Terezinha Acioli Lins
Hipótese e Discussão
Introdução
A História e a Antropologia nos revelam que a humanidade, de há muito tempo, acredita em espíritos e fantasmas.
O homem primitivo, por sua vez, tinha a crença de que espíritos se encontravam em tudo, no Universo, havendo no fogo, na água, nas árvores, nas rochas etc. Essas entidades espirituais tinham poderes direcionados ao bem e direcionados ao mal, Os homens pediam-lhes ajuda em troca de oferendas e orações.
O caráter mágico surgiu depois e os homens passaram a usar encantamentos e fórmulas para ter o controle dos espíritos. Surgem várias idéias concernentes aos espíritos: muitos, por não terem sido vingados, não podiam repousar em seus túmulos; outros podiam retornar, em especial, aos dos que morreram violentamente. Casos e mais casos são relatados, cujos lemas compreendem casas assombradas e fantasmas. Mas continuavam os espíritos temidos e incontroláveis pelos homens.
Pode-se afirmar que o fenômeno das mesas girantes (ou falantes) deu lugar ao Espiritismo.
E, por analogia com o fenômeno das batidas, golpes ou pancadas, chamados raps pelos anglo-saxões, nasceu em Hydesville, pequena aldeia norte-americana, o que se convencionou chamar “Modern Spiritualism” (neo-espiritualismo) e que a humilde casa de madeira da família Fox, na qual os fenômenos se verificaram, foi, algum tempo depois, transportada para a Lily Dale Camp (acampamento espírita de Lily Dale), no estado de New York e transformada em Monumento Nacional do Espiritismo.
A respeito desse fenômeno, escreveu o professor Charles Richet, médico ilustre, autor do “Tratado de Metapsíquica”, em seu último livro “La Grand Espérance”, (pág. 221):
“Um dos mais belos fenômenos da Metapsíquica é o dos raps, mas não é fácil obter golpes bastantes sonoros para que os percebamos com facilidade. Eis em que consistem : se, num grupo de experimentadores, entre os que colocam as mãos sobre uma mesa, se encontra um médium de certa potencialidade física, percebem-se, às vezes, vibrações sonoras na estrutura da madeira e, muito amiúde, essas vibrações, que o médium pode produzir todas as ocasiões que as suas mãos se acham imóveis em cima da mesa, são de natureza inteligente. A história dos raps é interessante e eu aconselharia um metapsiquista jovem a escrever uma monografia detalhada acerca dos mesmos.”
Surgiu, então, a monografia que teve por título “Breve história dos golpes mediúnicos”, da autoria do professor italiano Ernesto Bozzano. Foi no século atual, um dos escritores mais conhecidos pelos seus estudos doutrinários e científicos, publicados em vários idiomas, tais como: italiano, francês, espanhol, português, inglês e outros, tanto em livros quanto em revistas. Escreveu mais de cem trabalhos entre artigos e livros (estes mais de trinta). O Espiritismo, naturalmente, existia antes do famoso Mistério de Hydesville que é, sem dúvida, um acontecimento-marco da evolução das pesquisas psíquicas no mundo. Muitas vezes, apresenta-se combatido e deturpado.
NARRATIVA DO FENÔMENO
Entre 1843 e 1844, Hydesville era vilarejo do estado de New York e, num casebre das proximidades vivia um casal da família Beli. O marido ficou sozinho em casa por sua mulher ter viajado. Um mascate apareceu e pediu pousada, entrando para dormir e, para sempre, desapareceu.
Em 1847, o casal Bell tomou rumo desconhecido e a casa foi alugada por um casal da família Weekmann. Esse casal abandonou a casa por motivo de ocorrências estranhas, pancadas noturnas no solo e nas paredes, que não os deixavam dormir. Nesse mesmo ano, o metodista John D. Fox foi morar no local com sua família. 1 Os fenômenos continuaram e as meninas Margaret e Kate, de quinze e onze anos, respectivamente, envolveram-se com os mesmos. 2 Essa experiência curiosa despertara um grande interesse nacional e internacional pela comunicação com os espíritos”.
