O símbolo e o fenômeno paranormal

Silvino Alves da Silva Neto

Introdução

Símbolo é tão antigo quanto o próprio homem, pois deve ter surgido quando os humanoides pré-históricos tiveram seu primeiro lampejo de autoconsciência e esboçaram os primeiros pensamentos abstratos.

O Símbolo tornou-se essencial no desenvolvimento da linguagem escrita e verbal. É fato conhecido de todos os linguistas que a sonoridade de muitas palavras guarda relação com as qualidades ou características do objeto que representam. Também, o conhecimento dos ideogramas chineses permite a compreensão de qualquer texto, ainda que a pessoa não saiba pronunciar uma palavra sequer desse idioma.

A simbolização é uma capacidade essencialmente humana. A memória, a imaginação e as impressões psíquicas empregam essa função. Os animais aprendem a utilizar os Símbolos, mas são incapazes de simbolizar. Uma grande parte do conhecimento nos chega através dos Símbolos. As religiões os utilizam, a Ciência, o misticismo, a mitologia, bem como os sonhos, as alegorias, os contos de fadas e os rituais. Assim, por exemplo, um livro pode representar o conhecimento, uma escada, ascensão intelectual, profissional ou social, e uma cruz, a morte.

Conceito de Símbolo

Símbolo é um objeto, uma ideia, uma emoção ou um ato usado para representar um outro objeto ou uma outra ideia.

O mesmo se compõe de forma e significado. A forma é o seu componente objetivo, material ou perceptivo. O significado é o fator inconsciente, conceptual e emocional que é representado pela forma.

A verdadeira simbolização é um processo automático e inconsciente, mas os Símbolos psíquicos devem ser expressos em termos de fenômenos objetivos, para que possamos tomar consciência dos mesmos e compreendê-los.

A forma de um objeto é percebida, apreendida objetivamente, e se torna parte da memória individual. Esta memória é, então, associada ao significado ou à parte inconsciente do Símbolo. Este se forma, portanto, mediante tal função que integra ou unifica a forma e o significado num todo.

2.1. Diferença entre Símbolo, signo e sinal

Um Símbolo representa alguma outra coisa, enquanto que um signo identifica ou indica algo. Um rótulo numa garrafa, por exemplo, é um signo que indica o seu conteúdo.

Um sinal implica uma reação por parte do usuário ou observador. Bons exemplos disso são os sinais usados no trânsito.

Um signo, portanto, pode ser definido como um Símbolo que indica ou identifica algo percebido ou concebido, enquanto um sinal seria um signo usado para sugerir ou induzir uma dada reação em quem o percebe.

Um signo pode resultar de uma degeneração de um Símbolo original. No início, ele realmente representava algo diferente dele próprio mas, pelo uso constante e habitual, teria perdido seu caráter representativo e se transformado num signo que apenas faça referência a alguma coisa. É o que tem ocorrido, por exemplo, com muitos Símbolos religiosos.

De um modo geral, um signo é conscientemente apreendido e usado, enquanto um Símbolo é total ou parcialmente inconsciente.

Um Símbolo é também um agente de transmutação de nossas ideias e emoções. E tanto mais ele é transmutador quanto mais possua do elemento inconsciente. O psiquiatra C. G. Jung afirmava que os Símbolos atuam como transformadores, conduzindo a libido de uma forma “inferior” para uma forma superior.

2.2. Relação entre forma e significado de um Símbolo.

A forma e o significado de um Símbolo estão relacionados de três maneiras: por associação, por sugestão, ou pela lei das correspondências.

A relação por associação se dá quando existe alguma semelhança entre a forma e o significado. Por exemplo: a montanha é associada a altura e ascensão.

A associação pode ocorrer também por dessemelhança. Por exemplo: luz e trevas estão associados, porque são opostos.

Os atributos naturais podem promover a associação entre a forma e o significado. Por exemplo: o leão e sua força; a raposa e sua astúcia.

Uma coisa pode se tornar Símbolo de outra desde que ocorram no mesmo lugar. O local onde ocorreu algo desagradável, como um crime ou um acidente, torna-se representativo do ocorrido e das emoções a eles associadas.

A relação entre a forma e o significado podem depender do tempo, ou seja, podem estar relacionados à forma cíclica como ocorrem. Assim é que, a ceia com peru e farofa doce, regada a champanhe, está associada à passagem do Ano Novo.

