Valter da Rosa Borges
INTRODUÇÃO
Um dos fenômenos paranormais mais popularmente conhecidos é o denominado de aparição. Principalmente porque está ligado a um contexto mágico-religioso, sendo interpretado como manifestação sobrenatural.
Para o Espiritismo, a aparição é uma prova da sobrevivência post-mortem e de que os mortos continuam a se interessar pelos vivos, podendo, em certas circunstâncias, comunicar-se com eles.
Neste trabalho, iremos abordar o fenômeno da aparição sob a óptica exclusivamente parapsicológica, sem cogitar, portanto, de explicações que extrapolem o campo científico.
CONCEITO
Segundo Tyrrell (1), “a aparição é a percepção criada para expressar uma ideia”.
Diríamos, de maneira mais ampla, que a aparição é uma manifestação psigâmica, cujo conteúdo informacional se exprime sob forma alucinatória e simbólica.
MODALIDADES
Aparições espontâneas
Constituem a regra geral. Não dependem da vontade de quem as produz.
Aparições induzidas
São aquelas em que uma pessoa, voluntariamente, provoca uma alucinação em terceiro.
Um dos experimentos clássicos consiste em alguém fazer aparecer sua imagem ou “fantasma” a outra pessoa que se encontra ausente.
Myers denominou esse tipo de aptidão psigâmica de “diáteses psicorrágica”.
Aparição de pessoa viva
É também chamada de aparição crítica. Acontece quando alguém, em situação de perigo, consegue influenciar uma pessoa ausente, aparecendo a ela.
Esta modalidade é facilmente explicável pela telepatia alucinatória visual.
Aparição de pessoa desconhecida
O percipiente não consegue identificar a aparição.
Como, nesta circunstancia, não se sabe quem é o agente indutor, o fenômeno alucinatório não pode ser classificado como parapsicológico.
Aparição de pessoa que acabou de morrer
A questão, neste caso, é complexa. Afinal, não se pode, com rigor, precisar o momento exato em que uma pessoa faleceu e, portanto, se se trata de aparição post-mortem. Apesar da cessação de todos os sinais vitais, ela ainda pode estar viva e, nesta situação intensamente dramática, influir telepática mente sobre o psiquismo de outra pessoa, fazendo-a perceber o seu “fantasma”.
Aparição de pessoa que morreu há algumas horas
Não prova, contudo, que se trata de aparição de morto.
No século passado, Myers suscitou uma hipótese, denominada de latência telepática, segundo a qual uma informação obtida por percepção extra-sensorial pode permanecer em estado de latência no psiquismo inconsciente de uma pessoa pelo prazo arbitrário de 17 horas.
Teoricamente, é possível que uma informação psigâmica, pelos mais variados motivos, fique bloqueada no psiquismo inconsciente. O problema reside em saber por quanto tempo ela permanecerá nesta situação. Por conseguinte, a luz dessa hipótese, se a aparição acontecer horas depois da morte, o fenômeno poderá ser explicado como produzido por pessoa viva. Ou seja: o percipiente reteve, a nível inconsciente, a informação da morte de determinada pessoa, antes ou no momento de seu falecimento, e a passagem do comunicado psigâmico para o nível consciente, sob forma alucinatória, só aconteceu horas depois do fato.
Ê possível, ainda, outra explicação. A informação telepática não foi enviada pela pessoa falecida, mas por outra que assistira ao falecimento e que conhecia o percipiente.
De uma forma ou de outra, a aparição pode ser explicada como uma alucinação telepática visual.
Já se aventou a hipótese de que pessoas consideradas clinicamente mortas e, por isso, sepultadas ainda vivas, tenham, nesta situação extremamente traumática, produzido alucinações telepáticas em parentes e amigos, dando-lhes a convicção de que se tratava de aparição de espírito.
Aparição de pessoa morta há muito tempo
Esses casos de aparição de pessoa morta a semanas, meses e até anos são raríssimos. A hipótese da latência telepática, para este fenômeno, resulta inconvincente.
A aparição, no entanto, pode ser de conteúdo simbólico, geralmente, anuncia um fato que acabou de acontecer ou que acontecerá. Tratar-se-á, portanto, da dramatização de uma informação telepática ou precognitiva. A aparição, neste caso, é um recurso simbólico, utilizado pelo inconsciente, para explicitar uma experiência psigâmica.
Aparição de animal
Como não há qualquer indício de que um animal possa induzir uma experiência alucinatória no ser humano, o fenômeno pode ser explicado como uma alucinação psicológica.
