VALTER DA ROSA BORGES
RESUMO
O presente trabalho visa apresentar a descrição de alguns fenômenos psi de personificação objetiva que, embora ocorridos em ambiente religioso espírita, sem os procedimentos da metodologia científica, podem servir de matéria para reflexão, apesar do seu empirismo.
Não nos preocupamos com as costumeiras e cediças alegações de fraude, que partem da insustentável premissa de que todos os agentes psi são hábeis prestidigitadores e que as testemunhas são desprovidas de credenciais científicas para investigar fenômenos parapsicológicos. A única consequência desta falha metodológica é a impossibilidade da admissão dos relatos como investigação científica o que não importa na rejeição preliminar da autenticidade dos fenômenos pela simples suspeição de fraude, facilitada pela ingenuidade das testemunhas e sua crença religiosa.
Introdução
A pesquisa dos agentes psi brasileiros não foi desenvolvida segundo procedimentos científicos, e a totalidade dos fenômenos paranormais, que iremos aqui analisar, ocorreu em ambiente religioso espírita, porém presenciado, em algumas ocasiões, por pessoas de formação científica e de indiscutível respeitabilidade moral. Não vamos, portanto, nos deter em questionamentos que revelam mais a preocupação sectária do que a investigação simplesmente factual dos relatos oferecidos.
Selecionamos, para o nosso estudo, os fenômenos de personificação objetiva (mais conhecidos pelo nome de “materialização”) e outros a eles relacionados, apresentados por alguns agentes psi brasileiros e comparados aos produzidos por agentes psi de outros países. Também ressaltamos aspectos da fenomenologia de psi-kapa apenas encontráveis na paranormalidade brasileira.
Personificações de pessoas desconhecidas
As personificações de pessoas desconhecidas (ou fictícias) são a regra geral entre os agentes psi que manifestaram esse fenômeno.
Francisco Peixoto Lins, mais conhecido por “Peixotinho” foi talvez o maior agente psi em fenômenos de personificação objetiva no Brasil. As personificações eram completas, ou seja, de corpo inteiro. Nas suas sessões, também ocorriam fenômenos de metafanismo, voz direta, modelagens de flores e mãos em parafina.
Entre as personificações de pessoas desconhecidas, que se apresentavam nas sessões de “Peixotinho” se destacaram “Scheilla”, “Jesuíno”, “Zé Grosso” (quase dois metros de altura), “André Luiz” (um dos “espíritos” que ditou vários livros pela psicografia de Chico Xavier), “Ana”, “Fidelinho” e o japonês “Tongo”.
Em três dessas sessões, “Jesuíno” tocou sanfona (11 de novembro de 1939), fez quadrinhas (9 de dezembro de 1939) e executou algumas músicas em uma gaita (9 de março de 1940).
Informou Guy Playfair que, em uma sessão realizada em 1948, na casa de Jair Soares, em Belo Horizonte, o Dr. Rubens Romanelli apertou a mão de “Sheilla”, “sentindo a resistência de um corpo carnal, o calor de uma mão humana”.
Disse Romanelli:
“Notei que seus olhos não tinham brilho e perguntei-lhe o motivo. Explicou-me que isto era perfeitamente normal durante a materialização, porque não era possível reproduzir o brilho dos olhos humanos. Notei também uma mancha escura entre o seu braço e o seu tórax e ela explicou que, desde que o médium estava atacado de um resfriado, não lhe era possível materializar-se completamente. Disse que isso era prova de que ela era realmente um espírito e pediu-me que pegasse a capa de um álbum de discos e passasse entre seu braço e seu tórax, o que fiz sem qualquer dificuldade, apurando que não havia ligação material entre ambos. O braço me deu a impressão de estar solto. Não havia ligação material para os nossos olhos, mas havia um dinamismo espiritual que iludia o olho material, e esse dinamismo permitia a articulação do braço.”
Este depoimento de Romanelli é coincidente com o que aconteceu com a personificação de “Katie King” que se apresentava nas sessões da agente psi Florence Cook.
O príncipe Emílio de Sayn Wittgenstein também observou que os olhos de “Katie King” lhe davam a aparência de espectro. Eram formosos, porém olhavam “de um modo esquivo, fixo, glacial”.
O Dr. Georges H. de Tapp relatou que, certa ocasião, ao segurar, involuntariamente, o pulso direito de “Katie King” observou que “ele cedeu sob a pressão como se fosse de cera”.
“Scheilla” explicou a Romanelli que o fenômeno de “materialização” apresenta o mesmo processo do ferromagnetismo, onde o ectoplasma, à semelhança da limalha de ferro atraída pelo eletroímã, é orientado em direção ao espírito.
Informou Rafael Américo Ranieri que o agente psi Fábio Machado, integrante do grupo espírita de Jair Soares, de Belo Horizonte, não conhecera “Peixotinho” e não assistira qualquer de suas sessões. No entanto, as personificações, que se apresentavam no Grupo de Jair, eram as mesmas do Grupo Espírita André Luiz, do Rio de Janeiro, tais como “Zé Grosso”, “Scheilla” e “Fidelinho”.
