Jalmir Freire Brelaz de Castro
RESUMO
Este trabalho examina diversos enfoques sobre as experiências aparicionais – EAs, discutindo hipóteses, modelos, tipos de pesquisa, seus alcances, limitações, perspectivas, inclusive as pesquisas psi sobre essa temática, e comenta sobre a falta de um cerne de crenças de pesquisas, que norteiem os esforços dos pesquisadores.
A partir da definição das aparições como alucinações, e das assombrações como aparições recorrentes, apresentamos várias hipóteses e modelos de pesquisa sobre as EAs. Colocamos que, embora haja uma proliferação de “teorias” sobre as aparições, ainda não há um núcleo duro, ou seja, um conjunto de crenças mais gerais e menos testáveis, que se assemelhem à tradição de pesquisa, nos moldes trazidos por Larry Laudan, e seja empregado pelas pesquisas psi e por correlação para as EAs.
Apostamos na complementaridade das pesquisas e metodologias empregadas para um entendimento unificado das EAs, tais como, a utilização do modelo psicológico (obtendo indicadores psicológicos para as EAs), a hipnose (e a utilização de técnicas de indução, repetíveis e manipuláveis), o modelo biológico , o modelo cultural (a cultura como elemento permeável), o modelo parapsicológico (psi como mediador), a abordagem fenomenológica para registros anômalos (medições e mediações – para facilitar ou modular sua ocorrência, tais como, medição ou indução de campos eletromagnéticos, geração ondas acústicas, entre outros), e a abordagem neurofisiológica (para obtenção de marcadores fisiológicos para psi).
Um desafio será trazer esses tipos de experiências incomuns, à condição das experiências normais do ser humano. Acreditamos que a complementaridade de diversas abordagens possa lançar luzes sobre essa intrigante “realidade”, para aqueles que a vivenciam.
APARITIONAL EXPERIENCES – PERCEPTIONS AND PHENOMENA IN SEARCH OF EXPLANATIONS, AN ANALYSIS OF MODELS OF RESEARCHES
ABSTRACT
This paper examines several approaches about apparitional experiences – AEs, discussing hypotheses, models, types of research, their range, limitations, perspectives, including psi research, and comments about the lack of a kernel of beliefs to guide the researchers efforts.
Starting from the definition of apparitions as hallucinations, and hauntings as recurrent hallucinations, we introduce several hypotheses and models of AEs research. Though there is a proliferation of “theories” about apparitions, there is not yet a hard core, i.e., a set of more general beliefs less testable, that resembles the tradition of research, brought by Larry Laudin, to be used by psi research and by inter-relation to EAs.
We believe the several researches and methodolgies can be complementary to one another, towards an unified understanding of AEs, such as, the utilization of a psychological model (to obtaining psychological markers), hypnosis (the use of inducing techniques, repeatable and manipulable), the biological model (on the terms used by Sheldrake), the cultural model (culture as permeable element), the psychological model (psi as mediator), the phenomenological approach, the technological approach for anomalous records (measurements and mediation – to facilitate or modulate its occurrence – such as, measuring or inducing electromagnetic fields, generating stationary acoustic sounds, among others), and the neurophysiologic approach (to finding physiological markers of psi).
It will be a challenge to bring all these various kinds of unusual experiences to the condition of normal human experiences. We expect these several approaches all together, may enlighten this intriguing “reality” for those who experience it.
- INTRODUÇÃO
A parapsicologia tem como objeto estrito o estudo da telepatia, clarividência e psicocinese, porém as experiências fora do corpo – EFC (OBE em inglês), as experiências na proximidade da morte – EQMs (NDE em inglês), as experiências aparicionais, ou seja, as aparições (apparitions, em inglês) e assombrações (haunting, em inglês), têm atraído, cada vez, mais o interesse da comunidade parapsicológica.
Psi tem demonstrado que nosso conhecimento do que chamamos realidade está incompleto, pois as experiências paranormais parecem não ocorrer de acordo com os conhecimentos que temos sobre espaço, tempo, energia e informação. As EAs, em si, não são paranormais, mas muitas experiências psi estão relacionadas às aparições, notadamente as aparições telepáticas. Logo a parapsicologia tem um papel de destaque na investigação e análise das experiências aparicionais, pois busca também os registros físicos de anomalias, que possam ocorrer durante, ou em torno, dessas experiências.
Os relatos das chamadas EAs acompanham todas as culturas, sendo que, em nossa cultura ocidental em geral, a referência a aparições tem conotação negativa, como algo irreal ou mesmo como sintoma de uma doença mental, muitas vezes tratadas em bases farmacológicas. O estudo das psicopatologias no século XX muito contribuiu para esse tipo de abordagem, centrada na doença e seus sintomas. Foi só recentemente, a partir dos últimos 20 anos, que se buscou um novo entendimento dos processos psicológicos e neuropsicológicos responsáveis pelas alucinações, com foco na percepção e raciocínio normais, redefinindo e desafiando as suposições tradicionais sobre a linha divisória entre doença mental e normalidade.
A partir da década de 80, houve uma mudança na ênfase da pesquisa na psicopatologia, para fenômenos psicofisiológicos específicos, denominados de sintomas mentais do que diagnósticos amplos. Além do mais, os médicos e psicólogos têm tentado explicar esses fenômenos em termos de processos psicofisiológicos responsáveis pela percepção e raciocínio normais. Os resultados levaram a um novo entendimento nos processos psicológicos e neuropsicológicos responsáveis pelas alucinações e, ao mesmo tempo, desafiando as suposições tradicionais sobre a linha divisória entre doença mental e normalidade (Bental, 2000: 84-85).
Além de convergência dos estudos psi com o das aparições, outra contribuição da parapsicologia será a busca por variáveis ambientais que possam influenciar as aparições, bem como os poltergeists, porém este último não será objeto deste trabalho. A existência de campos eletromagnéticos, que possam afetar ou mediar essas experiências, tem sido objeto de estudo de parapsicólogos como Roll& Persinger et al (1992, 1998, 1999), e Kokubo&Yamamoto (2004), estes últimos em sugestivos casos de poltergeists. Esses registros de anomalias são importantes, pois deixam de ser relatos e percepções para se tornarem em fenômenos, anômalos.
Creio que a complementaridade das diversas abordagens, tais como os mecanismos psicológicos, os aspectos cognitivos e parapsicológicos das alucinações, os efeitos alucinógenos de drogas e os mecanismos neurológicos que os dão suporte, as novas técnicas de neuroimagens, e o enfoque das pesquisas psi com o uso de diversos tipos de instrumentação tecnológica para a medição de variáveis ambientais, as pesquisas fenomenológicas, técnicas hipnóticas de indução, consigam lançar luzes sobre essas intrigantes percepções e fenômenos.
- DEFINIÇÕES
As primeiras explicações sustentavam que as aparições eram entidades físicas que estavam fisicamente presentes no ambiente em que se encontrava o percipiente. Supunha-se que era uma espécie de algo duplicado de algum ser que foi vivo. Essa hipótese física se mostrou pouco promissora, pela dificuldade de evidenciá-la.
Tyrrell na sua obra Aparições (1965: 8) desloca a pergunta “Você crê em espíritos?” para uma outra interpretação: “Você crê que existe pessoas que às vezes experimentam aparições?”, dando-lhe, com isso, um novo alcance, delimitando a questão na crença das pessoas.
O manual de diagnose e estatística de desordens mentais, 4ª edição (DSM-IV p.767), 1994, da Associação Americana de Psiquiatria, define alucinação como “uma percepção sensorial que tem um forçoso senso de realidade de uma percepção verdadeira, mas que ocorre sem a estimulação externa do órgão sensorial relevante”.
