Indicadores de transmissão telepática. Análise PAA um método de medidas de emissão-recepção com baralho zener

IVO CYRO CARUSO

 

 

Vários indivíduos foram submetidos aos ensaios transmissão singular, utilizado-se o baralho Zener. O baralho é constituído de 25 cartas que se arranjam em 5 grupos de 5 cartas elementares. Essas cartas são cegas em uma face e na outra se encontra um desenho que a caracteriza: “estrela”, E “ondas”,  I “cruz”, O “círculo” e U “quadrado”. O caráter cruz seria melhor designado “mais

 

Para facilidade de representação redacional acima serão designados pelas vogais: A = “estrela”, E = “ondas”,  I = “cruz”, O = “círculo” e U = “quadrado”.

 

Breves entrevistas se fizeram com os indivíduos submetidos aos ensaios e foi-lhes perguntado e repergunto antes da descoberta da face desenhada das cartas, o que sentiam e como se sentiam, e, logo após, qual a sua expectativa de acerto, quais os sinais que mais intensamente perceberam ou assim o julgaram. Esse inquérito básico serviu para uma analise comportamental e auto-avaliação da qualidade de captação dos “sinais” por parte do receptor.

 

O  ENSAIO

 

As cartas são baralhadas de modo que o emissor são conhece a carta levantada. O receptor só toma conhecimento da seqüência ao final da experiência, isto é, após ter dado suas respostas aos 25 “sinais”. Cada sinal se vincula a cada carta vista pelo emissor. O receptor sabe que a seqüência das cartas é aleatória. O processo não envolve uma linguagem discursiva. O receptor esta envolvido em um jogo, “ganha-perde”, do tipo acerta ou erra um dentre cinco caracteres para cada grupo de cinco cartas.

 

Nesse processo, o receptor, só ao final da última carta, toma conhecimento da seqüência emitida e então compara com a sua seqüência “percebida”. Sob ponto de vista do receptor, após uma qualquer i-ésima carta, da 1ª a 24ª,todas as cartas restantes, antes de lhe serem apresentadas são equiprováveis, isto é, têm a mesma probabilidade de sucesso.

 

Considerando-se esse processo controlável, admi­te-se vir a ter um conjunto controlado de emissão e captação de mensagens entre o emissor e o receptor. Também se submeteram aos mesmos tipos de ensaios mais de um emissor para um receptor, tendo sido feitos, antecipadamente, ensa­ios isolados de cada emissor com o mesmo receptor escolhi­do.

 

De acordo com as entrevistas, pode-se anotar que, geralmente, o receptor sofre alguma angústia, mesmo que considere lúdico o exercício de percepção da carta (vista apenas pelo emissor) e submete-se a certa quantidade de interferência indefinida e por ele próprio dita indesejável que tende a deteriorar em elevado grau e de maneira imprevisível as mensagens, durante o processo.

 

ESQUEMA DE TRANSMISSÃ0

 

A teoria da informação mostra como se pode cal­cular a taxa máxima de informações transmitidas livres de erros e as taxas de ruídos, de equívocos, ou da incerteza e da redundância num sistema de informação. Isso tem uma considerável importância teórica e facilita a disciplina de uma proposição para analise quantitativa.

 

Adota-se a suposição de que a transmissão telepática ocorre em uma sucessão estrutural muito complexa, porém algo análoga à da teoria da informação.

 

 

 

Fig. 1: Esquema simplificado de uma estrutura de transmissão.

 

 

Sugerem-se os métodos gerais indicados para o esquema da transmissão de informações, caso possam ser seguidos. Sob a crítica do conhecimento, essa analogia deve­ria ser adotada em uma fase posterior a descrição do fenômeno, de sua classificação e similaritude a uma teoria co­nhecida.

 

Admite-se aprofundar-se na analise e o objetivo é atender-se a um desafio e provocar a crítica e os estudos daí decorrentes.

 

O bloco denominado “fonte” pode ser visto sob o aspecto da carta visualizada “visão-cérebro” e mentalizada pelo emissor. Na etapa da mente a “transmissão” admite-se um acoplador. Esse acoplador apenas introduz mais uma variável desconhecida, no estágio atual do processo, vez que o cérebro, por si só, já é um operador de elevada com­plexidade. A bem da verdade, na transmissão telepática, essas estruturas envolvem elevado grau de desconhecimento. Trata-se de um sistema submetido à ação de equívocos e de ruídos conforme mencionado no apêndice I.