Personificações de pessoas falecidas conhecidas
O primeiro fenômeno deste gênero foi produzido por Kate Fox na residência do banqueiro Livermore, na Inglaterra, em 300 sessões realizadas de 1861 a 1866, onde se apresentava a personificação da sua falecida esposa chamada Estela. A personificação deixou mensagens escritas em papel marcado por Livermore, com a grafia de Estela, e em francês, idioma desconhecido de Kate Fox.
César Lombroso afirmou que, uma vez, viu a personificação de sua genitora falecida. Ernesto Bozzano, de sua esposa com a qual não foi feliz. Vassalo, de seu filho Noraldino. O Professor Porro, de sua filha Elza. Em todos esses casos de personificação de pessoa morta, o agente psi era Eusápia Paladino.
Contou Florence Marryat que, em várias ocasiões e com “médiuns” diferentes, manteve diálogos com a personificação de sua filha falecida, também chamada Florence, como se fosse uma pessoa viva e observou “distintamente aquela particularidade defeituosa do seu lábio com que nasceu e que médicos experientes tinham declarado que era tão rara que nunca tinham visto antes nenhuma semelhante”.
Nenhum outro agente psi no mundo excedeu “Peixotinho” em número de personificações de pessoas falecidas, que apareceram em suas sessões mediúnicas e foram reconhecidas por parentes e amigos. Eram elas: Júlio Olivier (médico falecido em Macaé, RJ), João Passos (cientista brasileiro, falecido em Caxambu, MG), Nina Arueira (noiva de Clóvis Tavares e falecida aos 19 anos de idade), Neuza Magaldi, Abel Gomes, David Pais dos Santos (pai do Dr. Amadeu Santos), Aracy (filha falecida de “Peixotinho” aos três anos de idade), “Mãe Iza” (sogra do Prof. Leopoldo Machado), Ilka dos Santos (filha falecida de Vitorino e Alina Ferreira dos Santos) e o Dr. João Passos.
Neusa Magaldi manteve um rápido diálogo com o seu pai, Aleixo Victor Magaldi. “Mãe Iza” conversou com a sua filha Marília Barbosa Machado e sua neta Ilza Chaves de Almeida. Em outra ocasião, palestrou animadamente com Vitorino Elói dos Santos de quem era muito amiga quando em vida. E Ilka dos Santos conversou com os seus pais Vitorino e Alina Ferreira dos Santos.
Amadeu Santos descreveu, na ata da reunião de 23 de janeiro de 1947 do Grupo Espírita André Luiz, a aparição de Batuíra, que, em vida, fora um grande divulgador da doutrina espírita.
A personificação do Dr. Bezerra de Menezes, notável líder espírita, apresentou-se apenas uma vez.
Em sessão realizada em Fortaleza, em 1952, surgiu a personificação de Maria Gonçalves Duarte, que, quando viva, fora esposa do conferencista espírita português, Isidoro Duarte Santos. Uma cópia da fotografia da personificação foi enviada ao seu marido em Portugal. Por causa disso, Isidoro Duarte Santos veio ao Brasil e conseguiu participar de uma sessão com “Peixotinho”, onde, mais uma vez, ocorreu a aparição de sua esposa. A personificação, no entanto, não foi total e nem apresentou a mesma nitidez da vez anterior. Isidoro, então, pediu-lhe uma prova contundente de sua identidade. Um perfume invadiu o aposento e Isidoro reconheceu que se tratava do mesmo perfume que o casal costumeiramente usava. É preciso ressaltar que Maria Gonçalves Duarte jamais esteve no Brasil.
Em uma das sessões de “Peixotinho”, a personificação de Heleninha, filha de Rafael Américo Ranieri, falecida aos dois anos de idade, sentou-se no colo do pai.
No ano de 1921, em Belém do Pará, nas sessões de Ana Prado, ocorreu, em várias ocasiões, a personificação da falecida Raquel Figner, na presença de seus familiares. Em uma dessas sessões, a personificação durou duas horas consecutivas, mantendo contato físico com a sua mãe e suas irmãs.
Personificação duradoura
A personificação geralmente dura poucos minutos. No entanto, excepcionalmente, pode assim permanecer durante quase duas horas, como a de “Katie King”, produzida por Florence Cook e a de Rachel Figner, por Ana Prado.
Desmaterialização do agente psi
A desmaterialização de parte do corpo do agente psi aconteceu algumas vezes no passado.
Dr. Vezzano, em certa ocasião, notou o desaparecimento dos membros inferiores de Eusápia Paladino.
Aksakof, em 11 de dezembro de 1985, em Helsingfors, observou a parcial desmaterialização do corpo de Elisabeth D’Esperance.
Leadbeater testemunhou um impressionante fenômeno de desmaterialização.
Disse ele:
“Vi, pessoalmente, fenômeno destes, em que o corpo físico do médium perdeu peso consideravelmente; murchou e se encolheu tão horrivelmente que seu rosto desapareceu na gola de seu paletó quando sentado”.
O Reverendo Haraldur Nielson, da Universidade de Reykjavík, Islândia, presenciou algumas desmaterializações de Indridi Indridasson.
Assim, ele relatou a sua experiência:
“Três vezes obtivemos um fenômeno que parecia incrível à maior parte da gente: o braço esquerdo do médium foi completamente desmaterializado, desapareceu e foi impossível achá-lo, ainda que iluminássemos o local e, minuciosamente, examinássemos o médium”.
