MGP – Um Modelo Geral para a Parapsicologia (*) – Valter da Rosa Borges

Valter da Rosa Borges

 

SUMÁRIO

 

O presente trabalho é uma apresentação sumária do Modelo Geral da Parapsicologia (MGP), elaborado por mim, por Ivo Cyro Caruso e por Ronaldo Dantas, em 1985, e adotado oficialmente pelo Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas- I.P.P.P.

 

Trata-se de um modelo descritivo, que fornece uma visão unitária e coerente da fenomenologia paranormal, simplificando a sua estrutura, precisando conceitos e estabelecendo os fundamentos necessários para uma teoria geral da paranormalidade.

 

Na sua simplicidade funcional, o MGP situa o homem, na condição de Agente Psi, como centro causal e dinâmico de complexas operações cognitivas e energéticas nas suas relações com outros se­res vivos e a matéria em geral, resultando em uma nova ordem de fenômenos denominados de paranormais.

 

O MGP não se encontra perfeito e acabado, mas em processo de gradual detalhamento de seus aspectos particulares, observando a sua coerência funcional com o todo.

 

Decorridos já seis anos de sua elaboração, os resultados obtidos têm sido, até agora, satisfatórios, demonstrando a sua fer­tilidade, principalmente como reflexão epistemológica, conforme vem demonstrando os seus desdobramentos posteriores.

 

1 – INTRODUÇÃO

 

Há muito que a Parapsicologia se ressentia da falta de um modelo geral e descritivo da fenomenologia paranormal.

 

Em 1985, por ocasião da realização do I Congresso Nordestino de Parapsicologia e do III Simpósio Pernambucano de Parapsico­logia, realizados no auditório da Universidade Católica de Pernambuco e promovidos pelo Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas – I.P.P.P. –  apresentamos (eu e Ivo Cyro Caruso) o esboço inicial de um modelo a que denominamos de Modelo Geral da Parapsicologia – MGP – como mapeamento básico do território fenomenológico da Parapsicologia.

 

Decorridos já seis anos da nossa proposta inicial, o MGP vem demonstrando a sua vitalidade operacional, principalmente pela sua simplificação conceituai e clarificação dos problemas específicos da Parapsicologia. O MGP firmou, de maneira definitiva, a posição do homem como centro dinâmico dos fenômenos paranormais, eliminando, do campo da Parapsicologia, a hipótese metafísica de uma agência transcendental para a explicação daqueles fenômenos. Assentando os seus postulados em base experimental, numa visão e abordagem probabilística da manifestação paranormal, o modelo proposto aumentou o grau de cientificidade na investigação para-psicológica. O passo, na verdade, mais importante foi o da humanização da experiência parapsicológica, eliminando as aderências místicas que tanto prejudicaram (e ainda prejudicam) a compreensão do fenômeno. Assim, o postulado fundamental do MGP, é que o homem constitui a causa exclusiva do fenômeno paranormal e que, na compreensão da natureza humana, poderemos encontrar a explicação dos mecanismos destes fenômenos. Por isso, questões como a sobrevivência post-mortem do homem deixaram de ser objeto da Parapsicologia, passando a se constituir em assunto marginal e especulativo somente cogitado na relação interdisciplinar da Parapsicologia com a Religião.

 

Conseqüentemente, qualquer fenômeno que, ã primeira vista, pareça transcender as capacidades possíveis do ser humano, já não pertence ao campo da parapsicologia, situando-se, por conseguinte, no território da fé, no domínio cognitivo da Religião.

 

Em comentário sobre o MGP e o problema metodológico na Parapsicologia, diz Ivo Cyro Caruso(1):

 

“O MGP pode conter modelos (como um conjunto contém subconjuntos). Cada modelo ou hipótese pode fazer parte de uma teoria sem que essa seja a única teoria. A Parapsicologia deverá conter diversas teorias, que constituirão o seu PARADIGMA, Com efeito, ainda estamos longe de ter um paradigma da Parapsicologia, logo não conhecemos sequer o caminho (metodologia) para edificar uma teoria unificada. Como teorias da Parapsicologia, reuniríamos uma teoria sobre a transferência dos conteúdos simbólicos de uma mente a outra mente; definiríamos uma teoria para o “inconsciente” parapsicológico; uma teoria para os processos de deflagração do fato parapsicológico (ou paranormal); uma teoria para as possíveis medições; etc. Essas diversas teorias e que devem ser coerentes de modo a vir a poder ser unificadas, Parece-nos que se encontra a Parapsicologia muito longe de atender aos rigores des­sa metodologia.”