A família acordava com pancadas ruidosas que não tinham explicação. Mais tarde, Margaret Fox, esposa de John, assinou uma declaração, narrando o que acontecia: “Na noite dos primeiros ruídos nós nos levantamos, acendemos uma vela, e procuramos a razão daquilo pela casa toda… Embora não muito fortes, aquelas batidas produziam sacudidelas nas camas e nas cadeiras e, quando deitados, podíamos senti-las, bem como quando estávamos de pé.
Os ruídos voltaram no dia 30 de março de 1848, continuando durante toda a noite.
Os ruídos eram ouvidos em todas as partes da casa… Ouvíamos ruídos de passos no solo e como que subindo as escadas. Não podíamos descansar. Cheguei, então, à conclusão de que a casa devia estar assombrada por algum espírito infeliz e inquieto.
Ouvira falar nessas coisas com freqüência, mas nunca testemunhara nada nesse gênero que não me fosse possível explicar”.
Na noite seguinte, 31 de março, um fato despertou curiosidade no mundo espírita. O senhor e a senhora Fox, colocaram as camas de Margaret e Kate em seu próprio quarto, após o início dos misteriosos ruídos. Os ruídos recomeçaram, quando eles se deitaram. A noite era de vento, segundo afirmara o congressista Robert Dale Owen, que entrevistou a senhora Fox e suas duas filhas. John Fox pensou que o ruído poderia vir dos caixilhos das janelas estremecidas pelo vento e foi à janela tentar, com as mãos, reproduzir o mesmo ruído. De repente, Kate, então com onze anos, reparou que, a cada vez que o pai sacudia a janela, as pancadas pareciam responder. Estalando os dedos, exclamou para espanto de sua irmã: “Vamos, senhor do Pé Rachado (referia-se ao Diabo) faça o que eu estou fazendo !” As pancadas repetiram imediatamente o estalo de seus dedos! Kate ficou tão assustada que enterrou a cabeça sob as cobertas da cama.
Sua irmã de catorze anos, Margaret, aceitou o desafio e disse: “Faça o que faço !” Bateu palmas quatro vezes e, instantaneamente, quatro pancadas ocas vieram da parede oposta.
Quando Kate Fox recuperara a coragem, atirou longe as cobertas e gritou para à mãe: “Amanhã é o dia 1o de abril, dia dos tolos. Alguém está tentando fazer truques conosco! ”
A senhora Fox não concordou e, nervosa, pediu a quem estava produzindo os ruídos, um desconhecido, que batesse a número de pancadas correspondentes à idade das meninas. De imediato, ouvirarn-se catorze pancadas, a idade de Margaret. Uma pausa, e então se seguiram onze pancadas, a idade de Kate.
Foi, então, que a senhora Fox se certificara de que uma inteligência qualquer estava por trás dos estranhos ruídos. A família perdeu o medo do início, notando que o ‘espírito batedor’ não lhes queda mal, mas apenas, entrar em comunicação.
A 31 de marco de 1848, a menina Kate manteve diálogo com as pancadas misteriosas, pedindo que elas se repetissem de acordo com certos números. As conversações foram estabelecidas através de um código convencionado. O toribismo quando apresenta um caráter inteligente é denominado de tiptologia. Muitas comunicações inteligentes foram conseguidas através desse processo, segundo um código previamente estabelecido. Souberam, então, que o espírito pertencia a um homem de 32 anos, chamado Chades Rosma, vendedor ambulante que havia sido assassinado no local por latrocínio. 3 Indicou a local em que o corpo e o seu baú haviam sido enterrados. A escavação foi feita, mas apenas encontraram restos de um cadáver, com fragmentos de ossos e cabelos. O baú não foi encontrado.
Em 1904, cinquenta e seis anos depois, por causa de um temporal, ruiu uma parede falsa da casa, no cômodo do porão indicado pelas pancadas. Foi construída urna parede paralela à outra e ninguém sabia de sua existência. Devido a esse fato, descobriu-se o esqueleto de Rosma e o seu baú de lata, com a alça para carregá-lo às costas.
A Sra. Fox perguntou se poderia chamar alguns vizinhas para ouvirem as batidas e o espírito respondeu com duas pancadas. código convencionado para o “sim”. Entre os vizinhos visitantes, havia alguns incrédulos, julgando-se iludidos; outros aceitaram os ruídos como sendo de um espírito.
