IVO CYRO CARUSO
Entre duas abordagens, uma materialista e outra idealista, o palestrante escolheu o caminho mais áspero. A abordagem materialista considerada reducionista foi evitada em vista de indícios examinados à luz da parapsicologia tratada como ciência transclássica, a base essencial da tese deste trabalho.
O palestrante recorreu aos modernos conceitos de sistemas abrangentes de subsistemas que se interagem e se integram e de sistemas de domínios diferentes que através de suas interfaces mantêm pontos singulares e áreas comuns aqueles sistemas, mesmo que os lugares —locus — não tenham sido detectados.
O palestrante defende que o problema da sobrevivência e como o sonho do homem de uma viagem interplanetária de cerca de três décadas atrás, que era um grande desafio, que serviu de mola do progresso de uma tecnologia, de estudos interdisciplinares, concretizados plenamente. O desafio de pesquisar cientificamente a sobrevivência deverá impulsionar os diversos pesquisadores como um objetivo maior perseguindo as soluções dos problemas e indagações menores e que se inserem no âmago da própria Parapsicologia.
Se a indagação é pertinente, a questão da sobrevivência envolvera satisfação intelectual e de valor, sobre a vida, sua teleologia, ou sua escatologia, com definitivos efeitos cosmovisionais do homem e seus reflexos como parte da humanidade.
O palestrante se mantém coerente com um dos postulados doutrinários do I.P.P.P. que reconhece que “o problema da sobrevivência pessoal do ser humano e suas conseqüências é matéria de investigação cientifica”.
O PROBLEMA DA SOBREVIVÊNCIA
Antes de apresentarmos a nossa tentativa audaciosa de uma abordagem do Problema da Sobrevivência, gostaríamos de trazer a questão de que entendemos por tempo, uma vez que teremos de definir conceitos, emitir raciocínios e enunciados que dependem do tempo e do existir.
Uma pessoa nasce, existe ou vive e morre.
Sob o aspecto biológico de uma estrutura, homem, os fatos do nascimento, vida e morte são uma certeza. Há outras questões a serem examinadas. Adotemos o enunciado que durante a vida biológica existe uma consciência individual. Essa consciência individual é a alma, ou o espírito, ou qualquer conceito que represente o aspecto transcendental do homem. Esse conceito independe do tempo, ou seja, pode existir ou não uma consciência individual após a morte biológica. Analisaremos, se possível, se esse conceito depende de um substrato biológico.
Teríamos de questionar o que é a vida, quando começa a vida, o que é o ser, que se entende por objetivo ou subjetivo em relação ao ser, etc. Não examinaremos essas questões como enfoque principal, porém, por, agora, é bastante termos que desenvolver os argumentos para uma ou mais solução do problema da sobrevivência de uma consciência individual. A sobrevivência — ou não-sobrevivência — dessa consciência individual requer que aprendamos, mais a respeito da natureza do homem, enquanto ser biológico e ser social. A consciência individual acima referida obriga-se a repensar na natureza transcendente do homem como ser informacional, cognitivo.
Retomando a questão do tempo suas concepções, para Aristóteles o tempo só existe nos acontecimentos que se realizam nele; na filosofia clássica o tempo tem caráter fundamental de medida. Na Física clássica o tempo é registro de um relógio como uma sucessão de momentos que fluem segundo uma escala. O ponto de partida que flui está localizado no “agora”. Os eventos que se sucederão em relação a esse ponto de partida estão no futuro. Os eventos que já ocorreram estão no passado. Não somente um relógio, mas qualquer outro ritmo do mundo físico, o atômico, por exemplo, serve para a medida do tempo. A teoria da relatividade conceitua o tempo variando para observadores diferentes e introduziu a grandeza chamada “intervalo” que reduz espaço e tempo a uma quantidade dual espaço-tempo e esta, então, é a mesma para todos os observadores. O “intervalo” está na estrutura do mundo do modelo da física relativística e depende de um sinal “c”, aquele de maior velocidade nesse mundo. No nosso mundo físico esse sinal é a velocidade de propagação das ondas eletromagnéticas, incluindo a luz.
É interessante notar que sinal é uma linguagem do sistema informacional, a que iremos referir mais adiante, e é carregado de energia e que se transforma e tem equivalente de massa. Vale ainda questionar se existe algum sinal que se propague com velocidade superior à da luz e então estaríamos diante de outro mundo, não considerado pelas físicas atuais, fora do nosso atual modelo de universo. Sob a análise de sistemas teríamos de examinar as interfaces, ou eventos comuns a mais de um subsistema.
Olinto Pegoraro(1) nos conduz a um mergulho no pensamento de Martin Heidegger, que geralmente é um filósofo pouco citado, porque difícil e seus críticos consideram sua filosofia individualista, essencialista, estática e alienada. Para Heidegger o tempo é uma estrutura fundamental do existir humano, enquanto relacionado e aberto. Para Heidegger a “essência do tempo” se manifesta no “ser-aí”. Não encontraremos dificuldade de entender Heidegger se recordarmos o conceito do “tempo próprio” relativístico. Notemos como conceitos de disciplinas diferentes convergem, mesmo sob um enfoque fenomenologista. Apesar da fenomenologia e do enfoque existencialista de Heidegger, parece que este é um dos filósofos que mais se dedicou ao estudo do tempo, desde Santo Agostinho. Para Santo Agostinho o espírito (alma) é; e por conseguinte, o tempo é. Ainda citando Santo Agostinho através de Olinto A. Pegoraro (op.cit) “o espírito distende-se e assim é projetado na duração do presente, passado e futuro. O espírito é tempo em distensão”. Parece-nos, então, que, para estudarmos o tempo, teremos de conhecer melhor o homem. E para esse estudo, antes de tudo deveremos estar de acordo com um enunciado de tempo.
O outro questionamento está em que é o homem? Qual a sua estrutura total? Quais os componentes de sua estrutura como um sistema complexo. Que morre com o corpo? Que estrutura, ou subsistema, sobrexiste em se considerando que algum subsistema do “sistema” homem sobrexista
O terceiro grupo de questionamento está em que se estrutura a realidade? Como podemos conhecer essa realidade? Como, então, aí se posiciona o homem total? Que entendemos por espírito (alma) do homem? Sobrevive o espírito após a morte do homem, ou o espírito é um epifenômeno cerebral e, portanto, não há sobrevivência
Finalmente, tais questões são pertinentes, sob uma crítica científica
Tais são questões que se reservariam para um ensaio mais substancial, afinal, um estudo mais vasto e profundo. Timidamente iremos tratar de restringi-lo, de modo a poder no tempo desta palestra, tecer algumas considerações que anotamos convergirem para as questões inerentes, ou pertinentes, se assim o for, ao problema da sobrevivência
Comecemos por simplificar o problema através do agrupamento de hipóteses abrangentes das idéias atuais à respeito da sobrevivência. Um bom esquema é o de Jacobson (2
Grupo 1: Compreende duas hipóteses, sujeitas à crítica científica.