 

Por fim, no “destino”, depara-se com etapas de grande complexidade mente-cérebro-nervos motores até à fa­la, expressão do caráter da carta-expectativa, que traduz a percepção. Em verdade, o “acoplador” na Fig. 1 enfatiza a existência de um operador diferenciando o esquema de um ar­tificial, físico, cuja estrutura contem um maior grau de conhecimento e menor número de fatores de perturbações. Tais perturbações designadas ruídos, no caso do esquema da Fig. 1, representativa da transmissão em estudo, parece en­contrar-se presente em todos os componentes da estrutura. É óbvio que o sistema proposto, por ora, esta excessivamen­te generalizado e reduzido, todavia parece adaptar-se aos modelos correntes e servir às análises das interações, necessárias a uma redução sistemática de conformidade com o modelo da teoria da informação. A maneira pela qual se possa tirar conclusões sobre uma ampla coleção de dados através dessa abstração servira para definir alguns con­ceitos e análise do comportamento do tipo de transmissão em estudo de maneira quantitativa que poderá vir a ajudar as análises qualitativas do processo A dificuldade maior se logra no parcimonioso conhecimento de elementos estruturais e processos envolvendo o cérebro e seus vínculos com a mente.

 

UM AUXÍLIO DA TEORIA DA INFORMAÇÃO

 

Sob o ponto de vista da fonte e sob o aspecto quantitativo, o rendimento no processo telepático é muito baixo, sofre muitas perdas e o receptor é um jogador que desafia um banqueiro muito otimista, pois no julgamento deste último, o sucesso de acerto do receptor é uma expectativa de baixa probabilidade. Analogamente ao processo de informação, o emissor expedira uma sucessão de mensagens, os caracteres impressos nas cartas, elementos de um conjunto definido e finito: o baralho Zener. Se se puder medir ou interpretar, através de um ou mais indicadores, os resultados dos acertos dos caracteres emitidos durante a transmissão, saber-se-á algo a respeito da fonte. Dessa fonte é emitida uma seqüência finita de mensagens possí­veis. Via de regra, com alguma probabilidade relativa, fonte emitirá uma quantidade, ou coleção, de mensagens lista de caracteres, no caso as cartas do baralho Zener. Doutra parte, considera-se o comportamento do receptor, quanto ao seu sucesso de perceber os exatos caracteres emi­tidos.

 

Convém recordar que nesse jogo, somente ao final da última carta, vista pelo emissor, permitiu-se ao recep­tor tomar conhecimento da ordem sucessiva das transmissões e, então, examina os acertos, desvios e insucessos.

 

Essa sucessão de informações, quer das emissões, quer das recepções, são organizadas na forma de um proto­colo do ensaio, que serve para a preparação de uma matriz, em cujos quadrículos são lançadas as freqüências dos estí­mulos-respostas

 

A indagação de qual o caráter que será transmiti­do, corresponde a uma incerteza. Qual a sucessão das car­tas que serão emitidas e que corresponderão à mensagem, é a incerteza de entrada do sistema. No momento de iniciar-se o ensaio, a incerteza da informação H é total para o nu­mero de caracteres envolvidos no sistema. Essa incerteza de informação se compreende da aleatória sucessão dos ca­racteres: a mensagem esperada é a sucessão das cartas bara­lhadas, a que o receptor se propõe captar. Supõe-se que no processo subexista algum raciocínio lógico de escolha dos caracteres. Na falta de um suporte físico, seria de esperar-se uma resposta causal, isto e, seria causal se, ao estímulo do movimento de levantar a carta e esta ser vista pe­lo emissor, o receptor através de algum vínculo físico ti­vesse um certo número de respostas possíveis pelas quais decidir. Esse vínculo físico é o baralho Zener e, portan­to, a coleção finita de caracteres é a possibilidade causal da resposta envolvida na decisão. Tudo se passa como se o receptor seja incitado a um numero de indagações simples, do tipo “sim-não”, rápidas, exigindo um pequeno espaço de tempo (ver Apêndice II).

 

É nesse sentido que se solicita do leitor recor­rer à teoria da informação e ao seu modelo matemático. De­finem-se os dois parâmetros físicos:

 

H = taxa de informações, associada à fonte, “entropia” da fonte, ou incerteza da informação;

C = capacidade do canal, associado com e que contém ruídos, em certo grau.

 

A significação dessas quantidades, em termos do modelo da teoria da informação, é clara e definida para qualquer sistema real, isto é, físico, de comunicação. Os valores de H (taxa de informação) e C (capacidade do canal) podem ser determinados por uma análise detalhada do mode­lo do sistema, conforme detidamente tratado no Apêndice 1.

 

O  teorema fundamental da teoria da informação é enunciado da seguinte forma (teorema de Shannon):

 

“Dada uma fonte que emite informações segundo a ta­xa H e um canal de capacidade C, contendo ruídos:

 

“Se a taxa de informações H for menor do que a capacidade do canal C, então existem um trans­missor e um receptor tais que as mensagens emiti­das pela fonte podem ser passadas pelo canal (da fonte para um destino) com uma taxa de erro arbi­trariamente pequena;

 

“Se a taxa de informações H for maior do que capacidade do canal C não existe nenhum meio possível de transmitir as mensagens canal, para um destino, sem uma determinada taxa de erro, fixa e finita”.

