente, apresenta este tipo de fenômeno.
A SOBREVIVÊNCIA: ESPECULAÇÂO PARAPSICQLÓGICA
Demarcado o campo da Parapsicologia e determinado o que é seu objeto de estudo, poderemos agora analisar se a sobrevivência é matéria de especulação parapsicológica.
A Parapsicologia não nega e nem afirma a existência de espírito, porque não tem por objeto a sobrevivência do homem.
Sem afetar imediatamente as suas pesquisas à existência post mortem, ela procura a explicação dos fenômenos paranormais nos poderes da própria mente humana. Afinal de contas, muito pouco se sabe a respeito das atividades mentais e seria realmente um procedimento precipitado e anticientífico excluir da jurisdição do cérebro certos fenômenos psíquicos só porque não se ajustam aos conhecimentos atuais referentes à nossa atividade nervosa superior .
Entende Milan Rizl que por não conhecermos ainda os limites da percepção extra-sensorial, o problema da sobrevivência post mortem permanece prejudicado.
Argumenta que o conceito da sobrevivência, baseado na permanência da personalidade com todos os seus atributos, é “forçosamente falso”, visto que “muitas capacidades humanas são, indubitavelmente, baseadas no corpo físico e, portanto, devem forçosamente desintegrar-se depois da desintegração do corpo”. Contrariamente ao pensamento de Rhine, Milan afirma que a prova da sobrevivência não pode ser fornecida pelas manifestações paranormais, porque “até o momento não se encontram limitações ã percepção extrassensorial”. No entanto, admite a possibilidade da sobrevivência, pois aceita que “a personalidade humana exista em diferentes níveis e abranja também as partes componentes não materiais” (7).
Enfatizando a necessidade de se estabelecer uma hipótese científica da sobrevivência, afirma Milan Rizl: “Determinar os limites da percepção extra-sensorial seria também importante para a pesquisa da sobrevivência por mortem. A menos que conheçamos esses limites, não podiam projetar um teste crucial para provar ou refutar a sobrevivência post mortem. Até então, não se encontram limites a percepção extrassensorial e, consequentemente, qualquer teste que se projete e quaisquer que sejam os resultados que se obtenham, a percepção extrassensorial continua sendo uma hipótese suficientemente satisfatória que torna desnecessária a hipótese sobre a sobrevivência por mortem (8).
Por isso, com razão, Oliver Lodge, embora espírita, recomendava que se deveria “levar a hipótese telepática até ao seu extremo limite, antes de admitir-se qualquer outra. (9).
Para J. B. Rhine, a “prova de ESP seria mais do que suficiente para estabelecer a hipótese da sobrevivência sobre bases lógicas”. E asseverava que “a pesquisa de ESP faz diretamente surgir a questão do lugar da personalidade no sistema espaço-tempo, oferecendo positiva indicação a favor da sobrevivência”. E concluiu: “Se não tivesse havido nunca, formulação anterior do problema da sobrevivência, ele teria surgido da pesquisa do ESP” (10).
Discordamos, no entanto, deste posicionamento de Rhine. A prova do ESP, não é mais do que suficiente para estabelecer a hipótese da sobrevivência. Em certos casos alguns fenômenos paranormais poderão fornecer subsidio para a elaboração de uma hipótese científica da sobrevivência. Concordamos, assim, com Milan Rizl, quando ele afirma que a ESP pode resultar de uma faculdade do homem embora ainda desconhecida. Se não conhecemos ainda os limites da ESP, como poderemos asseverar que determinado fenômeno paranormal excede a capacidade do próprio ser humano? Com isso, não estamos apregoando que o homem possui poderes ilimitados, sabedoria infinita e outras tantas afirmações delirantes de místicos incorrigíveis. O que queremos dizer, de maneira clara e objetiva, é que os fenômenos paranormais podem constituir uma excelente matéria prima para a elaboração de uma hipótese científica da sobrevivência. Rhine, nem qualquer outro parapsicólogo, ao que sabemos, apresentou essa hipótese. E tudo o que dispomos, em Parapsicologia, até o momento, se resume em meras especulações filosóficas, algumas das quais saturadas de indisfarçável ranço religioso.
