Fundamentos para uma teoria geral da paranormalidade (*)

Valter da Rosa Borges

 

INTRODUÇÃO

 

Já estabelecemos, em trabalho anterior, (1) os limites fenomenológicos e o

perfil objetal da Parapsicologia, Iremos, agora, como complementação, apresentar os fundamentos para uma teoria geral da paranormalidade.

A delimitação de uma ciência importa em sua identidade fisionômica e autonomia epistemológica. Segundo Malinowski (2), “o papel fundamental de toda ciência é delimitar o seu legítimo campo de ação” e seu problema fundamental consiste no “estabelecimento da identidade de seus fenômenos”.

A teoria geral de uma ciência exige a unificação de sua atividade fenomênica, resultando na visão global e coerente do seu território epistemológico.

No universo federativo do Estado científico, cada ciência, para autonomizar-se, deve estabelecer nitidamente as suas fronteiras, visibilizando o seu território.

A demarcação fenomenológica é o primeiro passo para a conquista da individualidade de uma ciência. O segundo passo – e esse é o decisivo e final – consiste na modelização de seus fenômenos, disciplinando a multiplicidade caótica dos fatos. Cada ciência, assim, procura administrar um determinado setor da realidade.

Conceituar é instrumentalizar a atividade gnosiológica. Por isso, é mister fabricar, inicialmente, ferramentas adequadas para habilitar uma nova ciência na investigação do seu objeto. A ciência não é mera observação empírica dos fatos, estabelecendo, a posteriori, relações entre eles, mas um modelo gnosiológico a priori, que permite a observação sistematizada dos fatos. Cada ciência é uma atitude cognoscitiva peculiar na investigação seletiva dos fatos e, por isso, não exaure todas as explicações possíveis sobre os fenômenos que observa. A óptica de determinada ciência em relação a um conjunto preordenado de fenômenos é o que se denomina de seu objeto. Objeto, pois, em ciência, é um modo de interpretar fenômenos. E a disciplina que impõe aos fenômenos observados é a sua teoria geral.

 

POSTULADOS FUNDAMENTAIS

 

A nossa teoria geral da paranormalidade se fundamenta nos seguintes postulados: a) a paranormalidade é um fato natural, embora incomum; b) o homem é a causa exclusiva do fenômeno paranormal; c) o fenômeno paranormal é produzido, geralmente, pelo psiquismo inconsciente do ser humano.

Passaremos, agora, à discussão de cada um desses postulados, finalizando

com o estudo sumário do inconsciente em Parapsicologia.

 

A PARANORMALIDADE É UM FATO NATURAL, EMBORA INCOMUM

 

Temos por assente que o objeto da Parapsicologia é o fenômeno paranormal, o qual é produzido pela mente do homem, originando-se, via de regra, de seu psiquismo inconsciente. Logo, podemos postular que o fenômeno paranormal é um fato natural, não devendo ser confundido com o sobrenatural e o mediúnico. A reduzida frequência do evento parapsicológico não o despoja de sua naturalidade. Há fenômenos naturais infrequentes observados em todas as áreas do conhecimento humano. O fenômeno paranormal, no seu todo, pertence a esta categoria fenomenológica, conquanto se manifeste, com alto índice de freqüência, em de terminadas e raríssimas pessoas.

 

O HOMEM É A CAUSA EXCLUSIVA DO FENÔMENO PARANORMAL

 

É o homem quem deflagra o fenômeno paranormal e, por isso, o denominamos de Agente Psi.

Eventualmente, qualquer pessoa é suscetível de funcionar como Agente Psi.

Porém, raríssimas são aquelas que habitualmente passam por experiências paranormais. Em nosso Modelo Geral da Paranormalidade, adotado oficialmente pelo Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas – I.P.P.P. (3) denominamos de Agente Psi Confiável aquelas pessoas que apresentam um alto índice de manifestações parapsicológicas.

O fenômeno paranormal é um talento do próprio homem, consistindo em atividades psíquicas incomuns – telepatia, clarividência e precognição – e na ação extracorpórea da mente humana – psicocinesia.

