Valter da Rosa Borges
A cada dia, os fenômenos paranormais vão perdendo a sua auréola de mistério, passando a conviver com o cotidiano das pessoas. Continuam inexplicáveis à luz do academicismo científico, porém já não são mais tão perturbadores como outrora, pois a convivência, a familiaridade com os fenômenos mais intrincados da Natureza têm o condão de nos tornar insensíveis à grandiosidade dos mesmos.
Hoje, felizmente, as pessoas já não são tão resistentes, quando solicitadas para relatarem uma experiência paranormal pela qual tenham passado. Embora reticentes, a princípio, terminam, afinal, cedendo a instancias dos interessados, contando, não raro, com riqueza de detalhes, as suas experiências possivelmente extra-sensoriais. Descontados os exageros do envolvimento emocional ou outros componentes de natureza psicológica, o fato, reduzido quase a sua nudez original, é, quase sempre, passível de merecer uma investigação científica.
A Parapsicologia é a ciência que tem por objeto o estudo e a pesquisa destes fenômenos denominados de paranormais. E, conquanto ainda não tem sido admitida no círculo das ciências oficiais, reduz, celeremente, a distância deste reconhecimento.
A relutância em admitir fatos novos, principalmente quando estes fatos comprometem concepções filosóficas, religiosas e científicas, tradicionalmente aceitas, constitui, não apenas uma constatação da lei da inércia no plano psicológico, mas também uma constante nos momentos críticos da História. Os fenômenos paranormais são incômodos e inconvenientes, porque mexem justamente com o imobilismo das construções ortodoxas, invalidando concepções que pareciam, até então, inabaláveis. A Parapsicologia é uma ciência rebelde, porque não faz acordos de convivência – ou mesmo de conveniência – para a conservação de um modelo oficial e acadêmico da realidade. Por isto, ela não se intimida com os fatos “malditos” ou tornados “marginais” pelo temor conservadorista – na melhor das hipóteses – dos que pretendem aprisionar a vida numa fórmula matemática, num silogismo filosófico, numa revelação religiosa ou numa experiência de laboratório.
Por outro lado, a Parapsicologia é, popularmente, confundida com movimentos ocultistas, doutrinas iniciáticas, magia e outros exotismos, o que facilita a proliferação de refinados vigaristas, que exploram a credulidade pública, através de “cursos”, até por correspondência, de “conferências” espetaculares e de ensino de “técnicas” de desenvolvimento de “poderes” parapsicológicos.
A Parapsicologia é uma ciência e, como ciência, não está preocupada em confirmar ou invalidar os princípios ou os dogmas desta ou daquela religião. Pensar que a Parapsicologia é contra ou a favor de determinado movimento religioso é tão grossa estultícia, como se afirmar que a Biologia está contra ou a favor da doutrina, que defende a natureza especial do corpo de Jesus. Somente o proselitismo fanático é que pode identificar a pesquisa parapsicológica com as atividades de militância catequética em favor ou não dos postulados de sua crença.
(*) Publicado no Jornal da Cidade. Fevereiro. 1979.