Concordamos, sem qualquer reserva, com J.B. Rhine quando ele declara que “correto é dizer que a investigação da hipótese da sobrevivência e da comunicação dos espíritos seria investigação parapsíquica” (11). Essa investigação, no entanto, ainda se situa no terreno escorregadio da especulação parapsicológica, e aí permanecerá indefinidamente, enquanto não se elaborar hipótese científica para a pesquisa da sobrevivência.
A HIPÓTESE DA FUNÇÃO PSI
Ressente-se a Parapsicologia de uma hipótese geral, abrangente e unificadora, mediante a qual se torne possível uma sistematização mais precisa da fenomenologia paranormal, ensejando a elaboração de hipóteses mais específicas para cada tipo particular de manifestação psi.
Costumam os parapsicólogos explicar os fenômenos paranormais pela atividade do psiquismo inconsciente, sem, no entanto, estabelecer ura conceito preciso sobre o inconsciente em Parapsicologia.
Jung define o inconsciente como ” a totalidade de todos os fenômenos psíquicos em que falta a qualidade da consciência”. Mas, reconhece a impossibilidade da Psicologia “de fazer qualquer afirmação valida acerca dos estados inconscientes, nem há esperança de comprovar cientificamente, algum dia, a validade de qualquer afirmação relativa aos estados ou processos inconscientes”. Assim, diz Jung, “é extremamente difícil formar uma ideia concreta da natureza do inconsciente” e, por isso, “permanece sem resposta a questão fundamental, relativa ã natureza e essência do processo inconsciente”(12).
A atividade consciente é especificamente seletiva e constitui o nosso mínimo psíquico. No estado de vigília, a mente desenvolve uma atividade pragmática e, por isso, só percebemos e conscientizamos aquilo que, no momento, nos interessa. O que ganhamos em nitidez perceptual e melhoria de desempenho prático, perdemos em amplitude sensorial genérica. Quanto maior atenção, maior poder de seleção e, consequentemente, menor capacidade de resposta a estímulos de outra natureza.
O inconsciente, portanto, é um conceito puramente funcional. Erich Fromm já advertia que não se deveria dar um sentido substantivo, mas funcional ao inconsciente. Para ele, o inconsciente não é racional nem irracional, mas ambas as coisas. E afirma: “o consciente e o inconsciente se referem a funções, e não a lugares nem a conteúdos” (13).
Dizer, como o fazem certos parapsicólogos, que o inconsciente e mais inteligente do que o consciente não passa de rematada tolice, porque é uma afirmação destituída de qualquer fundamento científico. O que a experiência tem revelado é que a mente humana se torna mais criativa quando, abandonando a sua atividade racional e analítica, se deixa empolgar pelo processo estocástico das associações livres do inconsciente.
Jung recoloca o inconsciente no seu devido lugar, argumentando que “se o inconsciente fosse efetivamente superior à consciência, seria simplesmente difícil ver em que consiste, afinal, a utilidade do consciente, ou por que motivo o fenômeno da consciência surgiu no transcurso da evolução filogenética como um elemento necessário” (14).
O inconsciente, na verdade, não é superior ao consciente: é diferente. Ele age alogicamente, estabelecendo as mais imprevisíveis associações. Por não ser metódico, mas caótico ou paradoxal, pode levar o homem a notáveis descobertas ou invenções, mas também a lamentáveis equívocos e ilusões.
Dúvida não há de que a atividade inconsciente é a via preferida da manifestação paranormal. Mas, por isso, não devemos pressupor que o inconsciente é a causa do referido fenômeno. O que sabemos firmemente é que a atividade paranormal se exerce na presença de seres humanos e especificamente de certas pessoas denominadas de médiuns.
