Jalmir Brelaz
PARADIGMA EM CIÊNCIA E EM PARAPSICOLOGIA
- OBJETIVO
Este trabalho pretende levantar questões sobre o paradigma que direciona a ciência no estágio atual do conhecimento, e indicar suas relações com a Parapsicologia, questionando até que ponto, o estudo dos fenômenos parapsicológicos pode ser afetado e afetar, as alterações de paradigmas que estão acontecendo no contexto social em geral e no campo científico em particular.
- COMPREENSÃO DE PARADIGMA
Paradigma, pode ser entendido como os parâmetros, que norteiam as atividades, valores e a cultura exercida no universo da ciência. É originário do grego modelo.
Thomas Kuhn a ele refere-se como uma constelação de crenças, valores, e técnicas compartilhadas a priori por uma comunidade científica. Sendo tão vital para a ciência quanto a observação e a experimentação com seus métodos e suas técnicas.
Apesar de Kuhn referir-se às ciências, a expressão é amplamente adotada, tais como paradigmas em educação, economia, medicina, e movimentos de qualidade total. O paradigma científico não está de modo algum separado desses outros paradigmas, sendo também a utilidade e necessidade social importantes para sua aceitação.
É mister salientar que uma mudança nos enfoques de um paradigma, como o renascentista, o industrial e hoje o que poderíamos chamar de ecológico ou epistêmico(mais adiante abordaremos esse termo), é antes de mais nada, uma ampla mudança cultural, uma alteração de ver o mundo, inclusive uma mudança de linguagem para expressar certos fenômenos sob uma nova ótica, incompreendida ou mesmo não aceita pelas crenças vigentes, e em moldes científicos atuais, até tida como não-conformidade, ou má pesquisa, como é o caso da pesquisa psi.
Sabe-se que o paradigma é vital para o desenvolvimento e solidificação das ciências, maximizando e otimizando os seus resultados. determinando o que é, mas também, e especialmente o que não pode ser aceito como integrante dele. Sua influência é tanto normativa quanto cognitiva, contendo afirmações a respeito da natureza e da realidade, definindo, inclusive, também o campo de problemas permissíveis, os métodos e técnicas de abordagens, e os critérios padrão de solução. Isso garante o sucesso rápido
da ciência normal, reduzindo o problema a uma escala trabalhável, sendo sua seleção guiada pelo paradigma vigente.
De acordo com Stanislav Grof (A Natureza da realidade: O Alvorecer de um Novo Paradigma) o fato científico e um paradigma nunca podem ser separados com absoluta clareza. Neste caso o mapa é confundido com os territórios. Também os dados puros de observação estão longe de representar a percepção pura, os estímulos não devem ser confundidos com percepção e sensações, pois estas estão condicionados pela experiência, educação, linguagem e cultura. Não existindo uma independência científica nos moldes defendidos por Popper. Também não existe uma linguagem neutra de observação, que tenha por base unicamente as impressões fixadas pela retina. A compreensão da natureza do estímulo dos órgãos sensoriais e das suas múltiplas inter-relações reflete a existência de uma tendência de uma teoria da percepção e da mente humana.
Ou seja a objetividade científica não é tão “objetiva”. O que observamos não é o mundo que existe “objetivamente” e em seguida é representado, mas um mundo que é criado no processo do conhecimento. O que vemos depende da maneira como olhamos. Numa analogia que Capra considera como se fosse num teste de Rorschach, utilizado na psicologia, ou seja, organizamos nossa própria realidade. Thomas Malthus complementa afirmando que há uma imanência em todo conhecimento, ele é sempre o conhecimento do objeto a partir de dentro do sujeito.
Ainda Grof, citando Paul Fayeband (Against Method: Outline of an Anarchistic Theory of Knowledge) , destaca que a ciência é essencialmente um empreendimento anárquico, com as pesquisas bem sucedidas jamais seguindo o método racional e que a condição de consistência – que exige que uma nova hipótese esteja de acordo com as hipóteses já aceitas, é irracional e contraproducente, pois elimina a própria hipótese, não porque esteja em desacordo com os fatos, mas porque está em conflito com outra teoria.