Finda a experiência, Indridi Indridasson recuperou o braço desaparecido.
No Brasil, Ana Prado foi fotografada, quando se encontrava parcialmente desmaterializada.
Segundo Eurico de Góes, o agente psi Carlo Mirabelli, em São Paulo, teve os seus dois braços desmaterializados. Ele foi fotografado, nesse estado, no meio dos pesquisadores.
A pesagem do agente psi, após os fenômenos de personificação objetiva, foi utilizada com a finalidade de se constatar que o ectoplasma era matéria orgânica, originada de seu corpo.
Observou-se que o agente psi nem sempre recuperava o peso anterior após uma experiência de desmaterialização.
Para René Sudre “pode-se admitir, teoricamente, que a desmaterialização recai sobre partes não vitais do corpo, ou que se efetua uniformemente à custa dos tecidos musculares”.
A Srtª Fairlamb chegava a perder metade do seu peso por ocasião de um fenômeno de ideoplastia.
- J. Crawford observou que Kathleen Goligher, em uma das sessões, apresentou uma diminuição de 24 quilos em seu peso normal, com sensível desmaterialização de pequena parte de seu corpo, onde a carne estava amolecida. O corpo de Kathleen recuperou seu volume e consistência ao término da reunião.
Henry Olcott constatou a perda de 35 quilos da Sr.ª Compton, que pesava 55 quilos, por ocasião de um fenômeno de ideoplastia. A personificação, subindo à balança, acusou o peso de 35 quilos.
Wilson de Oliveira contou que “Peixotinho”, em uma de suas sessões, ficou sem as pernas e os “espíritos” passaram mais de uma hora para recompô-las.
Em 6 de dezembro de 1946, o Dr. Amadeu Santos, após o término da reunião, pesou “Peixotinho” e outras pessoas e constatou que ele havia perdido 4,5 quilos e os outros participantes, de 1,5 a 2 quilos. Estranhamente, Laís Teixeira Dias, que recebera assistência espiritual nesta sessão, teve o seu peso aumentado em 2 quilos.
Jair Soares, em uma sessão do Grupo Scheilla, em 7 de novembro de 1949, assistiu à desmaterialização das pernas do agente psi Fábio Machado.
Rafael Américo Ranieri assim descreveu o acontecimento:
“Logo em seguida, nota-se que o médium Fábio está gemendo muito e, entre o barulho da música do canto que se fazia, ouve-se a voz de José Grosso, fraca, arrastada, que chama dolorosamente o Jair, dizendo-lhe que a porta da cozinha (onde estava o médium) tinha se aberto…
A notícia é recebida com um choque tremendo e o Jair fica um pouco aturdido. . . imediatamente corre em direção à cabina-cozinha e verifica que pela porta aberta num espaço de um palmo entrava uma forte luz de luar.
Perto do médium uma luz forte e na altura de sua garganta saía um tubo ectoplásmico em cuja ponta havia uma luz e por aí se ouvia a voz da irmã Scheilla, dizendo da gravidade da situação e pedindo a mais viva cooperação para tão doloroso momento.
Preces suplicantes são dirigidas ao Pai, a Jesus, pedindo pelo médium. O mesmo continua gemendo dolorosamente. Ansiosa expectativa toma os nossos espíritos que, todavia, se mantêm confiantes e firmes, tudo depositando no amor de Jesus.
Ouve-se novamente a voz da querida Scheilla que chama à cabina os irmãos Jair e Dante. Pede que eles segurem na calça do médium mantendo-a esticada. Nesse momento, ao assim fazerem, verificam com assombro que ambas as pernas das calças estão vazias e que os sapatos estão também vazios. Dante segura em uma das pernas e Jair na outra. Assim permanecem ajoelhados, por quase meia hora.
Recebem ordem para retornarem. Músicas, cantos e preces continuam subindo para o céu. Decorrem muitos minutos e, silenciosamente, a querida Scheilla vem até ao Jair e lhe diz, magoadamente, que, infelizmente, não conseguiam formar as pernas do médium e que já haviam empregado todos os recursos possíveis e que o único recurso agora era Jesus.
Vai até a sala e pede a cooperação vibracional de todos.
Então, em voz extraordinariamente sentida, dirige-se ao Pai, a Jesus, pedindo-lhes o necessário socorro para o médium e que, a sofrer, sofresse ela porquanto o médium não tinha culpa alguma, era inocente, e não lhe fosse tirada a oportunidade de continuar em condições de trabalhar na tarefa da qual ele tanto tinha necessidade. Lágrimas confiantes rolam dos olhos presentes.
Que súplica, que prece!
Retorno da Scheilla para a cabina do médium. Há irmãos que mentalmente pedem que as suas pernas sejam dadas ao médium.
Continuamos pedindo e suplicando ao Pai!
E minutos e mais minutos passam sem darmos conta do tempo e cada vez mais fervorosos nas nossas súplicas e nas nossas esperanças. Uma entidade aproxima-se do Jair e lhe aperta a barriga. Jair identifica o irmão José Grosso e, ansiosamente, lhe pergunta pelo médium: “GRAÇAS A DEUS ESTÁ SALVO! . . .”
