O universo dos fenômenos paranormais e mediúnicos (*) – Valter da Rosa Borges

Valter da Rosa Borges

A Parapsicologia é a ciência que tem por objeto o estudo e a pesquisa do fenômeno paranormal.

Denominamos de paranormal a todo o fenômeno insólito que possa ser atribuído a uma função ainda desconhecida do psiquismo humano.

Fenômeno insólito é todo evento extraordinário, inabitual, de manifestação irregular e quase sempre recorrente, sendo, ainda, via de regra, imprevisível.

Por conseguinte, o fenômeno paranormal é uma modalidade de fenômeno insólito, visto que, se um fenômeno insólito ultrapassa os possíveis limites da capacidade humana, pode ser classificado como paranormal. Assim, um fenômeno insólito que não possa ser explicável por uma faculdade especial do próprio homem, pode ser denominado de mediúnico, de ufológico, porém, jamais de paranormal.

Poder-se-ia argumentar que este posicionamento é reducionista e limitante, com o que concordamos. Mas este é o preço que a Parapsicologia tem de pagar pelo seu status de ciência. Porque toda ciência tem os seus limites, o seu território fenomenológico devidamente demarcado. Este domínio e o seu objeto e o objeto e que determina o perfil, os contornos de uma ciência. Ou seja, o objeto de uma ciência é que lhe confere individualidade e autonomia. Por isso, a pretensão de qualquer ciência bem sucedida é conhecer e cada vez mais dominar melhor o seu objeto. Assim, não é possível admitir-se uma ciência cujo domínio não esteja devidamente estabelecido, o que não quer dizer que as ciências constituam departamentos estanques, com seus limites rigidamente estabelecidos.

Ha áreas comuns entre determinadas ciências, com conflitos de fronteiras por superposições de estudos e pesquisas. Mas esses incidentes resultantes de imprecisões demarcatórias não comprometem a autonomia de cada ciência na administração de sua área fenomenológica. Uma vez tomada a posse efetiva de seu objeto, uma ciência assim constituída adquire a sua soberania epistemológica e passa a integrar a federação do Estado científico.

A Parapsicologia, conforme advertimos no I Encontro Nacional de Pesquisadores no Campo da Parapsicologia, Psicobiofísica e Psicotrônica e no IV Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica, realizados em Brasília, nos dias 5 a 9 de junho de 1985, já deveria ter procedido à demarcação oficial de seu território fenomenológico, ou, na feliz expressão de Gaston Bachelard, a aplicação de seu “corte epistemológico”, que é o momento em que uma ciência se autodetermina, especificando o seu objeto. Não é que a Parapsicologia não possua um objeto definido, pois, se assim fosse, não teria adquirido o seu reconhecimento como ciência. É a sua demarcação que ainda se ressente de indesculpável empirismo, estando a exigir maior precisão de seus contornos a fim de proporcionar um tratamento operacional mais adequado de seu objeto. Por isso, muitos são os parapsicólogos que estão desorientados quanto ao objeto da Parapsicologia, concentrando a sua atenção e os seus esforços em áreas que não dizem respeito à investigação parapsicológica. A Parapsicologia é uma ciência de extensa interdisciplinaridade e, em razão disso, necessita, urgentemente, clarificar suas fronteiras a fim de não cometer colonialismos indevidos e transgressões epistemológicas. Aliás, como bem observou Hilton Japiassu, “uma ciência só pode desenvolver-se precisando suas relações com outras ciências” (1). E o que se observa, infelizmente, é que os parapsicólogos estão mais interessados na investigação de fenômenos insólitos do que na definição do campo epistemológico da Parapsicologia. Assim, obcecados por uma pesquisa mais desordenada do que sistemática, se deixam levar no torvelinho de fenômenos insólitos, sem se aperceberem de que muitos deles nada têm a ver com a Parapsicologia. Por isso, em nosso trabalho “A Demarcação da Parapsicologia”, apresentado no referido encontro de parapsicólogos em Brasília, sugerimos, preliminarmente, unificar, numa só denominação – PSICOBIOFÍSICA – a Parapsicologia e a Psicotrônica, ou estabelecer, para cada uma delas, um campo operacional específico. Também, naquela oportunidade, sugerimos distinções entre a Parapsicologia, a Psicologia e a Psiquiatria, demarcando, nitidamente, as fronteiras epistemológicas de suas investigações psíquicas.