Nem todo fenômeno insólito é paranormal. Mas, se é passível de explicação

pelos poderes extraordinários da mente numa na, então o evento insólito passará a categoria de fato paranormal. Devemos dar ao homem o que é do homem e o limite da Parapsicologia é o limite do próprio homem. Até o momento, no entanto, ainda não conhecemos as fronteiras do fenômeno humano. Empiricamente, conhecemos as nossas limitações. Mas a experiência parapsicológica vem demonstrando a insuficiência e consequente inconfiabilidade das nossas constatações empíricas.

Em trabalho anterior (4), já havíamos estabelecido dois postulados básicos na investigação parapsicológica, os quais, doravante, passarão a integrar os fundamentos da teoria geral da paranormalidade. São eles: a) o Agente Psi é condição necessária, mas não suficiente, para a manifestação do fenômeno paranormal; b) quanto mais poderoso o Agente Psi, maior o índice de probabilidades de ocorrência do fenômeno paranormal.

Para a melhor compreensão desses dois postulados, indicamos a leitura do

livro Parapsicologia: um novo modelo (e outras teses) (5), onde se encontra inserido aquele nosso trabalho.

 

O FENÔMENO PARANORMAL É PRODUZIDO PELO PSIQUISMO DO HOMEM

 

O fenômeno paranormal, até prova em contrário, é aptidão do ser humano.

De logo, temos de contestar a pretensa paranormalidade que, açodadamente, alguns parapsicólogos atribuem aos animais e até mesmo as plantas. Acaso sabemos os limites da normalidade nos reinos animal e vegetal? O que está experimentalmente constatado é que os seres vivos podem ser afetados pela manifestação paranormal do homem. Não existe qualquer evidência de que os animais e as plantas sejam agentes de fenômenos parapsicológicos. Somente o homem é o Agente Psi e, nesta situação, pode influir paranormalmente sobre os seres vivos e as coisas do mundo material. Quem ou o que quer que sofra uma ação paranormal não é dotado, por isso, de paranormalidade.

A experiência tem demonstrado que, em regra geral, o fenômeno psi ocorre à revelia da vontade e da consciência do Agente Psi. Até mesmo contra a sua vontade, mesmo que se torne consciente de que é o causador de fenômenos paranormais perturbadores do tipo impropriamente denominado de poltergeist. O psiquismo inconsciente é capaz de agir autonomamente, produzindo fenômenos paranormais, mesmo em desacordo com os ditames da razão e em oposição aos preceitos da moral. A sua ação é quase sempre imprevisível e, em consequência, incontrolável, embora, em casos especiais, possa ser deflagrada voluntária e conscientemente pelo Agente Psi, o qual, conhecendo as peculiaridades do seu talento parapsicológico, é capaz de estabelecer as condições necessárias para a manifestação do fenômeno psi. De modo contrário, o Agente Psi, em virtude do seu condicionamento parapsicológico, poderá também obstaculizar a ação do psiquismo inconsciente, anulando a manifestação paranormal ou, ao menos, diminuindo a sua intensidade e/ou frequência.

 

FENÔMENOS PARANORMAIS E MÉTODO CIENTÍFICO

 

Os fenômenos paranormais, apesar de extraordinários, são, no entanto,

suscetíveis de investigação pelo método científico, a tendendo satisfatoriamente a três de suas exigências básicas: a) previsibilidade; b) controlabilidade; c) repetibilidade.

 

PREVISIBILIDADE

 

A experiência tem demonstrado que, na presença de um Agente Psi Confiável, há uma alta probabilidade de acontecerem fenômenos paranormais. Logo, é possível prever, embora com alguma margem de erro, que fenômenos paranormais ocorrerão, no curso de uma série de experiências com um Agente Psi Confiável, observando-se, porém, que os índices de sucesso variarão segundo as circunstâncias mais diversas.

 

CONTROLABILIDADE

 

Mediante treinamento adequado, o Agente Psi Confiável poderá identificar as condições favoráveis à manifestação de sua paranormalidade e, assim, habilitar-se a obter voluntariamente fenômenos parapsicológicos. O Agente Psi Confiável e o parapsicólogo poderão, assim, estabelecer um programa de pesquisa eficiente para o controle dos fenômenos paranormais, observando que as condições para a sua manifestação, por serem personalíssimas, apresentam sempre variações de individuo a indivíduo.