Por sua vez, Slade e Bental, apud Bental (2000: 86) dão outra definição: “Qualquer experiência de percepção na qual: a) ocorre a ausência do estímulo apropriado; b) tem a plena força e impacto de uma percepção (real) correspondente; c) não está submetida ao controle voluntário do experimentador. Esta definição indica o papel do meio ambiente”.
Alucinação não pode ser confundida com a ilusão, que pode ser definida como a percepção falsa de um fato (por exemplo, alguém que percebe um lençol branco ao vento como um fantasma) ou com o delírio, como a opinião falsa sobre uma questão de fato, que não precisa envolver, mas frequentemente envolve, uma falsa percepção das coisas sensíveis (por exemplo, alguém com alta febre ou doença, que ouve vozes e vultos só por ele percebidas).
As aparições são alucinações e, como tal, uma percepção, ou uma série de percepções, sem objeto. Uma pessoa alucinada tem experiências sensoriais, ordinariamente visuais ou auditivas, que estreitamente se assemelham as que teriam se um determinado objeto físico estimulasse seus órgãos sensoriais (imitação da percepção normal), mas esse objeto físico não está presente. Diferentemente dos sonhos, numa aparição fazemos parte como observadores e não como participantes ativos do drama que ocorre nos sonhos.
As aparições são experiências relacionadas somente a pessoas (raramente a animais), já as assombrações são aparições recorrentes, que parecem estar associadas a um local específico, ou seja, ao longo de determinado tempo ou período, pessoas diferentes parecem ter experienciado aparições similares associadas a um mesmo local. Acrescento, ainda, que as aparições são basicamente experiências individuais, embora haja também relatos de aparições a mais de uma pessoa e mesmo aparições coletivas.
Nas aparições telepáticas, em dado momento, duas pessoas A e B tem uma alucinação geralmente visual sobre o outro à distância. As aparições (telepáticas) são alucinações de uma classe muito especial, correspondem a algum objeto ou acontecimento físico exterior ao organismo do percipiente, ou quando o dito objeto ou acontecimento não esta fisicamente presente, podendo inclusive estar a muitos quilômetros de distância.
Conforme citado por Andrew (1986: 20), William James em seu Principles of Psychology, considera a alucinação, muitas vezes, como imagens mentais erroneamente projetadas para o exterior, sendo uma forma estritamente sensorial de consciência, uma sensação tão boa e verdadeira como se ali houvesse um objeto real. Apenas ocorre que o objeto não está presente, só isso, (40ª, vol2, p. 115). Algumas vezes, a alucinação traz, em si, uma alteração geral de consciência, de modo a assemelhar-se mais a um escorregar súbito para um sonho (40ª, p.120). Ou seja, a aparição parece ocorrer em um estado modificado de consciência.
Em uma aparição perfeita, esta se comporta como tivesse consciência do local, com noções ergométricas e de proporções, e há ainda uma sensação de presença por parte do percipiente. Geralmente, não há descontinuidade da aparição, ou seja, ela é a mesma do começo ao final, podendo desaparecer de forma instantânea ou gradual, ou simplesmente sair do ambiente. Tyrell (1965: 140-145) enumerou 19 características de uma aparição perfeita, a qual simularia perfeitamente uma percepção física, seria possível manter comunicação, responder a alguma pergunta, mas não uma ampla conversação, não sendo possível, porém, a obtenção de qualquer registro. Ou seja, há um caráter autômato nas experiências aparicionais, que não parece interagir com o(s) percipiente(s).
Uma aparição, em si, não pode ser considerada uma experiência psi, pois, em psi, (Krippner, 1990: 9) estão associadas a ocorrência de informações ou influências, que não possam ser explicadas através do nosso atual entendimento dos canais sensórios-motores, o que nem sempre ocorre com as aparições, que ficam limitadas às informações subjetivas do percipiente.
Valter da Rosa Borges (2001: 9-10, 88) divide as aparições em dois grandes grupos: as aparições subjetivas e as aparições objetivas. Considera que as aparições subjetivas são àquelas que resultam de uma alucinação visual (acrescento que algumas vezes são também auditiva e tátil, e raramente olfativa); e as aparições objetivas aquelas dotadas de uma certa materialidade, podendo ser observadas, simultaneamente, por mais de uma pessoa. Esse autor classifica as aparições subjetivas em: a) espontâneas, b) induzidas, c) episódicas, recorrentes, em estado de vigília, em sonho (de tal intensidade que o sonhador considera que teve uma experiência real, neste caso, não considero uma aparição autêntica, pois perde o caráter de alucinação); e as aparições objetivas, geralmente experimentais, e podem suscitar muitas dúvidas, porque podem ser interpretadas como de natureza objetiva, em: a) de pessoa desconhecida, b) de pessoa parecida com o agente psi, c) de pessoas mortas conhecidas, d) de animal, e) individual, f) coletiva, g) em tamanho normal, h) minúscula.
Segundo Karl Osis, existe 4 tipos de aparições: as coletivamente ou individualmente percebidas, com orientação para o aqui e agora; as coletivamente ou individualmente percebidas, com orientação para o passado.
Na busca de objetivos sobre os locais assombrados, alguns pesquisadores procuram descobrir se há algum registro físico anômalo nesses locais, tais como frequências e fluxos eletromagnéticos inesperados e sons originados no local sem a devida fonte física.
As aparições e assombrações estão relacionadas a psi, em especial pela clarividência.
A Psicocinese Espontânea Recorrente, comumente conhecida como Poltergeist (do alemão, espírito batedor ou barulhento), embora, algumas vezes, esteja associada às casas mal-assombradas, pelo seu caráter tipicamente objetivo e psicocinético de larga escala, não faz parte do escopo deste trabalho. Em geral, se atribui a um agente psi (raramente há mais de um), na maior parte das vezes um adolescente, como o deflagrador do fenômeno, dentro de uma mecânica ou processo a ser identificado. No nosso caso, as aparições e assombrações são abordadas pelo seu caráter tipicamente subjetivo, difícil de registrar anomalias de ordem física, algumas vezes de ordem do campo eletromagnético.
- APARIÇÕES – TEORIAS, HIPÓTESES E MODELOS
Consideramos que não há teorias sobre as EAs, mas hipóteses, especulações e pequenos modelos operacionais. Juntar esses “quebra-cabeças” e dar um arcabouço científico às explicações sobre as aparições é uma tarefa de grandes proporções, primeiro por não se tratar, na maior parte das vezes, de fenômenos e sim de percepções, e, depois, por ser um grande mosaico, onde os próprios investigadores não procuram estabelecer interdisciplinaridade entre as diversas hipóteses existentes para que levem a um entendimento integrado, e se estabelecer um cerne de crenças e hipóteses para essas experiências.
O primeiro passo, em uma pesquisa científica, é a formulação do problema. A hipótese, de acordo com Lakatos&Marconi (1986: 118-119), é uma proposição enunciada para responder tentativamente a um problema, devendo ser submetida à verificação para ser comprovada. A hipótese pode ser considerada como uma declaração de crença relativa a um fenômeno, fato ou relacionamento entre variáveis antes de ser aceita ou rejeitada (Santo, 1992: 150), e deve ser testada. Daí, a dificuldade de aplicação em fenômenos esporádicos. A psicologia é de grande valia nesses testes, pois embora não possa testar a aparição em si, pode avaliar os tipos de personalidades (através de inúmeros testes e questionários), que passam por essas experiências, e estabelecer hipóteses e correlações, e passar a ser um preditor dos sujeitos, que são mais propensos a passar por essas experiências. As neurociências são de grande valia para encontrar os marcadores fisiológicos, que predispõe alguém a passar por alucinações.