Hipótese 1: O espírito é um epifenômeno — o epifenomenismo é a posição metafísica, em que se supõe que mente é um subproduto não-casual do corpo. A morte representa o fim da consciência individual. A estrutura cognitiva, ou o subsistema informacional, que exista no homem, não subexiste após a morte.
A tese é materialista.
Hipótese 2: O espírito sobrevive ao corpo. A consciência individual continua após a morte biológica; há uma estrutura cognitiva, ou subsistema informacional que sobrexiste, enquanto os outros subsistemas sofrem acelerada entropia. Tese da sobrevivência.
Grupo 2:Compreende duas hipóteses de fé:
Hipótese 3: O espírito sobrevive. O Homem é espírito (alma) que continua após a morte biológica. A consciência individual continua, ou sobrevive.
Os espíritos se comunicam com os vivos. A reencarnação é variante aceita ou não pelos adeptos desta hipótese.
Tese dogmática do Espiritismo.
Hipótese 4: O homem possui uma alma. Nasce com uma alma pura. Na vida se desen- volve uma consciência individual que se valorifica. A consciência individual continua após a morte.
De acordo com um juízo, a alma tem destinação gloriosa, ou abominável.
Tese dogmática das religiões cristas tradicionais.
Diversas outras variantes dessas hipóteses existem (esotéricas: há um espírito que sobrevive, porém que não se comunica com os vivos, etc). Qualquer variante pode ser reduzida a uma das quatro hipóteses acima definidas.
Reunimos no Grupo II as hipóteses dogmáticas, aquelas que por dogma religioso, ou doutrina filosófico-religiosa afirmam, e seus adeptos crêem sem discussão, que a alma, ou espírito, sobrevive, isto é, a tese está acima de discussão e dúvida científica
Não iremos discutir fé, nem dogmas de fé religiosa.
No Grupo 1 encontram-se hipóteses racionais de natureza filosófica que, com maior ou menor grau, se podem estabelecer analises dialéticas. A hipótese de que a morte do corpo é o fim da consciência individual, sob um argumento materialista, por si se basta, mas parte do pressuposto de que o homem está plenamente conhecido pela ciência
A hipótese de sobrevivência da consciência individual é uma tese idealística, passível de crítica. Entretanto, fatos episódicos quando analisados à luz do conhecimento atual, conduziram ao nascimento da disciplina científica, a Parapsicologia. A Parapsicologia se propõe estudar fenômenos que não cabem no âmbito das modalidades sensoriais conhecidas. O domínio da parapsicologia já requer do estudioso uma ampliação do campo de seu conhecimento tipicamente interdisciplinar, no exame dos fenômenos paranormais. Fenômenos paranormais tem características próprias; são aqueles cuja percepção, ou tomada do conhecimento, ocorre de maneira não explicada em sua natureza e processo. Se há dúvida acerca da explicação da natureza e do processo desses fatos episódicos e se a ciência ainda não deu por satisfatório o seu conhecimento sobre o homem, suas funções cerebrais ou a neurofisiologia, que ainda tem muito a explicar, uma tese materialista da consciência individual que não continua após a morte, e sob o aspecto científico, seguir aquele sábio da Academia de Ciências de França, ao final do século passado, ao registrar em seu discurso, que nada mais existia a ser descoberto pela ciência. Ali, no final do século XIX a sabedoria era dita universal e o conhecimento chegava ao estágio de ciência acabada(*).
(*)Atualmente os cientistas repudiam qualquer referência de “ciência acabada”. A ciência tem uma natureza crítica constante, a qual fundamenta o seu progresso
Sob o aspecto de desafio do conhecimento humano, a tese da sobrevivência, apesar de idealista, é uma questão pertinente em face dos fatos paranormais sob um enfoque científico, tão somente sob a crítica científica
A escolha do método é o problema crucial, no estágio atual
Teríamos de vencer estágios já superados pelas ciências tradicionais e estariamos como no período da alquimia, com pesquisadores sérios, convivendo com outros aproveitadores dos subterrâneos e das falhas do conhecimento mas freqüentes vezes úteis em descobertas, ou ainda no trabalho menos intelectual, porém também rico em valor
Descartes, faz cerca de três séculos, pedia”dê-me quantidade e movimento e eu lhe construirei o mundo”. Atualmente, como essas são grandezas que envolvem o produto da indeterminação de Heisenberg, aquele pedido de Descartes merece ser repensado. Definitivamente, de acordo com a teoria quântica, desaparece a noção da velha alquimia do macrocosmo semelhante ao microcosmo. De acordo com a teoria quântica não podemos dizer exatamente onde as partículas subatômicas se encontram, mas que tão somente há mais probabilidade de existir em um lugar do que em outro. No dizer de Bertrand Russell “algumas criaturas afirmam que as ondas luminosas, bem como as partículas, são apenas perturbações havidas no vazio”. E completando “em qualquer caso, ocorrem acontecimentos onde quer que seja provável a existência de ondas luminosas ou de partículas”
Geralmente muito se fala de energia, cujo conceito singelo é expresso como a capacidade de efetuar trabalho. A “ação”, um conceito moderno, é o produto da energia pelo tempo. A ação é menos familiar ao público, mas é um importante conceito na física relativística e na teoria quântica. O quantum é, no final, uma pequena quantidade de ação. Assim, a ação é uma medida do que tenha sido realizado. E como, de acordo com Einstein há correspondência entre a energia e a massa (matéria) medida, a ação é também equivalente ao produto da massa pelo tempo. Porém tudo isso deve estar em linguagem física, restrito a uma região espaço-temporal. Observemos que acabamos por considerar matéria, espaço-tempo e energia como sendo um modelo-concepto-perceptual matemático, construído às expensas de acontecimentos, ou de perturbações regionais contidas em um grande universo. Nada podemos saber com base nesse modelo, quanto à sua natureza intrínseca e se corresponde à realidade e em que grau, exceção feita quando tais perturbações são captadas por nós, isto é, se ocorre tratar-se de nossa vida — de nossos próprios acontecimentos, nossa vivência, as nossas experiências objetivas e subjetivas
Aí reside a grande dificuldade metodológica. As ciências ditas físico-matemáticas (física, química e físico-química) caracterizam-se por um elevado grau de exatidão de medidas e é na quantificação que tem fundamento as suas vantagens: (a) sua margem de erro é pequena e tende a reduzir-se com a evolução do conhecimento teórico e da tecnologia; (b) seu campo de ação é restrito e cada vez mais se subdivide; (c) o objeto de estudo se torna cada vez mais submetido à ação e controle do pesquisador
Já as ciências ditas humanas defrontam-se com uma grande inexatidão, sendo notado; (a) a margem de erro é ampla; (b) o campo de analise não pode ser definitivamente estabelecido; (c) a interferência (interação) de muitas variáveis e fatores interiores naturais ou não, atuam desafiando a ação e o controle do pesquisador. Deveremos enfrentar o desafio e, todavia, não devemos incorrer no erro de explicar um acontecimento através de suposições sem base experimental, ou com base, apenas, em processo subjetivo. Uma hipótese de utilidade, no que se refere a ser objetivamente provável, deve incluir tanto experiências de laboratórios, quanto casos espontâneos, além da exigência de testabilidade (verificabilidade e falseabilidade, segundo K. Popper). (3