Muitos Símbolos são formados por sugestão. Nossos pais e professores nos ensinam que determinada bandeira representa o nosso país, e nós aceitamos.

Finalmente, o terceiro modo de relação entre a forma e o significado é pela correspondência (analogia). A rosa e o lótus são Símbolos do sol, porque são tidos como correspondentes a esse astro, no reino das flores.

Resumindo, na formação do Símbolo a forma e o significado estão relacionados por:

[ Semelhança

[ Dessemelhança

Associação { Atributos

[ Espaço

[ Tempo

Sugestão

Correspondência (analogia)

2.3. Símbolos individuais, culturais e arquetípicos

Símbolos individuais ou pessoais são aqueles que têm significado especial para um indivíduo. Uma joia pode tornar-se um Símbolo da pessoa que a usa.

Símbolos culturais são aqueles comuns a um grupo familiar, religioso, social ou político.

Símbolos arquetípicos são aqueles que têm um padrão básico, primordial, característico do pensamento e da criatividade do homem. Sua forma e seu significado básicos são comuns a toda a humanidade. Embora possa se verificar certa variação em sua forma e em seu significado, entre diversos povos, ambos têm elementos comuns, onde quer que sejam encontrados. Jung mostrou que os mesmos aparecem nos sonhos, nas fantasias e nas obras de arte.

A Simbolização em Psicologia e Psiquiatria

Um dos mecanismos de defesa utilizados pelo ego para alívio da ansiedade é a Simbolização.

Nos transtornos dissociativos conversivos, os sintomas representam o conflito que lhe deu origem. A cegueira pode significar a negativa do paciente em querer “enxergar” determinada situação. A paralisia pode indicar incapacidade de enfrentar as dificuldades da vida, ou de assumir os próprios atos. A surdez sugere resistência em aceitar certas “verdades”. As dormências apontam para o desejo de tornar-se insensível aos acontecimentos que lhe afligem.

Os sintomas fóbicos são formados a partir dos mecanismos de deslocamento e simbolização. Por exemplo: pessoas que têm medo de sapo, aranha, barata. Na verdade, o objeto real de seu medo encontra-se em nível inconsciente e está relacionado à sexualidade. Esses animais representam o órgão sexual feminino. Por outro lado, a serpente representa o falo e sonhar com esse animal geralmente significa conflito na área sexual.

A importância do Símbolo na Parapsicologia

Uma característica dos fenômenos paranormais espontâneos é a sua ligação com os conteúdos inconscientes, ensejando que os mesmos, não raras vezes, se apresentem como formas simbólicas de tais conteúdos. Observamos que isso ocorre tanto com os fenômenos de psi-gama como com os de psi-kapa.

No caso das precognições de morte, por exemplo, é comum o agente psi ter visão ou sonho com caixão de defunto. Relata-se que o Presidente Abraham Lincoln previu sua morte ao sonhar com um caixão na sala do palácio. Sentir cheiro de velas também é considerado prenúncio de morte. Tomei conhecimento de mais de um caso, em que o relógio de alguém para exatamente no momento da morte de um conhecido. O simbolismo é claro: para aquela pessoa, “seu tempo terminou”.

A cruz também pode significar a morte, mas é por excelência o símbolo do Cristianismo. Como símbolo de morte, vale citar que alguns parapsicólogos perceberam que, durante aplicações de testes com o baralho Zener, os indivíduos submetidos indicavam menos a figura da cruz do que as outras. Foi cogitado que a mesma seja evitada em vista de se identificar com o medo da morte, latente em todos os indivíduos. (Não seria o caso de se trocar essa figura por uma outra, mais “neutra”?) Mas surge uma outra questão: os indivíduos não teriam, em contrapartida, uma “preferência” inconsciente por uma outra carta? O círculo, por exemplo, é uma figura muito forte. Representa a Totalidade, o Universo, o Si mesmo, Deus. Não seria natural que essa carta fosse mais sugerida? É preciso se fazer um estudo sobre isso. As outras figuras não são menos importantes. O quadrado aparece com frequência nas mandalas e também representa o Si mesmo. As ondas representam a água, o mar, a origem da vida. Pode significar também a energia e, por extensão, a libido. A estrela significa nascimento, início, renovação. Perguntamos: estando o indivíduo, em certo momento, sob influência de determinado arquétipo, não terá ele tendência a indicar determinada figura em detrimento das outras? O próprio idealizador do método, ao fazer a escolha das figuras para as cartas, o teria feito por acaso?