Bozzano (2), no entanto, interpreta o fenômeno de outra maneira. Para ele, a aparição de animal é uma forma simbólico-premonitória, mediante a qual “a forma animal, segundo toda verossimilhança, não representa senão uma projeção alucinatória de uma ideia pensada e transmitida intencionalmente pelo agente telepático e isso conformemente a circunstância de que, no meio familiar, exista uma tradição segundo a qual a aparição de uma forma animal especial equivale a prenúncio de morte iminente na família”.
Aparição vista por uma só pessoa
Dependendo do contexto em que ocorra, poderá tratar-se ou não de um fenômeno parapsicológico.
Aparição vista simultaneamente por mais de uma pessoa
À primeira vista, pode parecer um fenômeno de natureza objetiva. Ou seja: a aparição seria fisicamente real. Se o for, porém, não é aparição, mas ideoplastia, pois a aparição é um fenômeno de natureza subjetiva.
No entanto, o caso comporta outra explicação.
Gurney, no século passado, aventou a hipótese do “contágio telepático” segundo a qual esta modalidade de aparição resultaria de uma alucinação coletiva. Em circunstâncias especiais, o psiquismo inconsciente de uma das pessoas transmitiria ao inconsciente das outras a sua vivência alucinatória e todas elas participariam simultaneamente da mesma experiência subjetiva. Seria uma espécie de sonho compartilhado, o qual, por sua intensidade dramática, proporcionaria a todos os sonhadores a vívida impressão de estarem participando de um acontecimento real.
Bozzano e René Sudre refutaram a hipótese de Gurney, argumentando que a alucinação coletiva só é possível por sugestão verbal.
Aparição vista simultaneamente por uma pessoa e um animal
Essa modalidade é raríssima. O animal se comporta como se percebesse a aparição no mesmo local em que ela é vista também por uma pessoa.
O Agente Psi é o ser humano que, nesta situação, exerce uma influência telepática alucinatória sobre o animal. A hipótese contrária é insustentável, visto que não há como se averiguar a possibilidade de um animal produzir uma alucinação no ser humano.
Poder-se-á, ainda, admitir que não se trata de um fenômeno de aparição, mas de ideoplastia.
Aparições vistas por moribundos
Karlis Osis e Erlendur Haraldsson (3), na pesquisa que realizaram sobre esse fenômeno, fizeram as seguintes observações:
– As aparições só foram percebidas por um restrito número de moribundos, não se notando qualquer diferença entre sexo e idade;
– Em 80% dos casos, o paciente estava lúcido;
– Somente um restrito número de pacientes sofria de perturbações que poderiam produzir alucinações;
– 2/3 das aparições eram de pessoas mortas e a intenção manifesta dessas aparições era de levar o paciente para o Além, o mesmo não ocorrendo cem as aparições de pessoas vivas;
– 83% das aparições eram de parentes próximos, com incidência maior em relação a genitora falecida do moribundo;
– Em 20% dos casos, a aparição não foi reconhecida;
– Algumas dessas aparições eram de figuras religiosas, como Jesus, a Virgem Maria, Rama, Krishna e também santos e gurus, anjos e demônios.
Aparição de defunto, cuja morte era conhecida do moribundo e apenas percebida por este
O caso pode ser interpretado como um anúncio simbólico da morte próxima do moribundo. Denominamos de psicopompo a esse núncio simbólico da morte. Trata-se, portanto, de uma alucinação experimentada pelo moribundo, tomando consciência do término iminente de sua vida pela presença de pessoa falecida que vem ajudá-la na sua passagem para o Além. Daí, a expressão que criamos – psicopompo – ou seja, o condutor da alma.
Se esta aparição é uma dramatização do inconsciente do moribundo, o fenômeno de natureza psicológica. Mas se é induzida telepaticamente por uma das pessoas presentes, emocionalmente envolvida com a situação do moribundo, o fenômeno é parapsicológico.
Aparição de defunto, cuja morte era conhecida do moribundo e percebida simultaneamente por ele e pelas pessoas presentes.
As hipóteses para a explicação do fenômeno são as mesmas aventadas para o caso em que a aparição é vista simultaneamente por mais de uma pessoa.
Aparição de defunto, cuja morte era desconhecida do moribundo e apenas percebida por ele.
O psicopompo pode ter-se originado da liberação da informação telepática então latente no psiquismo inconsciente do moribundo.