Já uma teoria é um sistema de proposições ou hipóteses, que têm sido constatadas como válidas (ou plausíveis) e sustentáveis, conforme Trujillo, apud Lakatos&Marconi (1986: 109). A teoria deve ter, entre outros requisitos: sistematicidade ou unidade conceitual, simplicidade semântica, coerência externa (coerente com a massa de conhecimentos aceita, neste caso, permite apenas mudanças muito restritas e limita o progresso da ciência – Feijó, 2003: 92). A teoria deve ter ainda poder explanatório (= alcance x precisão, tendo limites, senão não é científico), ter sólidos fundamentos, e ser unilateral (não podendo abrigar hipóteses contraditórias). Não creio existir, no momento, condições de se estabelecer uma teoria para as aparições.
As definições anteriores estão baseadas, no que se chama convencionalismo, adeptos do método newtoniano, que veem nos eventos observáveis o nascedouro das explicações científicas do mundo. Posteriormente, a ciência evoluiu da verificabilidade para a falseabilidade, introduzida por Karl Popper, segundo a qual, numa teoria, não apenas se verificaria os casos para as quais ela funciona, mas também pelas situações para as quais não funciona. Por sua vez, Paul Feyerabend considera que os avanços científicos ocorrem quando as regras metodológicas são postas de lado, conferindo papel importante às hipóteses ad doc, por proliferar teorias. No lugar de coerência, propõe o princípio da tenacidade, no qual defende que as idéias sejam lançadas, mesmo contra a evidência de teorias bem estabelecidas. As hipóteses ad doc é o que precisamos para as aparições e assombrações, pois essas experiências “tenazmente” continuam a ocorrer em nossa sociedade.
Alguns autores diferenciam teoria e modelo (Santo,1992: 22-23), notadamente em certos ramos das ciências aplicadas (i.e. modelos físicos ou icônicos, esquemáticos, matemáticos ou simbólicos, etc.), onde os modelos são instrumentos para solução de problemas emanados de um sistema ou parte dele e, neste particular, modelos são tratados de forma bem mais concreta que teorias, sendo esta algo mais operacional, a representação de parte de um sistema, uma parte específica da realidade, a teoria tem, portanto, alcance mais amplo. Utilizaremos modelos para ressaltar o aspecto operacional e restrito de determinado problema das EAs.
Larry Laudan propõe que haja a identificação na ciência de um conjunto de crenças mais gerais e menos testáveis: a tradição de pesquisa (Feijó, 2003: 79-92), onde a ciência não teria apenas valores compartilhados (como os paradigmas de Kuhn ou o programa de pesquisa de Imre Lakatos, onde elementos como poder, prestígio, idade e propaganda decidem o conflito entre teorias), mas teria uma visão de atividade em busca de clarificação e resolução de problemas, em uma perspectiva renovada da história da ciência. Sob essa ótica, os problemas científicos são de dois tipos: os propriamente empíricos e os essenciais (internos – inconsistências ou quando suas categorias básicas de análise são vagas ou ambíguas, e externos – quando a teoria está em conflito com outra teoria do mesmo domínio).
A grande dificuldade das pesquisas psi (e por abrangência das EAs), não será apenas a sua verificabilidade, testabilidade e falseabilidade, mas principalmente a falta do estabelecimento um conjunto de crenças (unificadas), nas quais se baseiem, que se assemelhem a uma tradição de pesquisa, ou seja, para o progresso da parapsicologia: a) por que não reconhecer psi (e as EAs) como uma anomalia empírica, haja vista as pesquisas fenomenológicas de casos e os registros físicos e laboratoriais; b) por que não reconhecer que psi levanta problemas essenciais sobre a natureza da realidade, tais como, a aquisição de informações sem as usuais limitações de tempo, espaço e energia e que a natureza da percepção, memória e comunicação estão incompletas; c) por que não admitir, como núcleo do trabalho, uma visão expandida da consciência humana, pois psi parece contradizer o funcionamento mental baseado somente na estrutura cerebral e atividades eletroquímicas correlatas? Para mim, parece estéril a discussão da existência ou não de psi. Se não se estabelecer um núcleo duro das pesquisas psi, muito pouco avançaremos. O início da construção de uma tradição de pesquisas em psi, a partir de sistemas de teorias psicológicas, neurofisiológicas, físicas, entre outras, e de crenças mais gerais, pode fornecer resposta satisfatória.
Para as EAs, por exemplo, a construção de uma tradição de pesquisa pode considerar a existência de regiões de influência, que contenham informação anômala de atividades passadas, como sugerem Kripnner & Devereux & Fish (2002: 405-406), num estudo de sonhos em Sítios Sagrados na Inglaterra e País de Gales, a partir dos modelos dos efeitos de permanência (lingering effect) de Watkins (1972), dos campos de informação de Feinstein (1998), dos campos morfogênicos de Sheldrake (1991) e do modelo organizador biológico de Hernani Guimarães Andrade (1972). Os parapsicólogos, se quiserem criar sua própria tradição de pesquisas, precisam se tornar menos vulneráveis às tradições de pesquisa de outras ciências, como se delas dependessem para referendar-se, mas criar um referencial próprio. A título de ilustração, citamos a psicanálise, que, apesar do seu caráter não científico, criou um referencial próprio, continua a prosperar, e, há muito, se libertou da dependência dos ramos das ciências, que a descredenciam, estando em expansão no Brasil e na Iberoamérica.
3.1 Hipóteses Astrais
Sob essa terminologia, referimo-nos às primeiras explicações, que consideram as aparições como algo intermediário entre o mundo físico e o astral, o qual, em determinadas condições, é possível ser percebido por pessoas com habilidades específicas e denominadas de agentes psi, sensitivos ou médiuns como uma espécie de reprodução física de determinado ser humano ou de alguém morto há algum tempo. Esse modelo, embora abordado nos primórdios pela Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres, com delimitação das EAs para o campo das experiências alucinatórias, portanto sem o caráter físico, não vem sendo mais utilizado.
Segundo Caruso, (2002: 258) essa situação (as aparições como entidades físicas, espécie de ser humano identificável pelo percipiente, de um ser vivo ou de um morto, há algum tempo) levaria a uma exploração, tomando-se valores informativos afastados no espaço e no tempo como os já estudados na teoria das comunicação e por Abraham Moles (Teoria da Informação e Percepção Estética). Ademais, o caráter flexível das hipóteses astrais, sua falta de delimitações, lhes conferem um grau de irrefutabilidade, e não permite o falseamento de suas hipóteses, como comenta Blackmore (1986: 286-292), um mundo mental pode significar várias coisas, é privativo de cada indivíduo, ou comum e acessível a todos (como os ocultistas propõem)? Como tratar as questões do compartilhamento e criação do mundo astral, e do armazenamento e recuperação das informações (astrais)? Estas questões permanecem insolúveis.
3.2 – Modelo Psicológico
A utilização da psicologia, na investigação das experiências aparicionais, é imprescindível, porque ela pode investigar os fatores individuais preditores das aparições, estudando os marcadores psicológicos, que facilitam, predispõem ou bloqueiam esses tipos de experiência, tais como alta ansiedade, introversão x extroversão, sexo, intelectualidade, criatividade, capacidade visual x imaginativa, bem como as contribuições de outros ramos da psicologia, como a transpessoal.
Um modelo apenas psicológico mostra-se insuficiente para explicar as aparições, notadamente as assombrações. Por que a recorrência das aparições a diferentes pessoas, ao longo do tempo, algumas vezes dezenas de anos?
A seguir apresentaremos modelos psicológicos bastante conhecidos no campo das aparições.