 

MODELO ORIGINAL

 

Faremos, sucintamente, uma apresentação do Modelo Geral da Parapsicologia (MGP) na sua forma original.  (Vide figura 1)

 

Definimos, inicialmente, a função psi como “o conjunto de todos os elementos, circunstanciais que pode produzir o fenômeno paranormal”. E estabelecemos que os principais conjuntos de elementos circunstanciais se encontram:

 

  1. a) no Agente Psi (AP)
  2. b) no Meio Psi (MP)
  3. c) no Fluxo Psi (FP)

 

Utilizamos a expressão Agente Psi para substituir vocábulos como médium, sensitivo, paranormal, E conceituamos o Agente Psi como “qualquer pessoa envolvida no fenômeno paranormal” e somente “enquanto o fenômeno paranormal se manifesta”.

 

Criamos a expressão Agente Psi Confiável (APC) para designar as “raríssimas pessoas que apresentam alta probabilidade de atuar como Agente Psi”.

 

De logo, estabelecemos os seguintes postulados:

 

  1. a) A presença do Agente Psi é condição necessária, mas não suficiente, para a manifestação da função psi.

 

  1. b) Quanto mais alta for a confiabilidade do Agente Psi, maior será a probabilidade de manifestação da função psi.

 

O Agente Psi pode ser simples ou complexo.

 

O Agente Psi é simples, quando, para a manifestação da função psi, concorre uma só pessoa.

 

O Agente Psi é complexo, quando, para a manifestação da função psi, concorrem duas ou mais pessoas.

 

Definimos o Meio Psi como “o espaço onde ocorre o fenômeno paranormal, constituindo-se de todos os elementos circunstanciais que se interagem com os demais elementos da função psi”, ou seja, “as forças e os campos do domínio de elementos naturais e do Agente Psi, tanto a níveis microscópicos quanto a níveis macroscópicos. “E destacamos, como um dos elementos do Meio Psi, o que denominamos de Campo Psi, isto é, “o domínio de ação das atividades superiores do cérebro e que interage com a estrutura energética do espaço”.

 

E, finalmente, conceituamos o Fluxo Psi como um fator circunstancial da função psi, constituindo-se da interação de informação e energia, e emergente no instante operacional do Agente Psi,

 

Distinguimos no Fluxo Psi dois aspectos distintos:

 

  1. a)   O Fluxo Psi Informacional (FPI), quando, nele, a in­formação e dominante em relação à energia,
  2. b)   O Fluxo Psi Energético (FPE), quando,nele, a energia é dominante em relação ã informação.

 

E reconhecemos no Fluxo Psi duas formas de manifestação:

 

  1.     a) Endopsi, quando a informação ou a energia se transfere do nível inconsciente para o nível consciente do Agente Psi e vice-versa;
  2.    b) Exopsi, quando o Agente Psi, nas suas relações com o Meio Psi, exterioriza ou recolhe conteúdos informacionais ou energéticos.

 

Anotamos, ainda, que, “em certos casos, a saída de informação ou de energia pode originar-se do nível consciente do Agente Psi, quando este quer produzir um fenômeno paranormal e o consegue”.

 

3 – DESENVOLVIMENTO E CRÍTICA DO MGP

 

Fundamentalmente, toda a fenomenologia paranormal se re­sume em duas modalidades operacionais, mas constituindo, em sua essência, em duas faces da mesma moeda: a) um conhecimento paranormal ou informação (psi-gama) e uma ação paranormal ou energia (psi-kapa). Assim, um fenômeno é de psi-gama, se a informação/energia se apresenta sob forma de informação. E é de psi-kapa, se a informação/energia se apresenta sob o aspecto de energia. É, mutatis mutandi, a mesma solução que, na Física, se adotou para o problema onda/partícula. Podemos, então, postular que, em Parapsicologia, a mente conhece, agindo, e age, conhecendo. Ou seja: toda a informação se expressa com dispêndio energético e toda a energia se expressa com um mínimo de informação. Ou, ainda, numa linguagem cibernética: o psi-gama é o software que se visibiliza através do hardware, e o psi-kapa é o hardware como linguagem física do software.

