O fantasma da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco

JORNAL DO COMMERCIO

Recife – sexta-feira, 10 de janeiro de 1975

Tipo misterioso assiste aula de Direito Civil

A aula de Direito Civil minis­trada pelo professor Rosa e Silva, na Faculdade de Direito da Univer­sidade Federal de Pernambuco, foi encerrada antes do tempo, porque, em meio às explicações, um estra­nho personagem sentou-se ao lado do mestre, assistindo aos ensina­mentos junto com 70 alunos.

No decorrer da aula a estranha figura manteve contatos com al­guns jovens estudantes, fornecendo a uma aluna a sua identidade, como sendo Santana Filho e o respectivo endereço, (Estrada Velha de Água Fria) sem que ninguém percebes­se que se tratava de uma pessoa já falecida.

FISIONOMIA

Conforme descrição feita pelos estudantes e pelo próprio professor Rosa e Silva, o estranho era alto, magro, com a fisionomia cansada, anémico, usava roupa e sapatos pretos, bem limpos, cabelos bem penteados e lustrosos.

As mãos, segundo ainda os mais observadores, continham cicatrizes e os seus longos braços se movimen­tavam constantemente durante a aula, pelos incessantes gestos de le­var o cigarro à boca e alisar os ca­belos.

NERVOSO

Como não é permitido a ninguém permanecer ao lado do pro­fessor durante as aulas, o catedrá­tico Rosa e Silva decidiu encerrá-la mais cedo e, assim, poder expul­sar o intruso que estava ao seu lado, talvez até “com o intuito de prati­car um atentado’’.

Nessa ocasião, quando se dirigia ao estranho para convidá-lo a sair do recinto, ele estendeu a mão e, ao apertá-la, verificando enorme frie­za, o professor Rosa e Silva, perce­beu que se tratava de algo sobrena­tural.

SUMIU

Em seguida, ouviu-se um leve es­tampido e o personagem sumiu co­mo por encanto. Posteriormente, consultados o bedel e o porteiro, eles asseguraram ao professor Rosa e Silva que pelos portões não havia passado ninguém sem a apresenta­ção do documento de identidade.

JORNAL DO COMMERCIO
Sábado, 11 de janeiro de 1975

Fantasma parece com um antigo servente morto

Antigos funcionários da Fa­culdade de Direito da UPP identificaram o estranho per­sonagem visto ao lado do pro­fessor Rosa e Silva, durante uma aula, como sendo o ser­vente José Francisco de Sou­za, falecido na hora do expe­diente e que gostava de ves­tir um terço à moda dos pro­fessores e posar na cátedra.

O professor Rosa e Silva con­firmou a aparição e disse que pedirá à Secretaria de Segurança uma vistoria no prédio, devido à possibili­dade de o estranho estar mo­rando em qualquer esconde­rijo do velho prédio.

Fantasma da Faculdade de Direito identificado como velho servente já falecido

Os funcionários da Faculda­de de Direito estão apavorados com a aparição surgida na aula do Curso de verão, do professor Rosa e Silva, e os mais antigos identificaram o “fantasma” como sendo do servente José Francisco de Souza, que morreu na hora do expediente, há alguns anos. Ele gostava de vestir à moda dos professores e posar, como se assim fosse, na mesa dos mestres.

Para os mais antigos a aparição não é novidade, entretanto, temem ainda falar no assunto para não serem ridicularizados. Enquanto isso uma pesquisa está sendo rea­lizada nos fichários da Facul­dade, para ver se identificam um aluno com o nome d« Gláuber Santana Filho.

APARIÇÃO

Segundo os antigos funcionários da Faculdade de Direito, o servente José Francisco de Souza era alcoólatra, tendo sido afastado da Maçonaria, quando passou a levar uma vida muito anormal dentro da escola. Na sala onde se reali­zava o Curso de Verão, fun­cionava antigamente o restau­rante da Faculdade, e os funcionários antigos disseram que as constantes aparições, ali, fizeram inclusive os emprega­dos adoecer. A sala de aulas fica perto da sala da Secre­taria do Mestrado, dando pa­ra um grande corredor cujo aspecto sombrio, notadamente no período de férias dos estu­dantes, transforma-se num ambiente que apavora”.

Vários fatos intrigantes e misteriosos são imputados ao servente José Francisco Souza, quando em vida e após sua morte. Um deles é a abertura das portas — mesmo fechadas a chave — quando ele se aproximava. ’’Era um médium o homem”, afirmam os fun­cionários, que pediram para omitir seus nomes já que a direção da Faculdade está proibindo aos servidores falar no assunto, muito embora tenha determinado ao arquivista Sizenando de Barros procurar identificar um estudante com nome de Gláuber Santana Filho, como ele disse chamar-se durante a entrevista com o professor Rosa e Silva. Se­gundo os serventes, do local em que ele se encontrava, fo­ram atiradas muitas pontas de cigarro, porém, passado o rebuliço, quando os alunos e o professor as procuraram, o local estava completamente limpo.

Uma aluna, na tarde de on­tem, encontrou o personagem misterioso numa fila de ôni­bus, ocasião em que ele disse que voltaria à Faculdade para assistir à aula de outro professor. O professor Rosa « Silva confirmou a aparição e afirmou que pedirá à Secretaria de Segurança que vistorie o prédio, dada a possibilidade de encontrar o estranho, que pode estar residindo em qual­quer esconderijo do imóvel.

O aspecto de professor é que mais intriga os funcionários e o próprio mestre Rosa e Silva. Ê que o servente José Francis­co de Souza tinha realmente essa mania, o que faz os mais antigos admitirem a hipótese da aparição do antigo compa­nheiro de trabalho.