Há, no entanto, outra explicação. Uma das pessoas presentes, que sabia da morte da pessoa simbolizada pelo psicopompo, transmitiu, telepaticamente, a informação ao moribundo.
Aparição de defunto, cuja morte era desconhecida do moribundo £ percebida por este e por todos os presentes simultaneamente.
As hipóteses, para este caso, são as mesmas discutidas na aparição vista simultaneamente por mais de uma pessoa.
Aparição de defunto vista por pessoas presentes, mas não pelo moribundo.
Este caso apresenta duas modalidades:
– A aparição só é vista por uma das pessoas;
– A aparição é vista por todas as pessoas.
Na primeira modalidade, pode tratar-se de um fenômeno parapsicológico. O próprio moribundo estaria influindo sobre a mente de uma das pessoas presentes, comunicando-lhe simbolicamente sua morte próxima, mediante a aparição de um psicopompo.
Na segunda modalidade, o moribundo estaria produzindo essa mesma alucinação, porém coletivamente. Poder-se-á, no entanto, aventar outra explicação. Não se trataria, na verdade, de uma alucinação coletiva. O moribundo transmitiria a sua situação existencial a cada uma das pessoas presentes, de maneira individual e não coletivamente. Assim, a percepção simultânea da aparição pelas pessoas presentes apenas aparentemente seria uma alucinação coletiva.
Aparição recorrente
Essa é a designação que propomos para os casos de “fantasmas” que aparecem, durante anos, em casas e sítios mal-assombrados. São aparições que realizam invariavelmente as mesmas ações e repetem os mesmos gestos. Trata-se de um fenômeno complexo que levou Myers a admitir a existência de “uma energia pessoal persistente”. Essa energia seria acionada pela presença de determinadas pessoas.
Os ocultistas procuram explicar o fenômeno pela hipótese das “formas-pensamentos”.
Pensamos, de nossa parte, que se a mente humana é capaz de impressionar uma película fotográfica, uma fita cassete ou de videoteipe, por que, pelos mesmos princípios, não poderia também deixar imagens gravadas em determinadas regiões do espaço?! Essas imagens, produtos da “energia pessoal persistente”, seriam ativadas pela presença de um Agente Psi e desenvolveriam a mesma sequência de ações, à semelhança de uma projeção cinematográfica.
Genady Sergeyev sustentou que uma forte emoção pode ficar impressa na matéria, visto que todos os objetos são dotados de propriedades magnéticas e podem, em certos casos, mudar as características magnéticas de suas moléculas, passando a funcionar como gravadores magnéticos naturais.
Ernesto Bozzano também é defensor dessa hipótese de “impregnação psíquica” da matéria.
Podemos, por conseguinte, teorizar que a aparição recorrente é a manifestação de um campo psíquico residual, ativado por um Agente Psi, visto que, em condições normais, esse campo permanece em estado de latência.
Aparição monitória
Ê aquela que está sempre ligada a um acontecimento futuro.
Geralmente, a aparição é de pessoa. Bozzano, no entanto, relata um caso de aparição de animal.
A aparição, nesse caso, é um fenômeno precognitivo, explicitado sob forma simbólica.
Aparição que parece realizar uma ação física
Parece, mas não a realiza. Apenas o percipiente tem a impressão de que a aparição mexeu em algum objeto, abriu e/ou fechou uma porta. Mas, depois, verifica que tudo estava como antes.
Trata-se, na verdade, de uma alucinação mais bem elaborada, que pode ser de natureza psicológica ou parapsicológica, segundo as circunstâncias.
Mesmo admitindo-se a consumação de uma ação física, esta não pode ser atribuída à aparição, mas a um fenômeno psicocinético, deflagrado pelo Agente Psi por indução da manifestação alucinatória.
“Há inúmeros casos de pessoas que percebem barulhos – como arrastar de cadeiras, queda de objetos, pancadas violentas – e, chegando ao local do tumulto, encontram tudo em perfeita ordem como se nada tivesse acontecido». Todo pandemônio, na verdade, não passou de uma experiência alucinatória.
Em certas circunstâncias, duas ou mais pessoas passam, simultaneamente, pela mesma experiência.
Não são raras as ocasiões em que misturamos percepção subjetiva com percepção objetiva, sonho com vigília, privados, momentaneamente, do nosso senso crítico e, assim, impossibilitados de distinguir o real da fantasia. No sonho, nós agimos sobre as coisas do nosso universo subjetivo e elas agem também, subjetivamente, sobre o sonhador. E há sonhos tão nítidos, tão intensos – principalmente os sonhos coloridos – que nos proporciona a forte convicção de que tudo o que experimentamos é real.