Modelo de Tyrrell e Correlatos
A título histórico e ilustrativo, apresentaremos, sucintamente, modelos nos quais a aparição encontra um modo de se adaptar às circunstâncias ambientais. Tyrrell (1965: 130) acreditava que as aparições eram informações recebidas telepaticamente, mas somente a idéia geral, a temática. O “drama aparicional” é a chave do seu modelo, a impressão telepática original proporciona somente um esboço geral do argumento. Para desenvolver os detalhes, postula a existência de uma entidade, ou fator ulterior, que denomina de “Produtor” e, para representá-lo há o “Montador Cênico”, cuja função é dar vida às percepções alucinatórias que o plano do produtor requer. O Produtor e o Montador cênico são faculdades dramáticas, que podem ser concebidos como elementos psicológicos, que integram a personalidade do percipiente, elementos que operam em um grau quase autônomo por baixo do nivelo de consciência, pois Tyrrell concebe a personalidade humana como uma hierarquia, que abarca múltiplas categorias, nas quais existem diferentes graus de vontade. A preocupação de Tyrrell, segundo Caruso, (2002: 260) é a formulação de uma teoria telepática das aparições sob a forma de uma investigação psíquica.
Edmund Gurney considerava que as aparições eram alucinações, criadas por perceptores individuais em resposta a impulsos telepáticos, diretamente ou indiretamente recebidos daquele que aparece, inclusive de mortos.
A hipótese de Myers-Price, e Raynor C. Johnson postulava que as aparições eram imagens etéreas, criadas, atualmente ou no passado, por algum ato mental.
Mackenzie (1986: 285) considera que a assombração resulta da interação de uma família com a casa e, se a família for retirada, ainda que apenas temporariamente, pouco se poderá esperar. Considera que, com muita freqüência, a presença de determinada pessoa é necessária para que os fenômenos ocorram.
Paul Davis, que foi professor da cátedra de física teórica na Universidade de Newcastle, referia-se a física quântica como a maior revolução científica de todos os tempos, mudando o conceito de realidade. A tentativa de explicar certos aspectos técnicos da física subatômica, através da postulação da existência de outros mundos paralelos ao nosso, reinstalou o observador no centro do palco. Mackenzie especula que alguns casos de assombrações, como o de Versailles, em que ocasionalmente foram vistas figuras em trajes de uma era passada, sugerem a possibilidade de fragmentos de vida de um mundo superposto.
Outros aspectos psicológicos
Diversos aspectos facilitadores, neutros ou bloqueadores de crença, extroversão, religiosidade, neuroticismo, capacidade de absorção, sugestibilidade hipnótica, abertura (openness), capacidade de prazer (agreeableness), consciência, são aspectos da personalidade passiveis de verificação na investigação psi e como esses aspectos podem afetar a percepção daquelas pessoas, que passam por experiências aparicionais. Seu alcance será complementar a investigação.
Outro aspecto a considerar é o significado pessoal, como a EA foi integrada à vida do indivíduo, quais as suas próprias reações, se estas o confunde ou esclarece, e qual a reação dos outros (se de condenação, apoio, etc.).
3.3 – Hipnose e Alucinação Voluntária
É de raro registro, mas Mackenzie (1986: 266-269) relata o caso de Ruth, que era capaz de criar alucinações (auto-hipnose) e, numa certa medida, dirigir-lhes o comportamento. Submetida a testes para medição de respostas visuais e auditivas como o uso do EEG (eletroencefalograma), conseguia simular, através da alucinação de sua filha de 8 anos, estímulos visuais e auditivos, que não estavam presentes.
O Instituto Pernambuco de Pesquisas Psicobiofísicas, durante aulas de hipnose, ministradas pelo Prof. Ronaldo Dantas Lins Filgueira, ao ser aplicado o teste de verificação de números para pessoas daltônicas (muito comum para se obter licença para dirigir autos), verificou que, após sugestão, uma aluna, com visão normal, percebia como se daltônica fosse, identificando os números como se assim tivessem essa problemática. Isso implica que, provisoriamente, há alteração em nível neurológico, que, depois de cessada a sugestão, volta ao seu funcionamento habitual, como ocorreu com a referida aluna.
A indução hipnótica de aparições de indivíduos susceptíveis, juntamente com a escolha, pode ser um caminho para se entender os mecanismos das aparições. Isso pode ser utilizado em exames com técnicas de imagem por fMRI (ressonância magnética funcional por imagens) e PET (tomografia por emissão de pósitrons), em sujeitos, que consigam estender a sugestão hipnótica durantes esses exames.
Uma vantagem das técnicas hipnóticas será a descaracterização das EAs como patologia, pois torna a experiência repetível e manipulável, e integrada às experiências do indivíduo, que entenderia seu caráter de sugestão.
3.4 Modelo Biológico
O biólogo inglês Rupert Sheldrake (2003: 16-18, 202, 207) afirma que os fenômenos psíquicos estão arraigados em nossa natureza biológica e que eles procedem de campos fundamentais para todos os organismos vivos – a saber, os campos mórficos. Os campos mórficos são de diversos tipos, tais como os morfogenéticos (campos organizativos dentro dos organismos) para os vegetais, e os campos mórficos das atividades mentais que se chamam campos mentais. Esses últimos estão por trás de nossas percepções, pensamentos e dos demais processos mentais. Afirma que, através dos campos mentais, a mente se projeta no ambiente por meio da atenção e da intenção, e se liga a outros membros dos grupos sociais. Segundo Sheldrake, esses campos ajudam a explicar a telepatia, a sensação de estar sendo observado, a clarividência e a psicocinese, e refere-se aos mesmos também através o termo sétimo sentido.
Sheldrake considera que o sexto sentido já foi encampado pelos biólogos, que estudam sentidos elétricos e magnéticos nos animais. Animais, como as enguias, geram, em torno de si, um campo magnético, mediante o qual detecta os objetos presentes no ambiente, até mesmo no escuros. Tubarões e arraias detectam a eletricidade corporal dos peixes que vão caçar. Há ainda o sentido vibratório das aranhas e os órgãos detectores de calor das cascavéis.
Pierre de Latil (em O Pensamento Artificial), citado por Caruso (2002: 264-265), identifica “pré-fatores comuns” – imagens e comportamentos comuns a uma espécie e a um determinado meio, e que determinam respostas “esperadas” prováveis por indivíduos desse mesmo grupo. Logo, certas configurações contingenciais deixariam de depender do simples acaso, por participarem “do meio contingente” pré-formado na mente do indivíduo. Isso remete de volta a Tyrrell sobre a aparição como um objetivo de percepção criado para exprimir imagens de uma ideia, adotando-se que há um fenômeno telepático, ampliando a ideia-padrão coletiva, correspondente ao inconsciente coletivo de Jung.
Baseado no modelo de Sheldrake: será que, no caso das aparições, a mente humana cria a partir de idéias do presente, ou do passado, campos mórficos mentais, que seriam percebidos por terceiros como alucinações? Ou, da mesma forma, os campos de informação, concebidos por Feinstein?
3.5 Hipótese de Don Robins e Campos de Informação
Don Robins (1990: 10,108-111) considera que, nos locais das assombrações e locais sagrados, os retículos cristalinos das pedras guardam uma espécie de memória codificada (um campo de informação), funcionando como uma espécie de transdutor – dispositivo que transforma uma energia física em eletromagnética e vice-versa, por exemplo, como um autofalante, ou um microfone. As pedras seriam uma espécie de semicondutor, um macrochip, e as vibrações físicas e psíquicas de um ambiente seriam armazenadas nas estruturas das paredes e do ambiente, mais propriamente no retículo cristalino das pedras. Assim, uma pessoa, ao passar por esses locais, por efeito piezelétrico, ou seja, uma deformação no retículo cristalino, consegue produzir uma corrente elétrica e vice-versa, o efeito das vibrações, o que chama de acionador sonoro com um fator humano adequado (sensitivo) levaria à decodificação das informações codificadas do lugar.