 

O NOSSO FANTASMA

As madrugadas de uma re­dação de jornal não são ne­cessariamente monótonas. Muitos companheiros, mesmo sem nunca haverem fumado, ou talvez por isso mesmo, senti­ram repentinamente a fragrância inconfundível de um bom charuto. Pelas escadas que descem do 6º andar, passos macios e pigarros de fuman­te, mas tudo invisível, ainda que a fragrância fosse tão real como as batidas aceleradas do coração amedrontado do plan­tonista.

Na sala e redação era possí­vel sentir, disseram, vários, que alguém caminhava lenta­mente. A sala de teletipos, que emite um ruído abafado, pois tem portas de vidro, sempre fechadas por causa do ar condicionado, mudava o ritmo das batidas, que ficavam de repente estridentes, como se alguém houvesse aberto a porta.

Era o cuidado de um velho profissional que lidou anos a fio, madrugada a dentro, com os noticiários da AP e da UPI. Ele vinha ver seus teleti­pos que retiraram da velha sa­la do 6’ andar. Seu charuto era o mesmo, o cuidado tam­bém, os mesmos passos macios. Uma única diferença, o velho Kruse morreu há mui­tos anos. E nesta onda de fantasmas, por que não falar dos nossos, um bom fantasma simpático como o bonachão Fantasma da ópera.

 

DlÁRIO DA NOITE

Terça-feira, 14 de janeiro de 1975

Quem será o fantasma que quer ser doutor?

O fantasma que abalou os estudantes da Faculdade de Direito que participavam na semana passada de um curso de férias, continua movimentando o Recife e suscitando dúvi­das e novas indagações. Para esclarecer a verdade dos fatos é que o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, dirigido por Walter da Rosa Borges, gravou o depoimento do professor Rosa e Silva, que apertou duas vezes a mão gélida do personagem do além e vai cair em campo ouvindo novos depoimentos. Será o fantasma da Faculdade de Direito um psicopata ou um agente ’’theta”, vindo de outro mundo? (leia 3a. página do I caderno).

 

JORNAL DO COMMERCIO

Terça-feira, 14 de janeiro de 1975

Aparição agora na biblioteca da Faculdade

O professor Josival Barreto, secretário da Faculdade de Direito da UFPe, revelou que a primeira aparição do posisivel fantasma na escola foi ao pro­fessor José Ivo Aroucha, que não deu importância ao fato. Seguiu-se o encontro com o professor Rosa e Silva. O terceiro foi com Eliane Pontual e ontem ele foi visto na bibliote­ca pelo presidente do Diretório Acadêmico.

 

FACULDADE DE DIREITO

 

Com relação ao aparecimento de um fantasma na Faculdade de Direito, nin­guém põe em dúvida as declarações do pro­fessor Rosa e Silva, cuja versão dos fatos coincide com a de íxxios os alunos que se encontravam na sala. O que a direção da Faculdade está apurando no momento é se o fato é um fenômeno ou se realmente al­guém tenha entrado sem ser percebido pela vigilancia.

Segundo o professor Josival Barreto, se­cretário da Faculdade, a pessoa que aparece na aula do professor Rosa e Silva e disse chamar-se Flautor Santana Filho, sen­do filho de um ex-aluno da Faculdade que fora assassinado, não consta da relação de ex-alunos. Frisa o professor Josival, que do catálogo da Faculdade só se encontram os nomes de alunos que concluíram o curso. Se este rapaz abandonou o curso, evidente­mente o seu nome não consta dos nossos registos. Acentuo, ainda, que esta identidade foi fornecida a aluna Eliane pontual, pelo próprio fantasma que ela se encontrou no interior de um ônibus.

Ressalta o professor Josival, que, com esta aparição, totalizam quatro encontros entre o possível fantasma e pessoas ligadas à Faculdade. O primeiro encontro foi com o professor José Ivo Aroucha que não deu maior importância ao fato. No dia seguinte, ocorreu o encontro com o professor Rosa e Silva. O terceiro foi com Eliane Pontual, e finalmente, foi visto às 17h na biblioteca da Faculdade, pelo presidente do diretório acadêmico.

 

PROVIDÊNCIAS

 

Esclarece o secretário da Faculdade, que a primeira providência adotada, foi a de in­tensificar a vigilância do prédio que tem permanecido apenas com uma das portas frontais abertas estando fechada a saída dos fundos.

Uma comissão competente de médicos, engenheiros, e outros profissionais liberais, liderados pelo promotor Walter da Rosa Bor­ges, presidente de uma instituição de estu­dos parapsicológicos, está interessado em co­nhecer o fenômeno para uma interpretação científica. Depoimentos não só de alunos, como também de professores e funcionários foram gravados e tomadas fotografias da sala e dos locais onde teria aparecido o fantasma.

OPINIÕES

Para o psiquiatra Geraldo Marques, estes fenômenos não são explicados pela psiquia­tria, uma vez que o mesmo ultrapassa o atual conhecimento cientifico e se todas as pessoas que apresentam sintomas dessa na­tureza fossem vistas apenas como seres possuídos por espíritos, teríamos uma infinida­de de desajustados.

Explica o psiquiatra que dentro, da pró­pria religião católica, pessoas hoje santifica­das, foram na época, consideradas como possuídas pelo demônio, Joana D’Arc condenada à fogueira foi uma delas. A outra, Santa Terezinha, que dormia numa cama dura e se mortificava poderia ser considerada num sentido amplo como histérica, contudo é santa. São fenômenos, diz o psiquiatra, que foge ao nosso conhecimento, daí a psiquia­tria negar a explicação destas manifesta­ções.