 

Para esse sistema transmitir da fonte ao desti­no, é necessário que o emissor e o receptor combinem um código entre si, antecipadamente. Nesses ensaios o código é o das cartas do baralho Zener.

 

O teorema evidencia que a capacidade do canal é um limite da taxa em que as informações podem ser enviadas, contendo ruído, com a taxa de erro mantida arbitraria­mente pequena. Contudo o teorema não indica como reduzir a taxa de erro quando a taxa de informação H é menor do que a capacidade do canal C.

 

À medida que a taxa H da fonte aumenta, o emissor e o receptor necessitam inventar códigos, cada vez com mais símbolos distintos uns dos outros com precisão arbitrária. No processo de um emissor e um receptor, usando as cartas Zener, supõe-se estar diante de uma taxa H muito menor do que a capacidade C do canal.

 

 

O   MODELO PROPOSTO

 

 

Os apêndices I e II apresentam com detalhes a configuração do modelo proposto para medidas e para o lei­tor que aprecia raciocínio matemático, as citações bibliográficas são suficientes para despertar sua análise e cri­tica ao método exposto.

 

A matriz das freqüências estímulos-respostas das correspondentes emissões-recepções e constituída de 5 co­lunas, entradas das emissões-estímulos e de 5 linhas, as recepções-respostas. Cada um dos quadrículos representa a freqüência de emissão-recepção ocorrida no ensaio. Essa freqüência, em relação aos 25 caracteres, dá a probabilidade do evento. A diagonal principal representa aquelas emissões em que aconteceram respostas certas, ou recepções com sucesso e que se designa diagonal de acertos, na qual o caráter A emitido provocou uma recepção A e assim suces­sivamente, com E-E, I-I, O-O e U-U.

 

O  valor da incerteza pode ser determinado de acordo com um modelo lógico da ordem das indagações associadas a um caráter. Assim o número médio determinado de indagações é ligeiramente menor do que o total de indagações caso fos­sem alógicas e desse modo se consegue certa poupança de 3/5 em cada 3 indagações, para cada caráter. Nesse processo a incerteza relativa, o número médio de indagações em relação ao número máximo de indagações, é de 4/5 ou 80%, valor muito elevado, relativamente.

 

O modelo proposto leva em conta a medição de:

 

– percentagem de acertos;

– eficácia das transmissões de acertos D(a);

– fidedignidade da transmissão dos acertos f(a).

 

A percentagem de acerto é obtida do cálculo ime­diato do número de sucessos da percepção da carta emitida num total de 25, por jogo.

 

Examina-se no Apêndice III que, em um intervalo de confiança de 99,5%, existe a chance de sucesso entre 3 e 7 cartas em 25. Nessa faixa se encontra a possibilidade de acertos probabilísticos. Acima de 7 acertos já ocorrem sucessos de ordem superior à da expectativa estatística, o que é discutido ainda no Apêndice III. Na coleção de experiências efetuadas, nota-se a tendência de eventos de 1 acerto em 5 e mesmo de 2 acertos em 5, de eventos amostrais de 5 cartas, o que projeta um tipo de evento que tende ao fracasso além de qualquer dúvida razoável.

 

A eficácia da transmissão dos acertos D(a) mede a relação entre a transmissão dos acertos T(a) em relação à incerteza de entrada H(in)= 2,3219 bits. T(a) varia de zero a cem por cento. Valores adequados são obtidos a partir de 45% e dificilmente serão superados os 75%.

 

A fidedignidade da transmissão dos acertos f(a) mede a relação entre a transmissão dos acertos T(a) e a incerteza média de todos os estados possíveis no interior do sistema, o ensaio considerado. Quanto menos dispersas as freqüências das respostas aos estímulos, tanto maior a fidedignidade observada.

 

Esses parâmetros servem de indicadores nos en­saios individuais bem como são consistentes nos ensaios de reforço de emissão, obtida com mais de um emissor para um só receptor, mesmo quando não ocorra uma soma dos seus acertos individuais, conseguidos nos ensaios isolados. Observa-se que, no reforço, nem sempre o resultado somatório de acertos e o mais evidente, ocorrendo aumento de desvios, ou menor dispersão dos estímulos-resposta (emissões—recepções).

 

Além desses parâmetros, outros podem ser deter­minados, conforme indicado no Apêndice I, em caso de ne­cessitar-se deles.