Meus Deus! Que alegria para as nossas almas! Lágrimas de contentamento, de satisfação íntima inundam os nossos olhos.
E então o irmão José vai até a sala e faz uma nova aplicação no Atílio Pena Filho. Diz a este para dizer ao seu pai que antes de bater-lhe venha falar com ele (José) primeiro . . . recomenda que evite umidade. Despede-se de todos informando ao Jair que tinha deixado as quadras pedidas pelos diretores do Abrigo Jesus. Pede ao Dante para tocar uma música e em seguida faça a prece de encerramento.
Quando o Dante fazia a prece o José retorna ate junto ao Jair e diz que mande ainda tocar mais duas músicas porque o Joseph iria ainda preparar remédios.
Antes da partida do José perguntamos se o médium não ia sentir alguma coisa das pernas, respondeu: não e que ao contrário iria ter pernas melhores porquanto eram novas, tendo sido feitas com fluidos dos presentes, parte, e o restante trouxeram da espiritualidade.
Terminada a reunião, a uma hora de terça-feira, encontraram-se diversos remédios preparados e quadras por escritas diretas”.
Foi feito um suplemento da ata do dia 7, que recebeu a seguinte redação:
“Em consequência dos acontecimentos de ontem a queimadura da radioatividade sofrida pelo médium na reunião da Fazenda Cachoeira, Esmeraldas, voltou, estando o local novamente vermelho e dolorido. O mesmo sente igualmente as pernas doloridas, como se ainda não estivessem ajustadas.
É ainda interessante anotar-se que uma cicatriz que o mesmo tinha na perna esquerda, altura da canela, já não existe mais.
O médium deu as suas impressões dizendo: no momento do perigo voltou para junto do seu corpo e estava até achando bom a dispersão molecular do seu organismo porém quando notou que essa dispersão paralisou com a perca, de seus membros inferiores e pensou na possibilidade de viver aleijado, mostrou-se aflito e sofregamente procurou apanhar os fluidos que estavam dispersos do lado de fora. Enchia as mãos com os mesmos, como se pegasse uma quantidade grande de algodão, mas quando chegava no interior do cômodo os mesmos já tinham desaparecido novamente. Fizeram então compreender que estava se esfalfando à toa porquanto aqueles fluidos já estavam inutilizados. Sempre aflito acompanhou o trabalho insano dos inumeráveis amigos espirituais que ali acorreram. Mencionou que assim que a porta foi fechada, o irmão José Grosso partiu no aparelho costumeiro e daí a pouco retornava em um aparelho maior que pousou em cima do telhado do barracão em frente e do aparelho à porta da cozinha uma espécie de sanfona ligando o aparelho ao cômodo e por onde transportaram para dentro da cabina diversas máquinas. Disse nunca ter visto tantos aparelhos-máquinas de formas tão diferentes. Um dos aparelhos tinha muitos tubos de borracha (1) (deve ser um gigantesco aspirador de fluidos) e cujas pontas foram levadas para o ambiente onde estavam os assistentes. Disse que a atuação do Jair e Dante junto às pernas de sua calça vazia era impedir que o restante do seu corpo continuasse se desmaterializando até que chegasse uma espécie de aparelho-tampão que ali colocaram. Diz que entre os irmãos espirituais estava André Luiz, todo grave e preocupado.”
O impacto da luz sobre o ectoplasma
Alguns agentes psi passaram pela dolorosa experiência do impacto de luz, acesa repentina durante a exteriorização do ectoplasma.
Kluski sofreu uma ferida aberta como resultado de um violento retorno do ectoplasma.
Arthur Conan Doyle contou o caso de um agente psi que exibia uma contusão, do peito para o ombro, causado pelo recuo do ectoplasma.
Evan Powell, em sessão realizada no British College of Psychic Science, sofreu um grave ferimento no peito, devido a um movimento violento, mas não intencional, de uma das pessoas presentes, quando tocada por um braço ectoplásmico.
Hemorragias podem resultar de uma súbita exposição à luz do ectoplasma.
Dennis Bradley se reportou a uma sessão onde George Valiantine ficou com uma contusão escura, medindo alguns centímetros, na região estomacal, como conseqüência de um choque produzido pelo retorno do ectoplasma, quando alguém subitamente acendeu uma luz.
Wilson Oliveira relatou que, em uma das reuniões de materialização, a luz foi acesa involuntariamente por um dos assistentes. A personificação se desmaterializou e “Peixotinho” “tomou um choque tão grande que quase chegou a morrer”.
Provas físicas deixadas pelas personificações
Algumas personificações deixaram provas físicas de sua presença.
Conta-se que “Katie King” costumava escrever bilhetes.
Em algumas sessões de Kate Fox, como já vimos, a personificação de Estela, a falecida esposa do banqueiro Livermore, escreveu-lhe bilhetes em francês.
“Nephente”, personificação que se apresentava nas sessões de Elisabeth D’ Esperance, escreveu, certa vez, em grego da época clássica.
“Peixotinho” também apresentou esse fenômeno. A personificação de um japonês conhecida por “Tongo”, por ocasião de sua primeira aparição, no dia 10 de dezembro de 1947, escreveu, em sua língua, uma poesia de Casimiro Cunha. “Tongo”, nas sessões subsequentes, passou a fazer desenhos de pessoas falecidas.