O próprio psiquiatra declara que já passou por uma dessas experiências e narra que tendo passado cinco anos em São Pau­lo, ao regressar da capital bandeirante, foi visitar o snr. Otávio de Freitas Júnior, de quem é grande amigo.

Ao chegar a sua residência diz o psiquiatra, ele não se encontrava e na ocasião foi recebido pela mãe do snr. Otávio com quem manteve longa palestra, e só depois de che­gar a sua residência é que se lembrou ter ela morrido há dois anos atrás.

Zélia Ribeiro, vidente e bastante con­ceituada nos meios do espiritismo, explica ser este fenômeno natural para os que se dedicam a religião de Allan Kardec, acen­tuando a tendência destas aparições, irão se tornar mais frequentes daqui para o fim do século.

A sua afirmativa, é baseada em livros da autoria do próprio Allan Kardec e de André Luiz, psicografado por Chico Xavier. Afirma também que a ocorrência da Facul­dade de Direito, deve ter sido provocado por alguém com forte mediunidade, cujo fluxo atraia aquele espírito até o local. Sa­lienta também que não vê nenhuma relação entre o fenômeno e o filme o “Exorcista” pois, para ela, o exorcismo é uma fonte de obsessão por parte de espíritos.

 

Fantasma da Faculdade pode ser psicopata

O presidente do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, Valter da Rosa Borges, declarou que o fato ocorrido na Faculdade de Direito, apesar de ainda es­tar na fase inicial da pesqui­sa, tudo leva a crer que se trata de um caso terreno e não de fenômeno paranormal, embora essa hipótese não esteja afastada. Estão sendo tomados diversos depoimentos e, ao que parece, o fantasma não passa de um psicopata.

PARAPSICÓLOGO

Estudioso dá explicação sobre estranho fenômeno

 

O fenômeno que vem ocorrendo numa humilde residência localizada no morro de Caixa D’água, desperta no momento a atenção não só dos es­piritas como também daqueles que se dedicam ao estudo de fenômenos paranormais ou parapsicológicos.

Enquanto os estudiosos não che­gam a uma conclusão, a residência do snr. Argentino Ferreira da’ Silva con­tinua despertando a atenção dos curiosos, e uma verdadeira romaria é realizada em direção de sua casa, tendo sido necessário a vigilância de uma rádio-patrulha para evitar maiores incidentes.

PARAPSICOLOGIA

Mesmo sem conhecer de perto o que ocorre em Caixa D’Água. tendo conhecimento somente através da im­prensa, o estudioso Válter Rosa Bor­ges, presidente do Instituto Pernam­bucano de Pesquisas Psicobiofísicas declarou tratar-se, à primeira vista, de um fenômeno ’’poltergeist”, ou se­ja, fantasma batedor.

Esclarece o promotor que esse fenómeno é pouco comum e sempre se produzem na presença de jovens púberes, isto em virtude de ocorrer nesta fase de puberdade, um discutí­vel desequilibrio fisiológico. Certos adolescentes esteriorizam, involuntá­ria e inconscientemente, uma forma de energia ainda desconhecida pela ciência, a que se deu o nome de telergia.

Acentua o promotor ser esta telergia que produz Os insólitos fenôme­nos de pancadas, deslocamentos de objetos. barulho e outras manifesta­ções.

 

Jornal do Commercio

15 de janeiro

 

Rosa Borges estuda a aparição na Faculdade

Para o presidente do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, promotor Valter da Rosa Borges, o fato ocorrido na Faculdade de Direito, ape­sar de estar ainda na fase inicial de pesquisa, leva a crer que se trata de um ca­so terreno e não de um fenômeno paranormal. Contudo, esta segunda hi­pótese não será afastada.

Os trabalhos de pesqui­sas, segundo o promotor, estão por enquanto na fa­se de tomadas de depoi­mentos das pessoas mais diretamente envolvidas com o caso e já foram ouvidos professores, alunos e fun­cionários da Faculdade, sendo que de um modo geral, todos confirmam a presen­ça de um estranho na sa­la de aula.

DEPOIMENTOS

Todos os depoimentos foram gravados em fitas magnéticas — para um estudo mais aprofundado — onde estão as declara­ções do secretário da Fa­culdade, professor Josival Barreto, um funcionário que na ocasião se encon­trava no único portão aberto do prédio, com au­torização de proibir a en­trada de qualquer estra­nho; do professor Rosa e Silva, que prestou um de­poimento bastante circunstanciado, além do depoi­mento prestado pelo presi­dente do Diretório Acadê­mico que teria visto o es­tranho personagem, um dia antes do mesmo ter ingressado na sala de aula.

Acentuou o promotor Válter Rosa Borges que seria prematuro afirmar que se trata de um fenô­meno paranormal. A hi­pótese prioritária, segundo ele, seria a de uma pessoa dotada de personalidade psicopata tivesse burla­do a vigilância do funcio­nário encarregado de con­trolar o portão, teria in­vadido o recinto da sala de aula e depois ao se retirar, ter conseguido ocultar-se em uma das dependên­cias do prédio.

Esta hipótese, afirma o promotor, não significa que esteja afastada a pos­sibilidade de um fenômeno paranormal, por esta razão, é que o Instituto está pro­curando aprofundar a pes­quisa para elucidação defi­nitiva desse caso.

METODOLOGIA

Esclarece o promotor que a metodologia geralmente adotada pelos parapsicólogos consiste em acompa­nhar a evolução dos fenô­menos, paranormais sem interferir diretamente nos mesmos quando se trata de casos espontâneos, como o que ocorre atualmente na Faculdade de Direito.