A Parapsicologia, oficialmente nascida no célebre Congresso Internacional de Ciências Psíquicas, realizado em Utrecht, Holanda, em 1953, é a sucessora legítima de um vasto e valioso patrimônio fenomenológico, herdado, principalmente, da Metapsíquica. Porém, o acervo de extraordinárias experiências, realizadas a partir das últimas décadas do século XIX por notáveis cientistas, pesquisando fenômenos insólitos apresentados por poderosos médiuns, não foi, de logo, incorporado ao patrimônio experimental do herdeiro. Cautelosamente, os pesquisadores reunidos em Utrecht, oficializando o nascimento da Parapsicologia, apenas admitiram, como cientificamente comprovados, a telepatia, a clarividência, a precognição e a psicocinesia, assim como aprovando a classificação proposta por Thouless e Wiesner, dividindo os fenomenologia paranormal em duas modalidades: psi-gama, para as manifestações do conhecimento paranormal e psi-kapa, para os fenômenos que evidenciam a ação da mente humana sobre o mundo exterior, sem a utilização de qualquer força física conhecida. Esta atitude reservada, no entanto, não importou na renúncia de grande parte da sua herança, mas, sim, na suspensão temporária da admissibilidade de fenômenos não comprovados experimentalmente, em laboratório, com a utilização do método quantitativo-estatístico-matemático. É que a Parapsicologia, inicialmente, sob a influência de J.B. Rhine, arquivou, por tempo indeterminado, o método qualitativo, então utilizado pela Metapsíquica, e, por conseguinte, todos os fenômenos investigados mediante aquele procedimento metodológico. Acontece, porém, que esta interdição inicial já apresenta sinais de sua futura revogação, principalmente pelo prestígio da Parapsicologia soviética que vem adotando, com resultados brilhantes, a experimentação qualitativa dos metapsiquistas. Os incontáveis inconvenientes da pesquisa pelo método quantitativo-estatístico-mate-metico, em que pese a sua superioridade no que diz respeito à observação e controle do fenômeno, têm dado ensejo ao retorno do método qualitativo, o qual, por sua característica, dá ensejo a manifestações parapsicológicas mais brilhantes. Assim, tudo nos leva a crer que, no futuro, os pesquisadores utilizarão este ou aquele método, não segundo as suas preferências, mas de conformidade com as circunstâncias experimentais em cada caso específico.

Em trabalho intitulado “Epistemologia da Parapsicologia – Uma Nova Proposta Conceituai para o Fenômeno de Psi-Gama”, que apresentamos no “I Simpósio Pernambucano de Parapsicologia”, realizado em 1983 no Recife, no auditório da Universidade Católica de Pernambuco, e promovido pelo Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas -I.P.P.P, -, formulamos uma crítica ao modelo de Thouless e Wiesner, e sugerimos uma teoria do conhecimento paranormal, visando atribuir uma individualidade gnosiológica ao fenômeno de psi-garna.

Observamos, de logo, a necessidade de se estabelecer uma nítida distinção entre o conhecimento comum, ordinário ou normal e o conhecimento incomum, extraordinário ou paranormal.

O conhecimento normal é aquele que se origina dos sentidos e da razão e se estrutura pelo aprendizado, passando, em seguida, do nível consciente para o nível inconsciente.

O conhecimento paranormal, ao contrário, não se origina da percepção ou da atividade normal, mas da telepatia ou da clarividência e, portanto, não  se  estrutura  em aprendizado em nível consciente.

Assim, quando um conteúdo informacional emerge do inconsciente para consciente e é reconhecido como vivências pretéritas da consciência, este reconhecimento caracteriza o conhecimento normal. Mas, se um conteúdo informacional, emergindo do inconsciente para o consciente, não é reconhecido como vivências pretéritas da consciência, esse não reconhecimento caracteriza o conhecimento paranormal.