Na reunião de 3 de janeiro de 1948, do Grupo Espírita André Luiz, foi produzida, por escrita direta, uma mensagem em japonês, assinada por “Tongo” e Nina Arueira.
Nenhum dos presentes, inclusive “Peixotinho”, conhecia o idioma japonês. As mensagens foram posteriormente traduzidas.
Ideografia literária
Em algumas sessões de “Peixotinho”, as personificações de Batuíra, Aracy, “Zé Grosso” e “Scheilla” escreveram versos por escrita direta, pneumatografia.
Trata-se de um fenômeno singular que nenhum outro agente psi, no mundo, apresentou. Por isso, o denominamos de ideografia literária.
Ideofonia
Alguns agentes psi, como Daniel Dunglas Home, George Valiantine e John Sloan, entre outros, apresentaram fenômenos de voz direta ou pneumatofonia e que nós o renomeamos para ideofonia. Em uma das sessões de “Peixotinho”, a Sra. Margarida, esposa falecida de Afonso Pinto da Fonseca, conversou com o marido por meio deste processo.
Na sessão de 27 de maio de 1947, as personificações de “Zé Grosso”, “André Luiz”, Caírbar Schutel, “Scheilla”, Abel Gomes, Garcez, João de Deus e Auta de Souza se expressaram, por esse meio, ora em prosa, ora em verso. E em junho deste ano, Osório Pacheco identificou a voz de sua filha falecida, quando esta lhe falou por ideofonia.
Modelagens
Um dos mais famosos agentes psi, Franek Kluski, pesquisado por Gustave Geley, obteve fenômenos de modelagens.
“Peixotinho” e Ana Prado também conseguiram, algumas vezes, realizar esse fenômeno.
Personificações oriundas de obras mediúnicas
Certa ocasião, em uma das sessões de “Peixotinho”, surgiu a personificação de “Clarêncio”, personagem de uma das obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier e atribuída ao “espírito” André Luiz. Ela foi saudada, por voz direta vinda da cabine, que exclamava “Senhor Ministro”. A personificação, intensamente iluminada, foi vista conduzindo um bastão também luminoso. O próprio “André Luiz” se apresentou em sessão de “Peixotinho”, do Grupo Espírita André Luiz, em 28 de janeiro de 1947. O fato foi registrado em ata por Amadeu Santos, onde relatou que “depois de se terem materializado os espíritos bondosos de Scheilla e Batuíra, os quais vieram ao recinto, tocando vários assistentes, materializou-se pela primeira vez o patrono do Grupo, o preclaro espírito de André Luiz, discorrendo sobre o Evangelho, com segurança e sabedoria, trazendo a assistência em suspenso com a sua voz firme, forte e penetrante provocando fortíssimas emoções nos presentes que, contagiados por um sentimento afetuoso e fraterno, chegaram a banhar suas faces de lágrimas consoladoras.”
Personificações cantoras
Esse fenômeno singular ocorreu em sessão de “Peixotinho”, de 27 de dezembro de 1947, quando as personificações de Nina Arueira e de “Scheilla” cantaram para os presentes.
Aparelhos trazidos pelas personificações
Outro fenômeno singular da paranormalidade de psi-kapa no Brasil ocorreu nas sessões de “Peixotinho” e de Fábio Machado quando as personificações traziam aparelhos exóticos, utilizados para os mais diversos fins, e que eram examinados pelas pessoas presentes.
Rafael Américo Ranieri descreveu um deles, como “um bolo feito numa forma semelhante à concavidade de um prato fundo, portanto quase um disco, gelatinoso, de cor verde-clara transparente.”
Ele contou que uma das personificações colocou aquele aparelho no peito de uma senhora e “como por um passe de mágica pudemos ver-lhe o interior do corpo como se contemplássemos peixes em um aquário: lá dentro palpitava o coração, viviam os pulmões e corria o sangue nas artérias e nas veias.”
E, mais adiante:
“Ainda não voltáramos de nosso assombro, quando a entidade mergulhou uma das mãos através do aparelho, ficando parte da mão no interior do corpo da senhora e o resto de fora. Em gestos compassados, o espírito retirava a mão e tornava a mergulhá-la. De cada vez que retirava trazia nos dedos certa matéria escura que lançava no ambiente e se dissolvia.”
O médico Dr. Júlio Capilé estava presente na reunião em que a personificação de “Dr. Fritz” usou um destes equipamentos para fazer aplicações em um dos doentes. Disse ele:
“O equipamento, à medida que era utilizado, produzia um ruído semelhante ao de uma catraca, e, a cada estágio, emitia uma luz irradiante”.
Umbelino Pacheco Vitola afirmou que os “Espíritos” traziam aparelhos, e um deles emitia uma luz azulada intensa nas mãos da personificação de Júlio Olivier.
Segundo Ranieri, as personificações que se apresentavam nas sessões de Fábio Machado, carregavam aparelhos iguais ou semelhantes àqueles utilizados pelas personificações que compareciam às sessões de “Peixotinho”.