Segundo a Sra. Fox de uma vez, houve mais de trezentas pessoas, ou na casa, ou à espera de entrar nela.
A notícia do Caso de Hydesville espalhou-se por toda nação, com a publicidade dos jornais. Kate e Margaret, por insistência de Leah Fox Fish, sua irmã mais velha, iniciaram sessões públicas, nas quais faziam supostamente, contato com espíritos, que produziam batidas como resposta. 4
Formaram-se dois grupos: milhares de pessoas vieram e acreditaram; outras denunciaram as jovens, fazendo-lhes um desafio. Kate não se conteve e começou a chorar, assustada com aquelas mulheres enraivecidas. As pancadas tomaram-se mais fortes ainda, convencendo as mulheres de que não provinham das duas irmãs. Certa ocasião, um grupo de anti-espíritas invadiram a sessão e ameaçou linchar as apavoradas, acusando-as de cumplicidade demônio.
A publicidade de Hydesville convenceu outras pessoas de que elas também poderiam conversar com os mortos. Centenas delas apresentaram-se como médiuns.
Ira Davenport, de nove anos de idade, e seu irmão William Henry Davenport, de sete, deslumbrados com as meninas de Hydesville, tentaram fazer o mesmo. Com o passar do tempo, tornaram-se os famosos irmãos Davenport.
Hipótese e Discussão
Considerando-se a teoria espirítica, trata-se da prova da sobrevivência, com a identificação do espírito comunicante Charles Rosma.
Do ponto de vista parapsicológico, o que interessa é a confirmação da clarividência, sem possibilidade de implicação telepática. Admitindo-se a tese do professor Harry Price, de Oxford e do professor Wathely Carington, de Cambridge, de que a mente sobrevive à morte do corpo físico, agindo sobre a mente dos vivos, admitir-se-ia o fenômeno telepático, mas, voltando-se à tese espirítica. Tudo indica que, parapsicologicamente, a menina responderia pelo inconsciente através de psi-kapa, produzindo o fenômeno de psicocinesia: as pancadas nas paredes.
A legitimidade da informação do mascate foi comprovada. E, como notou Emma Hardenge, ao escrever para o Modern American Spiritualism, estava provado que o esqueleto e o baú tinham sido colocados primeiramente no local indicado pelas pancadas, sendo depois removidos para outro, quando circularam as notícias do desaparecimento do mascate, pondo em perigo de suspeita a família Bell.
Sob o ângulo científico, é necessário destacar o fato de que a percepção extra-sensorial de Kate cometeu engano. Por que ela não viu logo o local verdadeiro em que se encontravam o esqueleto e o baú de Rosma, mas o primeiro lugar onde haviam sido colocados anteriormente? A informação viria telepaticamente? A menina teria captado o episódio no inconsciente dos Bell em algum lugar ou o inconsciente dos Bell ainda estaria voltado para o local do crime, onde a imagem é mais forte, pelo estado emocional que vivenciaram naquele momento.
Mas como justificar que essa apreensão fosse limitada ao momento da primeira inumação? Todo o processo da retirada posterior do esqueleto e do baú do local primitivo, de seu traslado secreto para o esconderijo, da construção da parede falsa, teria sido camuflado pela informação ou pela captação telepática? É admissível que a vontade de livrar-se da prisão fosse tão forte no casal Bell que apagasse a sequência culposa na mente de ambos? Declara o professor Stanley de Brath citado por Ernesto Bozzano no livro “I Morti Ritornano”:
“Se a informação fosse de origem subjetiva, presume-se que, o inconsciente da médium teria de conhecer o local em que realmente estava o cadáver” E concluiu De Brath, como Bozzano, que a explicação plausível é a espirítica. “Pois é razoável presumir que o sepultamento no porão devia corresponder à última lembrança terrena do assassinado.”
Parapsicologicamente, tudo leva a acreditar que a teoria da clarividência é mais lógica do que a telepática, pois a jovem sensitiva poderia ter a sua atenção atraída para os restos do cadáver que ficaram no local primitivo, e ali se fixado. Até em experiências de laboratório podem ocorrer casos de fixação dessa natureza. Que se esclareça desde já, que o agente psi percebe o fato numa indiferenciação do tempo e dentro do aspecto seletivo.