Voltemos aos fenômenos. Como símbolo cristão, a cruz apareceu no braço de um “endemoniado” em Maryland – U.S.A. O demônio é um símbolo clássico da libido. A dermografia em forma de cruz nos dá a chave do conflito: O indivíduo estava com a libido excessivamente reprimida pelos conceitos cristãos assimilados.

A revolta contra a opressão religiosa e moral muitas vezes é representada por fenômenos paranormais e extranormais. Certa vez, um “endemoniado” transformou em cinzas um livro religioso usado por um sacerdote durante sessão de exorcismo (transmutação). Um outro “endemoniado” transformava em cinzas suas roupas, cada vez que o vestiam. Este último apresentava episódios de levitação, que era interrompida após ato masturbatório. Nesse caso, a levitação simboliza o prazer sexual, ou o orgasmo.

Alguns indivíduos manifestaram revolta contra os preceitos religiosos através do Sansonismo, quando quebraram crucifixos de metal ou rasgaram Bíblias, utilizando apenas suas próprias mãos.

Uma coisa que notamos, estudando relatos de casos espontâneos, foi que geralmente sentimentos de ódio e agressividade não manifestos são expressos pelo agente psi sob forma de parapirogenia.

Alguns tipos de aparições podem ser representações simbólicas de conflitos inconscientes. É interessante o seguinte caso relatado pelo parapsicólogo Edvino Friederich:

“Primeiro apresentou-se um vulto branco à Sra. D. Leonor e à sua filha; a seguir o próprio Satanás com rabo e chifres. De outra feita, o diabo estava com os pés em cima dos pés de José Mário e as mãos de Satã sobre os joelhos dele… fenômenos esses vistos pela mãe e Maria Helena.

‘Rezei a São Miguel e mais alguns santos de minha especial devoção’, disse Dona Leonor, ‘foi quando o demônio pulou em cima de minhas pernas, em cima da cama de Maria Helena, ameaçando-a, fez ainda uma horrível carranca e desapareceu’…

‘O Bom Jesus da Lapa me socorreu, pois deste jeito eu o vi e senti duas vezes, sempre pelas três horas da madrugada.’

Desse tipo D. Leonor teve diversas visões, enxergando ora um homem branco, baixinho, de capuz esquisito, ora uma figura preta, um demônio de quejanda aparição apavorante, mas sua oração perseverante sempre fazia desaparecer tudo.”

O conteúdo dessas aparições sugere que pelo menos que uma das pessoas que as vivenciou estava com conflitos na área sexual. Como já vimos, o diabo é um Símbolo da libido. Ademais, Sigmund Freud afirma que, figuras que surgem nos sonhos usando capa ou capuz representam o pênis, visto como tais apetrechos têm analogia com o prepúcio.

Finalmente, enfatizamos a importância dos Símbolos individuais e do processo de simbolização por associação a determinado lugar, nos fenômenos de Psicometria por contato direto com objetos e Psicometria ambiental, respectivamente. Mesmo se considerando haver alguma ação energética sobre os objetos ou o meio ambiente, admite-se que o agente psi receba as informações por telepatia ou clarividência. Nesse caso, o fator de ligação entre o agente psi e a fonte de informação logicamente seria o caráter simbólico do objeto ou do lugar.

Pelo exposto, torna-se evidente a importância do estudo da Simbologia pelos parapsicólogos, não só para entender melhor os fenômenos, como também o Ser Humano em toda sua plenitude.

Bibliografia

Friederich, Edvino. Casas mal assombradas. São Paulo. Edições Loyola. 1980.

Quevedo, Oscar G. Antes que os demônios voltem. São Paulo. Edições Loyola. 1993.

Jung, C.G. Símbolos da transformação. Petrópolis. Vozes. 1986. Vol. V

Freud, Sigmund. A interpretação dos sonhos. 2ª Edição. Rio de Janeiro. Imago. 1987. Vol. IV

Introdução à simbologia. 3ª Edição. Curitiba. Biblioteca Rosacruz. 1995.

 

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