 

A mente ê um campo informacional-energético que, embora operacionalmente referenciado a um lugar no espaço (a estrutura somática) e com ele habitualmente interagindo, pode, em condições excepcionais, agir em qualquer outro lugar do espaço, Logo, a mente não está dentro ou fora do corpo físico. Ela se manifesta através de uma estrutura biológica e de maneira mais complexa através do cérebro humano. A mente, portanto, não está no espaço, mas age no espaço, utilizando-se de um veiculo biológico e, a partir deste referencial operativo, também age, em situações especiais, em qualquer lugar do espaço.

 

No MGP, o homem é o centro dinâmico das operações parapsicológicas e a mente, embora indivisível, funciona, segundo as circunstâncias, em dois níveis:

 

  1. a) um nível consciente e seletivo;
  2. b) um nível inconsciente ou genérico. Ou seja: em nível consciente, a ação da mente é direcionada para as necessidades do momento, constituindo uma atividade redutora, setorizada, seletiva; e, a nível inconsciente, a ação da mente é integrada e de extraordinária abrangência, como se ela agisse em sua totalidade.

 

Considerando que o homem é um sistema aberto, interagindo com outros sistemas vivos e o mundo exterior, conceituamos a telepatia e a clarividência como as duas fontes externas do conhecimento paranormal,(2) unificados, em nosso modelo, como Fluxo Psi Informacional. Negamos, também, a precognição como modalidade de psi-gama (3), por reconhecer que aquela não passa de uma característica desta. Na verdade, a precognição se reduz a uma experiência telepática ou de clarividência, visto que a mente não está prisioneira da serialidade unidirecional do tempo e, por isso, pode situar-se em qualquer ponto do devir. E, como o espaço e o tempo formam um continuum, a mente, ao interagir com esse continuum, ocupa, simultaneamente, um ponto numa região do espaço e no processo seqüencial do devir, que constituirão, para ela, o seu aqui e agora, nem sempre coincidentes com a posição espaço-temporal de seu referencial biológico. Para explicar essa incoincidência, admitiu-se que a mente é capaz de deslocar-se no espaço (projeção da consciência) ou de se deslocar no tempo (retrocognição e precognição). Ora, se a mente não está no continuum espaço-temporal, mas interage com esse continuum num modus operandi que ainda nos é desconhecido, parece-nos uma impropriedade admitir o seu deslocamento a partir de seu referencial biológico a qualquer região do espaço ou a qualquer ponto do devir.

 

Caruso (4), ressalta a necessidade de um sistema de conceitos a partir do que ele denominou de”qualidade parapsicológica”. Trata-se de “um conceito genérico que se aplica desde que se tenha uma experiência previa (ou mais de uma) cuja analise tenha exaurido os seus mais diversos aspectos e sendo um padrão, não há porque exigir-se de fenômenos, cujos resultados sejam semelhantes, a mesma serie de experimentação, para confirmar um tal padrão. O pesquisador não necessitaria de repetir-se, ou repetir outrem, a não ser que trabalhe com novos fatores circunstanciais, com o propósito de obter novos resultados, previamente determinados como hipótese de pesquisa, buscando uma equivalência prévia entre dois processos para normais.”

 

Caruso estabelece os seguintes enunciados e postulados no seu programa para uma teoria parapsicológica:

 

Enunciado 0:O problema fundamental da Parapsicologia se encontra na percepção complexa que se opera a nível inconsciente.Atualmente, sob diversos aspectos, esse enunciado preexiste em todos os trabalhos parapsicológicos e se trata de uma “caixa preta” no processo paranormal.

Enunciado1:Oproblema fundamental de uma teoria parapsicológica consiste em identificar as estruturas especificas em que se desenvolve o processo paranormal e de compreender de que maneira essas partes se relacionem, como um sistema parapsicológico.

E                           Enunciado 2: 0 tema central de uma teoria parapsicológica é dar ao conceito paranormal uma forma explícita, isto é, uma determinação quantitativa precisa, com o objetivo de efetuar o controle da fenomenologia paranormal adequadamente.