Propomos, em conclusão, neste 1º ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES NO CAMPO DA PARAPSICOLOGIA, PSICOTRÔNICA E PSICOBIOFÍSICA, a substituição da hipótese do inconsciente pela hipótese da função psi para explicação da causa dos fenômenos paranormais, a qual se apoiará nos seguintes resultados:
- a) a mente humana é dotada de uma faculdade – função psi – ainda desconhecida, mediante a qual é capaz de se informar sobre o que se passa em outras mentes e sobre fatos que, em condições normais, não poderiam ser percebidos, assim como de exercer uma ação física sobre seres e coisas sem se utilizar de qualquer tipo de energia conhecida;
- b) a função psi é de natureza psíquica e estabelece uma forma especial de relação do homem com a realidade;
- c) a função psi é um processo inconsciente e, por conseguinte, involuntário. Porém, em casos extremamente raros, pode ser consciente e voluntária, o que autoriza uma razoável expectativa de seu controle experimental. Alguns médiuns já conseguem, por sua vontade, pôr em funcionamento essa faculdade, embora desconheçam o seu modus operandi. Empiricamente, sabem o jeito de desencadear o processo paranormal e cada um tem o seu estilo próprio de fazê-lo; d) o potencial da função psi é, até o momento, ignorado e qualquer aferição estatística sobre a sua utilização não passa de mero palpite, porque destituído de qualquer base experimental e até mesmo empírica;
- e) finalmente, tudo ou quase tudo com que o homem se relaciona através da função psi se refere ao seu próprio universo. Tudo ou quase tudo que ele não sabia e passou a saber, por meios paranormais, se originou da mente de outros homens ou de acontecimentos do próprio mundo material. Até mesmo a precognição não pode ser atribuída a um fator extra-humano, visto que, experimentalmente, a função psi tem se comportado como se não estivesse subordinada às categorias a priori de tempo e de espaço.
A nossa proposta reconhece, por conseguinte, o fenômeno paranormal como produto de uma das funções da mente humana – a função psi – e redireciona a atividade do parapsicólogo para investigação desta extraordinária faculdade psíquica, possibilitando uma compreensão mais ampla e mais profunda da própria realidade.
BIBLIOGRAFIA
(1) – Leibniz, “Novo Tratado sobre o Entendimento”. Aguilar, Argentina, Buenos Aires, 1970.
(2) – Hans Seyle, “Stress. A Tensão da Vida”. IBRASA São Paulo, 2S ed. 1965.
(3) – Jung. “A Natureza da Psique”. Editora Vozes Petrópolis, 1984.
(4) – René Sudre. “Tratado de Parapsicologia”. Zahar Editora, Rio de Janeiro, 1966.
(5) – Jan Ehrenwald. “Telepatia e Relações Interpessoais.
(6) – Jung. “Memórias, Sonhos e Reflexões”. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1975.
(7) – Milan Rizl. “Parapsicologia Atual. Fatos e Realidade”. IBRASA, São Paulo, 1976.
(8) – Oliver Lodge. “Por que creio na imortalidade da Alma”. Edição Calvário, São Paulo, 1975
(9) – J.B. Rhine. “0 Alcance do Espírito”., Bestseller, São Paulo, 1965.
10) – J.B. Rhine e J.G, Pratt. “Parapsicologia. Fronteira Científica da Mente”. HEMUS, São Paulo, 1966.
(11) – Jung. “A Natureza da Psique”. Editora Vozes, Petrópolis, 1984.
(12) – D.T. Suzuki, Erich Fromm, Richard de Martin»», “Zen Budismo e Psicanálise”. Editora CuItrix, 1970.
(*) Conferência “A Demarcação da Parapsicologia” no I Encontro Nacional de Pesquisadores do Campo da Parapsicologia, Psicobiofísica e Psicotrônica, e no IV Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica, realizado em Brasília, de 5 a 9 de junho de 1985.