Silvino Alves da Silva Neto
Estamos comemorando os trinta anos de existência do IPPP e uma reflexão sobre como a Parapsicologia tem contribuído para o bem-estar da humanidade bem como sobre o papel representado por esta Instituição, em épocas pregressas e futuras, torna-se bem a propósito.
Nós, que temos nos dedicado à Parapsicologia neste período de transição entre os séculos XX e XXI, sabemos das dificuldades encontradas por esta para afirmar-se como ciência. E temos convicção de que tais dificuldades ainda hão de perdurar por bastante tempo. Isto, não apenas devido ao fato de que os fenômenos paranormais, no passado, tenham estado associados a crenças e práticas supersticiosas, como também pelo motivo de que os ditos fenômenos são de tal natureza que sua pesquisa pelos métodos das ciências ortodoxas torna-se extremamente dificultosa.
Somos de opinião que a Parapsicologia ocupa uma posição sui-generis entre todas as ciências, visto como seu objeto de estudo se tratar de fatos incomuns e funcionarem de forma aparentemente contrária às leis naturais conhecidas, colocando-a, assim, nas fronteiras da Filosofia e da Mística. Esta posição peculiar tem criado dificuldades para o seu desenvolvimento, pois constitui-se em empecilho para sua aceitação pelas Universidades, e para a captação de recursos com fins de pesquisa, através dos órgãos governamentais.
Um outro fator que impede o desenvolvimento da Parapsicologia é a falta de reconhecimento de sua importância, pela população geral e pelo setor empresarial. Em geral, as ciências que progridem são aquelas que se relacionam com atividades lucrativas, ou que, pelo menos são reconhecidas como utilitárias de alguma forma prática.
A ação do parapsicólogo é exercida sobre o depositário – digamos assim – do fenômeno, que é o agente psi, ou paranormal, já que, na ausência deste último não ocorre o outro. O fato é que temos observado que o paranormal tem seus dons utilizados, no
mais das vezes em instituições religiosas. Quando não, o mesmo se utiliza de práticas adivinhatórias que encantam a imaginação popular, como a quiromancia, a cartomancia e outras, quase sempre com fins lucrativos, o que provoca a transformação da prática da paranormalidade em mistificação, muitas vezes com consequências funestas. Isto pode ser bem ilustrado pela novela de televisão que foi exibida há vários anos atrás, intitulada “O Profeta”, na qual o personagem principal, interpretado pelo ator Carlos Augusto Strazzer, tinha o dom da precognição e resolvera explorá-lo. Foi então que percebeu que nem sempre conseguia fazer suas predições e começou a mistificar. Aconteceu que um de seus clientes, se sentindo prejudicado, voltou armado ao seu consultório e quase o matou, fazendo com que tivesse que encerrar sua “promissora” carreira.
Uma prática ainda pior que a do nosso “profeta”, e que contribui ainda mais para o ceticismo da população e dos cientistas, é aquela adotada por pessoas que sequer possuem qualquer dom paranormal, mas se atribuem “poderes” especiais, mediante o uso de bolas de cristal, búzios, cartas, leitura de mão, etc. com que pretendem iludir os leigos e incautos, com a finalidade única de meio de vida.
Ao lado destes, temos ainda os que se utilizam de práticas fraudulentas para demonstrarem supostas habilidades paranormais de efeitos físicos.
Por outro lado, temos o caso daqueles que apresentam fenômenos paranormais espontâneos, que geralmente procuram um líder religioso em busca de orientação, ao invés do parapsicólogo, principalmente quando se trata de “Poltergeist”.
É verdade que muitos paranormais utilizam seus dons fora do âmbito religioso, como os radiestesistas, os psicômetras e os clarividentes que localizam objetos e pessoas desaparecidas. Esses, porém, em termos relativos são muito poucos e recebem quase nenhum incentivo para exercerem suas atividades. Mesmo assim, essas pessoas não deixam de ser envolvidas em uma aura de “mistério” e misticismo, quando não são encaradas com desconfiança e ceticismo.
Com relação à paranormalidade de cura, a coisa não é muito diferente. Quem já viu um paranormal curador atuando em um hospital ou ambulatório médico?
A verdade é que a fenomenologia paranormal ainda está por demais associada à religião e ao misticismo, e achamos improvável que essa situação mude, pelo menos nos próximos anos (ou décadas). Constatamos que tais fenômenos estão muito próximos das experiências mais profundas do psiquismo humano, das vivências arquetípicas, principalmente as relacionadas com o Self (Si-mesmo) e com a Anima/Animus, a que Jung se referiu como experiências “numinosas”. E não é incomum indivíduos apresentarem fenômenos ditos paranormais juntamente com outras experiências sujeitas a interpretação transcendental.