E                           Enunciado 3: A tarefa da Parapsicologia consiste em definir dados coletivos derivados com efeitos circunstanciais derivados, a partir de certos eventos coletivos iniciais, efetores, com certos fatores circunstanciais iniciais dados,

Po                          Postulado 1: Existe uma invariância da quantidade de energia no sistema parapsicológico, durante o processo paranormal.

P                           Postulado 2: Existe uma invariância da quantidade de informação no sistema parapsicológico, durante o processo paranormal,

Postulado 3: Espessura do presente, num sistema parapsicológico,é uma faixa de percepção entre níveis ou limiares de percepção no interior da qual ocorre uma simultaneidade  parapsicológica de resolução totalizante e, fora da referida faixa, todos os eventos se confundem, ou ficam anuviados.

Este último Postulado é uma adjunção de idêntica espessura do presente devida a Abraham Moles”,

 

3.1 – Do Agente Psi

 

Se o Agente Psi (AP) é qualquer pessoa que deflagra um fenômeno paranormal, o Agente Psi Confiável (APC) é aquela que, habitualmente, se coloca nesta situação operacional, A confiabilidade do Agente Psi Confiável, no MGP, é sinônimo de significância estatística, Ou seja: na presença de um Agente Psi Confiável (APC), há uma significativa probabilidade de ocorrerem fenômenos paranormais. Assim, quanto mais poderoso for o Agente Psi, maior será o seu índice de confiabilidade, o que significa que, em sua presença, existe uma alta probabilidade de manifestações paranormais.

 

Agente Psi ou Agente Psi Confiável não é um tipo de personalidade, mas uma situação humana eventual, intermitente ou crônica, ensejando a manifestação de um fenômeno de alta complexidade a que se denominou de paranormal

 

O Agente Psi é condição necessária, mas não suficiente, na deflagração do evento parapsicológico, porque seu desempenho depende de, não só de suas condições psicofisiológicas, mas das condições do meio exterior e do tipo de relação que, em dado momento, possa se estabelecer entre esses dois fatores, Este meio exterior passa a denominar-se de Meio Psi se, na sua interação com o Agente Psi, enseja o aparecimento do Fluxo Psi, deflagrando a função psi.

 

3.2 – Do Meio Psi

 

O Meio Psi não é apenas constituído de elementos físicos como foi dito no MGP original, mas também por elementos socioculturais. Se fatores meteorológicos e geográficos influem na manifestação dos fenômenos paranormais, o mesmo se pode dizer do clima social onde vive o Agente Psi. É o tipo de interação entre o Meio Psi e o Agente Psi que determina a natureza, a intensidade e a freqüência dos fenômenos paranormais.

 

3.2.1 – Do Campo Psi

 

O Campo Psi não é somente um sub-elemento do Meio Psi, Ele é o vetor, por excelência, da interação entre o Meio Psi e o Agen­te Psi.

 

Questão polêmica e de alta complexidade consiste em determinar se o Campo Psi é constituído de cérebro e mente (seja como um só sistema, seja como dois sistemas interdependentes: a mente como epifenômeno do cérebro ou o cérebro como instrumento da mente) ou de apenas cérebro.

 

Mente-mente e mente-mundo são dois sistemas dinâmicos em interação permanente, permutando, reciprocamente, informação e energia, resultando não apenas na manutenção das relações habituais, mas também gerando relações imprevistas de alta complexidade e denominadas de paranormais.

 

O conhecimento aprofundado do sistema nervoso superior, embora necessário, não ê, porém, suficiente para entender toda a realidade da natureza humana. O hardware não esgota ou exprime todas as possibilidades do software, mas o aperfeiçoamento daquele importa na revelação progressiva da extraordinária complexidade deste último.

 

Hipócrates (século IV a.C.) já havia asseverado que o cérebro é o mensageiro e também o intérprete da consciência. Se o cérebro é ainda um mistério que vem sendo lentamente desvendado, o que diremos, então, da consciência? Cuidamos que é apressado (e até temerário) dizer-se que a consciência não passa de um epifenômeno da atividade cerebral ou que possa existir uma consciência em abstrato, destituída de uma base física ou energética de qualquer natureza.

 

Wilder Penfield (5) assim se posicionou perante o problema:

 

“E suponha que a mente dirige e o mecanismo mental executa. Este realiza a mensagem. Como Hipócrates expressou, há muito tempo atrás, o cérebro é o “mensageiro” da consciência. Ou, como poderíamos expressar, atualmente, o mais alto mecanismo cerebral é o “mensageiro” entre a mente e outros mecanismos do cérebro”.

