A parceria na pesquisa Psi (*)

Valter da Rosa Borges

  A pesquisa psi na Metapsíquica

 

A pesquisa parapsicológica, na época da Metapsíquica, sempre foi centrada exclusivamente nas aptidões do agente psi, então considerado o único responsável pelo êxito ou fracasso das experiências. O experimentador, por sua vez, se colocava como um elemento neutro, objetivo, cético, preocupado exclusivamente com a eficiência e segurança dos experimentos, visando evitar a possibilidade de fraude. O agente psi, então denominado de médium, era submetido às mais rigorosas (e até humilhantes) formas de controle como se fosse um perigoso delinqüente, sem qualquer respeito à sua dignidade e aos seus sentimentos pessoais. O pesquisador não queria assumir riscos e por isso se distanciava do agente psi, mantendo uma atitude de reserva e até mesmo de hostilidade. Se houvesse fracasso, a culpa seria sempre do agente psi, jamais do pesquisador, que se julgava e se comportava como elemento neutro na experiência, quando, na verdade, na maioria das vezes, funcionava como um fator inibidor do fenômeno. Se houvesse êxito, permanecia, no entanto, a dúvida sobre a eficácia do controle sobre o agente psi e a especulação sobre a possibilidade de fraude.

Os metapsiquistas, em sua quase totalidade, estavam desatentos aos fatores psicológicos da manifestação parapsicológica, e submetia o agente psi a constrangimentos físicos e emocionais, fazendo-o sentir-se tratado como uma pessoa indigna de confiança. Charles Richet categoricamente assinalou:

“Façamos experiências com os médiuns, seres raros, privilegiados, e convençamo-nos de que eles têm direito ao nosso integral respeito, mas que também são passíveis da nossa desconfiança integral.”

Disse mais:

“Deve-se proceder constantemente como se os médiuns fossem conhecidos fraudadores.”

E assegurou ainda:

“Os médiuns são as mais das vezes de tal instabilidade mental, que as suas afirmações, positivas ou negativas, não têm lá grande valor.”

É evidente que tal procedimento resultava em desastrosas conseqüências psicológicas para o agente psi, afetando o seu equilíbrio emocional.

Gustave Geley foi quem primeiro se preocupou com a atenção que se deve dar ao agente psi. As suas recomendações se revelaram de fundamental importância para a pesquisa parapsicológica. Ele advertia que, para se obter um bom rendimento de um agente psi, é mister que ele esteja saudável, de bom humor, sinta-se à vontade e tenha confiança nos pesquisadores. E, com argúcia, observou que um controle excessivamente rígido sobre ele poderia resultar no fracasso da experiência. Recomendava que a vigilância sobre o agente psi não deveria ser idêntica em todos os casos, mas inteligente, adaptada às circunstâncias, flexível e racional.

Geley advertiu ainda que o agente psi é suscetível de sofrer a influência psíquica do pesquisador e, inconscientemente, ser levado a praticar uma ação fraudulenta desejada por aquele. Por isso, afirmava que “quando um médium frauda, os experimentadores são culpados”. Porém advertia que “a fraude consciente é sempre fruto da negligência ou incompetência dos experimentadores”.

Certas experiências, na época da Metapsíquica, se assemelhavam a verdadeiras sessões de tortura e de atentado à dignidade do agente psi. Alguns deles eram obrigados a se despir na frente dos pesquisadores, ser minuciosamente examinado em seus orifícios naturais, amarrados e ostensivamente fiscalizados em seus menores movimentos.

Em um dos nossos livros (1976), já tínhamos observado que o êxito de qualquer pesquisa, no campo da paranormalidade, estava na observância de determinadas regras e que o seu insucesso devia-se, não raras vezes, à incompetência ou à inabilidade do pesquisado do que na aptidão do agente psi. Essas regras são as seguintes:

  1. a)     a) não exigir do agente psi aquilo que ele não está habituado a produzir ou que, por circunstâncias diversas, não pode realizá-lo de maneira satisfatória, numa determinada sessão;
  2. b)     b) promover um clima de bom relacionamento entre o agente psi e os pesquisadores;
  3. c)     c) evitar toda e qualquer forma de coação sobre o agente psi, exercendo, no entanto, sobre ele, uma fiscalização eficiente, mas discreta;
  4. d)     d) estimular a autoconfiança do agente psi em sua aptidão parapsicológica, mantendo elevada a sua motivação pela pesquisa;
  5. e)     e) realizar, sempre que possível, as experiências em ambiente tranqüilo e confortável.

 

A pesquisa psi como parceria

 

É preciso reconhecer que a pesquisa, em Parapsicologia, é fundamentalmente uma parceria entre o parapsicólogo e o agente psi, visando criar as condições favoráveis para a manifestação do fenômeno paranormal. As leis gerais para o êxito desse experimento já são conhecidas. E a crença na realidade da psi é uma das condições mais importantes para a sua manifestação.

É preciso ainda reconhecer que essa parceria varia de resultados com a troca de parceiros. Ou seja: o resultado obtido por um pesquisador com um agente psi jamais será idêntico ao obtido com outro pesquisador. Logo, a repetibilidade do fenômeno poderá ser qualitativa, jamais quantitativa. Porque, em  sua essência, o fenômeno psi é a resultante de uma relação interpessoal entre o pesquisador e o agente psi. Não é uma relação pessoa-coisa, mas uma relação pessoa-pessoa. É a relação positiva entre o pesquisador e o agente psi que determina a exuberância da manifestação parapsicológica. Quanto mais essa relação for de afeto e simpatia, maiores as probabilidades do êxito da experiência.