Na realidade, trata-se de uma especulação, onde haveria um campo de informação armazenado em um meio físico – o retículo cristalino de pedras. Ela é passível de ser testada, com o emprego de agentes psi (ou pressupostos clarividentes).
3.6 Modelos Culturais
As crenças e condicionamentos culturais influenciam a aceitação de experiência anômala e bem como o conceito de normalidade. Em sociedades em que espíritos e elementos transcendentais são considerados ordinários, não há porque considerar as aparições como patológicas, diferentemente das sociedades ocidentais, que baniram, de uma forma geral, a partir da revolução industrial, os aspectos transcendentais como integrados ao cotidiano social.
A explicação para as EAs somente sob a ótica cultural, sob o imaginário popular e seus aspectos mitológicos, tem se mostrado insuficiente para explicação das mesmas, como, por exemplo, a sensação de presença, as alucinações telepáticas, a recorrência de aparições em determinados locais.
As sociedades americana e europeia são permeáveis à ideia de aparições e casas mal-assombradas, embora a atitude predominante seja de descrença, de algo inusitado, mas que instiga a imaginação popular, a ponto de existir roteiros turísticos em torno dos castelos e mansões mal-assombrados. Um exemplo disso são as 57 mansões ou localidades e 59 casas mal assombradas nos Estados Unidos e Europa descritas por Hans Holzer (1991, 1995), se bem que sem importância do ponto de vista científico, pois não mostra a metodologia em que obteve essas citações e utiliza conceitos não aceitos como científicos para aparições, exemplifica, do ponto de vista cultural anglo-saxônico, o fascínio que esses locais exercem sobre o público em geral. No Brasil, observamos que o interesse por locais mal-assombrados não está estruturado, como na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas permanece vivo o folclore das botijas e tesouros enterrados, e há alguns registros literários sobre as aparições, como as do livro “Assombrações do Recife Velho”, escrito por Gilberto Freyre.
Culturalmente, há em muitas localidades o “espírito” do lugar. Existe, por exemplo, o bairro boêmio, o bairro histórico, ou, de um modo geral, uma certa “atmosfera” que caracteriza, cerca o local e o marca. O caso da aparição de Cheltenham, Mackenzie (1986: 59-84) sugere que a crescente modernização do bairro afeta a ocorrência desse tipo de fenômeno. Este caso, inicialmente investigado por F.H. Myers, refere-se a aparição de uma dama de preto com o rosto parcialmente encoberto por um lenço, que foi vista por 17 pessoas, e ouvida por mais de 20, e à medida que a edificação original foi sendo modificada, passou a ocorrer em outras casas preservadas, que existiam à época da casa original, num raio de 800 metros de distância, isso no período de 1884 até 1979, até a publicação original do livro Fantasmas e Aparições, em 1882.
Outros casos famosos, como os polêmicos fantasmas do pequeno Trianon do Palácio de Maria Antonieta em Versailles, “visto” em 1901 por duas inglesas e posteriormente por outras pessoas (Coleman, 1988), foi um tremendo sucesso literário e até hoje fascina, sendo também citado por Andrew Mackenzie, no seu livro Fantasmas e Aparições (1986: 147-197).
Entendemos o aspecto cultural como um elemento permeável à ocorrência dessas percepções, no caso da sociedade ocidental, estimulando, positivamente, a ocorrência e registro dos mesmos. A ideia de que aparições sejam fantasmas, ou espíritos de mortos, faz parte do imaginário popular, e pode também se dizer que faz parte do inconsciente coletivo, que numa era não-religiosa, como a atual, tem sido “oficialmente” rejeitada.
3.7 Modelo Parapsicológico – Relações Psigâmicas e Aparições
Preferimos utilizar o termo psigama para denominar as experiências psi, relacionadas a telepatia e clarividência, ao popular PES (Percepção Extra Sensorial, ou ESP, do inglês), por se tratar de termo neutro, bem como, e nem sempre, ocorrer percepção em psi. Como exemplo, parapsicólogos como Radin, e biólogos como Sheldrake, relatam experiências de respostas antecipatórias, indicadas pela variação da resistência galvânica da pele, sem que haja percepção pelos participantes, ocorrem segundos antes da emissão do alvo.
Como já nos referimos anteriormente em Definições, embora as EAs, em si, não sejam experiências psi, a menos que preencham os determinados requisitos característicos de psi, algumas experiências psi têm o caráter alucinatório. De acordo com Louise Rhine, a experiência ESP (do inglês, Extra Sensory Perception) se apresenta em quatro formas subjetivas: impressões intuitivas, alucinações, imagens visuais realísticas, ou imagens visuais não-realísticas. Embora não se saiba, com precisão, a incidência dessas 4 formas subjetivas da experiência ESP, nesta amostra de L.E. Rhine, em 1962, 26% dos casos eram intuitivos, 9% alucinatórios, 44% eram imagens visuais não-realísticas e 21% eram imagens visuais não-realísticas.
As experiências na proximidade da morte são também fonte de diversos tipos de experiências anômalas, e também de alucinações. Castro (1989: 18-20) que apresentou monografia onde defendia os fenômenos paranormais na proximidade da morte como um mecanismo de apego à vida, fez um quadro- resumo de alucinações ocorridas em pacientes, que estavam em estado terminal (morte gradual esperada), ou em experiência de morte iminente (processo de morte súbita não esperada) e sua relação com psi. Ele supôs a deflagração de fenômenos parapsicológicos como um mecanismo de reação à morte, um último apego à vida, mesmo nos momentos em que “há desistência de viver” os fenômenos psi parecem fazer parte de um mecanismo de adaptação a esses momentos de extrema dificuldade. Os fenômenos psi com dominância da informação (psigama) parecem caracterizar o apego à vida (de forma alucinatória) e os fenômenos psi com dominância da energia sobre a informação (psikapa) parecem registrar literalmente, ou seja, fisicamente, esse apelo (1989: 29).
Diversos são os exemplos de experiências psigâmicas e as alucinações, o que nos leva a questionar se os agentes psi serão mediadores de experiências aparicionais, e, como tais, não teriam as mesmas características psicológicas, fisiológicas para expressar esse tipo de experiência psíquica?
3.8 Abordagem Fenomenológica – Pesquisa de Campo e Estudos de Casos
Desde os primeiros casos de alucinações publicados, como o Phantasms of the Living (1886) – contendo 701 casos de aparições entre os mais de 2000 depoimentos prestados, os livros de Frank Podmore (a partir de 1894), bem como o Recenseamento das Alucinações (Report on the Census of Hallucinations), apresentados nas Atas (1894), pela Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres – SPR, as pesquisas de campo (enquetes) e estudo de casos têm sido instrumentos de ampla utilização para o estudo das EAs.
Alguns pesquisadores têm-se valido de agentes psi para verificação de locais, ditos assombrados. Everist (2000, 346-354) utilizou 17 pessoas – 1 profissional, 10 estudantes sensitivos e 6 estudantes novatos, também aplicando a estes testes psicológicos, e formulários individualmente e independentemente (com tratamento estatístico) para identificação, em uma casa mal-assombrada, no Arizona – EUA., dos locais em que teriam sido percebidas aparições (com alguns resultados estatisticamente significativos), o tipo de personalidade dos fantasmas (que foi inconclusivo).