Agentes psi e personificações vistos juntos
Em algumas ocasiões, o agente psi e a personificação foram vistos simultaneamente. William Crookes assegurou que, algumas vezes, observou, ao mesmo tempo, Florence Cook e “Katie King”, em experiências realizadas em seu laboratório. Elisabeth D’ Esperance, em algumas oportunidades, foi vista ao lado de suas personificações. O mesmo aconteceu com o agente psi Indridi Indridasson.
Umbelino Pacheco Vitola declarou que, em algumas sessões, viu “Peixotinho” e as personificações ao mesmo tempo.
Fotogênese do agente psi
Contou Ranieri que, um dia, ele a sra. Lenice Teixeira Dias foram convidados por um dos “espíritos” para ir a cabine onde estava “Peixotinho”. Eis o seu relato:
“Ao penetramos nela quedamos admirados diante de um espetáculo grandioso. Deitado na cama em nossa frente estava o médium Peixotinho como se estivesse morto.
O seu corpo, porém, estava todo iluminado interiormente: Víamos a superfície de suas mãos, braços e barriga, embora estivesse vestido de pijama, como se fosse de vidro e dois ou três centímetros abaixo, interiormente, dessa superfície, luminosidade igual à do vaga-lume, saindo de dentro para fora.
Na região do plexo solar a luz era intensíssima e nas mãos notavam-se os clarões verdes interiores. Transformara-se a cabina numa doce claridade de luar.”
Painéis luminosos
Essa é mais outra singularidade da paranormalidade brasileira de psi-kapa. Na sessão de “Peixotinho”, de 13 de abril de 1948, no Grupo Espírita André Luiz, surgiram painéis luminosos, onde eram escritas frases evangélicas solicitadas pelos presentes.
Os “espíritos” pediam aos presentes que dissessem uma frase e, em seguida, ela aparecia escrita no painel em letras luminosas.
Personificação coletiva
Pouquíssimos agentes psi apresentaram esse fenômeno: o aparecimento simultâneo de duas ou mais personificações.
Bozzano contou que, no “Círculo Científico Minerva”, de Gênova, na “mais extraordinária sessão de toda a carreira de Eusápia”, num aposento iluminado por um bico de gás, se apresentaram, diante dos experimentadores, entre os quais o Professor Morselli, o Dr. Venzano e minha pessoa, seis formas materializadas e perfeitamente formadas. Entre elas havia uma forma de mulher idosa, que trazia nos braços uma criança de tenra idade, cujos bracinhos envolviam a cabeça da forma feminina que beijou três vezes na fronte. Tudo isto, repito, em plena luz, com a médium visível através da abertura das cortinas, solidamente ligados os pés, as mãos e a cintura (pelo Prof. MORSELLI) e deitada em uma maca”.
“Peixotinho” apresentou o mesmo fenômeno. Na sessão de 10 de dezembro de 1946, as personificações de “Sheilla” e de Abel Gomes foram vistas ao mesmo tempo, movimentando-se sem tocar no solo.
Na sessão de 3 de janeiro de 1948, “Sheilla” e “Fidelinho” foram vistos simultaneamente.
Umbelino Pacheco Vitola disse que viu “vários espíritos materializados ao mesmo tempo”.
Transfiguração
Um inusitado fenômeno de transfiguração foi relatado por Luciano dos Anjos. Disse ele que, na cabine onde se encontrava “Peixotinho”, o seu corpo diminuiu tanto de tamanho, que se assemelhava ao de uma criança.
Dr. Talvani Sanfim Cardoso e Dr. Albano Seixas, convidados a ir a cabine, presenciaram o fenômeno.
Dona Laís Teixeira Capilé e sua irmã Lenice também foram convidadas, por ideofonia, a ir até a cabina onde se encontrava “Peixotinho”. Dona Laís contou assim o que presenciou:
“Vi Peixotinho na cabine com cerca de apenas meio metro”.
E mais adiante:
“O corpo do médium assim reduzido apresentava uma característica nunca antes testemunhada: Estava transparente.”
Várias pessoas, em outras ocasiões, viram “Peixotinho” transparente. Não há notícias de que tal fenômeno tenha acontecido com outro agente psi.
Lenice Dias Campos, sua irmã Laís e Antônio Alves Ferreira, atendendo a um “convite da espiritualidade”, também tiveram acesso à cabina de “Peixotinho” e o encontraram com o corpo em tamanho muito reduzido e transparente.
Personificações luminosas
Haraldur Nielson observou o aparecimento de personificações luminosas nas sessões de Indridi Indridasson.
O Prof. Pawlosky disse que teve a oportunidade de ver, por duas vezes, nas sessões de Kluski, a personificação da figura solene de um velho, completamente luminoso.
Alberto Barajas e Gutierre Tibón afirmaram ter presenciado a aparição de pequenas entidades luminosas que eram chamadas de “crianças”, nas sessões do Luís Martinez, conhecido por “Don Luisito”.
No Brasil, o fenômeno aconteceu diversas vezes com “Peixotinho”.
Ranieri teve uma filha de nome Helena, que, em 1945, aos dois anos de idade, morreu subitamente.
Decorridos três anos do fato, Ranieri conheceu “Peixotinho”, mas não lhe falou sobre o caso. Dias depois, em uma sessão com aquele agente psi, entre outras personificações luminosas que se apresentaram, surgiu a de Helena, que trouxe para Ranieri uma flor ainda úmida de orvalho e lhe disse algumas palavras.