Aliás já havíamos comentado:

Quem é parapsicólogo sabe que o agente psi não apresenta o mesmo desempenho com o mesmo pesquisador nas mesmas condições experimentais. Nem tampouco pode replicar com outro pesquisador, nas mesmas condições experimentais, o desempenho que tivera com o pesquisador anterior. Não se pode medir o desempenho de um agente psi como se faz com uma reação química ou um fenômeno físico. Cada ato humano é essencialmente irrepetível por muito que se assemelhe a outro ato humano em condições semelhantes. Porque, a rigor, não existem situações iguais, por mais semelhantes que pareçam. Isto é o que os adversários da Parapsicologia não querem ou não podem entender, transformando suas suposições em evidências e certezas, esquecidos de que quem alega cabe o ônus da prova. Quando muito, eles demonstram como os fenômenos podem ser fraudados, mas não apresentam provas de que aqueles fenômenos foram produzidos mediante fraude.

 

Trabalhar com um ser humano não é o mesmo que trabalhar com um rato ou com a matéria bruta. O ser humano é um fenômeno extremamente complexo e não pode ser simplificado a um número limitado e às vezes arbitrário de variáveis.  

Há ingredientes psicológicos no êxito de uma experiência psi. A falta de um deles pode influir parcial ou totalmente nos resultados, reduzindo a quantidade de acertos ou redundando em fracasso.

Ora, o mesmo se dará em uma experiência química: a falta de um dos elementos essenciais para a produção de determinada reação resultará necessariamente no seu malogro. Nenhum cético teria a petulância de afirmar que só admitiria uma determinada reação química, se ela acontecesse nas condições que ele estabelecesse. Ademais, uma experiência parapsicológica não é uma experiência física, a qual se assenta em fatores determinísticos. Ela é essencialmente probabilística.

A pesquisa, mais do que neutra e fria observação, é, principalmente, afetiva e confiante participação. O efeito que se espera de um experimento físico não é o mesmo de um experimento com um ser humano. As condições são fundamentalmente diferentes. Se um químico emprega todas as condições para produzir uma determinada reação química, o mesmo deve fazer um parapsicólogo para conseguir do agente psi o fenômeno desejado. O cético, além de deliberadamente não atender essas regras, espera absurdamente que o fenômeno paranormal ocorra à revelia das mesmas. Ora, se ele empregar este mesmo método em experimento químico, por certo jamais obterá o resultado desejado.

Se o clima físico favorece, dificulta ou mesmo impede a manifestação de fenômenos das mais diversas naturezas, o clima psicológico (e também físico) de uma experimentação parapsicológica tem decisiva importância em seu êxito ou fracasso. A hostilidade, o ceticismo, a ironia, a suspeição constituem elementos desfavoráveis à manifestação psi. Enquanto a amistosidade, a confiança, a empatia, a colaboração, a compreensão, a afetividade são elementos que favorecem a ocorrência do fenômeno. Por isso costuma-se dizer que cada pesquisador encontra sempre aquilo que procura, o que é, parcialmente, verdadeiro.

Há casos em que o fenômeno psi se manifesta apesar da má vontade do pesquisador (e a literatura paranormal apresenta vários desses casos), o qual, assim mesmo, não se convence do sucedido e se socorre das mais esdrúxulas explicações para negá-lo. Como também há casos em que o fenômeno não acontece apesar da melhor boa vontade do pesquisador. Ora, se o fenômeno psi pode se frustrar mesmo nas condições favoráveis, por que, com mais razão, não deixaria de ocorrer em condições adversas? É porque, em algumas situações, o agente psi não se encontra em boas condições físicas e/ou psicológicas para produzir o fenômeno esperado. É nessas ocasiões que ele pode ser tentado à prática da fraude, podendo até cometê-la.

Favorecer o fenômeno não é favorecer a possibilidade da fraude. Sabe-se que, em algumas experiências do passado, a atitude inquisitorial do pesquisador ou inibiu o fenômeno ou provocou a fraude ou a sua tentativa. Pressionado, psicologicamente, a produzir o fenômeno para provar a sua paranormalidade, alguns agentes psi famosos foram induzidos, consciente ou inconscientemente, a fraudar para o gáudio do pesquisador hostil.

A experiência psi também tem as suas regras e até de maior complexidade do que aquelas que presidem a uma reação química. Há uma multiplicidade de fatores que influem na experiência e que variam de um agente psi para outro. Apesar disso, no entanto, já observamos a existência de regras genéricas que podem ser observadas e que facilitam a manifestação do fenômeno. São as estas regras que os céticos não querem se submeter.

Personalidade e psi

A Dra. Gertrude Schmeidler estabeleceu uma lúcida divisão entre pessoas propensas ou refratárias à experiência psi, denominando as primeiras de carneiros e as últimas de bodes. Na Índia, B. K. Kanthamani e K. Ramakrishna Rao fizeram um estudo sobre esses tipos de pessoas e chegaram ao seguinte resultado sobre as suas características psicológicas. As pessoas propensas a obter resultados positivos em experiências psi eram afetuosas, sociáveis, calmas, autoconfiantes, persistentes, loquazes, joviais, vivazes, impulsivas, emocionais, despreocupadas, realísticas, práticas, relaxadas e tranqüilas. As pessoas propensas a obter resultados negativos eram tensas, excitáveis, frustradas, questionadoras, impacientes, dependentes, sensíveis, tímidas, sensíveis à ameaça, retraídas, submissas, desconfiadas, tendentes à depressão.