Já em relação aos casos experimentais, frisa o pro­motor, os parapsicólogos adotam o método quanti­tativo, estatístico e mate­mático e nestes casos, os fenômenos obtidos estão muito aquém daqueles que se manifestam esponta­neamente isto em virtude da natureza e das condi­ções em que ocorrem o que tornam difícil o controle, sob o ponto de vista ci­entífico.

DIFICULDADES

Uma das dificuldades apontadas pelo estudioso para a realização da pes­quisa, é justamente a fal­ta de colaboração “compreensível” das pessoas dire­tamente ou indiretamente envolvidas em um possível fenômeno paranormal.

CAMPO

Para fazer uma investigação completa do fenômeno ocorrido na Faculdade de Direito, continuou Walter da Rosa Borges, vamos cair em campo, ouvir outras pessoas; o presidente do Diretório, a estudan­te abordada pelo personagem mis­terioso e o bedel que será ouvido pela segunda vez.

 

— O desaparecimento do homem misterioso foi tão sutil que o Secretário da Faculdade de Direito, advogado Josival Barreto, nem per­cebeu.

 

Sobre a materialização, disse Walter da Rosa Borges ser um fato raríssimo, principalmente da ma­neira como se processou, pois ge­ralmente ocorre à meia-luz. Para que haja a materialização é necessário um ’’sensitivo” presente que em­preste matéria sob forma de ener­gia (telergia em Parapsicologia), além de outras condições que ain­da precisam ser investigadas.

A literatura paranormal — explicou Walter — registra alguns casos dessa natureza, mas discutí­veis.
— Se esse personagem era de carne e osso só podia ser um psicopata para se comportar daquela maneira. Pensar em alucinação coleti­va também é impossível porque não há alucinação coletiva, refutada pe­los hipnólogos modernos que só admitem alucinação individual.
Como o fato foi realmente objetivo, o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas vai investi­gar se a “entidade” (o fantasma) é desse mundo ou um agente “theta” (paranormal).

TRABALHO

O Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas ainda é desconhecido por muita gente no Recife. Tem somente 25 membros e é dirigido por Walter da Rosa Bor­ges. Seu trabalho se cinge ao es­tudo e a pesquisa dos fenômenos paranormais e nesse particular, realiza no último sábado de cada mês um seminário. Assim, já realizou se­minários sobre Telepatia, Clarivi­dência e Precognição.

Este mês sua reunião mensal versará sobre Parabiologia, Levita­ção, Estigmatização e Curas Paranormais. Em março, realizará o se­gundo Curso de Estudos Paranormais, dando, ao mesmo tempo, con­tinuidade ao seu programa Ciência do Espírito, apresentado todos os domingos, às 18h30m, pela Televisão Universitária.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO

Sexta-feira, 17 de janeiro de 1975

 

“Fantasma” é localizado e dará aula hoje

O “fantasma” que apa­receu na Faculdade de Di­reito existe mesmo e vai dar aula hoje, às 18 horas. Ele foi localizado por es­tudantes da Faculdade e por dois repórteres do DIARIO DE PERNAMBUCO. Chama-se Bertoldo Emydio de Santana Júnior. Tem 33 anos e se con­sidera um ótimo professor de Direito Civil. É filho do ex- promotor público Bertoldo Emygdio, morto há 11 anos, vítima de enfarte.

O “fantasma” Bertoldo Emydio dará aula hoje na Faculdade de Direito

 

HOJE TEM AULA

Bertoldo: estive na Faculdade para dar aula

Bertoldo vai se apresentar hoje, às 18 horas, na Faculdade, para dar mais uma “aula” à turma que o “colega” Rosa e Silva é profes­sor de Direito Civil.

Ao receber ontem, em sua residência, um grupo de estudantes e a equipe do Diário foi afirmando: “vocês estão com as mãos frias… O que é que há? Gostaram da aula? Eu estive mesmo na faculdade. Aliás, sempre vou por lá. O “fantasma” é outro. Acho que quem apareceu foi o Democrinho (Demócrito de Sou­za Filho — assassinado em 1945 quando, da sa­cada do Diário participava de um comício em defesa da Democracia).


SOFRIMENTO DE MÃE

  1. Maria Elisa Santana — viúva do pro­motor público Bertoldo Emygdio de Santana, falecido há 11 anos atrás, sofre muito com a situação do filho. Ele ficou assim após a mor­te do pai, vitimado por um enfarte. Ela já o internou em diversas casas psiquiátricas. Mas o problema é que o filho dificilmente toma os remédios ministrados.

É um rapaz habilidoso e quando está em situação normal demonstra logo suas aptidões. Técnico industrial em Máquinas e Motores, trabalha na Coperbo. Quando terminou o curso médio tentou o vestibular de Engenharia na Politécnica, ficando apenas numa matéria. Depois fez o vestibular de Direito em Caruaru, mas, igualmente, não foi bem-sucedido.

A ILUSÃO DE BERTOLDO

O desejo de Bertoldo ao tempo em que o pai era vivo talvez fosse o de ser professor na tradicional Faculdade de Direito do Recife, de tão honrosas tradições. A morte do genitor foi um golpe muito cruel em sua existência e hoje ele, na sua fantasia, vive a doce ilusão como “catedrático de Direito Civil” e, nas horas va­gas, “pintor”, não havendo razão para que o tomem como ‘um fantasma”. Bertoldo existe. Em carne e osso. Hoje, às 18 horas, ele es­tará na Faculdade de Direito do Recife, para mais um encontro com seus “alunos”.