 

REPETIBILIDADE

 

Os fenômenos paranormais, embora irrepetíveis à semelhança de um experimento físico, são, contudo, passíveis de repetição quanto ao gênero e, não, quanto a sua especificidade. Ou seja, um determinado Agente Psi Confiável quase sempre manifesta um gênero de fenômenos paranormais, seja na modalidade psi-gama, seja na modalidade psi-kapa. Digamos, como exemplo, que um Agente Psi Confiável seja especializado na modalidade psi-gama. Nesta condição, ele poderá repetir experiências psigâmicas em situação de laboratório, mas cada experiência específica apresentará variações, visto que cada uma delas possui individualidade própria, segundo as condições pessoais do Agente Psi Confiável no curso dos experimentos.

 

O INCONSCIENTE EM PARAPSICOLOGIA

 

Paremos, agora, um estudo sumário do inconsciente em Parapsicologia, nas

suas modalidades de psi-gama e de psi-kapa.

 

FENÔMENO DE PSI-GAMA

 

O fenômeno de psi-gama, segundo o nosso entendimento, consiste: a) em um tipo de conhecimento – o conhecimento paranormal -que não se origina dos sentidos e da razão; b) em aptidões e habilidades não resultantes de prévio aprendizado; c) em conhecimentos especializados não adquiridos.

O conhecimento paranormal é constituído de todas as experiências normais e paranormais do indivíduo, assim como da própria herança genética da espécie humana. Constitui um processo de extrema complexidade por envolver dois níveis operacionais distintos: os automatismos psicofisiológicos e as atividades  estocásticas e criadoras. Assim, em nosso inconsciente, em contínuo processo dinâmico, se estabelecem as mais variadas associações espontâneas das nossas experiências, resultando em criações originais de novos conteúdos psíquicos. A nossa mente, assim, não trabalha somente com o material importado do mundo exterior, mas também com o material gerado por sua própria atividade psíquica. Por isso, não sabemos e nunca saberemos tudo o que sabemos em nosso nível inconsciente, porque este, incansavelmente, amplia, a cada segundo, o seu patrimônio gnosiológico,

O psiquismo inconsciente é ainda capaz de realizar ações inteligentes, superando, não raro, o desempenho intelectual em nível consciente. A literatura parapsicológica registra alguns casos de pessoas que, em estado sonambúlico, praticaram ações inteligentes como escrever cartas ou realizar outros trabalhos, não só de natureza intelectual, mas também que requeriam habilidade manual.

Ora, se podemos agir inteligentemente não apenas em estado de vigília, a hipótese da manifestação de um espírito desencarnado no “transe mediúnico” fica seriamente prejudicada. De logo, se observa que o conteúdo criptomnésico não apenas se projeta em nosso estado de vigília, mas ainda em situações de transe ou de sonambulismo, sendo que, nestes casos, não tomamos conhecimento do fato.

A abordagem do fenômeno de psi-gama comporta as seguintes alternativas:

  1. a) da informação exossistêmica, ou seja, a da relação mente a mente e a da mente e universo, com a passagem da informação paranormal de um sistema cognitivo a outro – telepatia – e de um sistema não cognitivo a um sistema cognitivo – clarividência; b) da informação endossistêmica, ou seja, a da conscientização, na mente individual, de informação existente na mente universal e, portanto, arquetipicamente em latência no psiquismo inconsciente daquela – criptomnésia; c) a do domínio cognitivo, mediante o qual a mente de uma pessoa, em certas circunstâncias, é capaz de gerar um efeito de campo, afetando particularmente o psiquismo inconsciente de outras pessoas que estejam inseridas naquele campo.

Examinaremos, agora, cada uma dessas alternativas.

 

INFORMAÇÃO EXOSSISTÊMICA

 

A partir de 1985, o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas – I.P.P.P. – passou a adotar, oficialmente, um novo modelo parapsicológico (6), segundo o qual se substituiu as expressões psi-gama e psi-kapa por informação e energia respectivamente. Ficou estabelecido que todo fenômeno paranormal é constituído de informação e energia, apresentando-se sob duas modalidades: a) como fluxo psi informacional (FPI), se a informação prepondera sobre a energia – fenômeno de psi-gama; b) como fluxo psi energético (FPE), se é a energia que prepondera sobre a informação – fenômeno de psi-kapa.

Estudaremos, agora, como funciona o fluxo psi informacional nas suas manifestações operacionais que denominamos de fluxo exo-psi e de fluxo endo-psi.