Estes testes também deveriam ser aplicados aos pesquisadores, afastando das experiência psi aqueles que demonstrassem pertencer à categoria dos bodes, ou seja, propensos a influir no resultado negativo dos experimentos. Cuidamos, assim, de determinar as características psicológicas do agente psi e descuidamos das do pesquisador.

Podemos então teorizar que se colocássemos, num experimento, um pesquisado bode com um pesquisador bode a possibilidade de manifestação da psi seria praticamente nula, o que reforçaria a crença dos dois parceiros de que a psi não existe.

Se, ao contrário, colocássemos, noutro experimento, um pesquisado carneiro com um pesquisador carneiro a possibilidade de ocorrer a manifestação psi seria muito alto, o que reforçaria a crença dos dois parceiros na realidade da psi.

Finalmente, se reunirmos num experimento psi um pesquisador bode com um pesquisado carneiro, a manifestação psi seria afetada pelo desempenho do primeiro, podendo até abalar seriamente a crença do último em sua aptidão parapsicológica.

Poderíamos ainda lembrar que uma experiência psi entre um pesquisador carneiro e um pesquisado bode alcançaria o mesmo resultado, pois a crença do pesquisador na realidade da psi de modo algum influiria na crença do pesquisado de que a psi não existe.

O “efeito do experimentador”

O conhecido “efeito do experimentador” pode ter conseqüências não apenas psicológicas, mas também parapsicológicas, nas pesquisas com o agente psi.

As conseqüências psicológicas já são bem conhecidas. A atitude de hostilidade, de ceticismo, o tratamento desdenhoso e antipático podem causar inibição no agente psi, diminuindo a intensidade dos fenômenos, ou, como acontece na maioria dos casos, impedindo a sua manifestação. Além disso, o experimentador sedento de observar o fenômeno, pode coagir psicologicamente o agente psi a produzi-lo ou sentir-se na obrigação de provar que ele é capaz de fazê-lo sempre que for solicitado.

Certa ocasião havíamos comentado:

Há parapsicólogos que lidam com o agente psi como se fosse um mero objeto de pesquisa, um rato de laboratório, uma pessoa suspeita e, quando muito, o tratam com artificial cortesia. Consciente ou inconscientemente, tudo fazem para dificultar a produção do fenômeno e, paradoxalmente, se sentem contrariados quando realizam este propósito.

Contrariamente, a atitude compreensiva, afetuosa e estimulante do pesquisador po-de, muitas vezes, favorecer o fenômeno, porque cria uma relação de confiança participativa entre o parapsicólogo e o agente psi.

Estas mesmas condições psicológicas, em algumas ocasiões, geram, por sua vez, conseqüências parapsicológicas, porque a mente do experimentador pode influir diretamente sobre o fenômeno, favorecendo a sua manifestação ou aumentando a sua intensidade. O pesquisador que acredita na realidade da psi pode, inconsciente e involuntariamente, ajudar o agente psi, tornando-se, assim, o seu parceiro parapsicológico. É impossível evitar o “efeito do experimentador” na experiência psi, e metapsiquistas, como César Lombroso, já admitiam que o pensamento dos assistentes exerce certa influência sobre a produção de fenômenos paranormais.

Recentemente, Charles Honorton demonstrou que os efeitos psicocinéticos produzidos nos geradores de números aleatórios eram devidos mais a ele mesmo do que às pessoas por ele pesquisadas. Observou que elas só produziam fenômenos quando ele se encontrava presente, mas que o mesmo não acontecia na sua ausência, quando então eram testadas por outro pesquisador. Helmudt Schmidt, o inventor de um gerador aleatório de números, também observou que obtinha bons resultados quando realizava experimentos com ele próprio.

A simulação na experiência psi

Em 1966, o psicólogo britânico Kenneth Batcheldor fundou, na Inglaterra, um grupo que se propunha a investigar os efeitos “massivos” de psicocinese. Para isso, os componentes do grupo se sentavam ao redor de uma mesa de madeira, colocavam as mãos sobre ela, e se comportavam como se estivessem em uma sessão espírita. Eles queriam demonstrar que a mesa se moveria como conseqüência da influência da mente sobre a matéria e não em razão da intervenção de espíritos. Afirma-se que os resultados foram espan­tosos e, no decorrer dos anos, mesas de vários tamanhos moveram-se e levitaram.

Eles observaram que, para induzir fenômenos de psi-kapa, era necessária a observância de certas condições, como a forte crença na possibilidade do sucesso da experiência, pois constataram que o ceticismo inibia a manifestação paranormal. Assim, em algumas ocasiões, o grupo começava a rir, a cantar e conversar animadamente, para evitar pensamentos negativos.

Quando, a despeito de tudo isso, nada acontecia, Batcheldor simulava propositadamente um fenômeno de psi-kapa. Este procedimento psicológico de indução, que ele denominou de “indução de artefato” produziu resultados positivos e foram obtidas algumas telecinesias genuínas.