Resta ainda um argumento em favor da tese materialista. De um lado, a solução do problema do conhecimento depende da concepção que se tem do homem e do mundo; de outro lado, da solução do problema do conhecimento, depende a possibilidade e o valor da concepção que se tem do homem e do mundo. Dito com outras palavras, se a nossa razão é incapaz de conhecer a essência das cousas, qualquer ontologia isto é, a concepção que se tem do homem e do mundo, torna-se impossível. Então, não se poderia atingir nenhuma certeza sobre a existência e a essência da matéria e de outras questões e do pensamento. Assim, a teoria dos valores — a axiologia — que se fundamenta na ontologia, se extinguiria sem essa base de sustentação. Em qualquer disciplina, a solução do problema do conhecimento se apresenta como um problema a ser enfrentado, um desafio da mais alta importância, para a constituição de um modelo percepto-conceitual do homem e do mundo como base teórica e como base cosmovisional
Um adepto, materialista, do epifenomenalismo explicaria como pura coincidência (probabilística) a maioria das experiências de laboratório e dos casos espontâneos e seriam considerados os demais casos tais como fraudes conscientes ou não. Entretanto a sua própria experiência, enquanto pessoal, seria perturbada quando um médium lhe descrever com mínimos detalhes situações de sua vida íntima, sua casa, suas relações com pessoas mortas e descrições delas. O adepto materialista não poderá recorrer à telepatia para explicar. Se, pelo menos, aceitar a telepatia, que é um fenômeno psíquico, ele contradiz a doutrina com base no epifenomenalismo, quando um movimento de uma parte do corpo é causado por um desejo, não se pode afirmar que o desejo foi gerado no cérebro. O medo, por exemplo, é um tipo de experiência psíquica e que, somente após a constatação dele, se desenvolve um processo cerebral de comando de secreções específicas. Trata-se de um “constructo” supra-cerebral, sem um suporte (substrato) neurofisiológico. E nesse ponto citaríamos que deixaram essas questões abertas tanto A. Luria, (4) quanto I. Bassin, (5) autores russos de formação materialista
Gaston Bachelard(6) analisando, sob o aspecto epistemológico, a matéria e a irradiação apresenta argumentos incisivos a resposta da mudança de forma da matéria e das transformações energéticas: “Assim, o estudo da micro-energética parece-nos conduzir a uma desmaterialização do materialismo. Virá um momento em que poderemos falar de uma configuração abstrata, de uma configuração sem figura; após ter elevado a imaginação, instruída inicialmente pelas formas espaciais, até à hipergeometria do espaço-tempo, veremos a ciência ocupada em eliminar o próprio espaço-tempo para alcançar a estrutura dos grupos. Ficar-se-á completamente aí, nesse domínio do abstrato coordenado que dá a primazia à relação sobre o ser”
Convém recordar que os fenômenos paranormais não sofrem barreiras espaço-temporais: telepatia, clarividência, precognição, psicocinesia (telergia, etc.)(*)
(*) Essa afirmação merece submeter-se a reflexões mais profundas
As idéias acima nos orientariam no sentido de uma pretensiosa tentativa de um ensaio mais amplo sob o título “Sobrevivência, indícios parapsicológicos e efeitos cosmovisionais” Tentaríamos um modelo mais abrangente do universo, da vida, do pensamento e do relacionamento desses componentes entre si. A metodologia não se afastaria da teoria do conhecimento, compreendendo: (a) a coerência do pensamento em si mesmo; (b) as condições subjetivas-objetivas do conhecimento da realidade com o fim de alcançar um modelo aderente à realidade
Alguns conhecimentos já surgiram no horizonte do saber, no II Congresso de Psicotrônica, Monte Carlo, 1975, tendo sido definida a Psicotrônica uma ciência de uma modalidade interdisciplinar, que estuda os campos de interação entre pessoas, entre as pessoas e seus ambientes (tanto interno, quanto externo) e os processos energéticos ali envolvidos. Nesse II Congresso, a Psicotrônica “reconhece e se fundamenta que a matéria, a energia e a consciência estão interconectadas de tal maneira que contribui para a nova compreensão das potencialidades dos seres humanos, dos processos biológicos e da matéria em geral”
Na abertura do III Congresso Internacional de Psicotrônica, Tóquio, 1977, o Dr. Zdanek Reydak, tchecoslovaco, Presidente da Associação Internacional de Pesquisa Psicotrônica — I.A.P.R. — resumiu: “Em um esforço para formular novas leis físicas em relação ao homem, não devemos cair no fisicalismo e reduzir o homem a um jogo de processos químicos, eletromagnéticos e outros. O caráter interdisciplinar da Psicotrônica obriga o físico em todo o estagio da pesquisa”. Já em 1968, na Conferência de Parapsicologia, Moscou, quando surgiu o termo Psicotrônica, foi expresso o seguinte pensamento e resolução: “A função de associação entre a função PSI e as funções fisiológicas (neuro-cerebrais) se daria pela via dos fenômenos associados do homem (aspecto psíquico e sistema nervoso), por um lado e por outro lado aos fenômenos de caráter energético por si mesmos”
Pois a Psicotrônica trata de estudar processos insólitos, que interrelacionam, subsistemas, através de interfaces materiais, energéticas e cognitivas. Abrange, entre outros, os estudos de
– campos bioplasmáticos; efeitos psigâmicos e psicocinéticos;
– processos vitais e eletricidade; efeitos telérgicos;
– problemas do tempo; dados eletrônicos, experimentos eletrônicos, duelo com o tempo;
– ondas de forma; experimentos de mumificação com pirâmides e outras formas geométricas, cúbicas, cônicas e piramidais;
– vozes de Raudive: contatos através de geradores de “ruído branco” e outras modalidades de alteração de origem desconhecida, de campos eletrostáticos e eletromagnéticos
Não nos surpreendamos com esse novo quadro conceitual trazido pela Psicotrônica. Na física nuclear encontramos mais de duzentas partículas elementares e note-se que também existem em grande número as correspondentes antipartículas. Já se encontram nomes exóticos para as mais recentes partículas, tais sejam “beleza”, “estranheza”, “charmosa”. Recorde-se que tais partículas surgem de um balanço energético de um modelo matemático-físico-nuclear fundamentado por um experimento de bombardeio de partículas em núcleos, ou seja, por meio de interações. Porém, a física também especula e já tem definidas partículas elementaríssimas, três quarks e suas três antipartículas, os antiquarks, que faz duas décadas atrás, resumem um desenvolvimento teórico avançado (para não dizer especulativo) dos números, que, através de suas combinações, explicam os mesons, hadrons e barions
Entre 1973 e 1978 foram detectados novos mesons e barions com massa medida em energia de pouco mais de 1 até 10 Giga-eletro-volt (l Giga = 10 (9)= 1000 000 000 = mil milhões). Observe-se que nessa escala a massa, como um conceito dinâmico, está em elevada velocidade e é medida em termos de energia. Pois bem, nos confins elementares da matéria, os espaços vazios são imensos em relação as dimensões das partículas, se é que aí existe sentido em falar-se do espaço-tempo (com tempo de vida de hadrons variando de 10 (-20) a 10 (-23) do segundo) (*).