De logo, abolimos a telepatia, a clarividência e a precognição como modalidades de psi-gama  e demonstramos, naquele trabalho, que as duas primeiras nada mais são senão fontes externas de conhecimento paranormal. E a essas fontes externas acrescentamos uma  fonte interna – a criptomnésia -, quando se trata de conhecimentos que não podem ser explicados pela telepatia ou pela clarividência, como a memória extracerebral e a xenoglossia.

Excluímos, também, da modalidade de psi-gama,  a precognição por entendermos que ela constitui uma das características do conhecimento paranormal – a atemporalidade. Se tivéssemos de admitir a precognição como modalidade psigâmica, teríamos, a bem da lógica, de incluir, ao lado da precognição, a retrocognição.  No entanto, a retrocognição foi esquecida na classificação de Thouless e Wiesner.

A nossa proposta epistemológica, porém, foi mais além. Estruturamos o conhecimento paranormal, distinguindo nele formas e conteúdo, com o propósito de melhor definir o seu perfil epistemológico. Mas, prudentemente, deixamos de fora o problema da essência do conhecimento, ou seja, da correspondência entre o que sistematizamos como conhecimento e o que pressupomos seja a realidade, por se tratar de questão reconhecidamente insolúvel. Estabelecemos, então, que o conhecimento paranormal se manifesta sob diversas formas, como a psicografia, a psicometria, a radiestesia, a psicopictografia e a psicomusicografia. Desta forma, despojamos esses fenômenos de sua aparente autonomia e os transformamos em simples formas de manifestação psigâmica. E com esta reformulação conceitual, integramos uma pequena parte do acervo fenomenológico do Espiritismo e da Metapsíquica à nomenclatura da Parapsicologia, porém numa outra situação funcional, enriquecendo o campo de operação do conhecimento psigâmico.

Lembramos, porém, no nosso trabalho, que o que determina, em ultima análise, a paranormalidade de um fenômeno aparentemente psigâmico não é a sua manifestação formal, mas o seu conteúdo informacional. E dissemos que o conteúdo do conhecimento paranormal é a informação não redutível ao conhecimento consciente ou a demonstração de aptidões não resultantes de prévio aprendizado.

A Parapsicologia estuda, por conseguinte, os fenômenos extraordinários da natureza humana, ou fenômenos insólitos que possam ser atribuídos ao próprio homem. Daí, a denominação de fenômenos paranormais. Assim, a Parapsicologia lida tão só e exclusivamente com o homem enquanto ser biológico, temporal e não com o homem na sua dimensão transcendental, na condição de Espírito, seja no seu nível ontológico próprio, seja nas suas pretensas relações com o mundo material. No espaço epistemológico da Parapsicologia, a hipótese do Espírito como agente psi é absolutamente desnecessária. A Parapsicologia não nega e nem afirma a existência extrafísica do homem e, por conseguinte, as questões ligadas a sua possível sobrevivência post mortem. E não cogita destes problemas, porque eles transcendem os limites do seu domínio epistemológico. A sobrevivência poderá constituir-se matéria de especulação parapsicológica, se o Espiritismo, um dia, adquirir o status de ciência, estabelecendo-se, assim, uma franja de relações interdisci-plinares entre a Parapsicologia e a Doutrina Espírita. Porque a Parapsicologia não faz apenas fronteira com a Religião, notadamente e especialmente com o Espiritismo, mas, também, com a Física, com a Biologia, com a Psicologia, entre outras mais. Esta extraordinária versatilidade de interação da Parapsicologia com as demais ciências nós a demonstramos em trabalho apresentado no III Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica, realizado no Rio de Janeiro, em 1982, o qual intitulamos “Parapsicologia Ciência Interdisciplinar”.

Evidentemente, há um campo fenomenológico comum entre a Parapsicologia e o Espiritismo, visto que, de todas as religiões, é a que mais apresenta fenômenos de interesse não apenas místico, mas também científico.

Vimos que a Parapsicologia investiga os fenômenos paranormais, ou seja, aquela modalidade de fenômenos insólitos que podem ser produzidos pelo homem. E o Espiritismo, por sua vez, se interessa pelos fenômenos mediúnicos, ou seja, os fenômenos insólitos que são atribuídos aos Espíritos .