Exemplo desse anarquismo são as descobertas serendípticas, que se avolumam em toda a história até os dias de hoje. Encontrando-se acidentalmente uma descoberta científica, que não se estava procurando, na presença de circunstâncias favoráveis para que determinado fenômeno ocorresse. Exemplos bem conhecidos como o caso da coroa do rei Herão e Arquimedes (300 a.C), onde este descobriu de maneira, fortuita a relação entre a densidade de dois metais (ouro e prata) o seu volume, a maçã de Newton e a lei da gravidade, a descoberta da dinamite por Nobel, da penicilina por Fleming, da radiação de fundo provocada pelo Big Bang, da lua de Plutão. Fazer a coisa certa na hora certa (saber o que poderia ou não poderia ocorrer) e estar de certo modo preparado para a descoberta, o acaso favorece apenas as mentes preparadas. Uma mistura de relações não causais (sincronicidade) – estar no momento certo, e a partir disso causais (fazer a coisa certa por estar preparado para a descoberta).
Refere-se que Philip Frank (Philosophy of Science) expõe que cada sistema científico baseia-se num pequeno número de afirmações acerca da realidade, ou axiomas, que são considerados auto-evidentes. Afirma que a verdade dos axiomas é descoberta não pela razão, mas por intuição direta, são muito mais faculdades imaginativas da mente do que da lógica. O que queremos mostrar é que fatos, observações e até critérios são paradigmas dependentes, as propriedades formais mais importantes de uma teoria são relevantes pelo contraste, não pela análise. – Em ciência a razão não pode ser universal, e o irracional não pode ser inteiramente excluído.
O entendimento do que é paradigma , suas inter-relações e limitações, mostra a sua própria condição de mutabilidade e constante adaptação ajuda-nos a situar a parapsicologia na atualidade.
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PRINCIPAIS PARADIGMAS ATUAIS
Vivemos sob a ótica do paradigma mecanicisca, acreditamos em uma objetividade absoluta, sem referência a um observador humano, onde a epistomologia é separada do método e das técnicas. Todo o tremendo progresso tecnológico e material alcançado, e seus problemas inerentes, foram resultados da potencialização do atual paradigma.
Essa perspectiva de entender e interagir com o mundo, controlando-o, predizendo-o sob a ótica que hoje chamamos de científica, sempre houve, basta ver a história da ciência da qual fazem parte as contribuições das antigas civilizações egípcias (3.100 a.C.-332 a.C. na matemática, astronomia), da mesopotâmia (matemática, astronomia), as culturas meso-americanas (300 a.C.-900- maias, toltecas, astecas, chavins, incas), a grega (tão orientadora do nosso paradigma atual , na dualidade de nossas relações, com a natureza tal como sujeito e objeto), passando pela civilização romana ( com seus aspectos práticos e tecnológicos) até o século XV, com o advento da Renascença na Itália, que mudou a forma de encarar a natureza com um forte redicionamento cultural gerando a moderna concepção científica, que culminou com a revolução industrial.
O paradigma científico atual começa com o advento da revolução industrial , tendo suas sementes sido plantadas por Isaac Newton e René Descartes e sua realidade objetiva, tendo o primeiro a exemplo de Galileu, , utilizado modelos de compreensão da realidade distanciados do senso comum, ou seja, modelos matemáticos. Trezentos anos depois Einstein ainda se maravilhava por formas matemáticas abstratas se ajustassem de forma de maneira tão precisa que se pode descrever as coisas que se observa no mundo exterior em termos de coisas que elaboramos interiormente. Esse tipo de abordagem matemática contribuiu para se firmar a crença de leis absolutas, do universo máquina, sincronizado, da percepção dual sujeito-objeto.
Nos dizeres de Alvin Toffler, esse período de consolidação da cultura newtoniana foi chamado de onda industrial, em substituição a onda agrícola e agora , estando nós vivenciando a terceira onda – a da informação, que a nosso ver ainda é fortemente cartesiana pois levada pela informatização, vem se solidificando, potencializando e sendo culturalmente largamente difundida no mais alto grau valores introduzidos pela revolução industrial, ou seja, a padronização (hoje tão perseguida pela qualidade total e os seguidores da ISO 9000), especialização (basta ver a medicina que está reduzindo o ser humano cada vez mais a um órgão), sincronização( o padrão de tempo mundial já e uma realidade, e o tempo é cada vez mais um padrão em si próprio), concentração, maximização e centralização.