O fluxo exo-psi é o momento operacional em que o psiquismo inconsciente do Agente Psi se relaciona com o mundo exterior, transmitindo ou recebendo informações. Nessa situação, o Agente Psi ignora, em seu nível consciente, o que está informando ou o do que está sendo informado, embora neste último caso o seu organismo possa sofrer a influência da natureza da informação recebida, reagindo a ela através de manifestações de psicossomatismo paranormal.

O fluxo endo-psi é o momento operacional em que a informação paranormal

passa do psiquismo inconsciente para o nível consciente do Agente Psi, seja sob forma direta ou simbólica. Teoricamente, é possível que nem toda informação obtida por meios paranormais ultrapasse o momento do fluxo exo-psi, portanto, não se converta em fluxo endo-psi. Ou seja: que nunca saibamos em nível inconsciente o que sabemos em nível consciente.

Pode, no entanto, o Agente. Psi enviar, voluntariamente, uma informação psigâmica ao mundo exterior. Nesse caso, o fluxo exo-psi partirá do nível consciente do Agente Psi para o mundo exterior, podendo ser recepcionado pelo psiquismo inconsciente de outra pessoa.

Para uma melhor compreensão do assunto, é mister que façamos uma distinção entre a cognição normal e a cognição paranormal.

A cognição normal é aquela que se estabelece entre duas pessoas, quando a informação entre elas se processa em seus níveis conscientes.

A cognição paranormal é aquela que se estabelece entre duas pessoas, quando a informação entre elas se processa: a) do nível inconsciente de uma para o nível inconsciente da outra, daí se transferindo para o nível consciente desta; b) do nível consciente de uma para o nível inconsciente da outra, daí se transferindo para o nível consciente desta.

 

INFORMAÇÃO ENDOSSISTÊMICA

 

Não sabemos se há uma distância física entre as mentes, ou seja, se é válido se falar em espaço em uma relação psíquica. Talvez estejamos equivocados em tentar explicar o fenômeno de psi-gama, utilizando o universo físico como referencial.

Espaço e tempo são criações da mente humana nas suas relações com o mundo físico. No entanto, raciocinamos ao inverso, pressupondo que a mente está submetida aos parâmetros de tempo e de espaço. Estes, na verdade, são medidas arbitradas pelo homem para definir relações entre as coisas materiais, porém imprestáveis para mensurar relações psíquicas. Assim, não podemos asseverar que as nossas mentes estão fisicamente separadas como os nossos corpos, visto que se trata de grandezas diferentes. E, aprioristicamente, admitimos que as nossas mentes estão distanciadas entre si na mesma proporção em que os nossos corpos estão colocados.

Ora, as relações psíquicas não podem ser reduzidas a relações físicas. Logo, não sabemos se existe distância entre as mentes individuais, pois distância é

um conceito físico.

O nosso corpo é o ponto mais sensível de ação daquilo que nós denominamos de “nossa mente”. Por isso, pensávamos que a mente só podia agir sobre o seu próprio corpo. Assim, quando sentimos a nossa mente agir em outro local que não o nosso corpo, dizemos que ela se projetou ou se deslocou no espaço. A mente não está no espaço: nós a detectamos em determinado lugar do espaço – o nosso corpo. A mente não se locomove no universo físico: só as coisas físicas – o nosso corpo também – se movimentam no espaço. Assim, para a mente humana, não há distância física, porque ela não está situada em qualquer ponto do espaço. Por isso, não sabemos se as mentes estão separadas entre si ou se tudo não passa de um campo psíquico unificado, onde cada mente individual não é mais do que uma abstração prática,

Gregory Bateson (7) denunciou esse artificialismo entre o eu e o universo. Diz ele:

 

“O que limita as unidades, o que limita as “coisas”, e acima de tudo, o que, se é que existe, limita o eu?

Existirá uma linha ou limite do qual poderemos dizer que “dentro” daquela linha ou fronteira estou “eu” e “do lado de fora” está o meio ambiente ou outra pessoa? Com que direito fazemos essas distinções?”

 

Mach, físico alemão do século passado, teorizou que todo o universo está presente em cada local e a cada instante.

O mesmo princípio pode ser aplicado à mente humana. Ela está, como um todo, presente em todo o universo, embora, normalmente, funcione num domínio específico da realidade a que damos o nome de espaço-tempo. Ou seja: a mente está potencialmente em todo o universo, embora atualmente esteja em determinada parte do mesmo.