Estudos antropológicos têm sugerido que certos povos primitivos não fazem distinção entre sonho e realidade. O mesmo acontece, também, com as crianças. Assim, não é de espantar que uma pessoa, ingressando num contexto onírico, julgue encontrar-se em estado de vigília e, neste estado, perceber uma aparição praticando ações físicas.
Não existe, na verdade, um estado puro de vigília. A vigília é uma relação entre a mente e o mundo exterior. Mas, essa relação não é um estar ligado às coisas de maneira absoluta. A vigília está permanentemente contaminada de elementos subjetivos, oníricos. Assim, não há uma linha divisória rígida e nítida entre a vigília e os outros estados de consciência.
Uma pessoa que sonha não utiliza apenas os materiais psíquicos que se encontram no seu inconsciente, mas também colhe outros elementos do mundo exterior enquanto dorme. Logo, os sonhos são misturas de elementos subjetivos e objetivos.
Não há, portanto, como evitar a interferência de elementos oníricos no nosso estado de vigília e de elementos da realidade física em nossa percepção onírica. Estamos sempre alternando esses dois estados extremos do psiquismo, os quais, como já vimos, se influenciam reciprocamente. Assim, quando os estímulos do mundo exterior preponderam sobre os estímulos do mundo interior, estamos numa situação psíquica denominada de vigília e, quando o inverso, numa situação psicofisiológica denominada de sonho.
Se duas ou mais pessoas passam, simultaneamente, pela mesma experiência na qual a aparição parece realizar ações físicas, o fenômeno pode ser explicado pela hipótese do sonho compartilhado.
Aparição de compromisso
É o nome que sugerimos para os casos de aparição resultante de prévio acordo entre duas pessoas, mediante o qual aquela que morresse em primeiro lugar iria avisar a outra o seu falecimento.
Para os espíritas, este fato constitui uma prova inequívoca da sobrevivência.
O fenômeno, no entanto, admite outra explicação. Em virtude do pacto firmado, os contratantes, em nível inconsciente, ficam de sobreaviso para a possibilidade desse acontecimento. Há, portanto, uma predisposição entre ambos para passar por esse tipo de experiência. Ora, no momento em que um dos contratantes morre, se estabelece, de imediato, uma relação telepática entre eles. Então, o sobrevivente, já psiquicamente predisposto, vê o “fantasma” do amigo anunciando a sua morte. Trata-se, como se vê, de telepatia entre vivos, pois a informação psigâmica foi emitida momentos antes da morte do telepata emissor.
Aparição de socorro
É o nome pelo qual designamos a aparição que adverte uma pessoa a respeito de fato futuro.
Para os espíritas, o fenômeno demonstra a solicitude de um espírito desencarnado, empenhado em avisar a um amigo ou parente a respeito de fato que poderá afetá-lo.
Poderemos, no entanto, explicar o fenômeno como uma precognição dramatizada. A aparição, por conseguinte, nada mais é do que uma manifestação precognitiva sob forma simbólica.
Aparição de súplica
Assim poderemos denominar a aparição de pessoa morta que solicita um favor, tais como a celebração de missa em sua memória ou o desenterramento de uma botija. Uma vez atendido o pedido, a aparição desaparece, não mais voltando a aparecer.
Afirmam os espíritas que este é mais um caso que comprova a sobrevivência “post-mortem”.
Há, porém, outra explicação para o fenômeno. A aparição não passaria de uma experiência alucinatória, de natureza psicológica ou parapsicológica segundo as circunstâncias. No caso do pedido de missa, como uma necessidade de reparação ou um sentimento de remorso do percipiente em relação ao seu parente ou amigo falecido. E, no caso de tesouro enterrado, um fenômeno de clarividência sob forma simbólica.
É possível ainda, utilizando a hipótese de Myers, admitir que o local, onde se encontra enterrado o tesouro, se encontra impregnado da “energia pessoal persistente” da pessoa falecida que o escondera. Essa pessoa, na hora da morte, ficara acometida de um forte sentimento de arrependimento, angústia ou frustração por deixar o seu tesouro sem proveito para ninguém e, em tal circunstância, impregnou o local de energia psíquica, que, segundo a sua intensidade, é suscetível de influenciar as pessoas com predisposição paranormal.
Atualmente, no entanto, essa modalidade de aparição tende ao completo desaparecimento, pois ninguém mais enterra tesouro, mas aplica o seu dinheiro em mercado de capital.