A tudo isso se soma a crença a ela associada que o novo é melhor e substitui o velho, e que a tecnologia suprirá todas as nossas carências. A ênfase é na técnica, no conhecimento, no poder sobre a natureza, na manipulação, não na harmonia, muito menos na sabedoria que ficou deslocada a algum lugar no passado. O conhecimento ficou intrinsecamente ligado ao poder. Daí a crença e tentativa de manipular o fenômeno paranormal
Esse conjunto de crenças mecanicistas está longe de se exaurir, haja vista a onda da informação que está apenas começando – com toda a teoria das informações que constitui o seu arcabouço eminente quantitativo, o direcionamento atual é na crença de que é possível quantificar tudo, na postura auto-afirmativa, que o conhecimento científico pode alcançar a certeza absoluta e final. Tudo ocorre precisamente de acordo com a lei, universo compacto, organizado, todo futuro depende estritamente do passado tal qual critica Nobert Wiener.
Essa ênfase na busca da objetividade levou a procura de mecanismos, leis básicas, estruturas e propriedades fundamentais. A dinâmica como consequência da propriedade das partes tais como: “Blocos de construção básicos”, “equações fundamentais” e “princípios fundamentais”.
Essas forças e mecanismos interagiam dando nascimento ao processo. mecanismos levam a constituição do todo, que resulta de tais leis básicas. O todo resulta do mecanismo das partes. Fragmenta-se o mundo.
Acreditamos na valoração do domínio e do controle, e ênfase na manipulação. O que gerou toda a ênfase no paradigma do “quanto mais tecnológico melhor” o que implica na crença do novo como superior ao antigo, e como direção a seguir.
O parapsicólogo tem de estar consciente, que o paradigma “quantitativo” em detrimento da qualidade, o que implica na crença de que tudo é possível quantificar, inclusive as funções-psi, é uma onda ainda distante da fase de exaustão, haja visto a força crescente do seu elemento mais destacado, a informatização generalizada em todas as áreas da vida e do conhecimento. Ainda o sempre superior ao velho, numa “rosca sem-fim” e nos problemas existenciais dele decorrente. Gerando desconfiança em fenômenos paranormais, que são tipicamente qualitativos e “chocantes a razão”.
A aderência a um paradigma específico é um pré-requisito absolutamente indispensável a qualquer empreendimento científico sério. Porém a parapsicologia tem se agarrado demais a questão da verificabilidade e repetibilidade, em oposição ao caráter espontâneo e aleatório dos seus fenômenos, bem como o caráter da “experiência direta”, onde seja vencida a dualidade sujeito-objeto.
No nosso entendimento, só conseguiremos elaborar Modelo Geral para a parapsicologia, a partir que ampliemos nossas concepções sobre o paradigma vigente, o qual discutiremos nos itens a seguir. O paradigma científico atual terá de adaptar-se a mudanças de uma sociedade preocupada com ecologia, com a dinâmica do todo, e não mais na crença de do ser humano como um sistema individualista, destacado do mundo
O que parece evidenciado é que os parapsicólogos ao se amoldarem exclusivamente ao paradigma quantitativo vigente, faz da parapsicologia inatacável, do ponto de vista metodológico, ao utilizar de rigorosos métodos empregados por outras ciências, , utilizando o método estatístico-matemático, e sua variáveis como microcomputadores-PK, Bio-PK, porém limitada do ponto de vista de contribuição à uma teoria da paranormalidade.
Pouco terá se avançado em direção a uma Teoria Geral da Parapsicologia por nossa ênfase tem sido no método – na técnica ( ou seja no paradigma vigente) . As pesquisas parapsicológicas tem sido escassas e assim como a formulação de hipóteses falseáveis, que levem a ampliação de novos paradigmas, tais como o elaborado pelo IPPP, em 1986, na proposição de um modelo cibernético para a parapsicologia.
Temos como resultado, temos trilhado o mesmo enfoque quantitativo, estatístico-matemático iniciado por Rhine, da década de 30 e que resultou quarenta anos depois (final de 1969), no reconhecimento da Parapsichological Association como membro da American Association for the The Development of Science, aceitando-a pelo rigor dos seus métodos, no “clube da ciência”, apesar da inexistência de uma teoria. Desta forma, pouco contribuiremos para uma mudança de paradigma.