 

A música não existe por causa dos instrumentos musicais, mas se fenomenaliza por intermédio deles. E à medida que se aperfeiçoam os instrumentos musicais, a música se enriquece na sua execução e nas suas possibilidades interpretativas.

 

A mente nos parece um sistema integrado de informações num permanente e crescente processo de complexificação, aumentando, cada vez mais, a sua capacidade operativa. Cérebro e mundo são os instrumentos de que se vale a mente para alimentar-se como sistema cognitivo e operativo. A mente, assim, se enriquece não só das relações cérebro-mundo, mas das relações do cérebro consigo mesmo, produzindo novos conteúdos cognitivos num processo estocástico e criativo. Ou seja: o conhecimento não é fabricado apenas a partir do material recolhido pelo cérebro do mundo exterior, mas também da manipulação dos próprios conteúdos psíquicos, mediante o processo da livre associação dos mesmos. Do mesmo modo, o conhecimento paranormal pode ser recolhido do mundo exterior, mas pode, também, ser gerado na própria intimidade do psiquismo inconsciente do Agente Psi.

 

4 – DO FLUXO PSI

 

O Fluxo Psi foi um dos elementos da função psi que, na análise crítica do MGP, mais se enriqueceu com novas reflexões e desenvolvimentos, resultando, por conseguinte, no seu aperfeiçoa mento.

 

Caruso reconheceu que, no Fluxo Psi, há mais apropriadamente uma relação diádica entre informação e energia do que de dominância, segundo o caso, de uma sobre a outra como se admitiu no MGP original, Assim, pode-se claramente distinguir:

 

“Fluxo Psi Informacional(FPI) quando se manifesta a mensagem/comunicação na relação diádica do fluxo psi;

 

“Fluxo Psi Energético (FPE) quando se manifesta a matéria/energia na relação diádica do fluxo psi”.

 

Como bem observou Ronaldo Dantas (6), o Fluxo Psi, a rigor, não é um dos elementos da função psi, mas o

resultado da relação entre o Agente Psi e o Meio Psi.

 

Na linguagem do MGP, o Fluxo Psi, seja no seu aspecto de informação – Fluxo Psi Informacional ou psi-gama -, seja no seu aspecto de energia – Fluxo Psi Energético ou psi-kapa – opera a partir de um referencial orgânico ou físico e é decodificado, sob forma de informação ou de energia, por uma pessoa humana, denominada, nesta situação, de Agente Psi, resultando na deflagração de um fenômeno paranormal e constituindo um evento catastrófico dentro das expectativas das leis físicas conhecidas. Ou seja, o comportamento do Fluxo Psi, sob qualquer dos seus aspectos, consiste numa violação às estruturas espaço-temporais e ao modelo lógico da nossa realidade convencional, assim como ao realismo ingênuo do denominado senso comum.

 

O MGP, trabalhando com a relação diádica informação-energia, assemelhado ao modelo físico de onda-partícula, simplificou e unificou toda a fenomenologia paranormal. Tudo o mais não passa, a partir de agora, de formas de exteriorização de informação- Fluxo Psi Informaciona1 – e de energia – Fluxo Psi Energético -, geradas pelo psiquismo inconsciente de uma pessoa humana, denominada, nessa circunstancia, de Agente Psi.

 

O Fluxo Psi pode originar-se no psiquismo consciente ou inconsciente de uma pessoa humana como também do mundo exterior e alcançar o psiquismo inconsciente de outra pessoa na situação de Agente Psi potencial, Uma vez alcançado o nível inconsciente desta pessoa, o Fluxo Psi, agora denominado de Fluxo Exopsi pode converter-se ou não em Fluxo Endopsi. Ocorrendo a conversão, o Fluxo Exopsi se exterioriza sob forma de Fluxo Psi Informacional, passando o deflagrador humano da situação de Agente Psi potencial para Agente Psi atual. Em não se convertendo em Fluxo Endopsi, o Fluxo Exopsi poderá se exteriorizar em Fluxo Psi energético, afetando o organismo do Agente Psi ou transferindo-se para o mundo exterior, Isso confirma a asserção de que qualquer pessoa é um Agente Psi em potencial, podendo, segundo as circunstancias, passar a situação de Agente Psi atual.