O grupo observou, ainda, que o desenvolvimento de uma mente gru­pal resultava na obtenção dos melhores resultados com o mínimo de esforço. No entanto, sempre que se introduzia alguma forma de controle ou teste, o efeito diminuía ou até mesmo desaparecia.

Segundo Lyall Watson, Batcheldor e o seu grupo “foram capazes de provocar a levitação de mesas pesadas, e até de um piano, sem tocá-los sequer.”

A simulação, como um sucedâneo da realidade, é, hoje, bastante empregada em jogos de computadores para treinamento de pessoas. A realidade virtual constitui uma forma de condicionar indivíduos para, um dia, enfrentar, com eficiência, um fato real análogo. O como se pode transforma-se numa atitude de extrema confiança para a realização daquilo que se pretende alcançar.

Cremos não ser necessário “ajudar” o fenômeno, simulando-o sem que ninguém o saiba. Tudo pode ser feito com o conhecimento dos participantes da experiência. Neste caso, todos deverão simular conscientemente o fenômeno desejado até que se crie a emoção e o envolvimento necessários à sua realização.

Em 1972, vários membros da Toronto Society for Psychical Research, no Canadá, liderado pelo físico George Owen e sua esposa Iris, decidiu repetir a experiência de Batcheldor e, seguindo o seu modelo, criou um fantasma, denominado “Philip”, inventando  para ele uma história completa com detalhes pessoais, nomes de contemporâneos, uma esposa e até uma aman­te. “Philip” teria vivido durante a época de Oliver Cromwell, no solar Didington e, a fim de dar maior realismo à história, Owen usou uma casa que ainda existe e mostrou fotografias dela para estimular o grupo.

Convencionou-se também um código de comunicação, mediante o qual “Philip” revelava sua presença dando uma ba­tida para “sim” e duas para “não”. No curso das experiências, ele não só respondeu a perguntas sobre sua vida fictícia, mas também corrigiu cer­tas informações errôneas, dadas pelo grupo, sobre um dos dignitários da corte daquela época.

Depois de um certo tempo, “Philip” começou a produzir autênticos fenômenos de telecinesia.

De modo exatamente contrário dos grupos britânico e canadense procedem os céticos, que por má fé, ignorância ou preconceito criam situações que inviabilizam a manifestação dos fenômenos parapsicológicos, mediante desafios, oferta de prêmios, suspeições  e todos os tipos de coação psicológica que desestabilizam o agente psi.

 

O treinamento psi

 

Já havíamos comentado:

Para se pesquisar a paranormalidade de alguém, é preciso descobrir as condições que favorecem a sua manifestação e todo trabalho de pesquisa consistirá em proporcionar ao agente psi um treinamento adequado para ele se familiarizar com as características de sua aptidão e criar condicionamentos que facilitem o seu exercício. É preciso ajudá-lo a administrar a sua paranormalidade e não criar empecilhos que o dificultem exercitar o seu talento. É como se alguém quisesse treinar um atleta inventando dificuldades para o seu condicionamento corporal. Tal procedimento seria uma arrematada tolice e é isto justamente o que fazem estes parapsicólogos pesquisadores que mais parecem leigos tal o desconhecimento que demonstram dos fatores psicológicos que influem na pesquisa.

É preciso, portanto, mudar esse estado de coisas e dar um enfoque diferente na investigação parapsicológica. Propomos, assim, a criação de uma nova abordagem da fenomenologia psi centrada no agente psi e no experimentador como parceiros psi. Essa nova estratégia experimental proclama a necessidade de prepará-los para o enfrentamento do fenômeno parapsicológico, estabelecendo que o êxito na sua investigação decorre da parceria entre ambos.

No passado, como já vimos, o pesquisador criava todas as condições psicológicas contrárias à manifestação do fenômeno e este, em alguns casos acontecia, apesar de todas as dificuldades. Agora, ele deve colaborar na manifestação do fenômeno, ajudando psicologicamente o agente psi a produzi-lo. É preciso que o parapsicólogo se conscientize de que a motivação do agente psi é um dos fatores mais importantes – talvez o mais importante – para o êxito do experimento.

Com essa estratégia, podemos reverter esse quadro, principalmente com fundamento no chamado “efeito do experimentador”. O parapsicólogo se reconhece como participante e não mero observador do fenômeno psi, consciente de que o seu comportamento poderá influir no êxito ou no fracasso da experiência.

É de fundamental importância que o parapsicólogo aceite o fenômeno psi e nele invista todo o seu entusiasmo, motivando sinceramente o agente psi a produzi-lo. É importante que o parapsicólogo confie no agente psi e que este confie naquele e que ambos acreditem que o fenômeno possa ser produzido em razão de sua parceria. O agente psi confiando na competência do parapsicólogo e o parapsicólogo, na aptidão psi do agente psi. Melhor, ainda, será se o parapsicólogo já tiver passado por alguma experiência psi, pois estará convicto da realidade e do significado do fenômeno psi.

Tem razão Naum Kreiman, quando enfatiza a necessidade do treinamento do parapsicólogo pesquisador, tal como acontece com o médico e com o psicanalista que, durante anos de aprendizado, se preparam para lidar com os seus pacientes. Com base nessa observação, podemos concluir que como o médico e o psicanalista são treinados para ajudar os seus pacientes a resolver seus problemas orgânicos e psicológicos, o parapsicólogo também deve ser treinado para ajudar o agente psi a lidar com os seus fenômenos psi.