Já observamos um rapaz que tem a habilidade de descrever certa residência que nunca visitou, desde que alguém que resida na mesma a mentalize em seus detalhes. Acontece frequentemente que, ao descrever aquilo que “vê” em sua mente, os cômodos e objetos da casa, o agente psi faz referência à presença, no interior da mesma, de uma ou mais imagens de pessoas, supostamente do “plano espiritual”.
Por outro lado, algumas pessoas afirmaram terem perdido seus “dons” pelo simples motivo de terem relatado suas experiências para outras pessoas.
O Espiritismo sempre vinculou a produção dos fenômenos paranormais à interferência dos chamados “espíritos”, ou seja, às almas das pessoas falecidas que estariam vivendo em um outro plano, chamado de “espiritual”, “cósmico” ou “astral”.
As escolas de Misticismo, por sua vez, defendem que os dons paranormais podem ser desenvolvidos mediante certos exercícios psíquicos e vinculam a proficiência na produção dos ditos fenômenos ao grau de desenvolvimento “psíquico” ou “espiritual” alcançado pelos adeptos.
Nas religiões mediúnicas como o Candomblé e a Umbanda, existe a crença de que esses dons são concedidos pelos “guias” espirituais, mediante a participação em rituais de iniciação (Ebori), nos quais os adeptos chegam a passar dias recolhidos ao “quarto de santo” (Roncó).
A verdade é que os conhecimentos científicos atuais não permitem a demonstração da sobrevivência humana após a morte corporal. Entretanto, indagamos se esta posição epistemológica da Parapsicologia de considerar como objeto de estudo apenas os fenômenos incomuns da mente do ser humano vivo, está de fato contribuindo para o seu progresso, ou se, ao contrário, não estaria retardando os seus passos. (Há uma corrente de parapsicólogos, inclusive, que vem tentando inserir a Parapsicologia no corpo da Psicologia, com a finalidade de torná-la mais aceitável pelas instituições de pesquisa, inclusive as Universidades).
Há uma tendência atual no sentido de explicar-se a fenomenologia paranormal de acordo com os postulados da Física Quântica. E achamos que uma abordagem quântica da realidade admite a possibilidade da existência de Seres Transcendentais, os quais poderiam ser responsáveis pela produção da dita fenomenologia. Se analisarmos, por exemplo, certos fenômenos como a Clarividência e a Experiência Fora do Corpo (EFC), fica difícil aceitarmos a ideia de que a Consciência e a Percepção estejam limitadas à função de cadeias neuronais.
Estamos no início do III milênio e assistimos a uma tendência das diversas áreas do conhecimento em convergirem para um ponto comum, de forma que as arestas existentes entre a Ciência e a Religião tenderão a desaparecer. Quando esse tempo chegar, cremos que a Parapsicologia encontrará seu merecido lugar de destaque no corpo geral de conhecimentos e terá sua importância reconhecida para o entendimento do homem acerca de si mesmo e do universo onde vive.
Talvez essa obstinação em afirmar-se junto às ciências ortodoxas não seja o melhor caminho a ser seguido pela Parapsicologia, uma vez que seu desenvolvimento poderá ser “engessado” por paradigmas e métodos de pesquisa inadequados, como pelo preconceito, condenando-a, assim, a ser sempre o “patinho feio” das ciências.
A nossa proposta pessoal é que a mesma procure manter-se em “campo neutro”, em posição equidistante da Ciência e da Religião, embora mantendo seus laços com ambos os ramos do conhecimento.
Queremos aqui enfatizar uma das atividades da Ordem Rosacruz, organização mística e fraternal, que é o Departamento de Pesquisas da Universidade Rosecroix, onde eminentes cientistas das mais diversas áreas realizam importantes experiências no Âmbito da paranormalidade. Vários dos resultados dessas pesquisas foram publicados na obra “O Homem: Alfa e Ômega da Criação”, em quatro tomos, que poderão ser adquiridos pelos que se interessarem.
Com relação ao IPPP, propomos uma nova postura para o futuro, incorporando a Transcendentologia ao seu campo de pesquisa, tornando assim, a questão da sobrevivência como mais um objeto de estudo da Parapsicologia.
Acreditamos que essa aproximação da Parapsicologia com a Mística só irá engrandecê-la, ao contrário do que muitos possam pensar. O Homem foi, é e será sempre religioso, porque, como afirmou Jung, “a alma já é, por natureza, religiosa”. E o ser humano precisa de uma Parapsicologia que possa atender, de fato, aos seus mais legítimos anseios.