 

A pesquisa inconclusa com Edson Queiroz

 

Em 1982, o médium espírita Edson Queiroz, acompanhado do então Presidente da Federação Espírita de Pernambuco, Holmes Vicenzi, compareceu a residência de Valter da Rosa Borges para solicitar que o IPPP investigasse as curas do “Dr. Fritz”.

Nos dias 19 e 21 de junho desse mesmo ano, reuniram-se, na sede da Federação Espírita de Pernambuco, na Avenida João de Barros, bairro do Espinheiro, os diretores do IPPP e daquela instituição espírita, contando ainda com a participação do parapsicólogo Pedro McGregor, radicado nos Estados Unidos. Na ocasião, foi concluído um acordo para a investigação do médium Edson Queiroz, quando estivesse agindo sob a influência do Espírito “Dr. Fritz”. Dias depois, uma nova reunião sobre o mesmo assunto se realizou na sede do IPPP.

Finalmente, na condição de Diretor Científico do I.P.P.P., Valter da Rosa Borges designou Geraldo Fonseca Lima, médico-cirurgião, para dirigir e coordenar as pesquisas das curas do “Dr. Fritz”, na conformidade do roteiro metodológico científico proposto pelo IPPP.

A Federação Espírita Pernambucana, porém, não concordou com o projeto de investigação científica, alegando que ao “Dr. Fritz” caberia a orientação da pesquisa.

O I.P.P.P. não acatou a posição da Federação Espírita de Pernambuco e, no dia 27 de setembro, Ivo Cyro Caruso, então Secretário do IPPP comunicou, por ofício, ao Presidente da Federação, Holmes Vicenzi, o cancelamento da investigação da paranormalidade de Edson Queiroz, por determinação do Diretor do Departamento Científico.

No ano seguinte, iniciou-se uma polêmica pública entre o IPPP e a Federação Espírita de Pernambuco sobre o médium Edson Queiroz.

O Diário de Pernambuco, nas suas edições de 13, 14, 17, 24, 26 e 28 de abril e de 12 de maio deu ampla divulgação ao debate, envolvendo o Presidente da FEP e o Diretor do Departamento Científico do I.P.P.P.

A polêmica jornalística desenvolveu-se na seguinte ordem cronológica.

No dia 13 de abril de 1983, o Diário de Pernambuco entrevistou Valter da Rosa Borges sobre “as cirurgias mediúnicas realizadas pelo médico e médium Edson Queiroz, que diz incorporar o espírito de um médico alemão, o famoso “Dr. Fritz”.

Valter da Rosa Borges esclareceu que o IPPP não tinha condições de atestar a validade das “curas mediúnicas” de Edson Queiroz, porque a Federação Espírita Pernambucana não aceitou que se fizesse uma investigação científica dos fenômenos apresentados pelo referido médium. Esclareceu, ainda, que fora a própria Federação que solicitara do Instituto a prestação de assistência científica na investigação das potencialidades do médium Edson Queiroz.

E informou:

“Após vários contatos realizados na sede do I.P.P.P. e da FEP, onde se discutiram amplamente os detalhes dessa assistência científica, apresentamos o nosso modelo de pesquisa a ser adotado por ocasião da investigação dos fenômenos. Infelizmente, a FEP não concordou com o modelo apresentado, o que nos levou a cancelar o referido acordo.”

Disse ainda:

“Havíamos criado uma comissão médica para, sob orientação do nosso companheiro, médico-cirurgião Geraldo Machado Fonseca Lima, investigar e acompanhar os casos de cura realizados pelo Dr. Edson Queiroz. Com esse procedimento poderíamos averiguar, em cada caso concreto, a realidade ou não da cura paranormal.”

A comissão médica criada pelo Instituto estaria encarregada de acompanhar os casos novos, exigindo, inicialmente, o diagnóstico de cada paciente, para constatar se se tratava de enfermidade orgânica ou, simplesmente, de mera manifestação psicossomática.

Em seguida, o paciente seria submetido a tratamento espiritual, findo o qual seria reexaminado pela comissão médica do I.P.P.P. para se averiguar se houve regressão da enfermidade ou mesmo a sua cura completa.

Finalmente, concluiu:

“Infelizmente, ficamos impossibilitados de pesquisar o médium Edson Queiroz com os padrões de pesquisa científica, o que nos leva a não opinar sobre o mérito das curas que vem realizando, conforme o amplo noticiário da imprensa local e nacional.”

 

Em 14 de abril de 1983, o Diário de Pernambuco promoveu a polêmica, publicando a seguinte matéria

 

            “O sr. Holmes Vicenzi, presidente da Federação Espírita Pernambucana, não concorda com as declarações do sr. Valter da Rosa Borges, presidente do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, publicadas ontem no Diário de Pernambuco.

Eis sua opinião, na íntegra:

“Como diretor da Federação Espírita Pernambucana e tendo tomado conhecimento de certos pronunciamentos partidos do IPPP com referência a um impedimento de verificações sobre o fenômeno espírita que vem ocorrendo em nossa entidade, desejamos esclarecer que:

1o) As portas da Federação Espírita Pernambucana estão e estarão sempre abertas para verificações, fotografias, filmagens e outros meios de comprovação e pesquisa.

2o) Todavia, os fenômenos espíritas de cirurgias não podem ficar à mercê do modelo científico convencional no que diz respeito a pesquisa paranormal dos efeitos fluídicos espirituais oriundos e manipulados pelos espíritos pois a ciência cética e materialista não dispõe de recursos para atestar os processos usados pelos desencarnados, por enquanto.

3o) A apresentação de enfermos portadores de males incuráveis e em avançado estado de enfermidade não podem servir de teste de curas por parte dos espíritos.