 

CONCLUSÕES

 

 

Se fossem outros os caracteres, ou os símbolos, aumentando suficientemente a taxa H da fonte, o emissor e o receptor seriam obrigados a criar códigos com tantos simbolos diferente     mais que, por mais inventivos                           imagina­tivos que sejam, não conseguiriam reduzir arbitrariamente a freqüência de erros do receptor. O problema do reforço de emissões por parte de mais de um emissor para um só receptor permanece dependente de vários fatores, quer intensificadores, quer inibidores

 

Essas considerações sugerem:

 

  • necessidade de um código identicamente interpretado pelo emissor e receptor;

– necessidade de bom “rapport” entre o emissor e receptor;

– idêntica resposta aos estímulos, dependente da vivência de cada um; emissor e receptor;

– intensidade emotiva do receptor ou de ambos, emissor e receptor;

  • intensidade da concentração lúdica, ou não do receptor, ou de ambos, emissor e receptor;
  • afluência de pessoas e influência da presença de pessoas “empáticas” ou não;
  • a postura do emissor;
  • o desejo do receptor mostrar bom, desempenho.

 

No que se refere ao receptor, segundo os níveis organizados de seu comportamento tudo leva a supor que o objeto de pesquisa deva orientar-se para a análise e des­dobramento dos fatos quanto:

 

  • à percepção extra-sensorial (ESP);
  • à combinação dos estímulos em padrões ESP, de acordo com os hábitos e habilidades comuns aos emissores e receptores e a carga emotiva en­volvida;
  • à aceitação de uma codificação, constituindo uma “gramática” comum que facilitará o “rapport” entre emissores e receptores;
  • a interpretação da mensagem por parte do re­ceptor e compreensão dos estímulos percebidos, além dos limites de sua percepção em estado de vigília, talvez em níveis sofrológicos;
  • à crença na validade da transmissão telepática, isto é, ênfase da conduta subjetiva e importância das implicações objetivas e práticas como ESP.

 

Foram arroladas seqüencialmente as respostas de diversos ensaios de um mesmo respondente e não foi deduzido da matriz obtida nenhum resultado significativo quanto a:

 

  • repetição em uma ordem i-ésima de uma respos­ta, numa coleção de ensaios;
  • predominância de seqüência que introduzisse “vicio” em qualquer posição das respostas;
  • esquema repetitivo das respostas em relação a uma ou mais carta, quanto à posição, ou quan­to ao grupo seqüencial;
  • fixações e vícios, acima descritos, nas res­postas aos testes efetuados no mesmo dia, ou em dias diferentes.

 

Tomando-se somente as 25 respostas de um ensaio e passando-as sucessivamente para uma matriz (semelhante à dos estímulos-respostas), obtém-se uma matriz de transição das respostas. Essa matriz vincula a ordem seqüencial de cada resposta com a resposta anterior. Na matriz, cada resposta tem por entrada a que a antecede e informa como o receptor passou de um caráter a outro em duas res­postas sucessivas. Da análise dessas matrizes de transição, pode-se inferir:

 

  1. a) Levantadas diversas matrizes de transição das respostas não foi notada distribuição estacionária que sugerisse a presença típica da cadeia de Markov.

Não foi encontrado qualquer caso de uma situ­ação de estado absorvente isto é, de freqüência 5 nas matrizes de transição das respos­tas, quer em quadrículos da diagonal princi­pal dessa matriz, quer em outros quadrículos. Muito ao contrário, é mais comum encon­trar-se vazios vários quadrículos da diagonal principal de uma matriz de transição de respostas, o que se torna mais freqüente à me­dida que aumentam os percentuais de acertos do ensaio correspondente.

  1. c) Da análise exaustiva de matrizes estímulos-respostas notou-se que a covariância e a correlação estatísticas, que são medidas da maneira pelas quais os estímulos e respostas estão inter-relacionados, mostram que as res­postas são dependentes dos estímulos. Consi­dera-se esse fato muito relevante.

 

No caso, sugere-se aplicar-se cálculos de variância, covariância e correlação estatística, cuja interpretação pode conduzir a interessantes análises da dispersão e relacio­namentos dos eventos observados A dependência referida em (c), se bem que fossem mais desejáveis um número maior de observação, foi notada em todos os casos de matrizes estímulos-respostas nas quais a diagonal principal conti­nha quadrículos vazios, em outras palavras, um ou mais caráter emitido sem acerto.

 

Levando-se em conta que um método de medida não só exige um dispositivo que introduza controle, mas tam­bém intui alterações na metodologia da pesquisa no senti­do de mantê-la sob condições mínimas de controle, é desejável continuar-se esse tipo de pesquisa e perseguir-se um método tão simples ou mais quanto se tenta apresen­tar neste estudo e se oferece com detalhe nos Apêndices I, II e III que resumem, em linguagem matemática accessível e simplificada, os fundamentos e cálculos para o mé­todo de medida proposto.

 

 

 

 

 

 

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