Há um caso ainda mais enfático, mostrando que é possível no campo das relações humanas, a manifestação da clarividência pura, ressaltando-se que ninguém sabia sobre o que se havia passado.
No condado de Sussex, Inglaterra, um pastor foi procurado por um homem que pediu a sua ajuda num caso de infestação. A esposa do consulente era filha de um homem muito rico que morrera na paróquia e que agora lhe apareceu em sonhos, reclamando que tinham construído o seu túmulo sobre a sepultura de outra pessoa. As aparições eram frequentes e a mulher estava prestes a enlouquecer. O coveiro, ao ser interrogado, afirmou ser impossível esse engano. E o caso deu-se por encerrado. Volta o homem e afirma que a infestação continuava. Diante dessa situação, uma verificação legal foi providenciada, constatando-se que, na realidade, o túmulo havia sido construído sobre uma cova vizinha. Corrigido o erro, desapareceram as manifestações.
Pode auxiliar nessa compreensão, a teoria da duração, de Henri Bergson, e do tempo corno fracionamento daquela – sucessão de imagens fracionadas da duração, como as fotos de um filme em projeção. Se existe uma estrutura do tempo, que poderia ser o fluir da duração do conceito bergsoniano, é provável que a mente possa percorrê-la, libertando-se do condicionamento físico “do aqui e do agora” em que nos encontramos. São momentos furtivos e excepcionais da liberdade existencial, que, em geral, implicam fenômenos de percepção sincrônica do tempo.
No recente livro do médico Andrija Puharich, o “Cogumelo Sagrado” há um exemplo interessante. Conta o autor que, no dia 13 de dezembro de 1954, após três dias de atividade física intensa, sem dormir ou descansar, foi para o quarto e deitou-se sem trocar a roupa. Adormeceu imediatamente pelo cansaço. Mas, logo se viu a si mesmo como um espírito livre do corpo, flutuando no espaço. Viu seu próprio corpo na cama e pensou em visitar alguém nesse estado de libertação. Dirigiu-se à casa da Sra. Garret, em New York, e em seguida saiu à procura da Sra. Alice Bouverie, encontrando-a numa ampla sala de uma casa que não conhecia. Fixou alguma coisa do ambiente para verificação posterior. Chamou a sua atenção o brocado doirado das paredes e nele fixou-se. Desejou voltar com urgência ao seu quarto, no Estado de Maryland, acordando com sua filha batendo na porta.
Puharich fez uma verificação posterior do que vira. Na casa, que lhe era estranha. a sala fora claramente descrita, mas as paredes eram forradas de branco. Todavia, há quarenta anos as paredes tinham os brocados doirados excitantes que o médico vira em seu desprendimento. O que ocorreu? O tempo percebido se mistura com fragmentos do passado ou do futuro, em sua indiferenciação, à semelhança da mistura bizarra de certos sonhos.
FENÔMENO PSI: DIFICULDADES DE PESQUISA
Quanto ao fenômeno psi: a própria caracterização desse fenômeno (objeto de estudo e pesquisa da Ciência Parapsicológica) já constitui um entrave ao bom andamento e sucesso da pesquisa:
raridade: por não se deparar comumente, no dia-a-dia com o fenômeno, o pesquisador deve sempre predispor-se à sua busca constante, onde quer que ele esteja, o que exige trabalho e gasto financeiro.
fugacidade: o fenômeno é efêmero, fugaz (exceto em alguns casos, como o de ideoplastia, em que a “entidade” permaneceu por duas horas), não dando margem a uma documentação eficiente através de material técnico, através de gravadores, máquinas fotográficas, filmadoras etc.
dificuldade de repetir-se à vontade: nem sempre e agente psi está em disponibilidade de eclosão de fenômeno, sem condições psicológicas (bloqueios, ruídos subjetivos, falsas interpretações), como o caso de Thomas Green Morton.
caráter de imprevisível e inesperado: isso deixa o pesquisador em situações difíceis quanto ao momento exato de eclosão do fenômeno, podendo apanhá-lo desprevenido.