Diz Hubert Reeves (8) que, para a mecânica quântica, as partículas estão “em contato permanente, seja qual for a distância entre elas, mesmo que não estejam ligadas por uma relação de causalidade”. Assim, não há transmissão de informação entre elas, porque todas estão informadas de tudo. Então, o que chamamos de conhecimento paranormal não passa da conscientização, numa mente individual, do que se passa em qualquer parte do universo. Todo fenômeno psigâmico seria explicado como um fenômeno de criptomnésia.

 

DOMÍNIO COGNITIVO

 

Podemos, finalmente, postular a existência de um domínio cognitivo como

explicação alternativa para o fenômeno de psi-gama.

Segundo essa hipótese, a mente de uma pessoa pode, eventualmente, estabelecer um campo informacional capaz de influenciar a mente de outras pessoas, como também de ser influenciada por elas. Então, tudo o que se passa nessa relação interpsíquica é subjetivamente real para os indivíduos afetados por esse campo informacional.

O domínio cognitivo, por ser de conteúdo informacional, é, por isso, adimensional, ou seja, de dimensão zero. É certo que a informação se manifesta numa estrutura física, mas ela, no entanto, é uma entidade não-física. Logo, não se submete as leis do universo físico.

A mente é um processo informacional em permanente transformação nas suas relações com outras entidades informacionais e, portanto, não físicas, como também com as estruturas físicas do universo fenomenal. A mente, assim, é um complexo integrado e dinâmico de informações operacionalmente situada em um domicílio paralelo ao nosso universo material.

Os sonhos, as alucinações, as percepções extra-sensoriais são os habitantes do universo psíquico, os quais, em condições especiais, podem transitar de

uma mente para outra, permutando informações em nível do psiquismo inconsciente.

 

FENÔMENO DE PSI-KAPA

 

O fenômeno de psi-kapa consiste: a) em uma ação extraordinária da mente sobre o organismo do Agente Psi, produzindo inusitadas alterações somáticas; b) em uma ação extracorpórea da mente, afetando outros seres vivos e a matéria em geral.

Aplicando, mais uma vez, o Modelo do I.P.P.P., agora ao fenômeno de psi-kapa, poderemos explicar como funciona o fluxo psi energético (PPE) nas suas manifestações operacionais denominadas de fluxo exo-psi e de fluxo endo-psi,

O fluxo exo-psi é o momento operacional em que o psiquismo inconsciente do Agente Psi, nas suas relações com o mundo exterior, transmite ou recebe energia. Nessa situação, o Agente Psi desconhece que se encontra em relação energética, de natureza paranormal, com o mundo exterior, embora possa ser fisicamente afetado nesta interação.

O fluxo endo-psi é o momento operacional em que a energia do fluxo exo-psi

passa do nível inconsciente para o nível consciente do Agente Psi. É teoricamente possível, no entanto, que, numa proporção desconhecida de casos, essa passagem jamais se verifique.

O Agente Psi pode, voluntariamente, transmitir energia, por via paranormal, ao mundo exterior. Nessa hipótese, o fluxo exo-psi partirá do nível consciente do Agente Psi para o mundo exterior, exercendo uma ação física sobre os seres vivos e as coisas materiais.

Já dizia Lacan que o inconsciente é uma linguagem. A Parapsicologia vem demonstrando a procedência dessa afirmativa. Porém, o inconsciente não é apenas uma linguagem, com sua gramática e semântica próprias, mas tem a capacidade de expressar fisicamente a sua linguagem.

A mente humana, em certas circunstâncias, pode gerar um efeito de campo,

afetando o mundo exterior, sem necessidade de utilizar extensões biológicas ou artificiais. Essa expansão da mente além de seus limites somáticos pode exercer-se numa extensão ainda desconhecida, variando segundo a capacidade do Agente Psi e de outros fatores circunstanciais. O Agente Psi, por conseguinte, estabelece um domínio espacial – digamos melhor: um domínio psicocinético -, submetendo à sua influência os seres e as coisas nele contidos. E essa influência se exercerá segundo a situação em que se encontre, no momento, o psiquismo inconsciente do Agente Psi. Como a nossa situação psíquica modifica as nossas disposições orgânicas, o psiquismo inconsciente é capaz de modificar, em certas circunstâncias, o ambiente físico submetido ao seu domínio psicocinético. Por conseguinte, o ambiente físico, sob a ação paranormal do Agente Psi, se comporta segundo a linguagem do seu psiquismo inconsciente. Podemos, assim, dizer que os fenômenos de psi-kapa são a linguagem física do inconsciente e a sua decodificação dependerá da competência técnica do parapsicólogo.