- POSSÍVEIS TENDÊNCIAS DE MUDANÇAS DE PARADIGMAS
O mundo hoje em dia passa por mudanças profundas impulsionadas pela tecnologia em alta escala e a consequente mudança de valores a ela associada. O maravilhoso já é realidade, imagem e voz a distância, realidade virtual, comunicação global via rede de computadores e via satélite, a parafernália de equipamentos eletrônicos invadindo as empresas, governos e lares, faz dos mais fantasiosos sonhos uma realidade acessível às crianças de hoje.
Sob esse aspecto os fenômenos paranormais, já não são tão maravilhosos assim. De uma certa forma, a analogia tecnológica, até ajuda-nos a aceitar a fenomenologia psi como algo comum.
Nesse contexto tecnológico de acelerada mutação, Fritjof Capra aponta as mudanças paradigmáticas que eclodem na atualidade, que a nosso ver contribuem bastante para a “percepção-psi”:
Mudança da Parte para o Todo. As propriedades das partes só podem ser entendidas a partir da dinâmica do todo. Ou seja, a ênfase está no Todo não mais nas partes, numa inversão de perspectiva. Deixar de ver as coisas com suas propriedades e a seguir mecanismos e forças que as interligam, para ver que essas coisas não possuem propriedades intrínsecas, todas as propriedades fluem das relações num paradigma holístico, no qual as relações e não as partes é que seriam destacadas, havendo não mais objetos e sim relações. Sendo assim possível introduzir contexto e significação. Não haveria mais emissor nem receptor em telepatia, nem interação em sujeito-ambiente em clarividência, mas uma relação entre seres humanos e o ambiente, a partir de outras perspectivas, entre as quais possivelmente uma perspectiva parapsicológica.
Mudança de estrutura para processo. É o processo que cria a estrutura e não a estrutura que cria o processo. Não há mais estruturas fundamentais e a seguir mecanismos, por cujo intermédio essas forças interagem, dando nascimentos a processos. Inverte-se o enfoque, Cada estrutura é vista como a manifestação de um processo subjacente, numa teia de relações intrinsecamente dinâmicas e interdependentes, num paradigma ecológico. O processo é a totalidade das relações. Esse é o paradigma sistêmico. Capra exemplifica que no caso da biologia, o erro que se comete atualmente é trabalhar no nível da estrutura e acreditar que conhecendo mais a respeito, finalmente se conhecerá a vida, que, contudo não está limitada aos seus aspectos estruturais.
Esse modelo sistêmico, Ilya Prigogine nos dá o exemplo de sistemas vivos, como auto-organizaveis, autônomos, que por essas capacidades podem até certo ponto, escapar a entropia, por uma ordem superior não predizível, do beco sem saída que é o caos, de., “estruturas dispersivas” que permitem o surgimento de inovações mesmo quando a entropia as impede. Como resultante desse enfoque podemos entender o constructo “mente” não como uma coisa em si, mas um processo.
Mudança de ciência objetiva para ciência epistêmica, o entendimento do processo do conhecimento, tem de ser explicitamente incluído na descrição dos fenômenos naturais. Não há leis fundamentais. Os métodos de observação e técnicas têm de “entrar” na teoria. Esse é o paradigma epistêmico. Os fenômenos psi tem de ser em função de relações e não objetivamente entendidos. O que tem sido feito é no sentido de se verificar fenômenos paranormais são independentes do observador humano e tenta-se provar estatisticamente que ele existe. O fenômeno psi viria a ser descrito em função de suas relações, em outras linguagens, tais como a metafórica.
Mudança de construção para rede enquanto metáfora de conhecimento. Não há algo que seja mais fundamental que qualquer outra coisa. Não há dentro ou fora, nem acima nem abaixo, mas uma rede ao qual tudo está interligado. As teorias holográficas são um passo nessa direção. Voltando ao exemplo biológico, o biólogo pensaria que o código genético do DNA, é o nível básico que determina tudo o mais. No novo paradigma há coisas fundamentais em cada modelo científico, depende de uma estratégia científica, do cientista e não é permanente.