Sob o ponto de vista da terminologia espírita, a Parapsicologia apenas se ocupa dos fenômenos chamados anímicos. Animismo e paranormalidade são, portanto sinônimos.

Todo fenômeno insólito, mesmo que seja do tipo mediúnico, se, um dia, puder ser produzido, voluntariamente, pelo homem passará, também à categoria de paranormal e será incluído no campo da Parapsicologia.

Mas, não só os fenômenos insólitos, produzidos pela vontade do homem, são considerados paranormais. A regra geral é que quase todos os fenômenos paranormais ocorrem independentemente da vontade do homem e até mesmo contra ela.

Se, um dia, o Espiritismo for reconhecido, oficialmente, como ciência, poderemos, então, admitir a existência de fenômenos insólitos mistos, ou seja, paranormais ou mediúnicos segundo o caso. Assim, apenas ad argumentandum, diríamos que a telepatia, segundo as circunstâncias, seria explicada, casuisticamente, pela interação psíquica entre duas pessoas vivas ou pela interação psíquica entre um vivo e um “morto”.

Outro exemplo de coincidência de campo entre a Parapsicologia e o Espiritismo é o fenômeno criptomnésico. É bem verdade que quase todas as manifestações de criptomnésia podem ser explicadas, satisfatoriamente, por vivências pessoais, mesmo camufladas como personalidades secundárias, que são criações espontâneas do inconsciente como estratégia catártica de profundos conflitos existenciais, que não podem ser assumidos pela pessoa em seu nível consciente. Ora, sob a ação dramatizada do inconsciente, uma pessoa pode apresentar fenômenos paranormais, seja da modalidade de psi-gama, como é mais freqüente, ou seja da modalidade de psi-kapa. Assim, há indivíduos que não apresentam manifestações paranormais, quando no exercício de sua personalidade de vigília, mas tão somente quando se deixa empolgar pelo domínio de uma personalidade secundária, a qual pode ser indevidamente identificada como um espírito desencarnado. Acontece, não raro, que a personalidade secundária, dada a freqüência de suas manifestações, pode assumir uma estrutura psíquica bem definida e coerente a ponto de fazer crer que se trata de um ser autônomo que se manifesta através do médium. E, não raras vezes, chega a se tornar o seu “guia espiritual” ou o seu implacável “obsessor”, de conformidade com o caso.

Há, no entanto, uma modalidade de criptomnésia que não pode ser explicada por experiências pessoais. É o caso da memória extracerebral que, como se sabe, é um fenômeno insólito apresentado, quase que exclusivamente, por crianças na faixa etária dos 2 aos 8 anos. Trata-se, como já vimos, de um conhecimento vivencial que não pode ser ex-plicado satisfatoriamente pela telepatia ou pela clarividência. A riqueza informacional sobre a vida da personalidade que a criança diz ter sido em existência anterior, o modo de pensar, sentir e comportar-se perante pessoas, lugares, objetos e situações ligados ao passado de alguém que realmente existiu sugerem, à primeira vista, que a criança é a continuação fisicamente modificada da pessoa falecida. É neste ponto que a Parapsicologia e o Espiritismo se interagem nos seus limites epistemológicos, visto que o fenômeno é paranormal, porque é oriundo do inconsciente de uma pessoa viva, mas por transcender o seu patrimônio mnemônico explicita um tipo de vivência que não pertence a sua vida atual. Assim, conquanto a memória extracerebral não constitua um fenômeno mediúnico, está vinculada ao campo do Espiritismo, porque importa na demonstração de um de seus principais fundamentos – a reencarnação.

O fenômeno paranormal, como já vimos, é produto de poderes extraordinários do próprio homem e aquele que habitualmente o produz é denominado de médium. Assim, em Parapsicologia, o médium é o agente psi, ou seja, a causa, ou, ao menos, no nosso entender, o fator mais importante para a manifestação do evento paranormal.