Em Física Quântica se admite que o observador exerce influência sobre a coisa observada, modificando-a. Não é, pois, de estranhar que o Agente Psi, em situações excepcionais, possa, paranormalmente, exercer influência física sobre o ambiente, afetando tudo o que se encontra no seu domínio psicocinético. Seres e coisas passam, temporariamente, a integrar o domínio psicocinético do Agente Psi como extensões físicas do seu psiquismo inconsciente. Por isso, com razão, lembra Henry Margenau, professor de Física da universidade de Yale:

Em fins do século passado, chegou-se a pensar que toda interação envolvia objetos materiais. Sabemos agora que existem campos absolutamente imateriais”.

Sugere Lyall Watson (9) que provavelmente todos os fenômenos paranormais têm sua base em falhas do filtro cerebral, “em vazamentos para fora e para dentro das áreas inconscientes”. Refere-se, ainda, à hipótese formulada pelo engenheiro nuclear Thomas Bearden, segundo a qual os fenômenos de poltergeist seriam explicáveis pela ação do inconsciente pessoal, enquanto que os de materialização como manifestação do inconsciente coletivo.

 

DOMÍNIO COGNITIVO-PSICOCINÉTICO

 

Podemos, finalmente, postular a existência de um domínio cognitivo-psicocinético, constituído por uma forte interação informacional-energética, como explicação para os fenômenos de ideoplastia, demonstrando, assim, que, em nível inconsciente, a mente do homem é um gênio prodigioso cujos poderes somente agora começam a ser conhecidos pela investigação parapsicológica.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

(1) Valter da Rosa Borges – A Demarcação da Parapsicologia. Tese apresentada no V Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica e I Encontro Nacional de Pesquisadores no Campo da Parapsicologia, Psicobiofísica e Psicotrônica, realizados em Brasília, de 5 a 9 de junho de 1985. Foi publicada no livro “Parapsicologia: um novo Modelo (e outras teses)”, de autoria de Valter da Rosa Borges e de Ivo Cyro Caruso.

(2) Bronislaw Malinowski – Uma Teoria Científica da Cultura. Editora Zahar. Rio de Janeiro. 1975.

(3) Valter da Rosa Borges e Ivo Cyro Caruso – Parapsicologia: um novo Modelo (e outras teses). Edição: Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas. Recife. 1986.

(4) Valter da Rosa Borges – O Universo dos Fenômenos Paranormais e Mediúnicos. Tese apresentada no I Simpósio Brasileiro de Parapsicologia, Medicina e Espiritismo, realizado em São Paulo, em 26 de outubro de 1985. Publicada no livro “Parapsicologia: um novo Modelo (e outras teses)”, de Valter da Rosa Borges e Ivo Cyro Caruso,

(5) Valter da Rosa Borges e Ivo Cyro Caruso – Parapsicologia: um novo Modelo (e outras teses). Edição: Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas. Recife. 1986,

(6) Valter da Rosa Borges e Ivo Cyro Caruso – Um Modelo para a Parapsicologia. Tese apresentada no I Congresso Nordestino de Parapsicologia e no III Simpósio Pernambucano de Parapsicologia, realizados no Recife, de 11 a 13 de outubro de 1985. Publicada no livro “Parapsicologia: um novo Modelo (e outras teses)”, de Valter da Rosa Borges e Ivo Cyro Caruso.

(7) Gregory Bateson – Mente e Natureza: a Unidade Necessária. Livraria Francisco Alves Editora S.A. Rio de Janeiro. 1986.

(8) Hubert Reeves – Um pouco mais de azul. Livraria Martins Fontes Editora Ltda. São Paulo. 1986.

(9) Lyall Watson – Maré da Vida. DIFEL – Difusão Editorial Ltda. 1980.

 

(*) Trabalho apresentado no VI Congresso de Parapsicologia e Psicotrônica, realizado em Belém do Pará, em 1987.

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