A metodologia parapsicológica deve residir na observação controlada do fenômeno psi e no registro de como cada agente psi se comporta na produção do mesmo. Por isso, é mister que se faça com ele uma entrevista prévia, que repetirá a cada sessão experimental. Isso fará com que ele se torne cada vez mais consciente de sua aptidão e das condições em que o fenômeno se produz. E o pesquisador, por sua vez, se enriquecerá com uma compreensão cada vez maior do fenômeno, a qual se ampliará se ele tiver a felicidade de realizar parcerias com outros agentes psi.

Seja nos experimentos de escolhas livres, seja nos experimentos de escolhas forçadas, o parapsicólogo deve sempre manter o agente psi no mais alto grau possível de motivação. Mesmo que alguns resultados não sejam satisfatórios, o parapsicólogo deve incentivá-lo a confiar no seu talento psi, fazendo-o conscientizar-se de que o fenômeno é caprichoso, instável e independente da volição consciente. E mais ainda: que a observância das condições favoráveis à gênese do fenômeno aumenta as chances de sua manifestação, mas não a determinam. Conhecendo o estilo fenomenológico do agente psi, o pesquisador não vai direcionar a pesquisa para fenômenos que ele não está habituado a produzir.

A relação entre parapsicólogo e agente psi deve ser fundamentada na confiança recíproca. A confiança do parapsicólogo na sinceridade do agente psi  e a confiança deste na competência do parapsicólogo. Não mais a velha atitude de desconfiança do parapsicólogo em relação ao agente psi, na expectativa – às vezes paranóica – de que ele estaria fraudando ou poderá fraudar. Nem a compulsão do agente psi de demonstrar, em qualquer circunstância, a sua aptidão psi, o que, em alguns casos, levou alguns deles à prática consciente ou inconsciente da fraude.

É claro que a confiança recíproca não exclui as necessárias medidas de segurança na experimentação em laboratório. Porém, fica evidentemente claro para o agente psi que não se trata de suspeição à sua pessoa, mas de garantia de credibilidade da experiência.

Já havíamos advertido que nem todos os agentes psi famosos fraudaram e o que fraudaram nem sempre o fizeram todas as vezes, pois se fraudassem sempre não seria agente psi.

De agora em diante, o agente psi não se submeterá a reptos e nem se deixará pesquisar por leigos ou pessoas céticas, preconceituosas, pois são incompetentes para lidar com o fenômeno, ainda que sejam cientistas, mas não parapsicólogos. Seria o mesmo que se admitir que alguém, com problemas orgânicos, fosse orientado por um físico ou, apresentando distúrbios psicológicos se dirigisse a um botânico. Só um parapsicólogo de formação tem competência para investigar fenômenos paranormais e prestar a assistência necessária ao agente psi.

Se o parapsicólogo deve ser treinado para lidar com questões parapsicológicas, o agente psi deve ser conscientizado de que, enganando o parapsicólogo, ele estará, na realidade, enganando a si mesmo. É como se um paciente procurasse enganar ao seu médico, alegando doenças imaginárias ou camuflando sintomas, o que resultaria em prejuízo financeiro e/ou orgânico para ele próprio.

Retorno do método qualitativo

Atualmente, a investigação parapsicológica tem dado uma ênfase exagerada ao método quantitativo-estatístico-matemático, trabalhando com pessoas que não apresentam ma-nifestamente fenômenos psi. Ou seja: trabalha-se com números, esquecendo-se das pessoas. Assim, da atitude de hostilidade contra o agente psi se passou a tratá-lo como número, visando simplesmente um resultado estatístico.

A utilização do baralho Zener já teve a sua época de ouro e seu inquestionável papel e valor para dar à Parapsicologia o seu status de ciência. É a hora de se retornar ao método qualitativo, à pesquisa com as pessoas verdadeiramente dotadas de aptidão paranormal e promover um melhor e mais profundo relacionamento entre os parapsicólogos e os agentes psi.

O baralho Zener pode pobremente constatar que uma pessoa é dotada de um talento paranormal, mas em nada pode ajudá-la a se familiarizar com esta sua aptidão, conhecer as peculiaridades e as condições que favorecem ou dificultam a sua manifestação e, principalmente, o que fazer com  a sua paranormalidade.

O parapsicólogo Willem Tenhaeff e Gerard Croiset, um dos mais testados agentes psi de todos os tempos, constituem um dos raros e bem sucedidos casos de parceria na investigação qualitativa dos fenômenos paranormais.

Desde 1946, Croiset submeteu-se a numerosos testes com Tenhaeff e outros parapsicólogos de diversos países. Também ajudou a polícia, não só da Holanda, mas de outros países da Europa, assim como dos Estados Unidos, na solução de crimes misteriosos, empregando a sua aptidão psi.

Croiset preferia ser consultado por telefone, porque, segundo ele, este procedimento eliminava influências estranhas e reduzia a confusão ou sobreposição de impressões. E não aceitava pagamento pelos seus serviços, ainda mesmo quando consultado pela Polícia, alegando que utilizava seus poderes em benefício da humanidade. Por isso, disse uma vez:

 

“Eu tenho um dom de Deus que não compreendo. Eu não posso usá-lo para fazer dinheiro em meu benefício. Se eu o fizer, eu posso perdê-lo.”