Exemplo: 20 casos de câncer escolhidos a dedo em grau elevado como propôs o IPPP, somente um número bem reduzido poderia apresentar resultados positivos o que não serviria de base em face da grande disparidade de índice de cura.

4o) A pesquisa que o IPPP iniciou não foi concluída porque os pesquisadores não se submeteram às normas recomendadas pelo trabalho religioso, científico-espírita. Mesmo entendendo as naturais dúvidas cartesianas de algumas pessoas. À luz das pessoas leigas as informações auferidas confundiriam a opinião pública, sem nenhum resultado para o esclarecimento concreto.

5o) Há bem poucos dias o dr. Hernani Guimarães Andrade (presidente do Instituto de Pesquisas Psicobiofísicas de São Paulo) respeitado em todo o  mundo, na sede da Federação Espírita de São  Paulo, participou, pesquisou e testificou confirmando as atividades extrapsíquicas desenvolvidas pela Federação Espírita Pernambucana e foi de tal forma a repercussão desse trabalho que ele, com todo respeito que desfruta internacionalmente, se propôs a fazer o prefácio de um livro científico que dentro de algumas semanas será distribuído aos quatro cantos deste país.

Há inclusive solicitação de equipe de cientistas norte-americanos para converter o livro à língua inglesa. (Documentação que irá reforçar o trabalho cinematográfico que esta equipe fez em dezembro último com a equipe do Dr. Fritz em Pernambuco).”

 

Estabelecido o debate, o Diário de Pernambuco, na sua edição de 15 de abril de 1983, publicou a contestação de Valter da Rosa Borges à Federação Espírita Pernambucana.

 

            “O presidente do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, professor Valter Rosa Borges, contestou ontem, as declarações do presidente da Federação Espírita de Pernambuco, sr. Holmes Vicenzi, discordando do teor de uma entrevista sua concedida ao DIÁRIO DE PERNAMBUCO e publicada anteontem, a respeito do fenômeno espírita do médico e médium Edson Queiroz. Na íntegra a contestação de Rosa Borges:

“Infelizmente, o sr. Holmes Vicenzi não leu, com a devida atenção, o que declaramos no Diário de Pernambuco, em sua edição do dia 13 deste mês.

Não afirmamos e nem negamos a autenticidade das curas paranormais atribuídas ao médico-médium Edson Queiroz. Apenas esclarecemos que ficamos impossibilitados de pesquisar esses fenômenos porque a Federação Espírita Pernambucana não permitiu a utilização da metodologia científica nas investigações das curas paranormais.

Na condição de crente fervoroso, o sr. Holmes Vicenzi fez algumas afirmativas que estão a merecer reparo.

Em primeiro lugar, queremos informar ao presidente da Federação Espírita Pernambucana que o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas jamais se pronunciou sobre a frustrada pesquisa com o médium Edson Queiroz.

Em segundo lugar, desejaríamos que o sr. Holmes Vicenzi apontasse, na proposta de pesquisa do nosso Instituto, a exigência de investigar “enfermos portadores de males incuráveis e em avançado estado de enfermidade”, por exemplo “20 casos de câncer escolhidos a dedo em grau elevado”.

Em terceiro lugar, era de uma evidência meridiana que a equipe do I.P.P.P. não se submeteria, em hipótese alguma “às normas recomendadas pelo trabalho religioso científico-espírita”. Aliás, ficaríamos imensamente gratos, se o sr. Holmes Vicenzi nos indicasse, na codificação kardecista, o procedimento metodológico dessa pesquisa.

Em quarto lugar, também estimaríamos que o presidente da F.E.P. nos demonstrasse a existência de um modelo científico não convencional. Se o Espiritismo é uma ciência, tem de utilizar a metodologia científica. E, se o Espiritismo não emprega o método científico, então ele não é uma ciência. Ora se Allan Kardec, como cientista, diz ter provado a ação dos espíritos nos fenômenos paranormais, é porque, ao contrário do que pensa o sr. Holmes Vicenzi, os eventos dessa natureza podem ser investigados pela “ciência cética e materialista”.

Não nos adianta a Federação Espírita Pernambucana abrir as suas portas, se continuar no firme propósito de cercear a investigação científica, submetendo-a a tutela de “orientações espirituais”. O melhor, até o momento, é preservar a distância que nos separa, num clima de respeito e franca cordialidade”.

 

No dia 17 de abril de 1983, Valter da Rosa Borges foi entrevistado pelo jornalista Jones Melo, do Diário de Pernambuco, sobre o problema da mediunidade e, após tecer esclarecimentos sobre aquele fenômeno, asseverou:

“Por isso, é sempre recomendável que o médium fique sob a orientação e o controle de pesquisadores experimentados, a salvo de leigos e de místicos, os quais, por seu despreparo científico – e também fanatismo religioso – poderão ocasionar-lhe sérios prejuízos físicos e psicológicos.

É de suma importância, ainda, esclarecer o médium a respeito da natureza de sua faculdade paranormal, evitando ou combatendo as naturais manifestações do seu narcisismo, decorrente da falsa ideia de que ele é um ser privilegiado. A partir do momento em que o médium é afetado pela doença do “estrelismo”, torna-se refratário a qualquer tipo de investigação científica dos seus poderes, com o receio, consciente ou inconsciente, de comprometer o seu status mediúnico.”

 

No dia 24 de abril, o Diário de Pernambuco, no visível propósito de acirrar a polêmica, voltou a entrevistar Valter da Rosa Borges, na condição de parapsicólogo e de promotor de justiça, sobre a natureza das curas mediúnicas e as consequências jurídicas das cirurgias praticadas por Edson Queiroz.