Imprecisão e insegurança de testemunhos puramente pessoais: principalmente, quando se quer reproduzir um fenômeno já vivenciado há algum tempo e que depende muito do problema de memória, da fantasia e interpretação do narrador, mesmo quando digno de confiança.
Quanto ao pesquisador: que o seu histórico de vida denuncie confiança, idoneidade e experiência no campo de trabalho; que use do rigor científico, usando métodos e técnicas de consenso universal; que acredite na probabilidade de erro em sua pesquisa, assumindo-o e não passando a terceiros; que ame o exercício de sua profissão, que se atualize, avançando e inovando seus conhecimentos; que, dentro do rigor científico, atenha-se aos limites do seu campo de trabalho, não misturando o seu objeto de estudo com religião, esoterismo e misticismo, isto não querendo dizer que o parapsicólogo desconheça a rica interdisciplinaridade da Parapsicologia e que ele possa utilizar subsídios de outras ciências para o enriquecimento próprio de sua área. Deve, portanto, ter uma formação cultural vasta e atualizada para melhor administrar a sua pesquisa.
Saber que pesquisador (sujeito) e pesquisado (objeto) se interrelacionam, interferindo, desse modo, no resultado da pesquisa. Daí, evitar a não-rigidez de julgamento unilateral do pesquisador; selecionar certas aplicações técnicas do passado e encarar a metodologia como um caminho a seguir do pesquisador, dependendo de sua personalidade, e que não existe, rigorosamente, uma metodologia própria, alertando que o fenômeno não deve ser adaptado ao método, mas este ao fenômeno; e, em se tratando de experiências com crianças, redobrar o zelo, os cuidados e atenção, sempre procurando obedecer às suas necessidades e interesses, dentro do acompanhamento de suas fases psicológicas.
semelhança de certos fenômenos paranormais com acontecimentos puramente normais: a hiperestesia, o “ínsight”, o déjà vu, situação de pânico etc.
Hiperestesia: leitura através de vibrações musculares, da face, mudança da sede dos órgãos dos sentidos: leitura através dos dedos das mãos, cheiro através do cotovelo ete. Daí, a necessidade de identificação do conteúdo paranormal, que o distingue de outros tipos de fenômenos.
Insight: chegada inesperada de uma solução que se busca (entre os artistas, iluminação)
Déjà vu: podendo ser descrito como um sonho precognitivo esquecido e, uma vez, em contato com a cena, surge a familiaridade.
Situação de pânico: a pessoa se encontra em estado emocional intenso, passando por um processo de auto-hipnose, como o caso do indivíduo que, fugindo de uma situação de perigo (chega a acidentar-se) toma atitudes que não faria em seu estado “normal”, utilizando-se de reservas energéticas e de certas substâncias analgésicas lançadas no organismo (ultrapassar certas barreiras consideradas impossíveis, fora desse estado); acidentar-se, fugindo do perigo, e não perceber e nada sentir, pelo fato de estar, durante esse processo, anestesiada.
ação intencional de um agente inteligente, que pode burlar o controle e a vigilância do pesquisador: temos o caso de telecinesia do final do século passado, em que as mesas girantes se tornaram moda nos Estados Unidos e na Europa; até o aspecto lúdico aparecia nessas experiências: quando o indivíduo tentava deter uma mesa, medindo força com ela, depois de rodopiar, a mesa, inclinando-se, sacudia-lhe de lado; o caso do piano, na Casa Branca, em que o Presidente Abraham Lincoln, pulou em cima para detê-lo e também fora sacudido fora.
o pesquisador ainda desconhece mecanismos e leis que regem esse tipo de fenômeno: isso constitui uma barreira seríssima, pois tomamos conhecimento da entrada do fenômeno, a nível inconsciente (inputs) e da saída (outputs), mas desconhecemos “como” se processa (“modus operandi”), impedindo a realização de uma teoria geral de fenomenologia psi.
o campo do fenômeno: direcionamento, por parte do pesquisador para o seu devido campo psicológico, psiquiátrico ou parapsicológico. É neste campo, que o pesquisador atuará, te que não lhe cabe o papel de terapeuta, mas de orientador num trabalho de consultoria do fenômeno, tentando familiarizar o agente com sua modalidade de fenômeno. Deve observar, ainda, o que há de comum nessa fenomenologia e as circunstâncias em que o fenômeno ocorre.
preconceito material: opinião de certos pesquisadores ortodoxos que delimitam o campo de pesquisa ao mundo físico e suas leis e o preconceito religioso – que não admite especulações sobre o divino, o sobrenatural.