 

O Fluxo Psi, alcançando o organismo dos seres vivos e a matéria em geral, jamais se converterá em Fluxo Endopsi, isto é, se expressará sempre sob a forma de Fluxo Psi Energético.

 

Ronaldo faz uma critica topológica às figuras do baralho Zener, enfatizando as suas deformações no Fluxo Psi, Diz ele (7):

 

“O Fluxo Psi, ao atravessar o nível inconsciente,bem como ao atingir o nível consciente, pode sofrer uma transformação, deformando, assim, a representação do objeto alvo. Esta transformação não é aleatória, mas parece efetuar-se como um homeomorfismo entre espaços topológicos, Conclui-se, de imediato, que figuras topologicamente idênticas poderiam ser percebidas como uma mesma figura pelo percipiente, resultando em erro na avaliação estatística.

 

Ao observarmos atentamente as figuras do baralho Zener, baseando-nos no que já foi analisado e fazendo-se uso das noções da Topologia Geral, perceberemos que, em realidade, elas constituem apenas três e não cinco figuras, haja vista a existência de figuras topologicamente idênticas.

 

Em síntese, se psi-gama ocorre conforme um homeomorfismo entre espaços topológicos, então o percipiente poderá apreender o círculo quando na seqüência se apresentar o quadrado, ou vice-versa, ou apreender a estrela quando na seqüência se apresentar a cruz, ou vice-versa, Assim, possíveis experimentos que tenham sido tomados com um baixo índice de acertos poderiam ter na realidade um alto índice, se as figuras fossem topologicamente distintas, Logo, indivíduos que apresentassem, em menor grau, a paranormalida­de, não poderiam ser identificados.

 

Para evitar este erro, que pode ser acrescido à relação dos erros inadvertidos e que, só com a Topologia, pode vir à tona, faz-se necessário a utilização de figuras topologicamente distintas. Indicamos, aqui, uma sugestão para podermos contornar esta possível falha. Para podermos conservar, ao máximo, a tradição, procuramos elaborar o novo baralho tomando como base o próprio baralho Zener; neste ha três figuras topologicamente distintas que poderão permanecer, dentre estas optamos pela onda, cruz e a coroa circular, acrescentando a elas o sinal de interrogação e a lemniscata (Símbolo do infinito), que são topologicamente distintas entre si”.  (Vide figura 2)

 

Ronaldo, buscando uma explicação para o Fluxo Psi, postula “a existência de uma hipersuperfície equipotencial padrão (HEP) (Vide Figura 3), onde a maioria dos fatos (conteúdos) físicos e psíquicos referentes ao passado, presente ou futuro encontrar-se-iam estabelecidos em um instante dado, Acontece, porem, que alguns indivíduos, sob o efeito de uma perturbação, elevam ou diminuem o seu potencial psíquico, passando a situar-se em um potencial superior (hipersuperfície positiva ou HP) ou em um potencial inferior (hipersuperfície negativa ou HN) ao da hipersuperfície equipotencial padrão (HEP), o que enseja o aparecimento do Fluxo Psi, As pessoas que sofrem essa perturbação por um pequeno intervalo de tempo e/ou com baixa frequência são Agentes Psi eventuais. Somente podem ser considerados Agentes Psi Confiáveis, as pessoas que experimentam esta perturbação por um longo intervalo de tempo e/ou com alta frequência,” (Vide figura 4)

 

Entende Ronaldo que “quando a perturbação promove uma diminuição de potencial, passando o individuo a estabelecer-se numa HN, ele se torna um Agente Psi Receptor (APR), visto que o fluxo energético/informacional se dá da HEP para a HN, Mas, se a perturbação promove a elevação do potencial, passando o individuo a esta belecer-se em uma HP, ele se torna um Agente Psi Emissor (APE),vis to que o fluxo energetico/informaciona1 se dirige da HP para a HEP”,

 

Teoriza, finalmente, que dois APCs podem não deflagrar um fenômeno paranormal entre si, pois encontrando-se numa mesma HN ou HP, ou seja, numa diferença de potencial zero, impossibilita riam a formação do Fluxo Psi,

 

4,1 – Situações-Modelos

 

Podemos estabelecer as seguintes situações devidamente modelizadas.

