Valter da Rosa Borges
Recentemente, em um dos jornais de grande circulação da cidade, um inteligente colunista criticou a Parapsicologia, afirmando que ela se encontrava num impasse. Porém, não fundamentou, convincentemente, as razões deste impasse, alegando apenas que ela não apresenta nada de novo e que as informações sobre seus fenômenos já se tornam enfadonhas e repetitivas.
Compreendo o desencanto do articulista.
Toda ciência é, irremediavelmente, maçante e, raramente, apresenta algo de novo. Além do mais, dada a sua própria estrutura metodológica, ela se esmera na repetibilidade ad nauseam dos seus experimentos, quantificando-os o mais possível, a fim de conferir-lhes uma significação estatística. A Parapsicologia, por conseguinte, não poderia fugir a essa regra. Ciência é paciência e não entretenimento. Ela não se propõe a apresentar “novidades” ou “estoque sempre renovado” para atender a demanda do mercado consumidor.
Infelizmente, as pessoas leigas cercaram a Parapsicologia de expectativas e mistérios. E, por isto, dela se exige resposta, a curto prazo, dos insondáveis arcanos da Natureza, ou solução para os mais intrincados problemas e mais antigas aspirações da humanidade.
A Parapsicologia, no entanto, é apenas uma ciência. O seu desenvolvimento é, necessariamente, lento e cauteloso, justamente por lidar com fenômenos rebeldes a uma abordagem convencional e acadêmica.
É possível que a desenfreada publicidade que se vem fazendo em torno da fenomenologia paranormal através da imprensa e, notadamente, como espécie de coqueluche, em programas de televisão de alto conceito ibopista, venha contribuindo para distorcer a imagem da Parapsicologia. E, desta onda de sensacionalismo, se aproveitam os exploradores da credulidade pública para o investimento dos seus pretensos “poderes paranormais”, cobrando consultas ou ministrando cursos espetaculares, onde prometem iniciar os papalvos nos mistérios da Natureza. Ora, tudo isso concorre para que as pessoas, inadvertidamente, acreditem que a Parapsicologia é uma espécie de superciência, capaz de resolver todos os problemas existenciais.
Vivemos numa época de permanente questionamento do conhecimento em todos os seus níveis, numa arrojada tentativa de unificação e sistematização que, a cada dia, parece mais improvável ou mesmo impossível. É uma tarefa ciclópica, porém necessária, mesmo sabendo-se que a consumação dessa desejada síntese seja, inapelavelmente, provisória e insatisfatória. Contudo, é mister a proposição de um novo modelo abrangente, totalizante, holístico, capaz de evitar – ou, ao menos, retardar – o processo de pulverização e extrema especialização do conhecimento. Revisam-se os conceitos mais gerais e abstratos, como os da Vida, da Matéria e da Mente. E, a cada passo, constatamos a nossa profunda ignorância a respeito dos fenômenos físicos, biológicos e psíquicos, à medida que sondamos as suas estruturas mais recônditas. E quanto mais somamos conhecimento, mais criticamos postulados e princípios que pareciam inabaláveis, o que nos deixa, gradativamente, mais inseguros quanto à confiabilidade dos nossos procedimentos epistemológicos. Na verdade, voltamos sempre à perplexidade socrática: quanto mais sabemos, mais sabemos que não sabemos.
Por que, então, seria a Parapsicologia uma exceção a essa regra, principalmente na sua lida com fenômenos que desafiam a argúcia dos mais renomados cientistas e as estruturas mais sólidas do próprio conhecimento oficial?
A melancólica conclusão a que chegamos é que a Parapsicologia assumiu perante o público, sempre ansioso por milagres, uma conotação carismática e um sabor de religiosidade salvacionista. Daí, talvez, a impaciência, misturada com um certo desencanto, conforme a observação do mencionado articulista, pela escassez de novidades rocambolescas no comércio da paranormalidade.
A Parapsicologia é uma ciência e, como ciência, circunscreve-se aos fatos e às hipóteses suscetíveis de uma comprovação experimental.
(*) Artigo publicado no Jornal da Cidade, abril/maio. 1979