 

Croiset visualizava imagens, colhidas da memória das pessoas que o consultavam. Algumas vezes essas imagens surgiam ante a sua visão em grande velocidade. Por isso, ele não pensava com  palavras, mas com imagens. Como já observara H. H. Price, os métodos educacionais modernos desencorajaram o pensamento por imagens, substituindo-o pelo pensamento por palavras.

Croiset descrevia, com assombrosa precisão, os locais onde as pessoas desaparecidas tinham passado e onde naquele momento se encontravam, as roupas que trajavam, onde, em caso de morte, os seus corpos se achavam ou seriam achados. Também com idêntica precisão, localizava animais e objetos perdidos. Em algumas ocasiões, Croiset se equivocava, mas quase sempre isso ocorria nos pequenos detalhes.

Em maio de 1951, J. B. Rhine visitou a Holanda e Tenhaeff o apresentou a Croiset. Rhine, então, o convidou para testá-lo, utilizando o baralho Zener, mas Croiset recusou o convite, alegando:

“Eu respeito muito o seu trabalho, Dr. Rhine. Mas eu não gosto mesmo de adivinhar cartas. Eu tenho de estar emocionalmente envolvido num caso de criança desaparecida ou de alguém em dificuldade.”

Trata-se de uma demonstração inequívoca de quem conhece o seu estilo psi e não se permite contrariá-lo para atender aos caprichos metodológicos de outro pesquisador, por mais qualificado que ele seja.

Em virtude disto, seu biógrafo Jack Harrison Pollack lhe perguntou, por que ele não se submeteu a testes com J. B. Rhine. E Croiset esclareceu:

“Os testes estatísticos de Dr. Rhine poderiam somente provar que eu tenho uma habilidade paragnóstica. Eu sei disso! Eu estou muito ocupado para fazer jogos como cartas de adivinhação como uma criança! Os testes qualitativos do Dr. Tenhaeff são muito mais profundos do que os quantitativos do Dr. Rhine. Eles mostram o valor daquilo que estou tentando fazer – como eu posso ajudar pessoas. Isto é mais importante para mim do que descobrir quantas cartas eu posso adivinhar.”

Pollack apresentou, no seu livro, quase uma centena de casos que demonstram convincentemente a extraordinária paranormalidade de Gerard Croiset. O índice de acertos é tão impressionante que os seus pequenos equívocos contribuem para ressaltar a natureza extremamente complexa de sua aptidão paranormal.

Observou Pollack que, como quase todo grande agente psi, Croiset era também narcisista e tinha seus momentos de megalomania. Disse ainda que o Prof. Tenhaeff também achava que Croiset tinha uma grande vaidade, agressividade, uma sede forte pelo poder e falta de trato social, o que lhe causou ocasionalmente alguns conflitos. Aliás, Tenhaeff já havia observado que uma pessoa dotada de aptidão paranormal não tem uma personalidade harmoniosa.

Apesar disso, conta Pollack que Croiset uma vez admitiu que “mesmo um bom paragnóstico seria de pouca utilidade para a polícia sem a ajuda de um parapsicólogo experiente como o Professor Tenhaeff”.

Tenhaeff observou que Croiset tinha um bloqueio mental quando usava sua habilidade psi para descobrir ladrões. Por sua vez, Pollack acha que essa inibição, em parte,  decorreu do fato de que um seu amigo íntimo foi injustamente acusado de furto e preso, conforme confessou o próprio Croiset:

“Imagine se eu acusasse a pessoa errada e ajudasse a por um inocente na cadeia como aconteceu com o meu amigo”.

Croiset via facilmente o passado das pessoas, quando ele tinha semelhança com a sua própria experiência de vida. É uma espécie de empatia temática e, por isto, de forte conteúdo emocional, o que constitui um poderoso fator facilitador da experiência psigâmica. É uma empatia situacional e não pessoal, visto que, em muitos casos, Croiset não conhecia a pessoa com a qual entrava em relacionamento psi. É possível, assim, que uma empatia temática associada a uma empatia pessoal produza um resultado psigâmico altamente satisfatório.

Os maiores êxitos obtidos por Croiset se referiam à localização de pessoas desaparecidas, notadamente de crianças. Por isso, muitos pais dessas crianças preferiam telefonar para Croiset antes de procurar a Polícia.

Informa Pollack que os pais, como sinal de agradecimento, ofereciam dinheiro a Croiset pelos seus serviços. Mas ele sempre lhes respondia:

“A única recompensa que eu quero é que, por obséquio, enviem um relato completo para o Professor Tenhaeff”.

Infelizmente, comenta Pollack, poucos foram os que atenderam a este pedido.

Quando criança, Croiset quase se afogou. Por isso, tinha uma estranha associação com água e afogamento conforme confessou:

“Quando eu tenho de encontrar com os pais de crianças afogadas, eu algumas vezes me sinto tão mal que não posso dizer-lhes o que aconteceu.”

Em relação à localização de objetos perdidos, Croiset tinha uma posição definida. Ele só se interessava em localizá-los, quando sentia que se tratava de um serviço realmente útil.

Um dos casos mais interessantes no campo da diagnose por clarividência apresenta-dos por Croiset ocorreu quando ele foi procurado, em novembro de 1953, pelo senhor F. Wolle, de Colônia, Alemanha, o qual não tinha tido sucesso no tratamento médico de suas dores abdominais. Em desespero, foi a Holanda consultar-se com Croiset que, logo ao examiná-lo, exclamou:

“Que estranho! Eu vejo uma linha ao redor de sua bexiga. Eu nunca vi alguma coisa igual antes em minha vida. É como se existissem duas bexigas! Como isto é possível? Tudo o que sei é que elas estão cheias e pressionando juntas, e eu vejo a uma grande linha entre elas. Vá e diga ao seu médico o que eu acabei de declarar”.