Pesquisadores como Stanislav Grof e Pierre Weil abordam esse erro epistemológico do modelo newton-cartesiano em psiquiatria, de considerar como “psicótico” qualquer desvio de sua congruência perceptual, o próprio termo estado alterado da consciência, insinua uma visão distorcida da “realidade objetiva”, incapaz de abordar certos fenômenos socioculturais, tais como ritos de passagem, xamanismo, ritos de cura e dos fenômenos parapsicológicos. Os estados transpessoais por eles estudados sugerem uma transcendência de tempo e espaço, desconsiderando o continuum linear entre microcosmo e macrocosmo, incentivando novas formas de pesquisas que possam a contribuir com a parapsicologia.
Novas atitudes em relação a formação de uns novos paradigmas, representa uma autêntica revolução cultural, o que numa visão de Capra apresenta as seguintes tendências e posturas:
AUTO-AFIRMAÇÃO INTEGRAÇÃO
RACIONAL INTUITIVO
ANÁLISE SÍNTESE
REDUCIONISMO HOLISMO
PENSAMENTO LINEAR PENSAMENTO NÃO LINEAR
COMPETIÇÃO, CONTROLE COOPERAÇÃO
EXPANSÃO CONSERVAÇÃO
QUANTIDADE QUALIDADE
DOMINAÇÃO PARTICIPAÇÃO
SIST. PATRIARCAL DE VALORES FEMINISMO
OBJETO RELAÇÕES
Essas atitudes e posturas refletem-se amplamente na pesquisa parapsicológica e na interação pesquisador e pesquisado.
Está ocorrendo uma mudança dos métodos utilizados: do racional analítico reducionista linear (Popperiano) para o intuitivo sintético holístico não linear (sistêmico, ecológico)
Do conhecimento: Do racional conceitual afirmativo, que categoriza, divide, desmonta, delineia.
Para o intuitivo não conceitual síntese de um padrão não linear, percepção imediata de um todo (Gestalt). O que não quer dizer irracional, que tanto apavora os cientistas.
5.0 RELAÇÃO DOS PARADIGMAS COM A PARAPSICOLOGIA
O paradigma dominante privilegia o conhecimento do mecanismo do fenômeno paranormal, em especial quantitativamente, o seu lado “analítico-racional” quando talvez ele se adeque a outros tipos de abordagens, sistêmicas, gestálticas, relacionais.
Ainda percebemos os fenômenos parapsicológicos, de acordo com o modelo vigente, como “causados” por alguma força de “fora”, do conhecido modelo emissor-receptor utilizado na telepatia, separado do mundo, ao invés de integrante do mundo. Temos a postura de que ainda somos incapazes de entender e controlar os fenômenos paranormais, mas através de alguma nova técnica algum a fenomenologia psi será colocada em condições controláveis, um dia será domada.
Temos inclusive a crença que a física descobrirá novas forças que darão suporte a uma teoria parapsicológica, isso parece estar de acordo com o paradigma de o conhecimento como construção, implicando o modelo que a física é o ideal por cujo intermédio todas as outras ciências são modeladas e julgadas, sendo a principal fonte para de metáforas para descrições científicas.
Porém, parece que as ciências, a sociedade e as organizações estão num ponto de inflexão paradigmático com nova visão do mundo e de nossa relação com ele, em que intrinsicamente fazemos parte do processo, num novo paradigma holístico, ecológico e até cibernético, por ser esta a ciência que espelha de forma mais cabal a consciência eminente tecnológica do homem contemporâneo.
Essas mudanças de crenças, e de mentalidades se reflete não só nas ciências, mas na sociedade como um tudo, inclusive nas organizações empresariais, como apregoa Peter Senge e sua quinta disciplina, a partir de uma mudança radical de mentalidade – Metanoia, que dizeres dos gregos significava literalmente transcendência, em direção de um modelo mais profundo do ser humano. Onde certos fenômenos “são”.
Talvez a nossa maior dificuldade paradigmática, seja reconhecer o racional como limitado, pois o postulamos como com capacidade infinita de entendimento sobre tudo, se não é possível o conhecimento no modelo de agora racionalmente o será em um modelo no futuro. Vivenciamos a superestimação da racionalidade do homem. Concordamos, nos termos de Prigogine, que a ideia de uma racionalidade limitada exprima melhor nossa condição. Vivemos num mundo pluralístico e devemos aceitá-lo com uma racionalidade limitada .