Wiseman et al (2001: 393-407), efetuaram pesquisa com de 600 pessoas no Hampton Court Palace, reputado tanto pelos funcionários quanto pelo público, como um dos locais mais mal-assombrados da Inglaterra, visando à verificação de três variáveis: crença em fantasmas, sugestão (a metade dos participantes foi dito que houve um recente aumento de fenômenos não-usuais e a outra metade foi dito o oposto) e campos eletromagnéticos. Foram ainda feitos testes psicológicos para verificação da crença em fantasma, suas experiências não-usuais passadas e se acreditavam que estas eram devido a fantasmas. Os resultados indicaram que as pessoas que acreditam em fantasmas percebem mais fantasmas que os outros; a manipulação de sugestão de aumento dos fenômenos não causou efeito significativo nos participantes, e parcial suporte que o aumento da intensidade e também na variação do campo geomagnético (correlacionado com as características visuais e conhecimento prévio da área) influenciou os locais nos quais os participantes relataram as experiências.
A utilização da Internet, pelo seu alcance e interatividade, também pode auxiliar nas pesquisas de campo como a efetuada no Peru (Paul, 2004: 97) que sugeriu existir uma correlação entre capacidade de absorção (psicológica) e as EAs.
A abordagem fenomenológica, em conjunção com outros recursos, será sempre de vital importância para o entendimento de psi e das EAs.
3.9 Abordagem Tecnológica – A procura de registros anômalos
Pode ser resumida em: “a busca e o registro de anomalias”, para que então se transforme em “fatos a procura de explicações”.
A abordagem tecnológica será muito desejável, principalmente dentro do paradigma físico da realidade, no qual só existe o que pode ser observado (mesmo indiretamente) e medido, porém devido ao caráter subjetivo das aparições, a abordagem tecnológica tem alcance limitado. Pode-se verificar se variáveis ambientais podem influenciar as pessoas e, como tal, ser um mediador de fenômenos, ou mesmo se as pessoas podem influenciar os equipamentos de qualquer forma, havendo registro que ficará caracterizado como uma anomalia, ou mesmo se o ambiente independentemente das pessoas possa apresentar medições anômalas.
Um fator limitador será fazer coincidir que a instalação e as medições ocorram no período alegado da ocorrência das aparições, assombrações e poltergeists, e, na maior parte das vezes, isso não é possível, e, muitas vezes, nem desejado pelas pessoas que passam por essas experiências pela publicidade negativa, pelo transtorno causado a suas vidas e mesmo pela desvalorização imobiliária dos locais. A evolução da tecnologia, possibilitando equipamentos mais sensíveis e acessíveis economicamente favorece essa abordagem
Numa ênfase tecnológica, como a trazida por Warren (2005: 135-180) e Kokubo& Yamamoto (2004: 68-74) tanto para a obtenção de registros físicos anômalos, de assombrações e inclusive poltergeists, quanto para o estabelecimento de mediadores físicos (tais como campos eletromagnéticos ou geradores de tons) que facilitem o registro de anomalias, podem ser utilizados desde:
- Máquinas fotográficas, tanto as convencionais (neste caso quanto mais sensíveis o filme melhor) quanto digitais, para registro de imagens não percebidas no momento da foto, ou atribuídas a aparições. As digitais de hoje já possuem qualidade idêntica às convencionais, embora ainda a um custo financeiro mais elevado para a impressão das fotos, porém as máquinas convencionais possuem a vantagem de produzir um negativo para exame. Um aspecto pertinente para ambos os casos é a velocidade do obturador, para a obtenção de fotografias de ”aparições”, pois pode capturar imagens em um ritmo mais alto que o olho humano pode perceber. O uso de filtros para o espectro infravermelho ou ultravioleta também permite obter imagens fora do espectro do olho humano. A máquinas digitais usam CCD (por isso são sensíveis ao campo infravermelho próximo). No entanto os fabricantes colocam um filtro no CCD que corta a maior parte do infravermelho, para que a imagem não fique distorcida em relação à percepção do olho humano, porém as com recurso para a noite podem “ver” mais longe nesse campo, dispondo de controle que permite remover fisicamente esse filtro.
Muitas vezes orbes ou círculos são fotografados, podendo ser devido a gotas de chuva, grãos de pó na lente, insetos ou reflexos, mas algumas fotos mostram orbes atrás de objetos da foto o que estão distantes da câmera, o que dificulta sua explicação, os orbes capturados em vídeo são os mais convincentes. Névoas, muitas vezes, aparecem em fotografias. Sao parecidas com uma fumaça grossa. Embora normalmente branca podem ser de qualquer cor. As névoas lembram nuvens e tendemos a organizar nossas percepções, tentando gerar ordem a partir do caos, podem ser um tanto abstratas quanto indicar uma forma de um ser vivo, ou seja, uma aparição corpórea e sugerir que estão em movimento. Suas causas podem ser naturais como umidade, fumaça de cigarro, neblina e condensação das lentes.
- Máquinas fotográficas 3-D aumentam a credibilidade da fotografia, por se assemelhar da maneira que percebemos o mundo, ou seja, em 3 dimensões. Ela tira dois fotos do mesmo objeto, de dois ângulos ligeiramente diferentes, imitando a perspectiva do olho humano. Ao se combinar essas duas imagens, cria-se uma imagem única e com profundidade, uma representação em miniatura da realidade, cada uma delas de uma posição próxima, mas diferente, que, quando colocadas em um visor especial, fundem-se oticamente, e câmeras de vídeo (para registrar inclusive as medições de outros instrumentos). Outros detalhes em www.3dstereo.com.
Convém lembrar que uma fotografia é apenas uma fotografia, não pode ser utilizada como algo conclusivo, e tem sempre um impacto limitado na comunidade cientifica, pois a luz faz coisas incomuns, reflete objetos, distorce-os, os medidores como os a seguir listados, são melhor instrumentos de registro de anomalias.
- Câmeras de vídeo funcionam de maneira semelhante como o cérebro vê o mundo. A exemplo das maquinas fotográficas digitais, utilizam CCD, e capta frequências infravermelhas. Pode ser utilizado uma técnica controversa, chamada IVI – do inglês, infinite video imaging, ou vídeo de imagem infinita, utilizada em lojas de departamento, quando se entre e se descobre a imagem exibida na TV. Conecta-se as saídas de áudio e vídeo da câmera filmadora nas entradas de áudio e vídeo da TV, e se vira a câmera em direção à tela da TV, que mostra imediatamente desenhos e imagens abstratas. Se a imagem a pausada no momento certo ou exibida em slow motion, basicamente está se captando uma imagem infinita. Alguns pesquisadores afirmam que, ao se gravar essa imagens, algumas anomalias acontecem, como formas desconhecidas, se a fita é pausada no momento certo ou exibida em slow motion.
- Luz negra, para ampliar a percepção humana para o espectro ultravioleta, no ambiente pesquisado
- Luz estroboscópica pode duplicar o efeito de um obturador de uma câmera, pois conforme piscam isolam imagens que, de outra forma, se moveriam rápido demais para o cérebro humano perceber. Tal como apontar a luz estroboscópica para um ventilador e ao ajustar as diferentes velocidades da luz, as pás da hélice aparecem em estágios diferentes. Os estroboscópios são dispositivos mais avançados, que podem piscar centenas de vezes por segundo e possibilitam uma gama maior de frequências.
- Bússola, para a detecção de campos magnéticos estranhos, que afetem o funcionamento da mesma.
- Medidor de campo eletromagnético (ou CEM, do inglês), para medição especifica de campos eletromagnéticos, principalmente de campos erráticos sem origem física, tais como os campos que pairam no ar, planam em uma área e depois desaparecem. Os mais simples não conseguem detectar a influência de seres humanos, geralmente com medição CA – corrente alternada (tais como, o flux-gate retangular de 3 dimensões, melhor indicados para indicar e excluir campos artificiais, de tomadas, fiações, eletrodomésticos, etc.), porém outros de maior sensibilidade com medição em CC – corrente contínua (tais como as com sensores de efeito Hall, indicado para campos naturais, como o TriField Natural EM Meter podem captar seres vivos com a distância de até 3 metros e também configurados para captar ondas de rádio e microondas). Os CEM podem ser utilizados, em conjunto, e com mais eficiência, com uma máquina fotográfica.