(*) Um décimo de micropico segundo, ou 0, (seguido de vinte de dois zeros) e por fim o número 1, um tempo infinitamente pequeno para os nossos padrões hunanos.
O grande enigma, no momento, é que até então nunca foram observadas partículas com carga fracionaria, tendo o elétron, que é a medida quântica de carga elementar—unitária, mantido incólume a sua estrutura. Só que se trata de uma estrutura físico-matemática-conceptual. Quando uma partícula composta como o núcleo atômico é atingida com energia suficiente, ela se subdivide em seus constituintes. Mas, quando um próton é atingido a níveis de centenas de vezes a sua massa de repouso, nunca é observada a sua subdivisão em quarks. Alguns físicos apresentam explicações razoáveis indicando que os quarks livres nunca poderiam ser produzidos. Anotamos, então, que a física já atingiu tal grau de precisão e de confiabilidade que se permite especular em torno de partículas “espiritualizadas”. E dizemos tal heresia sem demérito ao corpo de ciência mais avançado e propulsor do espírito humano
Passando a outro campo do estudo da ciência, G. Günther introduziu o termo transclássico e define “ciência transclássica” a maneira dialética do conhecimento que acolhe a ciência clássica anterior – a tese – mas põe em questão cada resultado por ela estabelecido – a antítese – obtendo-se da reunião da tese e da antítese, a síntese, mediante explícita reflexo em torno do que esse resultado fixou
Trazemos a idéia de G. Günther para aproveitar dela o sentido de que “nos modelos transclássicos os resultados não expressam uma solução de um problema – conforme os modelos clássicos – mas um resultado provisório, ou de transição” envolvendo um processo na busca continuada de soluções. Essas soluções têm, então, um caráter provisório, enquanto não surgir a sua refutação. Um tal processo de resolução de problemas, sob o aspecto metodológico, recai na “caixa preta”, ou seja, em manipulações dos “dados de entrada” e da observação (descrição, quantificação e classificação) dos “dados de saída”. Resolver problemas reduz-se a manipular processos. Isso exige que a idéia de integração de diferentes disciplinas se imponha no estudo sob o esquema transclássico. Cada ciência que integra num todo diversas disciplinas é designada ciência transclássica, ou cibernética.
E cada disciplina científica pode valer-se de argumentos clássicos (compartimentais) e de argumentos transclássicos (integrados a outras disciplinas, ou integrando aos argumentos clássicos aí envolvidos). A pesquisa no âmbito da teoria transclássica dos sistemas contempla sistemas dinâmicos, relações em processos que são responsáveis pela alteração de estado de sistemas e busca responder a indagações tais como
– de que maneira se modifica o estado do homem total na morte?
– para onde conduz a alteração os diversos subsistemas do homem total?
– pode a alteração ser influenciada por um objeto determinado no processo durante a morte
É ainda interessante estudar o homem como um sistema transformador. É notável o registro de que, em eletrônica, grande parte dos dispositivos transformadores, principalmente os semicondutores (diodos e transistores) funcionam era “mão-dupla”, na transformação da energia. Um transistor ao ter uma das junções percorridas por corrente de certa intensidade libera calor. Doutra parte, ao ser-lhe aplicado calor, a junção semi-condutora, com a queda da resistência, libera corrente
Os sistemas, como havíamos iniciado a estudar, se constituem de subsistemas de diferentes graus de complexidade. Sistemas altamente complexos são aqueles que não podem ser descritos com precisão – uma nação, o cérebro, o homem no seu todo. Há quase uma transcrição do princípio da incerteza de Heisenberg, emprestado da física. Ora, todo sistema supercomplexo é probabilístico no seu todo, conquanto possa conter subsistemas mais simples, alguns até determinísticos, mas não todos. Os traços típicos desses sistemas supercomplexos são a variedade e a indeterminação. Assim, como um sistema supercomplexo, o homem além de requerer um estudo não somente dos argumentos clássicos segmentados – tais como sua estrutura anatomo-fisiológica sua atividade bioquímica, seus complexos psicológicos — também o reclama de maneira transclássica com argumentos parapsicológicos e psicotrônicos. E as funções PSI do grupo dos argumentos parapsicológicos são aqueles que poderiam responder às indagações acima,“para onde conduz a alteração?
O homem como supersistema se aproxima dos argumentos trazidos da teoria da informação, quando vamos captar em fontes não-tradicionais vivências de estados alterados da consciência, nos eventos de comunicação de mente a mente – da telepatia, clarividência – da mente atuando em objetos ou pessoas – psicocinesia, telergia e telestesia – na meditação transcendente – que busca atingir o satori e samadi — na psicologia transpessoal – de vivência de introspecção do tipo culminante. Aí encontramos uma série de condições previstas como as interfaces de um ou mais sistemas informacionais. Ludwig von Bertalanffy em suas análises da Teoria Geral dos Sistemas (7), define os sistemas enquanto são ou produzem comunicações e regulagens, isto é, os efeitos. Um sistema e definido por qualquer conjunto de partes que se interagem promovendo uma unidade maior, simples ou complexa, um efeito. Todo sistema tem um determinado arranjo particular interno, uma certa forma e um grau de ordem, a sua estrutura. A interação das partes em conjunto e entre si, ocorre às expensas de transformações e trocas de energia.