Em dado momento da entrevista, o jornalista lhe fez a seguinte pergunta;

“Responda-me, não como parapsicólogo, mas como promotor público: pelo nosso Código Penal, o médium cirurgião que causar lesões físicas em seus pacientes é passível de punição?”

Valter da Rosa Borges respondeu:

“É evidente. Mesmo que o médium seja médico, ele age, ainda que em estado alterado de consciência, na condição de médico. Ou, em outras palavras: ele não deixa de ser médico, quando pratica uma ação médica, mesmo que não esteja consciente do que faz. A medicina não está obrigada a aceitar a ação de um espírito “incorporado” num médico, agindo no seu lugar e com o seu consentimento. O Código Penal não cogita da responsabilidade penal do espírito. E a própria parapsicologia ainda encara o problema da sobrevivência pessoal como respeitável hipótese de trabalho.

Logo, se o médium médico age inconscientemente, porque acredita estar sob o controle de um espírito, a sua fé particular não modifica a perspectiva médica e jurídica da questão. A sua ação inconsciente permitida se configura como negligência e imprudência. Portanto, se ocasionar lesão corporal ou mesmo a morte de um paciente, responderá por crime culposo.”

Nova pergunta do jornalista:

“- Então, esse é um óbice irremovível da cura paranormal?”

Valter da Rosa Borges respondeu:

“Sob a modalidade de cirurgia – e também de prescrição medicamentosa -, sim. Com isso, não me estou opondo à atividade dos médiuns cirurgiões, mas alertando-os sobre os possíveis erros que possam cometer e das consequências que deles resultarão à luz do Código Penal. Assim, para preservar-se da possibilidade de erro, deve o médium ser supervisionado por um médico que, em última instância, decidirá acerca do tratamento espiritual recomendado pelo espírito “incorporado”, por mais respeitável que seja o nome do médico do Além. Se o médico da Terra, por qualquer motivo de ordem pessoal, concordar com o seu colega do Além, estará, sozinho, assumindo a responsabilidade do tratamento indicado.

Há modalidades, porém, de ação paranormal curativa que não contrariam as normas penais e nem as regras terapêuticas, sem a mínima possibilidade de risco para as pessoas enfermas. E os resultados são, não raro, mais surpreendentes do que os da cirurgia paranormal.

Trata-se, contudo, de uma questão que, afinal, depende da consciência e da conveniência de cada médium em particular.”

 

No Diário de Pernambuco, edição de 26 de abril de 1983, o presidente da Federação Espírita de Pernambuco voltou de novo ao ataque:

            “O promotor Walter Rosa Borges, que, em nome da ciência materialista, vem sistematicamente fazendo oposição e reprimindo o trabalho dos paranormais no Recife, inclusive formulando entrevistas que ele mesmo elabora, prestando um aberto desserviço ao estudo e pesquisa dos fenômenos, foi convidado, tanto pelo Templo da Meditação como pela Federação Espírita Pernambucana, para conhecer como se faz uma pesquisa e ver de perto os fenômenos da “telergia” e das “operações mediúnicas”.

O Instituto de Pesquisas Psicobiofísicas, um ilustre desconhecido que está se beneficiando da paranormalidade para sobreviver, terá, daqui por diante, todo acesso, para que possa aprender um pouco do que seja fenomenologia paranormal.

Já é tempo não apenas de respeitar a mediunidade, mas de enxergar o benefício que a população carente recebe das pessoas portadoras de recursos extra-sensoriais. Toda vez que um fenômeno ocorre no Recife, o sr. Walter Rosa Borges põe seu nariz como se fosse a única autoridade científica para definir o que é e o que não é paranormalidade.

Vamos ver, agora, se publicamente convidado ele tem coragem de avaliar os fenômenos e encontre um caminho, um roteiro certo, e não apenas tentar esvaziar aquilo que pessoas de renome como Hernani Guimarães Andrade, da Associação Brasileira de Parapsicologia, atestam como de real sentido científico e de comprovada veracidade.”

 

Valter da Rosa Borges enviou sua contestação ao Diário de Pernambuco, que a publicou na sua edição de 28 de abril.

“Lemos, com surpresa, as declarações prestadas ao Diário de Pernambuco, em sua edição de 26 de abril, pelo presidente da Federação Espírita Pernambucana, a respeito da nossa pessoa e do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas. Custa-nos acreditar que certas afirmativas levianas e indelicadas sejam atribuídas ao sr. Holmes Vicenzi, cuja integridade e espiritualismo sempre admiramos.

Diz o presidente da FEP que vimos “sistematicamente fazendo oposição e reprimindo o trabalho dos paranormais do Recife” e, assim, “prestando um aberto desserviço ao estudo e pesquisa dos fenômenos”. A gratuidade dessa assertiva dispensa provas, pois é público e notório, ao menos no Recife, o trabalho que durante muitos anos estamos desenvolvendo pela divulgação da Parapsicologia em nosso Estado, principalmente através de cursos e conferências, alguns dos quais na Universidade Católica de Pernambuco.

Por outro lado, se se advertir alguém de um perigo real ou mesmo possível é causar-lhe inibição, parece-nos preferível ocasionar-lhe esse discutível transtorno do que vê-lo, desinibidamente, precipitar-se ao abismo.

Acontece, porém, que, às vezes, por motivos nebulosos, pessoas e instituições preferem adotar a filosofia de avestruz, ignorando, deliberadamente, os aspectos desfavoráveis de determinado problema.