- Medidor de infravermelho (semelhantes ao CEM), são unidades compactas de mão, em vez de detectar CEM, mostram níveis de campos do espectro infravermelho (o que, a rigor, são radiações eletromagnéticas). São mais úteis quando aplicados à fotografia infravermelha, possibilitando fotografar massas de energia invisíveis, usualmente captando seres vivos e fontes de calor até 45 metros de distância. Caçadores usam esses medidores para localizar animais de caça no meio da mata.
- Termômetros, em escala decimal, preferencialmente digitais, de forma a permitir o arquivo dos dados obtidos (para medir os “pontos frios” de lugares assombrados, útil para medir e diferenciar a temperatura objetiva da subjetiva. Os medidores de temperatura remota, com mira de infravermelho para indicar o ponto de medição, são os ideais para medições em campo.
- Mira de visão noturna, usada por caçadores e especialistas em vigilância, permitem o pesquisador ver no escuro sem utilizar outra fonte, e sem poluição de luz, bem como permite que se veja o campo infravermelho.
- Walkie-talkies, para comunicação entre os pesquisadores, principalmente se estão em uma grande área, por em a frequências de uso pode interferir com o
- Gerador eletrostático, Van de Graaff (é o mais conhecido tem forma de esferoide grande e prateado) e máquinas Wimshurst/Boneti, que podem despejar centenas de milhares de volts no ar, em um local assombrado, ionizando esse ambiente e desta forma predispor o acontecimento de alguma anomalia.
- Ozonizadores, ou purificadores de ar de íons (normalmente negativos)
- Bobina de Tesla, consiste de transformador, capacitor, centelhador e bobinas primárias e secundárias. Funciona como uma tensão alta e produz correntes elétricas de alta freqüência e ionização. Bobinas de Tesla pequenas e compactas têm sido vendidas como máquinas de raios ultra- violeta;
- Gerador de tons e qualquer dispositivo que soe a um hertz específico. Alguns programas, como o NCH Swift Sound – www.cnh.au ou Cool Edit – www.cooedit.com, permitem gerar um alcance infinito de sons. O objetivo será a criação de “ondas estacionárias”, pois quando um tom é transmitido numa sala, por exemplo, é refletido no ambiente que o cerca e, por fim, converge em uma área e se concentra, formando um padrão estacionário, oscilando em uma freqüência particular e harmônica. Aguarda-se para verificar se alguma anomalia ocorre a essa onda.
- Amplificador de áudio, para registro dos sons “inexplicáveis” para obter quanto possível do local pesquisado, com microfones ultrassensíveis, permitindo-se através de softwares como o Sound Forge, manipular esses sons destacando as faixas de frequências
- Gerador de números aleatórios – GNA (ou RNA, do inglês), para verificação se o ambiente produz anomalias no funcionamento deste equipamento, sugerindo a atuação de consciências?
- Computadores, com interfaces apropriadas para os tipos de sensores, registradores e gravadores utilizados.
3.10 Atividades geomagnéticas e eletromagnéticas
Alguns pesquisadores como Roll & Nichols (1999: 289 e 300-301) consideram que variações abruptas dos campos eletromagnéticos (EMF, do inglês) e geomagnéticos (GMF, do inglês) podem afetar o cérebro dos percipientes. Citando Persinger, sugerem que imagens tipo sonhos podem ser evocados por campos eletromagnéticos e geomagnéticos da mesma freqüência do cérebro humano, e que EAs seriam mais evidentes durante períodos de aumento da atividade geomagnética. A redução dos níveis de melatonina, ao atingir o limiar subsequente de um GMF, poderia estimular o acesso a fragmentos de memória do hipocampo, facilitando as EAs.
3.11Registros Aparentemente Anômalos, mas de causas naturais ou artificiais
O objetivo é mostrar até que ponto causas físicas podem contribuir para o entendimento das experiências aparicionais.
Fogos fátuos, efeito luminoso geralmente azulado, podem ser produzidos pela concentração de cargas elétricas (íons) em pântanos (gerando estórias que dominam o folclore popular), bem como em asas de avião (conforme corta o ar, enormes cargas podem ser produzidas e jorradas para longe na forma de um azul misterioso); e mastros de navios ao entrar em contato com a atmosfera eletricamente carregada.
Usando-se cargas elétricas, também é possível mover objetos: quanto mais forte a carga, maiores objetos poderá mover. Como por exemplo, esfregando-se, repetidamente, um pente no cabelo e depois aproximá-lo de pequenos objetos, tais como pedaços de papel, cigarros, bolas de ping-pong, desviar fluxos delgados de água vindo de uma torneira, etc.
Cheiros estranhos, como o ozônio, são gerados devido a concentração de íons criados eletrostaticamente.
A eletricidade estática pode ser produzida através de geradores Van de Graaff (é o mais conhecido tem forma de esferoide grande e prateado) e máquinas Wimshurst/Boneti. Um exemplo popular do funcionamento do gerador de Van de Graaff é fazer o cabelo de uma pessoa se eriçar nas pontas. Isso ocorre porque alguém, ao entrar em contato com o mesmo tipo e carga elétrica (- ou +), sua pele e cabelo estão submetidos à mesma carga elétrica, que se repelem, fazendo o cabelo se afastar da pele. Por sua vez, as cargas elétricas, que correm pela pele, criam o conhecido “vento iônico”, que produz uma sensação fria ou gelada na pele. Essa sensação, que não é apenas do ar em movimento, mas dos íons elétricos em movimento, pode ser responsável pela sensação de calafrio ao se encontrar uma aparição. O vento iônico produz ainda outra sensação estranha conforme as cargas elétricas passam pela pele, além de frieza, parece tocar a pessoa. O vento iônico pode ser simulado pelo gerador de Van Del Graaff : ao “soprar” um vento iônico pelos ombros de uma pessoa, ela pensará que foi tocada pelas costas. Movimento de objetos podem ocorrer através da eletricidade estática.
Efeito de névoa também podem ser obtidos em filmes expostos a campos magnéticos artificiais segundo Roll&Nicholls (1999:301).
3.12 Abordagem fisiológica e neurológica
As neurociências têm trazido, especialmente nos últimos 10 anos, informações inovadoras sobre os circuitos neurológicos. Embora a ênfase seja situar as EAs dentro do limite da normalidade no ser humano, descaracterizando o lado patológico das mesmas, as psicopatologias, notadamente as esquizofrenias, podem contribuir para o entendimento dos mecanismos das alucinações. Devido a esse aspecto patológico, os estudos neurofisiológicos são majoritários e, deles, pode-se tirar correlações com as EAs, notadamente as anormalidades do lobo temporal ou ferimentos na cabeça, tirando proveito das novas técnicas de neuroimagens.
O neurologista português Antonio Damásio, no seu livro O Mistério da Consciência (2000: 407-408), expõe que as imagens originam-se de padrões neurais, ou mapas neurais, constituídos em circuitos ou redes, porém há um mistério de como as imagens emergem de padrões neurais. Afirma que, talvez algum dia, se possa explicar satisfatoriamente todas as etapas intermediárias entre padrão neural e imagem, pois não conseguimos caracterizar todos os fenômenos biológicos que ocorrem entre nossa percepção corrente de um padrão neural e nossa experiência da imagem, que se originou da atividade no mapa neural. O entendimento desses mecanismos certamente ajudará no entendimento das alucinações.
O funcionamento do cérebro pode, teoricamente, se predispor a experiências anômalas de duas maneiras: global (que enfoca a localização não específica das funções cerebrais – na qual ganzfeld utiliza-se dessa condição para testar condições psi condutivas) ou focal (as quais envolvem déficits no funcionamento cerebral).