O homem seria, então, estudado como um sistema supercomplexo, um transformador de energias, um efeituador de alta complexidade e que, para entendê-lo melhor, deveremos analisá-lo em seus subsistemas componentes e descobrir as interfaces desses subsistemas. Já foi citado que esses subsistemas poderiam ter como base as naturezas somática, psíquica e ousamos acrescer a informacional. Teríamos, então o subsistema somático (estrutura fisiológica-anátomo-nervosa), o subsistema psíquico (estrutura neuropsicológica) e o subsistema informacional (funções e programas informacionais integradores e que participam do processo global). Então, seria admissível a hipótese de que com a entropia dos dois primeiros subsistemas, ainda restaria o subsistema informático do homem, em um domínio que resta investigar.
A fonte da mensagem necessita de um emissor, que em essência é um transformador, ou conversor de sinais. A comunicação é transporte de informação (do emissor para o receptor, através de um canal). Na teoria da informação o tema central é o estudo do meio de transporte da informação e da invariância daquilo que se transporta; o sinal portador. A invariância da informação é afetada por fatores de perturbação, denominados ruídos: falhas da codificação, falhas do canal de comunicação, impropriedade nos repertórios do emissor e nos repertórios do receptor, falhas do receptor, interferências de outros sinais durante o transporte, etc
Cabe assinalar que a telepatia, como sistema de comunicação, apresenta, atualmente, um desempenho de baixa eficácia. Isso estudamos em nossa tese “Indicadores de Transmissão Telepática” apresentada no II Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica, Rio de Janeiro, 1979.(*) Para “comunicações transpessoais”, do tipo ser vivo e agente teta, requer-se que o médium utilize a telepatia em seu mais alto grau de eficácia, pelo que deveria otimizar o seu desempenho através de treinamento e de técnicas de exercícios continuados e, mesmo assim, poderiam ocorrer ruídos entre ele e o “agente teta”, se este existir, até mesmo devido às impropriedades dos repertórios dos signos e de suas decodificações. O domínio, se esse existir, do “agente teta” seria um “constructo” não-físico, porem informacional, de natureza não-espaço-temporal. Uma comunicação do ser vivo com o agente teta, desse gênero, e de natureza probabilística é de muito baixa probabilidade de ocorrência no estágio atual – em outras palavras, de baixa freqüência de vir a ocorrer, porém, hipoteticamente possível de acontecer. Mas essas especulações levantam questões que necessitam de uma nova semântica e da sua verificabilidade.
(*) Tese que faz parte deste livro
Lançando mão do argumento do interacionismo – posição que reconhece a existência do corpo e da alma, sendo esta concebida não como uma substância transcendental, mas antes um componente natural da estrutura humana – haveria interações entre alma e corpo e vice-versa. Isso seria uma realidade a despeito do fato de desconhecermos o locus (lugar espacial) dessa interação. A interação é observada, porém não sabemos o processo de como uma substância não-física pode agir sobre outra de natureza física e nem sempre como uma substância física pode atuar sobre outra de natureza não-física. Sob essa hipótese, alguns pontos sugerem uma complexa perspectiva da natureza da interação alma e corpo:
a – o homem é um sistema maior, o seu corpo e um subsistema;
b – o homem vive circundado por complexos de modalidade de energia que transcendem as funções orgânicas, embora interrelacionadas às mesmas
Essas perspectivas têm raízes holísticas – referentes à posição teórica segundo a qual o organismo deve ser estudado como um todo, visto que o todo é maior do que as suas partes constituintes. Observe-se que não desejaremos fazer qualquer apreciação de natureza mística. Místicas com noções de corpo astral (não provado), chacras (ou vórtices de interação entre o nível etéreo da substância do ser e o corpo), pois o modelo do chacra não envolve, originalmente, uma situação física correspondente ao tal vórtice. Tais seriam idéias pseudo-científicas não consideradas, porém não totalmente menosprezadas no atual estágio de qualquer anál
Podemos resumir em apenas duas fases tanto o processo de percepção sensorial normal, quanto o processo de percepção sensorial paranormal. Na percepção sensorial normal, na primeira fase, alguma ocorrência exterior produz sinais energéticos que carregam a informação sobre ela. Tais sinais são raios de luz, ondas sonoras, pressão sobre a pele, calor, ação química (gosto e olfato). O sentido é um específico terminal nervoso estimulado por sinal carregado de energia, o qual (o sinal) é transmitido pelo sistema nervoso ao cérebro. Este transforma a energia captada e a transforma em outra modalidade, do tipo informacional. Na fase seguinte, a informação recebida é processada e, então, conscientemente experimentada, é seguida de uma reação consciente, ou ainda produz uma resposta reflexa do organismo. Esse sinal pode introjetar-se com intensidade e a níveis mais profundos do consciente, podendo vir a ser subjacente ao nível subconsciente, ou inconsciente.
Na percepção extra-sensorial, observa-se na primeira fase o evento exterior ser carregado por um sinal até ao nível inconsciente, ou a níveis mais profundos do consciente, ou mesmo aos níveis mais profundos do sistema nervoso. Quando se trata de uma percepção sensorial normal, esses sinais se transportam percorrendo um espaço com certa duração(*). Entretanto, na percepção extra-sensorial diz-se que os sinais podem ultrapassar as barreiras do espaço e do tempo físico (caso da precognição em que um sinal de fase teria uma velocidade de propagação superior à da luz). Assim, a duração, conceito relativístico do espaço-tempo, perde sentido, nesse domínio. No caso da percepção sensorial normal, as modalidades de energia que transmitem a informação é conhecida do domínio físico. Na percepção extra-sensorial a modalidade de energia envolvida na transmissão da informação é ainda desconhecida: não é do tipo espaço-temporal e, entretanto, os fatos paranormais objetivos mostram que essa modalidade de energia, ou agência, é capaz de interagir com eventos do domínio espaço-tempo físico. Essa nova modalidade de energia, ou sua agência, por enquanto, é chamada de energia-psi. Essa forma de energia também apresenta um relacionamento com pensamentos, ou com a consciência. A percepção extra-sensorial age diretamente, ou é captada diretamente, sem que um grupo nervoso sensorial seja diretamente influenciado e, no entanto, o sinal atinge o sistema nervoso central. Na segunda fase, a informação é recebida e processada pelo cérebro. Então, há uma igual atividade como na percepção sensorial normal. A informação recebida pode ser vivenciada e experimentada conscientemente. Observa-se, porém, uma interferência puramente de natureza psicológica. A pessoa deve estar preparada para saber interpretar a mensagem simbólica captada (ou percebida). A formação histórico-psicológico-cultural da pessoa pode deformar a compreensão da informação. Podem ser experimentadas sensações semelhantes às que se desenvolvem nas percepções sensórias em diversas escalas, ate mesmo experiências alucinatórias. O cérebro poderá liberar todas as impressões que traduzam a forma simbólica experimentada, como poderá exercer a sua ação de filtro de maneira mais intensa, ou mais débil dependendo de encontrar-se sob um estado emocional normal ou alterado.