A experiência de mais de um século tem demonstrado que os médiuns são raros e que ainda mais raros são os médiuns poderosos, aqueles que podemos denominar de gênios psi, tais como Daniel Dunglas Home, Eleonora Piper, Eusápia Paladino, Francisco Cândido Xavier, entre outros. Aliás, um estudioso espírita, Carlos Imbassahy, já se houvera apercebido desta verdade, ao assegurar que “são poucos os médiuns e raros os de grande produtividade” (2).

Diz a Doutrina Espírita que todas as pessoas são médiuns.  Trata-se, porém, de uma hipótese que na prática, não ficou comprovada.  Muito pelo contrário.  Todavia, admitindo-se, como premissa, que toda pessoa seja dotada, potencialmente, desta faculdade, ela, no entanto, só se atualiza, de maneira efetiva, em raríssimos indivíduos.  Não obstante, há aqueles que apresentam propensão para atualizar, provisoriamente, em circunstâncias especiais,  essa aptidão paranormal. Porém, na quase totalidade dos casos,  a  experiência paranormal é quase inexistente na vida das pessoas.  Na verdade, muitas pretensas manifestações paranormais nada mais são do que fenômenos físicos e psicológicos apressadamente observados e fantasiosamente interpretados. A vocação para o fantástico, o paralogismo do pensamento mágico, os devaneios do imaginário são armadilhas sutis, capazes de aprisionar, por seu fascínio, as mentalidades de reduzido espírito crítico.

Conforme declaramos no nosso trabalho mencionado, “A Demarcação da Parapsicologia”, já podemos  firmar,  com base solidamente experimental, dois postulados fundamentais da fenomenologia parapsicológica:

  1. a) a presença do médium ou do agente psi é condição necessária, mas não suficiente para a manifestação  mediúnica ou parapsicológica;
  2. b) quanto mais poderoso o médium ou o agente psi, maior o índice de probabilidade de ocorrência do fenômeno mediúnico ou parapsicológico.

No primeiro postulado, fica estabelecido que a presença do médium ou do agente não determina, mas torna possível a manifestação paranormal, pois ele é condição necessária, mas não suficiente para a deflagração daquele fenômeno. Isto quer dizer que há outros fatores, embora de menor importância, que concorrem para a produção do evento paranormal. Porém, sem a presença do médium ou do agente psi, não há qualquer possibilidade da ocorrência paranormal.

No segundo postulado, se estabelece que a presença de um médium ou de um agente psi poderoso aumenta, significativamente, as chances da manifestação paranormal. Eis porque, segundo afirmamos naquele trabalho, somente a pesquisa com médiuns ou agentes psi poderosos é suscetível de garantir uma margem confiável de êxitos na investigação dos fenômenos paranormais. Com isso, não estamos arredando, definitivamente, da pesquisa, os médiuns menos dotados, mas apenas chamando a atenção para os resultados possivelmente modestos da experimentação com os mesmos.

No Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, juntamente com os nossos companheiros, Dr. Ivo Cyro Caruso e Prof. Ronaldo Dantas Lins, estamos elaborando um modelo científico mais adequado para a Parapsicologia.  Assim, substituímos a palavra médium pela expressão agente psi, cujo conteúdo, no entanto, além de pertinente,  é  também mais abrangente.  Para nós, agente psi é, assim, toda pessoa humana que deflagra a função psi.  E, obviamente, aquelas pessoas que, habitualmente, possibilitam a manifestação paranormal serão as preferidas para a experimentação parapsicológica.

Ora, sendo o fenômeno paranormal atribuído a poderes extraordinários do próprio homem, têm os parapsicólogos, notadamente, os norte-americanos e os soviéticos, procurado treinar pessoas para a manifestação voluntária desta aptidão. A expectativa é que, à medida que elas se vão tornando cada vez mais conscientes de seu talento psi, dominando, com exercícios programados, uma técnica pessoal de produzir fenômenos paranormais, aumentam, gradativamente, o seu controle e melhoram o seu desempenho, atualizando, progressivamente, um poder até então latente em seu inconsciente.