CONCLUSÃO
O Caso das Irmãs Fox, de Hydesville, inclui-se entre as manifestações de assombramento. Nem sempre essas manifestações apresentam as mesmas características.
Tudo indica que nessas casas, subsiste alguma coisa de material em conexão com as pessoas que as habitaram. É o que algumas observações parecem indicar.
Muitos casos não apresentaram autenticidade havendo ilusões, erros, falsas apresentações e fraudes.
As próprias Irmãs Fox negaram as manifestações de espíritos, afirmando ser tudo falso e que elas produziam os ruídos com seu próprio corpo, mexendo os dedos dos pés. Mais tarde, elas falaram em público novamente, dizendo que foram induzidas por indivíduos que não aceitavam o Espiritismo e as forçaram a dar aquela primeira declaração. Confirmaram que tudo que ocorreu era verdade e que as manifestações existiam.
Há casos de casas mal-assombradas que passam ignorados e desprezados por longo tempo e que vêm a ser abonados por testemunhas idôneas. Os cientistas rigorosos, capacitados e isentos de preconceitos ainda são em pequeno número para que constatem os casos de fraude e que o público seja enganado pelos próprios moradores das casas.
Às vezes, as comunicações nesses casos são feitas por entidades totalmente desconhecidas do agente psi, o que é aconselhável não dar nenhum valor ás suas declarações, enquanto o trabalho de averiguação não for completo e satisfatório, destacando-se como de total importância o conteúdo paranormal que deve concatenar-se com a realidade.
Há muito tempo que esses fenômenos de assombramento foram reunidos sob o nome de Espíritos turbulentos, estudados sobretudo na Alemanha e aí denominados poltergeist (de polter, fazer barulho e geist,espírito). Deve ser esclarecido que esses fenômenos também são multiformes e, muitas vezes, revelam ação oculta de pessoas falecidas: outros há inteiramente diferentes com pancadas, passos, audições variadas produzidas por causas inapreciáveis e que implicam em um estudo especial para responder á pergunta: Que causa lhes poderemos atribuir. Animismo, faculdades humanas desconhecidas, fragmentos da alma terrena? A Parapsicologia recorre à fonte inconsciente, reconhecendo-lhe o seu grande poder de associação livre, intuição e criatividade, despenhados, principalmente, pela emoção, considerada acionador por excelência da dinâmica inconsciente.
Os fenômenos em estudo no campo da Parapsicologia são produtos do dinamismo universal e que os nossos cinco sentidos ainda nos põem numa relação incompleta em relação a ele.
As forças psíquicas ainda não são suficientemente observadas.
Essas forças são de ordem superior às analisadas na Mecânica, Física e Química. Elas têm algo de vital e possuem uma mente que compartilha com o Universo e, por meio dela os seres podem relacionar-se à distância. Não deixa ela de ter semelhança com o “Od” de Reichenbach e Du Prel, e com o “Geon” do Dr. Javorski.
Tudo indica que há no Universo alguma coisa a mais que a pretensa matéria – um elemento psicodinâmico – tornando-se incompleta a explicação mecânica da Natureza.
Muito pouco sabemos do Universo que nos rodeia: ou vemos seletivamente, ou não vemos, ou vemos deformado. E, se antes, a preocupação do pesquisador era o vivo, hoje a busca do saber já atinge o morto e, ultimamente, um outro elemento que se agregou aos dois – o elemento estranho. E cada um, em seus devidos espaços e campos de estudo, são objetos de pesquisa: o terrestre, o extraterrestre e o espírito.
Cabe ao parapsicólogo, diante do exposto, atualizar-se em seus conhecimentos unindo à pesquisa pura e levantamento de dados, a pesquisa de campo e de laboratório.