(*) Que deve ser interpretado por “intervalo de tempo”
No estágio atual é difícil reconhecer todos os fatores envolvidos no processo. A percepção extra-sensorial não elabora uma memória e uma experiência associada aos demais modos da percepção sensorial. Cada experiência sensorial é acompanhada de uma sensação bastante específica. A emoção intensificada geralmente facilita a percepção extra-sensorial que atinge a níveis da consciência podendo assemelhar-se subjetivamente a qualquer percepção sensória normal. Mas é exatamente por seus traços subjetivos que as pessoas paranormais já educadas (ou preparadas, ou experientes) e que os têm vivenciado, conseguem reconhecer as suas percepções-extrasensoriais. Uma vez reconhecida, essa percepção é intensamente vivida e memorizada
Desse modo, o indivíduo paranormal, quando estudado como um instrumento, não pode ser comparado com um instrumento usado em laboratório. Neste caso, o instrumento pode ser usado com repetição, pois que não guarda memória. O homem como instrumento de medida guarda memória. Porém é um aspecto que traz vantagens e desvantagens. É uma vantagem , sob o aspecto de identificar o fato paranormal, quanto às impressões percepto-sensoriais ou extra-sensoriais. Quanto ao aspecto do fenômeno ser subjetivo, pode ser considerado com algum grau de desvantagem
Certa escola de pensadores admite que o cérebro não é o único que “sabe” das coisas. Na realidade o cérebro é um filtro, isto é, um limitador, que nos impõe uma visão do “real” que, sem dúvida, está longe de ser a verdadeira visão da realidade. O cérebro presta atenção somente ao que é vital, para aquilo que facilita a nossa sobrevivência, primariamente, e posteriormente para atividades de trabalho, do prazer, etc. Assim é que não se tem enorme freqüência da telepatia, porque o cérebro filtra aqueles sinais, a menos que cheguem acompanhados de forte impacto emocional. Então, pelo menos, por alguns instantes, a “função psíquica” torna-se uma realidade em nossa própria experiência. Como isso ocorre com raridade, muitos chegam apenas a ler, outros a registrar fatos de terceiros e, então, tende a duvidar de sua realidade. Tais pessoas dizem “afinal isso nunca aconteceu comigo”. De fato, uma cousa é ouvir dizer e outra é vivenciar um fato paranormal. Cesar Lombroso (8), de formação positivista, ao “ver” e “falar” à sua mãe falecida, por meio de sua forma ideoplástica (materializada) através do médium Eusápia Paladino, desestruturou-se, dispendeu alguns dias para recuperar-se, tal foi a intensidade de sua perturbação.
Pelo respeito do rigor que nos deve orientar, convém trazer as notícias mais recentes das bases neuroquímicas. O Dr. Arnold Mandell, da Universidade da Califórnia, tem sido muito citado, recentemente, como pesquisador das bases biológicas da “transcendência”, já estudada por William James, psicólogo do início deste século. William James concluira que a experiência transcendente manifestava-se repetindo certas características em qualquer povo e latitudes onde fosse observada. A atual escola neuroquímica parte do pressuposto de que as nossas recordações, emoções, visões beatíficas, sonhos, etc., se interrelacionam com atividades químico-nervosas de substâncias existentes, ou produzidas, em nosso cérebro. Em as “Portas da Percepção” Aldous Huxley descreve as suas experiências com a mescalina. Carlos Castañeda através de uma serie de livros descreve as experiências e vivências interiores e exteriores, sob o efeito da droga e desenvolve as situações pelas quais passou. Ambos tiveram, com aquela droga alucinógena, experiências que afrouxaram a ação de “filtro” do cérebro.
Atribui-se que, ai no cérebro, os neurônios – células nervosas cerebrais comunicam-se entre si, quando alguns neurotransmissores – moléculas de um mensageiro – atravessam as pequeníssimas fendas sinápticas, acionando ou inibindo a célula nervosa vizinha. Levando em conta a existência de cerca de duas dezenas de bilhões de neurônios e as possíveis conexões sinápticas de cada um deles com cerca de meia centena de milhar de outros neurônios, os neurotransmissores possibilitam uma configuração múltipla, tipicamente gestáltica, alterando os desenhos desse intricado sistema informacional.
A endorfina – uma morfina natural produzida pelo próprio cérebro – alteraria o equilíbrio dos neurotransmissores. Outras substâncias alterando o metabolismo e, por conseqüência algumas secreções, alterariam a produção de substâncias químicas cerebrais. Certas drogas são bloqueadoras (inibidores), enquanto outras são estimulantes. Somente como exemplo despretensioso, alguns epilépticos sofrem alteração da personalidade e tendem a ter visões e revelações transcendentes. O hipocampo é sensível às faltas de serotonina e tem sido observado que essas faltas desajustam ânimos e emoções quer no mundo subjetivo quer no mundo objetivo (ou exterior) do indivíduo. Nesse sentido experiências de laboratório – Universidade de Stanford – através de injeção de drogas (naloxana, que bloqueia a ação de endorfinas) têm demonstrado resultados positivos no sentido de atribuir-se a neuroquímica quer os bloqueios, quer os estímulos das atividades mentais. Todavia, resta outro enfoque, o de que essas ações neuroquímicas provoquem uma abertura, ou uma tangência, as interfaces do subsistema psíquico-somático a outro de natureza informacional.
“O real é sempre novo“(10) sempre foi assim, no campo da inovação do conhecimento e não seria uma atitude científica querer explicar-se as elaborações intelectuais somente pelo modelo químico.
Vamos, agora, enfrentar uma posição fundamental, a qual tem orientado a Parapsicologia que se mantém liberta de acessórios ideológicos. Até o presente, ninguém provou cientificamente que a alma, ou o espírito de pessoa morta se tenha reencarnado. Entretanto, a sobrevivência ainda não é um fato provado cientificamente. A rigor, a comunicação de espírito dos mortos com os vivos de uma maneira perceptível é uma hipótese. Entretanto, há indícios, casos episódicos que refutados todos os outros fatores, nos conduzem à hipótese do “Agente Teta”. Porém, podemos adotá-la como hipótese de trabalho, como um “constructo” para a economia de argumentos e simplificação de explicações. Mas sob o aspecto científico, esse “constructo” não pode ser apenas um argumento, ou critério de discussão, mas uma curiosidade e uma questão que seja baseada em fato, e se isso ocorre, ser submetido à análise. Algumas experiências foram feitas, com o objetivo de verificar se os mortos retornariam para uma prova de comunicação com os seus vivos. Quando uma pessoa estava para morrer, era-lhe solicitado que escrevesse uma senha com o seu respectivo significado em uma folha de papel, que era, pelo doente, colocada em envelope opaco e guardada em segredo. Os envelopes foram guardados por certo tempo e abertos junto as correspondências, com insucessos alguns e bem sucedidos outros, portanto nada conclusivo. Mesmo diante dos insucessos a curiosidade científica não permite ao pesquisador dizer “desistiu” de qualquer experiência, nem de deixar de questionar os problemas que se explicitam através dos fatos. E os fatos existem. Assim que, a função PSI é uma capacidade de produzir fenômenos que escapam dos limites físicos. Trata-se, em princípio, de uma capacidade humana e, deixaremos de fazer outra abordagem que não humana.