Relutantemente, o senhor Wolle concordou em fazer um raio X e o resultado demonstrou a existência de duas bexigas, resultantes de um defeito congênito.

Essa clarividência diagnóstica, porém, afetava emocionalmente Croiset, porque, conforme afirmou certa ocasião, isso lhe fazia mal, embrulhando o seu estômago.

Croiset também descobria, por clarividência, defeitos em máquinas, como aconteceu no dia 30 de junho de 1958, ao receber um telefonema do Capitão Willem Jansen, pedindo, desesperado, a sua ajuda e contando-lhe o problema.

“Nosso navio está preso no porto e nós não podemos movê-lo. Alguma coisa está errada com a máquina embora ela seja nova em folha. Estamos ancorados aqui a três semanas e temos experimentado tudo. Os engenheiros não encontraram o defeito. Nossa carga está se estragando. Se não partirmos logo, perderemos a maior parte do nosso lucro. Por favor, pode ajudar-nos, sr. Croiset?”

Croiset, de imediato, respondeu:

“Eu vejo duas máquinas. Elas estão colocadas com as pontas em direção ao navio, com suas cabeças face a face a frente da embarcação. Está correto?”

Ante a afirmativa, continuou:

“Desça para a casa de máquinas onde as duas máquinas estão. Olhe para a máquina da direita ao fundo. Você encontrará um tubo que me faz lembrar o sifão da bacia sanitária. Naquele pequeno tubo está uma pequena fenda. Você pode encontrá-la só pela partida do motor. Então ela escoa ali. Experimente isto e me telefone de volta.”

Dois dias depois, Jansen telefonou para Croiset, agradecendo-lhe a ajuda e dizendo que o motor estava funcionando perfeitamente. A fenda que ele tinha visto fora encontrada exatamente no lugar que designara. Com a espessura de um fio de cabelo, ela era imperceptível, a menos que o óleo fosse forçado a sair mediante uma grande pressão. Ela havia sido encontrada no buraco da lingüeta pelo tubo que Croiset tinha descrito.

Em testes de psicometria, o êxito de Croiset foi extraordinário. Em um dos testes relatados por Pollack, ele não só descreveu o conteúdo de uma carta fechada, mas também a personalidade de quem a escrevera, o seu estado de saúde e uma cirurgia a que se submeteu para a extração da vesícula biliar. Este experimento aconteceu em 20 de junho de 1950.

Croiset também obteve êxito na investigação paranormal de fósseis e manuscritos.

Em 1947, o prof. Tenhaeff começou a fazer com Croiset testes de precognição, utilizando a idéia do Dr. Eugene Osty, que, em 1926, no Instituto Metapsíquico Internacional, em Paris,  solicitava ao agente psi Pascal Forthuny que descrevesse a pessoa que se sentaria em determinada cadeira. Tenhaeff transformou essas tentativas esporádicas de Osty em um experimento sistematizado e realizou, com Croiset, cerca de 400 experiências, sob rígido controle de cientistas na Holanda, Itália, Áustria, Alemanha e Suiça. O número de uma cadeira num evento público futuro era escolhido ao acaso e Croiset  convidado a descrever, com detalhes, a pessoa que nela se sentaria em um prazo de uma hora a vinte seis dias. Os resultados foram impressionantes e Pollack descreve algumas dessas experiências. Ele relata, ainda, outros testes de cadeira vazia realizados na Holanda, Alemanha e Itália, cuja precisão dos resultados surpreendeu a outros pesquisadores presentes.

Durante cerca de duas décadas estes experimentos de precognição em laboratório validaram a imensa coletânea de casos espontâneos do gênero, numa demonstração científica solidamente fundamentada de que a mente humana possui uma capacidade cognitiva de se relacionar com padrões de virtualidades no seu processo de conversão em acontecimentos da realidade física.

Está na hora, portanto, de voltarmos a utilizar a método qualitativo e trabalhar com agentes psi por mais raros que eles sejam. Poucos parapsicólogos terão essa sorte. Mas, paciência! Estamos lidando com um talento especial e que pouquíssimas pessoas o possuem em grau significativo. William James encontrou o seu “cisne branco” na pessoa de Eleonore Piper. E Richard Hodgson, então cético, confirmou essa descoberta. Franek Kluski deslumbrou o experiente pesquisador Gustave Geley. William Crookes se convenceu da aptidão psi de Daniel Dunglas Home. E Rudy Schneider, severamente investigado por Harry Price, comprovou a autenticidade dos fenômenos que produzia.

Teste da cadeira ocupada -TCO

Com o propósito de enfatizar a relação pessoa-pessoa na experiência parapsicológica, concebemos o teste da cadeira ocupada – TCO -, inspirado no experimento da cadeira vazia, que foi inventado por Willem Tenhaeff e realizado com êxito por Gerard Croiset. Tratava-se de uma experiência de precognição, utilizando-se o método qualitativo.

Diferentemente do teste da cadeira vazia, o TCO é uma experiência de telepatia e clarividência e que utiliza o método quantitativo-estatístico-matemático.