Ranieri assim descreveu o fenômeno das materializações luminosas:
“Diversos espíritos apresentaram-se materializados. Todavia se apresentaram totalmente iluminados, por luz que saía de dentro para fora, tornando o ambiente antes às escuras, num suave crepúsculo. A impressão exata que se tinha era de que um globo de luz fluorescente em forma humana caminhava pela sala.”
Um destes espíritos luminosos impressionou vivamente Ranieri. Eis a sua descrição:
“Tudo escuro. De repente, na entrada da cabina, surgiu uma figura luminosa de beleza sem igual. Posso declarar que durante todo o tempo que frequentei o André Luiz jamais vi alguém que se lhe assemelhasse em luminosidade. O seu corpo espiritual se apresentava todo cheio de ondulações como se fosse a pele de um carneiro. Lembrava a roupa com que o Dante nos é apresentado: túnica e a cabeça envolvida por uma espécie de turbante. A luz irradiante era intensa e de uma grandiosidade fora do comum. Sabíamos que diante de nós estava uma elevadíssima figura espiritual.”
E mais adiante:
“Estava pertinho de mim. Tomei o papel e o lápis. Aproximei-me um pouco mais e comecei a escrever à claridade que do espírito se irradiava. O papel iluminado pela “luz do luar” que se desprendia do espírito me permitiu anotar tudo o que desejava. O espírito afastou-se, penetrou na cabina e nós voltamos a nos mergulhar em completa escuridão”.
Na sessão de 27 de março de 1948, várias personificações luminosas se apresentaram, entre elas as de Nina, Neuza e “Fidelinho”.
Segundo Luciano dos Santos, as personificações disseram a “Peixotinho” que o fosfato de lecitina era usado para produzir as materializações luminosas e, por isso, os agentes psi dessa modalidade deveriam comer muito peixe.
Personificações fotografadas
William Crookes, em sua pesquisa com Florence Cook, obteve quarenta e quatro fotografias de “Katie King”, algumas de excelente qualidade para os padrões técnicos da época.
Em três ocasiões, em sessões de “Peixotinho”, realizadas na residência de Francisco Cândido Xavier, foram obtidas fotografias de personificações. Em abril de 1953, a personificação de Camerino, (quando vivo, residia em Macaé, RJ, tendo ali falecido) foi fotografada, surgindo em uma massa ectoplásmica, ao lado de “Peixotinho” deitado em uma cama.
Meses depois, no dia 15 de setembro, em outra fotografia, apareceu o rosto de Ana, (que viveu e faleceu em Campos, no então Estado do Rio) no ectoplasma exteriorizado de “Peixotinho”.
E, no ano seguinte, em 13 de dezembro de 1954, uma personificação, em fase de materialização, foi fotografada. Tratava-se de uma pessoa que, em vida, era conhecida pelo nome de Pinheiros, e que viveu e morreu em Macaé, RJ.
Nas sessões de Mirabelli, em algumas ocasiões, ele e as personificações foram fotografados juntos.
Personificação brincalhona
Ranieri relata que, nas sessões de Fábio Machado, uma personificação brincalhona que se dizia chamar “Palminha”, gostava de falar de se agarrar com as pessoas, caindo com elas no chão, dando-lhes tapas e empurrões, fazendo-lhes cócegas, arrastando-as para o meio da sala e causando um grande alvoroço no recinto.
Personificação de “Peixotinho”
Outro fenômeno singular da paranormalidade brasileira foi a personificação de um agente psi após a sua morte.
Segundo depoimento de Adete Ferreira Vianna, viúva de Ramiro Martins Vianna, a personificação de “Peixotinho”, após quatro anos de seu falecimento, apareceu numa sessão em Caratinga, na presença de cerca de sessenta pessoas, e abraçou comovidamente a todos os presentes, entre os quais a sua viúva Dona Baby. A depoente se encontrava presente com o seu esposo e também foram abraçados Pelo “espírito”de “Peixotinho”.
Radioatividade?
Disse Ranieri que, certa noite, em sessão de Fábio Machado, a personificação de “Zé Grosso” anunciou que os “espíritos” iam fazer uma experiência nova, saturando o ambiente com radioatividade.
Indagado sobre os riscos da experiência para as pessoas presentes, “Zé Grosso” respondeu que os “espíritos” iriam derramar no ambiente um outro elemento ainda desconhecido pelos homens e que neutralizaria a ação do rádium.
Ranieri assim descreveu o fato:
“De repente, o Márcio Cattôni deu um grito de alegria e de espanto ao mesmo tempo:
– Olhem, olhem para a minha roupa, para o meu suspensório! Está saindo luz!
Todos nos voltamos imediatamente para o Márcio e contemplamos um fenômeno notável: à medida que o Márcio passava as mãos na roupa ou no suspensório, dele saía luz, luz fosforescente, luz de luar, luz igual à que os espíritos, pelo Peixotinho, apresentavam nos seus tecidos do outro mundo.
Imediatamente, o César Burnier, uma das pessoas presentes, advogado e fiscal do Estado de Minas Gerais, experimentou fazer a mesma coisa e o fenômeno se reproduziu com ele.