Os fatos catalogados ditos paranormais, por diversos autores sérios de todos os continentes, reúnem modalidades dessa capacidade, tais como os de psigama, a telepatia, a criptomnésia e a clarividência, segundo a fonte do conhecimento paranormal – que se dizem independerem do tempo, da distância e de obstáculos – tais como câmaras revestidas com lâminas de chumbo, que protegeriam contra raios-X e gama e de gaiola de Faraday, que protegeria de propagação eletrostática e eletromagnética – e, conseqüentemente, estamos diante de um outro domínio. A precognição – percepção paranormal de acontecimentos futuros – intriga qualquer estudioso com boa formação de física, desde que se considere a causa conhecida antes do efeito, isto é, o sinal, nesse outro domínio, propaga-se a uma velocidade maior do que a da luz. Um outro domínio ou uma outra categoria de campo (*).
(*) Há autores que defendem a existência de um campo psi que interage com o campo quântico, conceitos que merecem maior reflexão.
Os fenômenos psi-kapa, de psicocinesia – realização física de uma ação mentalizada – envolvendo a psicocinesia ideoplástica, com agência ectoplasmática, telepsicocinéticos ou de telergia (força mental geradora de fenômenos paranormais, ou de ação da mente em matéria alheia), de telecinesia (atuação da força da mente à distancia), ou de telestesia (sensação extra-sensória da ação de outra mente), são fatos objetivos no que se refere à maneira perceptível de observação e critérios de testabilidade, quer espontaneamente, quer em laboratório. O I.B.P.P. (Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas), São Paulo, detém uma coleção de casos documentados de “poltergeist”.
Então, esse novo domínio a que nos referimos acima, mantém uma interação com a matéria, próxima ou distante, e através de obstáculos e distâncias, ou a força inteligente não-fisica intervém ou interage, como sendo uma influência da mente sobre a matéria, ou sobre um sistema de energia já existente na natureza e com ela interatuante. Somos levados a questionar sobre esse novo domínio ou campo, não-físico, ou informacional se existe e que possa estruturar-se segundo um sistema histórico da pessoa humana de cujo registro se pesquisa a sobrevivência.
Em alguns fenômenos, depois de afastados todos os demais fatores físicos, psicológicos, estruturas de múltiplas personalidades – personalidade secundárias – ainda resta um conteúdo e uma identificação que indicariam a existência de um agente estranho à qualquer estrutura de personalidade, primária ou secundária , do médium – o “construto” do Agente Teta – que se identifica, de modo inteligente e inconteste, diferente das capacidades do médium. Aí, então, o questionamento de um ser em um domínio informacional (ou histórico, ou bioplásmico, pois o nome ainda não é tão importante), que interage com vivos e a matéria, merece uma atenção científica. Os fatos catalogados nos grupos de fenômenos acima mencionados são indícios que exigem análise e pesquisa. Eles por si não se alinham como um prova científica da sobrevivência. É um indício que desperta a curiosidade científica, diante do qual o pesquisador sério adota uma atitude de dúvida científica. Diversos pesquisadores sérios oferecem uma coleção de fatos num estagio exploratório, durante o qual se descobrem novos caracteres de fenômenos, que se manifestam com uma causalidade que desafia a inteligência do pesquisador. Elaboram-se planos de pesquisas e examinam-se as hipóteses de trabalho. Quer seja o método da tomada do conhecimento, quer seja sua crítica, um modelo epistemológico único ditado pelos interesses de acomodação do que está estabelecido deve ser perseguido para a crítica no estagio do saber atual, indiscutivelmente.
Doutra parte, é exatamente o problema da psicocinesia que provoca uma cisão (ruptura) teórica no campo da parapsicologia. Há, todavia, uma quantidade e variedade de experiências realizadas no mundo que oferecem resultados consideráveis, em favor do fenômeno. Como no caso dos fenômenos psi-gama experimentados em laboratório, através do método de baralho Zener, os fenômenos psi-kapa, ou de psicocinesia, foram inicialmente observados em laboratório, por J.B. Rhine, por meio de jogos de dados, um método singelo e dentro dos rigores da estatística e do calculo de probabilidade. As experiências de laboratório de psicocinesia não se restringem aos da Universidade de Duke, mas foram diversamente idealizados e repetidos em outras partes do mundo. Na França, Chevalier e Hardy realizaram experiências com uma lâmina que deveria normalmente cortar igualmente uma gotícula d’água que lhe caía de um gotejador controlado para que a divisão de um grande número de gotas fosse de igual medida. Os paranormais agiam no sentido de desviar a gotícula na sua queda natural e à distância, orientado-a, controladamente, numa serie por um lado e noutra série para o outro lado, realizando com sucesso, apenas através da influencia a distância da mente e por sua vontade.
Há catalogadas e publicadas uma variedade de experimentos de ação da mente sobre crescimento de plantas e bactérias.
As experiências ideoplásticas, utilizando-se do ectoplasma, e de voz direta absorvem a inteligência do pesquisador, quando fica afastada a fraude, analisada a mensagem quanto ao seu conteúdo e outras modalidades de identificação comprobatórias. Neste domínio, da ideoplastia – outro nome da materialização de forma objetiva e plástica de idéia preconcebida, ou dinamizada pela mente – e de formas materiais estranhas, tais como o ectoplasma – substância que se exterioriza emanando de qualquer um dos orifícios naturais do corpo (inclusive poros) – faz-nos lembrar de uma outra concepção encontrada na teoria genética formulada pelo Modelo Organizador Biológico proposto pelo Engenheiro Dr. Hernani Guimarães Andrade(11), fundador do I.B.P.P., que têm uma correspondência, ainda inexplicável, naquele domínio PSI a que tanto temos feito referência.