Deve avançar sempre, reciclar-se, tornando-se um pesquisador capacitado, consciente de seu alto nível de trabalho, de mente aberta e pensamento livre.
O rigor científico deve fazer parte de seu objetivo de trabalho, procurando sempre, como um pesquisador da atualidade, o que há de comum na fenomenologia psi e as circunstâncias em que o fenômeno ocorre.
Em suma, conscientizar-se de que a Parapsicologia é ciência como outra qualquer e, como tal se situa dentro de um processo cumulativo, que compreende verdades provisórias que dão margem a uma renovação constante e novas descobertas. Daí, as probabilidades acontecerem com mais freqüência do que a pretensa certeza absoluta.
NOTAS
(1) A única coisa excepcional na vida de John era o álcool, que ele jurava abandonar. Na juventude, sustentava a mulher e quatro filhos, trabalhando como ferreiro, mas o amor pelo álcool destruiu-lhe o trabalho, as finanças e a paciência da esposa, causando uma duradoura discórdia em seu casamento. Após renunciar ao álcool, reconciliou-se com a esposa. Abstêmio, tornou-se mal humorado e taciturno, conseguindo ainda ser pai de mais duas crianças.
(2) Quando Margaret e Catherine – apelidadas de Maggie e Kate nasceram, os pais já estavam na meia idade. Assim, eram as únicas que moravam com o casal, ao se mudarem para a cidadezinha de Hydesville, no estado de Nova York, em busca de uma nova vida. Em dezembro de 1847, a família alugou uma decadente casa de fazenda e, quando chegou a primavera de 1848, John Fox passou a cultivar hortelã, estando ele e a esposa na casa dos sessenta anos. Para as duas meninas, a vida era desolada, porque Hydesville oferecia pouca distração para os jovens e, a maior parte do tempo, Maggie e Kate ficavam isoladas na casa miserável, apenas contando com os seus pais. Não dispunham de recursos intelectuais nem primavam pela boa escolaridade. Maggie tinha olhos castanhos, era uma adolescente vivaz, embora desprovida de atrativos – “decididamente não era uma beldade”, como disse depois um observador. Kate, menos esperta, porém com olhos cinzentos, bonita e com uma palidez delicada, era apreciada na época. As meninas viviam entediadas e inquietas, quando, de repente, o tédio cessou depois que a família se recolheu, começando os estranhos ruídos que começavam a sacudir a casa.
(3) E. E. Lewis, do estado de Nova York, chegou ao local curioso com as histórias que ouvira do conturbado morto. Entrevistou a família e os vizinhos e publicou às pressas um folheto chamado “Relato dos Misteriosos Ruídos Ouvidos na Casa do Sr. John D. Fox”. Lewis não poderia saber, mas seu livreto ocuparia um lugar na história como a primeira publicação espírita.
(4) As meninas, Margaret e Kate, descobriram que, quando estalavam as juntas dos dedos dos pés, em especial contra o pé da cama ou contra o chão, conseguiam fazer, às ocultas, batidas bem satisfatórias. E o vendedor assassinado estava-se tornando, cada vez mais loquaz. Graças a um novo código começa a expandir seu vocabulário muito além de um lacónico sim ou não. Leah Fox Fish, a irmã mais velha das meninas, levou as irmãs para muito além daquela fazenda – para salas mal iluminadas de sessões espíritas e vastos salões de conferências, para as casas dos ilustres e poderosos, para um lugar na história. Leah iria prosperar e florescer. Da mesma forma Maggíe e Kate, por certo tempo. No caminho das irmãs Fox, o espiritismo desenvolveu-se. E, cinco anos após, os ruídos de Hydesville, havia, segundo cálculos, aproximadamente trinta mil médiuns, profissionais e amadores, só nos Estados Unidos.
(5) Em suas “Gregórias Admiráveis” (II, 489) afirmava Virgílio: “Felix qui potent rerum cognoscere causas” (Feliz o que pode conhecer as causas), destacando a inteligência que penetra os segredos da Natureza e foge às vulgaridades.
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Este texto foi publicado no ANUÁRIO BRASILEIRO DE PARAPSICOLOGIA No 3, Edição 1998