 

1 – O Fluxo Exopsi parte do nível inconsciente de uma pessoa (Agente Psi Emissor) e alcança o nível inconsciente de outra pessoa (Agente Psi Receptor) e se converte em Fluxo Endopsi, na passagem para o nível consciente, deflagrando um fenômeno de telepatia, sob forma de pressentimento ou de alucinação, (Vide figu­ra 5),

 

2-O Fluxo Exopsi parte do mundo exterior e alcança o nível  inconsciente de uma pessoa (Agente Psi) e se converte em Fluxo Endopsi na passagem para o nível consciente, deflagrando um fenômeno de clarividência. (Vide figura 6)

 

3 – O Fluxo Exopsi parte do nível inconsciente de uma pessoa (Agente Psi Emissor) e alcança o nível inconsciente de outra pessoa (Agente Psi Receptor),porém não se convertendo em Fluxo Endopsi por não alcançar o nível consciente, produz, um fenômeno de psi-kapa, sob forma de parassomatização, no organismo do próprio Agente Psi, ou de telecinesia (mais freqüentemente) no mundo exterior.  (Vide figura 7)

 

No caso de parassomatização, o Agente Psi psicomatiza o estado orgânico de uma pessoa ausente, sem que saiba, a nível consciente o que esta acontecendo com ela. Em condições normais, o Fluxo Exopsi Informacional se converteria em Fluxo Endopsi e o Agente Psi, por telepatia ou clarividência, tomaria conhecimento de que uma pessoa de sua amizade, naquele momento, estava atravessando uma situação crítica no seu estado de saúde, Dada, porém, a intensidade do sinal psigâmico, o Fluxo Exopsi, impossibilitado de converter-se em Fluxo Endopsi em virtude de forte bloqueio psicológico, transformou a informação telepática em linguagem corporal.

 

No caso de telecinesia, a obstaculização do Fluxo Exopsi resulta num direcionamento da informação paranormal para o mundo exterior, produzindo, por exemplo, a queda inexplicável de um quadro de parede, coincidindo com a morte de pessoa ligada afetivamente ao Agente Psi. Assim, o Fluxo Exopsi, na impossibilidade de se converter num fenômeno de cognição paranormal ou Fluxo Endopsi, transmudou a informação num acontecimento físico. Observe-se, mais uma vez, que psi-gama e psi-kapa são faces de uma mesma moeda,convertendo-se um no outro, segundo as peculiaridades de cada circunstância. Ou diríamos que, à semelhança, na Física, da conciliação da onda e da partícula no fenômeno da luz, o fenômeno paranormal se comporta como informação ou energia segundo a situação em que se manifesta.

 

4-O Fluxo Exopsi parte do mundo exterior e alcança o nível inconsciente de uma pessoa (Agente-Psi), porém, não se convertendo em Fluxo Endopsi por não se transferir para o nível consciente, afeta o organismo do Agente Psi, produzindo um fenômeno de parassomatização (alguém, por exemplo que se sente mal numa casa em que ocorreram fatos traumáticos), ou produz, qualquer fenômeno de psi-kapa sobre o mundo exterior.  (Vide figura 8)

 

5-O Fluxo Exopsi se origina no nível inconsciente dc Agente Psi e se converte em Fluxo Endopsi, na passagem para o nível consciente, resultando num fenômeno de criptomnésia, (Vide figura 9).

 

Postulando uma fonte interna do conhecimento psigâmico a qual denominamos de criptomnésia, inovamos o modelo oficial da Pa­rapsicologia que apenas se refere à telepatia, à clarividência e à precognição, as quais, como asseveramos em outra ocasião, são as fontes externas do conhecimento paranormal, A criptomnésia explica satisfatoriamente a xenoglossia e a criatividade psi.

