Valter da Rosa Borges
O homem sempre obteve, de um modo ou de outro, através de processos denominados “naturais”, a cura para os seus males. É evidente, contudo, que os meios utilizados por essa terapêutica “natural” são empíricos e não obedecem a uma técnica orientada pela razão e pelo conhecimento. Além do mais, os resultados obtidos – alguns até extraordinários – são, na maioria dos casos, duvidosos, pois constituem, quase sempre, na simples remoção de sintoma E, nisto, é que consiste o grande perigo do curandeirismo: o mascaramento dos sintomas, impedindo a precisão do diagnóstico e comprometendo a possibilidade clínica da cura.
Indiscutível, portanto, a existência de uma terapêutica empírica que, através de procedimentos mágicos e apelos sugestivos, é capaz de, em proporção ignorada, restabelecer o equilíbrio orgânico de pessoas aparentemente doentes„ E, de propósito, utilizamos a expressão “aparentemente doentes”, porque, como demonstrou a medicina psicossomática, uma grande parte de nossas enfermidades é de natureza psíquica e emocional, e não orgânica. Assim, podemos dizer, de certo modo, que curandeirismo é uma arte de curar pela sugestão, mediante a manipulação de elementos mágicos suscetíveis de alterar o estado psíquico do paciente, com reflexos modificadores no seu funcionamento orgânico.
Podemos conceituar o curandeiro como aquele que pretende curar enfermidades pela virtude de seus pretensos poderes. Não raramente, ele se julga um ser excepcional, um missionário, uma pessoa poderosa, o que poderá levá-lo a uma impermeável megalomania e paranoia delirante.
Geralmente, o curandeiro é oriundo da classe pobre, sem qualquer preparo intelectual, desejoso de se afirmar na vida e sem qualquer preocupação quanto aos meios de atingir seus objetivos. E, quando se vê, de uma hora para outra, guindado a um certo “status” na sociedade, emprega todos os esforços para manter e até melhorar a posição conquistada Por isso, seja movido pela vaidade, seja movido pela cupidez, procura atuar em faixa própria, criando o seu grupo de adeptos. Promove a propaganda dos seus poderes é assume um ar de superioridade, impregnado de duvidoso misticismo, evitando, a todo custo, qualquer investigação sobre a autenticidade do seu carisma.
Todavia, nem todo aquele que se diz possuidor de poderes de cura realmente os possui. Na maioria dos casos, são pessoas dotadas de forte personalidade e de grande capacidade de persuasão. Via de regra, as curas obtidas por esses pretensos curandeiros – algumas de natureza orgânica – podem ser explicadas psicologicamente, embora ainda pouco se saiba dos mecanismos de interação entre a mente e o corpo. Ora, uma pessoa possuidora, assim, de tais atributos poderá contribuir, de maneira extraordinária, para uma mais ampla compreensão da terapêutica ortodoxa, e acadêmica, com o maior aproveitamento do elemento psíquico na gênese das curas. Se a fé pode curar, por que não a utilizar como eficaz adjutório na recuperação orgânica do paciente?
Por conseguinte, essas pessoas de excelente poder sugestivo e de rara habilidade em despertar a fé nas pessoas, deveriam, sem perda de tempo, ser aproveitadas pela Medicina, numa atividade paramédica, devidamente controlada. O perigo reside justamente no fato de se tolerar que esses curandeiros permaneçam a solta, iludindo, conscientemente ou não, os verdadeiros enfermos, prometendo-lhes alívio para os seus males com a simples remoção dos sintomas, mas, por outro lado, contribuindo para o agravamento das doenças tornando-as, não raras vezes, incuráveis. E há curandeiros que, num verdadeiro crime contra a saúde pública, chegam a proibir que os seus pacientes consultem médicos, ou lhes ordenam que suspendam a medicação, ou o tratamento a que vem se submetendo.
Mas, agora, é de se perguntar se, por acaso, não existem curas paranormais, curandeiros autênticos. Existem sim, mas são raros os casos e também raras essas pessoas.
Sem querer penetrar o domínio religioso, a Parapsicologia vem estudando, atentamente, os fenómenos, de curas paranormais e já pode assegurar a sua realidade. Sim, há curas paranormais. E também há pessoas que possuem um tipo de energia desconhecida, denominada do telergia, capaz de atuar fora de seu contexto orgânico e causar modificações nas coisas materiais e até nos seres vivos inclusive o próprio homem. Os fenômenos de psi-kapa são a prova irrefutável do misterioso poder que a mente humana possui de agir diretamente sobre o mundo exterior, prescindindo do concurso de sua instrumentação biológica.
Se uma pessoa possui telergia e procura aplicá-la em benefício de terceiros, ela é, realmente, um curandeiro. Mas, para o exercício seguro de sua faculdade, deve abster-se de atuar em faixa própria e permitir que a sua atividade terapêutica seja, permanentemente supervisionada por um médico. Só assim, a cura paranormal poderá constituir, futuramente, um excelente auxiliar da Medicina.
(*) Publicado no Anuário do IPPP, de outubro de 1985, do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas – IPPP.