O experimento substitui as cinco cartas do baralho Zener por cinco pessoas e consiste na tentativa do percipiente de identificar a pessoa que se encontra sentada em determinada cadeira.

Cada pessoa, designada de pessoa-alvo, corresponde a uma carta do baralho Zener, e se senta na cadeira à medida que sua carta é retirada do maço após o embaralhamento. Cada experiência consta de 25 tentativas e as cartas do baralho Zener são utilizadas apenas com a finalidade de tornar aleatória a escolha das pessoas. Em lugar desses símbolos podem também ser usados números – 1, 2, 3, 4 e 5 – onde cada pessoa corresponda a um deles.

As pessoas-alvo são, geralmente, conhecidas do percipiente o qual, se quiser, poderá, previamente, indicar com qual delas parece afinar-se melhor.

O percipiente fica confinado em outro aposento, à porta fechada, e é informado por um sinal luminoso, que o experimento começou e que a cadeira já se encontra ocupada por uma das cinco pessoas. Em seguida, aciona o sinal luminoso, comunicando ao experimentador que já escreveu, no papel do teste, o nome da pessoa que imagina estar sentada na cadeira. Este procedimento se repete até perfazer o total de vinte e cinco tentativas.

Nesse teste, não há preocupação de se estabelecer distinção entre telepatia e clarividência, admitindo-se a possibilidade de convergência dos dois fenômenos.

A sua grande vantagem consiste na substituição de símbolos, emocionalmente inertes, por pessoas, o que, possivelmente, influirá na motivação do experimento e nos seus resultados.

Duas abordagens estatísticas distintas resultarão do experimento:

  1. a)               a)  índice de acerto do total das vinte e cinco tentativas;
  2. b)               b) índice de acerto em relação a cada pessoa-alvo.

Nesse experimento, o efeito de declínio é minimizado, embora devamos observar o efeito de deslocamento, principalmente em relação à pessoa preferida pelo percipiente.

Por outro lado, não há o inconveniente da semelhança topológica, observada por Ronaldo Dantas, na sua crítica bem fundamentada ao baralho Zener.

O alvo humano não tem a frieza e a artificialidade dos símbolos das cartas Zener. Pelo contrário, é um alvo que interage com o percipiente e colabora com o seu esforço de adivinhação, principalmente se agente e percipiente estiverem ligados por fortes laços afetivos. O ponto forte do experimento é o seu envolvimento emocional e ausência de neutralidade. É a criação de uma situação humana real em laboratório e não um seu sucedâneo artificial nem sempre bem sucedido.

O experimento é feito com cinco pessoas conhecidas do percipiente, com cinco pessoas desconhecidas, porém apresentadas a ele antes do experimento e ainda com a mistura de pessoas conhecidas e desconhecidas. Assim, é possível avaliar se o percipiente obtém ou não melhor resultado com pessoas conhecidas do que com pessoas que apenas conheceram momentos antes da experiência.

Poder-se-ia argüir que os participantes pudessem influenciar o percipiente além daquele que se encontra sentado na cadeira. A hipótese é viável, mas só os resultados da pesquisa poderão constatar essa influência. Por exemplo: por que o percipiente, numa série de experimentos com determinado grupo de pessoas, anota, com mais freqüência, o nome de uma delas? Será que essa circunstância indica que a pessoa referida, independente de estar sentada na cadeira, continua influenciando o perceptor?

Por outro lado, seria interessante observar o contrário: por que determinada pessoa é, numa série de experimentos, a menos anotada pelo percipiente? É por que a sua influência sobre o percipiente é irrisória ou por que existe um bloqueio psicológico entre eles, impedindo o intercâmbio telepático.

A explicação para os dois tipos de influência pode ser de natureza psicológica, mas também parapsicológica.

O TCO pode ser também de natureza qualitativa, quando dele participam pessoas desconhecidas do percipiente.

Depois que o percipiente se recolhe à cabina, o pesquisador convida os participantes a se sentarem, sucessivamente, na cadeira, a fim de que possam ser analisados psiquicamente pelo percipiente. Assim que cada pessoa se senta na cadeira, o percipiente recebe um sinal luminoso e procura descrevê-la física e psicologicamente, anotando as suas impressões nas folhas do teste.

Terminada a experiência, o pesquisador convida o percipiente para sair da cabina e, em seguida, o apresenta às pessoas que participaram do experimento. Elas receberão as descrições do percipiente e se pronunciarão, por escrito, sobre elas.

Os experimentos com o TCO já foram iniciados no Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas e seus resultados serão publicados na próxima edição do Anuário Brasileiro de Parapsicologia.

 

(*)  Publicado no ANUÁRIO BRASILEIRO DE PARAPSICOLOGIA – 2002

 

BIBLIOGRAFIA

 

BORGES, Valter da Rosa – Introdução ao Paranormal. Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas. Recife, 1976.

BORGES, Valter da Rosa – A Parapsicologia e seus Opositores. Anuário Brasileiro de Parapsicologia-1999.

GELEY, Gustavo – Del Inconsciente al Consciente. Constancia. Buenos Aires, 1947.

GELEY, Gustavo – La Ectoplasmia y la Clarividencia. Aguilar. Madri.

POLLACK, Jack Harrison – Croiset the Clairvoyant. Doubleday & Company Inc, Garden City, New York. 1964.

RICHET, Charles – Tratado de Metapsíquica. Lake. São Paulo. S/d.

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