Esclarecer não é fazer oposição ou repressão ao “trabalho dos paranormais do Recife” e até gostaríamos de saber quais os médiuns prejudicados por pretensos atos de opressão. Aliás, é a primeira vez que somos informados de que esclarecimento é sinônimo de repressão. Na verdade, esclarecer é fazer oposição ao obscurantismo, seja qual for a sua natureza.

Afirma o presidente da F.E.P. que o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas é um “ilustre desconhecido que está se beneficiando da paranormalidade para sobreviver”. No entanto, foi a FEP – e isso um homem íntegro, como o sr. Holmes Vicenzi, não poderá negar – que procurou o “ilustre desconhecido” I.P.P.P., solicitando-lhe assistência científica para o caso Edson Queiroz-Dr. Fritz. E, como já esclarecemos em declarações anteriores, a pesquisa se frustrou, porque a FEP não permitiu que a equipe do I.P.P.P. investigasse cientificamente o fenômeno, mas, sim, segundo as conveniências de “orientações espirituais”.

O I.P.P.P. é membro fundador da Federação Brasileira de Parapsicologia e seu representante oficial no Estado de Pernambuco. Participou do II e III Congressos Nacionais de Parapsicologia e Psicotrônica realizados, respectivamente, em 1979 e 1982, no Rio de Janeiro, sob o patrocínio da Associação Brasileira de Parapsicologia. E promove, também, cursos de Parapsicologia e matérias afins, em sua sede provisória, à Rua da Concórdia, 372, sala 47, endereço que o sr. Holmes Vicenzi conhece muito bem, porque ali esteve, por duas vezes, com outros membros da diretoria da FEP com o propósito de discutir as bases de um acordo científico para a pesquisa do seu médium Edson Queiroz. Nós é que desconhecemos porque o sr. Holmes Vicenzi afirma que o I.P.P.P. é um “ilustre desconhecido”, pois seria uma insensatez confiar a uma instituição desconhecida a responsabilidade de uma pesquisa científica de tal envergadura. Diz, ainda, o presidente da FEP que “cada vez que um fenômeno ocorre no Recife, o sr. Walter Rosa Borges põe seu nariz como se fosse a única autoridade científica para definir o que é ou não paranormalidade”. Mas, isso é o obvio. Qual o pesquisador que não põe o seu nariz para investigar um fenômeno na área de sua especialidade? No entanto, toda vez que metemos o nosso nariz em assuntos dessa natureza, assim o fizemos porque fomos previamente consultados para opinar a respeito, ou porque fomos convidados a pesquisar um dado fenômeno à primeira vista paranormal.

Num ponto, contudo, estamos de pleno acordo com o sr. Holmes Vicenzi: não somos “a única autoridade científica para definir o que é e o que não é paranormalidade”. Assim, se conforme assegurou o sr. Holmes Vicenzi, Dr. Hernani Guimarães Andrade, um dos mais competentes parapsicólogos do Brasil, atestou a autenticidade dos fenômenos paranormais do Dr. Edson Queiroz, só nos cabe felicitar a FEP pela autoridade desse testemunho.

Agora, porém, de maneira impetuosa e extravagante, o presidente da FEP nos convida publicamente a dar uma prova de coragem, avaliando os fenômenos de seu médium Edson Queiroz, o qual, com o seu idealismo e bondade, jamais nos demonstrou a mínima repulsa à investigação de suas aptidões paranormais. Esqueceu-se, no seu arroubo, o sr. Holmes Vicenzi que já tivemos oportunidade ou, no seu dizer, a coragem – de assistir, por duas vezes, no Recife e em Salvador, a tais fenômenos, porém na condição de convidado e não na de pesquisador, o que nos impossibilita de opinar sobre o mérito da questão, como já o dissemos, anteriormente, em declarações prestadas ao DIÁRIO DE PERNAMBUCO.

Declinamos, por isso, de aceitar esse convite estapafúrdio e simples repto com finalidade publicitária, pois a pesquisa científica não é exibição pública, nem improvisação, nem observação superficial de fenômenos, principalmente em ambientes de intensa emoção religiosa, sob o impacto de filmagens e entrevistas. Se é esse o tipo de pesquisa que a FEP nos pretende ensinar, não estamos nem um pouquinho interessados em aprendê-la”.

 

Em 18 de setembro de 1983, o Diário de Pernambuco realizou com Valter da Rosa Borges uma nova entrevista sobre a fenomenologia paranormal e o fascínio que exerce sobre as pessoas.

No final da entrevista, ele advertiu:

“Infelizmente, o campo da fenomenologia parapsicológica se encontra poluído pela presença de fascinadores e fascinados. A credulidade fácil, o pensamento mágico, o desespero existencial, as enfermidades de difícil terapêutica, a perda de entes queridos, a necessidade emocional da certeza da sobrevivência, a ânsia pelo transcendental têm aprisionado inúmeras pessoas na teia sedutora do maravilhoso, tornando-as em vítimas indefesas nas garras dos trapalhões ou dos espertalhões da paranormalidade. O maravilhoso provoca no homem uma atitude ambivalente de medo e atração. E não é gratuitamente que os prodígios da prestidigitação deslumbram os espectadores, os quais, numa euforia lúdica, acumpliciam-se inconscientemente com o mágico para gozar as delícias de um engodo consentido. De maneira idêntica, certos fenômenos, aparentemente paranormais, podem desencadear, em pessoas sugestionáveis e de reduzido senso crítico, um insopitável desejo de auto fascinação, como espécie de sedativo contra as angústias e as agressões da realidade cotidiana. O fantástico, assim, transforma-se em singular psicotrópico, cujo maior perigo consiste em provocar dependência nas pessoas que dele se utilizam como recurso eletivo de sedação dos conflitos emocionais.”

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