CONCLUSÃO
Várias hipóteses foram formuladas para explicar o fenômeno da aparição.
Myers, em 1888, afirmou que as aparições, quer de vivos, quer de mortos, não passavam de fenômenos telepáticos.
Myers acreditava que muitas aparições poderiam ser explicadas por uma peculiar dissociação da personalidade, a qual denominou de “diátese psicorrágica”. Pensava que certas pessoas possuíam, de nascença, a habilidade de dissociar elementos de sua personalidade, os quais poderiam afetar determinadas regiões do espaço, transformando-o num centro fantasmogenético.
Myers explica as aparições como “meras projeções automáticas da consciência, cujos centros estão em outro lugar”. A aparição, diz ele, resulta de “uma manifestação de energia pessoal persistente”.
Gurney, por sua vez, elaborou a hipótese do “contágio psíquico”, ou seja, da transmissão telepática em cadeia, para explicar os casos em que a aparição é vista simultaneamente por várias pessoas.
Para o Prof. H.H. Price, no entanto, a aparição é constituída de imagens persistentes e dinâmicas, criadas pela mente humana, mas dela se separando para adquirir existência autônoma.
Tyrrell apresenta uma explicação engenhosa para as aparições. Segundo ele, o que se transmite telepaticamente é uma ideia geral que ele denominou de tema. Os elementos psicológicos, que enriquecem o tema e montam a cena alucinatória, foram designa dos por Tyrrell, respectivamente, de produtor e montador. O produtor é o telepata emissor: ele fornece o tema e o seu papel é de autor. O telepata receptor é o montador: ele trabalha o tema e o seu papel é de cenógrafo. A hipótese de Tyrrell se aplica aos casos em que as aparições estão acompanhadas de outros elementos aparentemente físicos, como cães, carruagens, instrumentos de trabalho, etc.
Podemos formular a hipótese de que a aparição seria um fenômeno holográfico, produzido pelo psiquismo inconsciente do Agente Psi.
Karl Pribam, da Universidade de Stanford, na Califórnia, assinalou que o cérebro, especificamente o córtex cerebral, representa o equivalente biológico de um holograma. As experiências de estimulação elétrica de diversas áreas do cérebro, levadas a efeito por Wilder Penfield, resultaram em uma vivência de memória holográfica.
Tal constatação nos permite teorizar que as a parições podem resultar dessa atividade holográfica do cérebro, dando-nos a vívida impressão de que percebemos uma pessoa localizada em determinada região do espaço, como se se tratasse de uma pessoa real. Resta-nos, em cada caso concreto, investigar a causa da estimulação cerebral que levou uma pessoa a passar por esse tipo de experiência alucinatória,
À luz do modelo do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (I.P.P.P), a aparição pode ser definida como uma informação de segundo nível. Ou seja: é uma informação dramatizada pelo inconsciente de uma pessoa. Logo, a aparição não existe no mundo exterior. Ela se origina no momento em que o fluxo informacional exo-psi se converte em fluxo endo-psi. Isto é: no momento em que a informação psigâmica passa do nível inconsciente para o nível consciente do Agente Psi. Por conseguinte, a aparição é a informação psigâmica dramatizada na conversão do fluxo informacional exo-psi em fluxo informacional endo-psi.
Finalmente, podemos, ainda, explicar o fenômeno de aparição pela hipótese do domínio cognitivo que apresentamos no VI Congresso Brasileiro de Parapsicologia e Psicotrônica, mediante a qual a mente de uma pessoa pode, em certas circunstâncias, criar um campo informacional suscetível de influenciar a mente de outra pessoa, como também ser influenciada por ela. Estabelece-se, assim, uma realidade intersubjetiva entre as pessoas, ensejando experiências comuns, as quais, pela sua intensidade, lhes proporcionam a forte impressão de participarem de um acontecimento objetivamente real.
A aparição, portanto, é um fenômeno que, por sua complexidade, constitui um permanente desafio para todos aqueles que se dedicam ao estudo da mente humana.
REFERÊNCIAS
1) G.N. Tyrrell. “Apariciones”. Editorial Paido. Buenos Ayres, 1ª edição. 1965.
2) Ernesto Bozzano. “Os Animais têm Alma?”. Editora Eco. Rio de Janeiro. 1ª edição.
3) Karlis Osis e Erlendur Haraldsson. “O que eles viram… no limiar da morte”. Publicações Europa-América. Portugal.
(*) Palestra no VII Simpósio Pernambucano de Parapsicologia. Recife. 1989.