 

6 – Da interação dos Campos Psi de duas pessoas, o Fluxo Exopsi se inicia na área de interseção de seus respectivos campos, convertendo-se em Fluxo Endopsi na passagem para o nível consciente de uma delas. (Vide figura 10)

 

7 – Da interação dos Campos Psi de duas pessoas, o Fluxo Exopsi se inicia na área de interseção de seus respectivos cam­pos, convertendo-se em Fluxo Endopsi na passagem para o nível consciente de cada uma delas, Este modelo explica os casos de sonhos compartilhados ou de alucinação telepática recíproca. (Vide figura 11)

 

Questão polêmica é a de determinar o máximo de tempo que o Fluxo Exopsi pode permanecer num estado de latência no psiquismo inconsciente. É possível que permaneça, neste estado potencial, a vida toda, sem jamais se transferir para o nível consciente e, neste caso, não se converteria em experiência paranormal. Por isso, não se pode determinar arbitrariamente, como o fez Myers, o prazo em que a informação telepática não possa mais ser conscientizada, ou porque o bloqueio se tornou intransponível ou porque a informação, à míngua de conscientização, se apagou dos registros mnemônicos.

 

Se o Fluxo Exopsi se transfere do nível inconsciente para o nível consciente, ele se converte em Fluxo Endopsi, produzindo, então, um fenômeno de psi-gama. Ê nesta passagem de nível que, como bem observou a Sra. Sidgwick, ocorre, geralmente, a distorção da mensagem no processo de sua decodificação, pois a filtragem cognitiva sofre a inevitável influência da personalidade do Agente Psi.

 

  1. H. Price já havia observado:

 

“Parece que as impressões recebidas telepaticamente encontram certa dificuldade para transpor o limiar e manifestar-se na consciência. Parece que existe alguma barreira ou algum mecanismo repressivo que tende a excluí-las da consciência, uma barreira bastante difícil de transpor, e elas (as impressões) utilizam toda sorte de instrumentos para superar tal obstáculo. Muitas vezes, elas só conseguem emergir sob uma forma distorcida e simbólica (como ocorre também com outros conteúdos mentais inconscientes). É bem plausível o fato de muitos de nossos cotidianos pensamentos e emoções serem telepáticos ou parcialmente telepáticos na origem, mas não são reconhecidos como tais porque surgem distorcidos e misturados com outros conteúdos mentais, ao transporem o limiar da consciência”.(8)

 

5 – CONCLUSÃO

 

Outras questões e desdobramentos poderão ser discutidos na analise crítica do MGP. Ele é um modelo, basicamente, descritivo que busca proporcionar unidade, simplicidade e coerência ao aparentemente caótico e complexo universo dos fenômenos paranormais. A sua orientação antropocêntrica situa o homem como centro dinâmico, em situações especiais, de interações de alta complexidade com os outros seres vivos e a matéria em geral, revelando as extraordinárias potencialidades que existem, em latência, no psiquismo inconsciente de cada pessoa, E, finalmente, por sua fertilidade operacional, o MGP permite elucubrações arrojadas para uma compreensão mais extensiva e profunda da própria realidade,

 

 

REFERÊNCIAS

 

1)   Ivo Cyro Caruso – “Um Programa para uma Teoria Parapsicológica” , Tese apresentada nas “Primeiras Conferências Eclipsy de Parapsicologia”, realizado em 1990, em São Paulo.

2)   Valter da Rosa Borges – Epistemologia Parapsicológica: Uma Nova Proposta Conceituai para o Fenômeno de Psi-Gama, Tese apresenta da no I Simpósio Pernambucano de Parapsicologia, realizado em 1983, no auditório da Universidade Católica de Pernambuco e promovido pelo Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas. Publicada no livro “Parapsicologia: Um Novo Modelo (e outras teses), de Valter da Rosa Borges e Ivo Cyro Caruso, Recife, 1986.

3)   Idem, ibidem.

4)   Ivo Cyro Caruso – “Um Programa para uma Teoria Parapsicológica” , Tese apresentada nas “Primeiras Conferências Eclipsy de Parapsicologia”, realizado em 1990, em São Paulo.

5)   Wilder Penfield – O Mistério da Mente, Ateneu Editora, São Paulo 1983.

6)   Ronaldo Dantas Lins – “Interpretação Topológica do Desvio da Forma no Processo Psigãmico”, Tese apresentada no VII Simpósio Pernambucano de Parapsicologia, realizado no Recife, em 1989.

7)   Idem, ibidem.

8)   D. Scott Rogo – Vida após a Morte, IBRASA, São Paulo, 1991.

 

(*) Esse trabalho seria apresentado no I Congresso Mundial & VII Congresso Brasileiro de Parapsicologia & Psicotrônica, no Rio de Janeiro em 1991, mas que, infelizmente, não se realizou.

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