Os estudiosos da sobrevivência expressam, em geral, que o espírito que sobrevive manifesta uma suposta preservação de todas as potencialidades que o homem adquiriu durante a sua vida. É como se a continuação da consciência individual carregasse todos os seus traços característicos da personalidade, sua memória, atitudes afetivas, objetivas e ambições. Não há nenhuma observação factual que generalize a sobrevivência desses traços. É de esperar-se que as potencialidades humanas, baseadas no corpo ou nas funções químicas do cérebro, se desintegram com a morte. Sobreviveriam, porem, os resultados das elaborações mentais e transcendentes. Não existe prova de que os interesses após a morte sejam mantidos e que os compromissos adotados durante a vida permanecessem como valor depois da morte. Os graus afetivos e emotivos parecem ser mais intensos nos conteúdos que melhor identificam a comunicação do “agente teta”, se uma tal observação resistir à testabilidade. Deveremos colocarmo-nos de acordo no que desejamos expressar por alma, por espírito (agente teta). Deveremos definir o que sobrevive depois da morte biológica, ou que é essa entidade que sobrevive depois da morte. Deveremos reunir mais dados para saber qual o tipo de informação e a natureza do canal da mensagem que devem ser usados, se tentada a realização de um dispositivo que atenda como canal de comunicação, ou até mesmo organizador ectoplasmático. Já existem laboratórios que tem tentado construir tais dispositivos. Em todos os setores as primeiras tentativas foram submetidas aos fracassos iniciais, porém com o avanço da tecnologia atingiu-se a um objetivo positivo. Deveríamos, antes, efetuar um balanço das potencialidades do ser vivente, para que possamos saber como investigar o que entenderíamos como e quais possam sobreviver.
Por algumas razões somos levados a constatar que as características psicológicas, que têm o cérebro como “substratum”, morreriam com a morte do cérebro. Então, a personificação de forças naturais do homem desapareceriam com a morte. Entretanto, as características do domínio mental ou transcendente, essas sobreviveriam, tais são os indícios atuais. Essa maneira de compreender o “agente teta”, não lhe atribuindo propriedades antes de termos mais conhecimento a seu respeito, parece ser a postura mais correta.
Dentro de um campo coerente da função PSI, há traços da personalidade e de faculdades PSI de alta intensidade em favor de serem a – materiais, ou de “substratum” a um nível energético-material dualístico – são as partes componentes “mais elevadas” do psiquismo humano – que não é necessário que morram com o cérebro. A sua sobrevivência seria possível. Se possível, depende de encontrar-se as características comuns em alta probabilidade na pessoa humana. Os fenômenos parapsicológicos espontâneos geralmente se acham associados a acontecimentos dramáticos e de intensa emocionalidade, o que não deixa de ser uma situação que manifesta uma alta probabilidade de contribuir para uma “impregnação mental”. Há lugares onde surgem “fantasmas”, ou fenômenos tais que a sua agência, como nos “poltergeistes”, denota indícios de alguma formação estrutural e que foram a causa inconteste das experiências observadas e percebidas.
Se, por um lado, as emoções e suas vivências parecem preservar um registro e, assim, a sobrevivência, os treinos no sentido de intensificar-se os estados alterados da consciência tendem a facilitar aquelas situações de interface dos subsistemas físicos ou materiais, daqueles outros ditos não-materiais, ou de um outro domínio, dito não-físico, onde se situariam as prováveis vivências post-mortem. Ainda não poderemos atribuir-lhe ação e forma.
Há uma escola à qual se filia o Dr. Hernani Guimarães Andrade, já citado, que afirma o espírito ser matéria e, em sendo matéria, é uma forma condensada de energia. Sendo a energia de natureza universal e se o sinal for nesse domínio, superior à propagação do sinal do mundo do modelo físico, mantida a expressão Emc2 poderíamos encontrar em jogo os mais baixos valores de matéria e muito mais elevados valores de energia. E com interface de interação com uma modalidade do domínio físico. Isso sugere ser tentado construir-se um transformador (*) que interaja em ambos os domínios, realizando-se através de certas funções cerebrais. Isso é um problema para resolver-se através de um programa de pesquisa científica interdisciplinar.
(*) Esse seria um transdutor-psi. Os transdutores, em linguagem tecnológica dos dispositivos, transformam modalidades de energia: exemplo, o microfone, o alto-falante, a célula fotoelétrica, o par-térmico, etc.
A sobrevivência tem sido analisada através de alguns grupos de fenômenos paranormais, na maioria, de natureza objetiva:
– ideoplastia completa: materialização de uma réplica humana com ações e inteligência autônomas;
– escrita psicográfica “cruzada”;
– pneumatofonia, ou vozes diretas;
– aparições de pessoas mortas;
– gravação de vozes de pessoas mortas;
– fotografias em que surgem pessoas mortas;
– lembranças de vidas passadas;
– clarividência viageira, ou projeções da consciência;
– pneumatografia, etc.
As formas ideoplásticas abrangem as materializações de formas e atuação de um “agente teta”, cujo processo ainda é inexplicável. A forma ideoplástica é, inegavelmente, fornecida pelo médium e também pelas pessoas presentes e a ação e inteligência própria dependem da interação – sob a análise das teorias dos sistemas e da informação – que se explicaria como uma interface envolvendo o domínio do “agente teta” e o domínio físico da forma ectoplásmica. Uma verdadeira obra de engenharia complexa, não podendo um tal fato reduzir-se à simples explicação de atividade do inconsciente do médium.
O conceito da intervenção do “agente teta” se baseia na exclusão da ação do inconsciente do médium, ou de outra pessoa próxima do fato, em face dos atos e do conteúdo. Mme. D’Esperance mantinha-se consciente e presente à forma ectoplásmica dela originária. Daniel Dunglas Home produzia fenômenos de pneumatofonia e falava com os presentes, enquanto se escutava a “voz”, exatamente para demonstrar não tratar-se de ventriloquismo. Sucedem-se outros fatos.
Recordamos que há uma hipótese neurofisiológica, nas suas linhas mais gerais, fundamentada na teoria das emoções de Papex e Mac Lean, que os cérebros dos homens contêm três outros: o mais arcaico que compartilha com aquele do réptil, o segundo é aquele herdado dos mamíferos, que o homem também o é e, finalmente, o neocórtex, o pensante, específico da humanidade quanto às suas funções inteligentes superiores. São três cérebros conflituais a ter necessidade de conviver na mesma estrutura, como três subsistemas que detém interfaces e efeituadores-transformadores próprios. Faz-nos, afinal, recordar no mito da Gênesis, a posição dramática de Adão, o cérebro pensante, que preso aos objetivos comuns de Eva, o cérebro do mamífero, que atendendo à serpente, o cérebro do réptil, é afastado do seu paraíso pelo Anjo-homem, jamais reencontrando-se face a face com seu Criador.
O objetivo de pesquisar a sobrevivência resultará no desenvolvimento da Parapsicologia com vistas em um objetivo maior e visando os seus resultados úteis, quer ao homem como indivíduo, quer à coletividade como progresso maior da própria razão humana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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OUTRAS REFERÊNCIAS
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