Deste modo, o estudo da parapsicologia pode ser feito por métodos quantitativos estatísticos-matemáticos e também por métodos qualitativos (reconhecer os casos em que não é possível nem é indicado quantificar), apesar de termos nos agarrados tremendamente a verificabilidade e repetibilidade, em oposição ao caráter espontâneo e aleatório de psi bem como não sabermos ainda lidar com os aspectos da “experiência direta”, onde não existe sujeito nem objeto.
Certos parapsicólogos, como Ramakrishna Rao, considera a existência de duas linha básicas de modelos em parapsicologia, que nos dá um raio-X, da mudança de percepção que estamos atravessando:
CAUSAIS(INTERACIONISTAS) IndependênciaSujeito-AlvoInteraçãoSujeito-Alvo MODELOSFÍSICOS(limites-psi) ENTIDADES TRANSCENDEMESPAÇO TEMPO(Psicons de Sarti e Psitrons de Dobbs)NOVOS MEIOS(Hiperespaço)
MODELOSNÃO-FÍSICOS PROCESSO DE SELEÇÃO EM PSIHIPÓTESES DE PROJEÇÃO(Postula entidades como mente,princípio de operação e sua fonte energética no indivíduo e não no alvo)
ACAUSAISou INTUISTAS IdentificaçãoSujeito-Alvo(nem distâncianem tempo p/atravessar) SUJEITO COMO MICROCOSMO POTENCIALMENTECAPAZ DE REFLETIR TODO O COSMOONISCIÊNCIA INERENTE AO VERDADEIRO SER
Rao afirma que em ambos modelos estamos provendo uma mudança de paradigma com relação ao homem e seu lugar natureza.
Estamos ainda no turbilhão das mudanças que estão por vir.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Qual o norte a seguir no estudo e pesquisa da parapsicologia? Será que existira algum dia um paradigma parapsicológico para o conhecimento humano? ou tudo continuará a ser “emprestado” de outras ciências?
As pesquisas em parapsicologia têm sido escassas, e de base eminente quantitativa. Não esta engajada com a sociedade de consumo e na produção de bens , nem está embasada em teorias, e praticamente não recebe recursos financeiros para pesquisas, como se esperar dela alguma contribuição significativa?
Há parapsicólogos como de Krippner e Hovelman (Parapsychology Review,17 (6),1-5,1986) que afirmam que por utilizar metodologia científica ortodoxa, a parapsicologia não levará a descobertas revolucionárias, ainda que as pesquisas produzidas proporcionem dados que impliquem revisão de paradigmas; sua proposta para o futuro da parapsicologia, indica trilhas por caminhos conhecidos e que isso leve paulatinamente a revisão de paradigmas. Acreditam que as diversas propostas de interpretação sobre Psi, tais como interação de campos de natureza ignorada, enganos na interpretação de dos dados estatísticos, efeitos de expectativas interpessoais etc, podem genuinamente contribuir para o conhecimento científico. É posição bastante cautelosa e segura.
A medida que a sociedade passe a adotar valores mais qualitativos, humanísticos, poderemos ter mais recursos para o estudo das potencialidades humanas, dentro de modelos que não sejam nitidamente organicistas, e daí se possa avançar a respeito da independência psi sobre espaço e tempo, da mente extrapolar o cérebro, da psi existir nos processos básicos de organização dos seres vivos, se há nova força da natureza no PK, qual a fonte energética, quais os fatores que afetam a intencionalidade e a seletividade dos fenômenos paranormais.
O modelo intuista abordado por Rao, parece ser o mais adequado como o paradigma epistêmico anteriormente citado, por remover a relação dual (sujeito-objeto) majoritária abordada nos fenômenos parapsicológicos.
Não devemos deixar de estar atentos para os novos modelos que rompam nossas crenças atuais sobre o universo, talvez levando a consciência como variável interativa importante , tais como:
- universo holográfico e ordem implícita de Pribam e Bohm
· paradigma sistêmico, ecológico, epistêmico de Capra
· Campos-M (bioelétricos) e campos-M
· Sincronicidade (coincidências significativas) e arquétipos de Carl JungNossa expectativa é que esses novos fatos, modelos e hipóteses verifiquem a viabilidade da inclusão de um paradigma psi no conhecimento científico.
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