Neppe (1990: 170-176) utilizando uma escala (questionário) para medição da disfunção do lobo temporal, efetuou pesquisas que sugerem que possíveis disfunções lobo temporais podem levar a experiências psigâmicas. Esses lobos têm, como maior função, integrar as entradas das percepções polimodais de todas os tipos, incluindo aquelas dos órgãos sensoriais convencionais, como cheiros, balanços, audição, senso de posição e dor nas áreas vizinhas. Os lóbulos temporais são responsáveis por integrar vários aspectos afetivos, cognitivos, e das funções cognitivas, como memória, aprendizado, interpretação, e sentido do self; bem como as funções endocrinológicas, metabólicas, sexuais e agressivas. Eles são os grandes integradores cerebrais, enquanto os lobos parietais estão envolvidos somente nas distorções espaço-visuais. O termo possível deve-se a ninguém poder, conclusivamente, demonstrar que essas experiências subjetivas derivam do lobo temporal, pois podem ser epifenômeno de diferente origem fisiológica. Será de se questionar se nas EAs os lóbulos temporais não estariam estimulados como numa experiência normal.
Os lobos occipitais, por conta do seu envolvimento nas associações visuais, são também candidatos à localização das experiências psigama. As aparições por serem predominantemente visuais possivelmente têm algum grau de modulação com o dos lobos occipitais.
- QUESTÕES METODOLÓGICAS
Propor metodologias para experiências tão insólitas, não é tarefa simples, e a própria pesquisa psi encontra enormes dificuldades para estabelecer métodos quantitativos ou qualitativos amplamente aceitos. Vez por outra, se retorna ao debate das escolas quantitativa proposta por Rhine e qualitativa praticada por Tenhaeff, das vantagens e desvantagens de ambas. Apostamos na complementaridade de ambos os métodos e nas aplicações de acordo com a situação e disponibilidade de recursos humanos e financeiros para a pesquisa.
A seguir comentamos possíveis metodologias a serem utilizadas por parapsicólogos, psicólogos, neurocientistas e toda gama de interessados nesta temática de EAs, de forma a se poder estabelecer, no futuro, uma tradição de pesquisas para as mesmas:
- Abordagem fenomenológica, com a utilização de pesquisas de campo (enquetes), é muitas vezes a única possível ou viável de se fazer pesquisa. Pode ser aplicada a uma população específica (por exemplo, estudantes universitários) ou através de entrevistas individuais. De uma forma geral, a abordagem fenomenológica contribui para analisar padrões de subjetividade e trazer experiências individuais para uma ótica quantitativa, inclusive, podendo ser complementada com testes psicológicos quando possível. Pelala&Cardeña (2000: 52-55) indicaram limitações dessa abordagem, tais como: esquecimento, erros de reconstrução e confabulação, dificuldades de descrição verbal, distorção através da observação e substituição de inferências pela observação, censura, falta de verificação independente, desmontagem e desejabilidade social, características sob demanda (resposta as expectativas do pesquisador);
- Pesquisa de campo, quando estão a ocorrer casos. É muito de difícil de acontecer devido a aleatoriedade das ocorrências, podendo ainda ser complementadas com testes psicológicos, medições neurofisiológicas, e medições de parâmetros físicos no local;
- Estudo de casos, já ocorridos, complementados com testes psicológicos, medições neurofisiológicas, e medições físicas no local;
- Correlação das EAs com as neuropatologias, e imagens mentais anormais e sintomas psicopatológicos, com o intuito de se evidenciar os mecanismos neurológicos pelos quais as alucinações se utilizem, como, por exemplo, as disfunções dos lobos temporais;
- Correlação entre o papel das variáveis ambientais (como campos eletromagnéticos, geoambientais, etc.) e as aparições e assombrações;
- Correlações com os estados psi condutivos e as EAs;
- Marcadores psicológicos e neurofisiológicos para psi e as EAs;
- Estudo e comparação das EAs com processos fisiológicos responsáveis pelo julgamento do ser humano sobre a realidade de suas experiências;
- Aplicação de técnicas hipnóticas, e, se possível, com técnicas de imagem;
- Estudo dos efeitos alucinógenos de drogas em termos do sono e sonho.
- Verificação da existência de regiões de influência que contenham informação anômala de atividades passadas a partir dos modelos dos efeitos de permanência (lingering effect) de Watkins (1972), dos campos de informação de Feinstein (1998), de dos campos morfogênicos de Sheldrake (1991) e do modelo organizador biológico de Ernani Guimarães Andrade (1972).
- Identificação dos papéis das mitologias (crenças) individuais e coletivas no surgimento das EAs e o que representam para o indivíduo, seu contexto e aqueles que o cercam.
- DISCUSSÃO
Psi e as EAs atingem, diretamente, nosso entendimento da realidade, que se baseia predominantemente no paradigma da física e, nesse contexto, as EAs não passariam de meras experiências imaginárias. Porém, como coloca o físico Amit Goswami (2002: 22), o paradigma físico se sustenta em concepções metafísicas da realidade, uma das quais considera que a realidade é independente de nós, e que ele se refere como objetividade forte. A subjetividade seria, portanto, “independente” dessa realidade. Estritamente, sob esse conceito, as experiências aparicionais seriam irreais e, dentro do contexto social ocidental, patológicas. Mas não é essa a crença dos pesquisadores, pois as pessoas que passam por esse tipo de experiências estão dentro do contexto, que consideramos como normalidade. As EAs podem estar integradas com o que chamamos de realidade objetiva, e conviver dentro do conceito de normalidade? Creio que as EAs ampliam as questões ligadas à normalidade, que podem ganhar novos enfoques.
O que leva uma EA a se prolongar por minutos? Que papel e função representa no contexto e na vida daqueles que a percebem? Por que o aspecto basicamente autômato das mesmas? Esses aspectos vão ao encontro daqueles que querem encontrar algum suporte para a experiência transcendental? Permanece a dificuldade, no atual grau de conhecimento científico, de se entender casos como o de Chelteham, já citados neste trabalho, que chegaram a durar cerca de 30 minutos (algumas EFCs e EQMs também parecer ter duração semelhante). Casos como os fantasmas de Versailles são uma farsa literária?
Psi e as EAs parecem indicar que a subjetividade tem interferência direta na dita realidade objetiva. As experiências psi parecem interferir no mundo “objetivo”: A obtenção de informações à distância ou através do tempo (sem o uso dos mecanismos sensórios-motores conhecidos), as interações mente-matéria, as interações da mente com organismos vivos, as interferências da mente ou consciência com geradores de números aleatórios, entre outras experiências anômalas, parecem contradizer o entendimento corrente de “realidade objetiva”, separada de nós. Cabe-nos investigar o papel da subjetividade no mundo dito objetivo.
Como já nos referimos anteriormente, psi trás à tona, como pertencente ao campo científico, a questão do link entre subjetividade, significado e objetividade (de um paradigma de forças para outro, cuja informação e significado sejam dominantes), da interconectividade entre mentes, da independência do efeito psi no espaço e no tempo e do papel que a consciência possa ter na dita realidade objetiva. (Castro, 1998: 40)
Pensamos que, algum dia, será possível se estabelecer uma tradição de pesquisa que leve, em seu cerne, constructos como psi e experiências correlatas como as alucinações, e que as EAs sejam integradas dentro da totalidade das experiências humanas. Enquanto isso não ocorre, continuam percepções e fenômenos em busca de clarificações e respostas.
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(*) Apresentado no III Encontro Psi: Implicações e Aplicações da Psi. Campus Universitário Bezerra de Menezes – Faculdades Integradas “Espírita” – Curitiba – PR