Todos nós tentamos realizar o mesmo fenômeno e o fenômeno se revelou com todos que o tentaram. Alguns passavam as mãos nos cabelos e os cabelos derramavam luz fosforescente. Eu passei as mãos na minha roupa, nos meus suspensórios e nos meus cabelos e via a luz desprender-se deles.
Eram quase trinta pessoas a realizar o mesmo fenômeno, a reproduzir a mesma experiência.
Tempos depois, o Zé Grosso disse que iam retirar a radioatividade do ambiente. Retirada a radioatividade, todos tentaram continuar realizando o fenômeno, esfregando as roupas, os suspensórios e os cabelos, mas apenas a escuridão respondia ao apelo. Nada mais acontecia. Como por encanto, a luz fosforescente desaparecera do ambiente como um anjo de luz que houvesse desaparecido nas trevas.”
Infelizmente, Ranieri omitiu a época em que ele participou das sessões de Fábio Machado, mas tudo leva a evidência que foi entre os anos de 1949 e 1950.
Conclusão
Várias hipóteses foram formuladas para explicar as personificações objetivas.
Enrico Morselli sustentava que o inconsciente do médium (agente psi) pode estabelecer comunicação telepática com o das pessoas presentes e modelar as formas ectoplásmicas na conformidade dos seus pensamentos e desejos. Ou pode acontecer que ele transmita suas forças psicodinâmicas ao espectador e este, por uma espécie de ação catalítica, objetive seus complexos emocionais.
Ernesto Bozzano afirmava que o ectoplasma obedece à vontade inconsciente do médium, produzindo as personificações objetivas, as quais podem também resultar da interferência da vontade inconsciente de outras pessoas presentes.
Para Gustavo Geley, nas materializações (personificações objetivas), as capacidades ideoplásticas não dependem da consciência, mas surgem das profundezas de um inconsciente misterioso e impenetrável. Por isso, a vontade consciente e diretora do ser não tem ação sobre as grandes funções orgânicas e não intervém na produção das materializações.
Von Hartmann afirmava que, durante o fenômeno de “materialização”, o médium dorme e sonha e os assistentes partilham de seus sonhos, mas sem dormir.
René Sudre asseverava que as personificações objetivas são “sonhos objetivados” e, por conseguinte, todas as formas materializadas espontâneas ou experimentais não passam de criações inconscientes do médium.
Para Robert Tocquet, o médium vive uma espécie de sonho, onde os seus fantasmas, ao invés de permanecerem subjetivos, se objetivam.
Leo Talamonti, em concordância com Hartmann, Sudre e Tocquet, acreditava que esse material onírico é constituído não só de conteúdos dramatizados do psiquismo inconsciente do agente, mas também da mente de terceiros. Assim, a mente do médium “pode, em certos casos, funcionar como projetor cinematográfico, com a vantagem de dar lugar a projeções tridimensionais que não são simples imagens, mas possuem, mesmo, uma consistência material”.
Dizia ainda:
“O certo é que no sono mediúnico, o “estado do sonho” alcança o máximo de potência criadora com esse poder que ele tem de dissolver, pelo menos parcialmente, a matéria protoplasmática, de que é feito o corpo do médium, e de replasmá-la de criação, dotada de certa autonomia aparente”.
Vê-se, de logo, que essas hipóteses são insuficientes para explicar as personificações e, principalmente, as suas características especiais, como as apresentadas pelos agentes psi brasileiros.
Alguns críticos podem, legitimamente, alegar que os fenômenos relatados ocorreram em ambiente religioso, não foram submetidos a rígido controle experimental, nem investigados por pesquisadores competentes, sendo, por conseguinte, destituídos de validade científica. Outros podem arguir a hipótese da fraude cometida pelos agentes psi em seu benefício e/ou da militância religiosa, com ou sem o concurso de seus companheiros de crença.
A ausência de procedimentos metodológicos confiáveis não importa necessariamente na negação da autenticidade dos fenômenos, mas na impossibilidade de sua chancela científica.
Por outro lado, a mera alegação de fraude, desde que não comprovada, é destituída de seriedade. Nem tampouco o argumento de que se trata de propaganda religiosa pelo fato de que os fenômenos ocorreram em ambiente espírita.
Se não temos a obrigação de confiar no testemunho dos outros, do mesmo modo não temos o direito de levantar suspeitas infundadas sobre a honestidade de quem quer que seja. Se os religiosos espíritas não têm qualificação científica para investigar fenômenos psi e seus testemunhos são suspeitos, o mesmo pode ser dito em relação aos evangélicos e católicos. Com base em tão esdrúxulo raciocínio, teremos de considerar igualmente suspeito o testemunho de fenômenos paranormais, místicos, milagrosos, observados por pastores, sacerdotes e fiéis de qualquer religião, no âmbito de seus templos e igrejas, porque, além de desprovidos de autenticação científica, ainda seriam contaminados pela possibilidade de fraude.
O cientificismo, o ceticismo radical e o fanatismo religioso não devem constituir obstáculo à investigação dos casos espontâneos de aparentes fenômenos psi onde quer que tenham ocorrido, as condições em que foram observados e a confiabilidade das pessoas que os testemunharam.
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