Se o aprendizado consiste na inconscientização de um repertório de informações devidamente selecionado pelo consciente, o treinamento paranormal consiste na conscientização de um processo especial inato para submetê-lo ao controle da vontade. O que se pretende não é, necessariamente, a compreensão do modus operandi da aptidão paranormal, mas a técnica de se deflagrar, voluntariamente, o processo. Ha muitas coisas – inclusive funções de nosso corpo – que não sabemos como funcionam, mas que sabemos como fazê-las funcionar. E é justamente isso que se almeja com a preparação de agentes psi: treiná-los para aprender a comandar a sua aptidão psi para, depois, se isso for possível, compreender o seu processo. No momento, o que importa é que o agente psi administre a sua faculdade, utilizando-a nas ocasiões que julgar apropriadas. Por isso, na situação atual, a teoria parapsicológica é do tipo “caixa preta”, mediante a qual só é possível investigar as entradas e as saídas de um sistema.

O maior inconveniente da pesquisa parapsicológica consiste, na verdade, no controle do fenômeno paranormal, eis que, na quase totalidade dos casos, ele ocorre espontaneamente e em circunstâncias quase nunca favoráveis à experimentação cientifica.

É evidente que um agente psi poderoso, e que já exerce um certo domínio sobre sua aptidão, poderá contribuir bastante para a pesquisa de seus fenômenos, visto que, em sua presença, existe uma significativa probabilidade de manifestações paranormais.

Por isso, a Parapsicologia é uma ciência cujo modelo de pesquisa é probabilístico, porque a ocorrência do fenômeno paranormal, em certas circunstâncias, é altamente provável, quando são feitas experiências com um agente psi poderoso, o que torna possível uma segura observação dos fenômenos apresentados, seja com a utilização do método qualitativo ou com a do método quantitativo-estatístico-matemático.

Em Parapsicologia, o que importa é que a experimentação seja prioritariamente realizada em situação laboratorial. Assim, o agente psi deve ser preparado para condicionar a manifestação paranormal a condições experimentais específicas. Com isto, não estamos desprezando ou minimizando o valor dos fenômenos espontâneos, ocorridos fora do laboratório. Infelizmente, porém, tais manifestações rarissimamente apresentam condições mínimas para a sua admissibilidade, dada a extrema precariedade de controle confiável do contexto em que elas acontecem. Assim, os relatos de casos espontâneos, por melhores que sejam, contando com o testemunho de pessoas cultas, probas, e inteligentes, apenas servem de roteiro e sugestão para experimentos mais específicos, obtidos nas melhores condições de observação e controle

A experiência tem demonstrado que os melhores e mais poderosos fenômenos paranormais são aqueles que ocorrem espontaneamente e não os produzidos mediante um esforço de vonta­de. Certos fatores bem definidos, como a emoção ou qualquer outro acontecimento, que altere profundamente o sinergismo orgânico, pode deflagrar a manifestação paranormal. E, infelizmente, tais fatores não podem ser obtidos, artificialmente, em laboratório. Os seus sucedâneos, como por exemplo, excitantes químicos, não são capazes de replicar o nível operacional da manifestação paranormal espontânea, conquanto permitam um melhor e mais adequado controle do fenômeno obtido.

Enquanto, na perspectiva espírita, o médium se prepara para deixar o fenômeno acontecer, facilitando a ação de um elemento inteligente exterior, na perspectiva parapsicológica o médium se prepara para fazer o fenômeno acontecer, pondo em funcionamento a sua aptidão parapsicológica.

E, ainda mais: enquanto o Espiritismo prefere o médium bom, antes do bom médium, preocupando-se com o conteúdo ético e espiritual do fenômeno, a Parapsicologia se preocupa com o bom médium, pouco importando as suas qualificações morais. O parapsicólogo apenas tomará todas as precauções para evitar a fraude ou qualquer outro empecilho que possa comprometer a seriedade e autenticidade da pesquisa.

A Parapsicologia, portanto, se ocupa com o mistério que é o homem. Mas, à medida que avança na cautelosa investigação dos fenômenos paranormais, poderá, como conseqüência, possibilitar a especulação sobre outros mistérios que, de um modo ou de outro, estejam relacionados com o próprio homem.

BIBLIOGRAFIA

(1)  Hilton Japiassu.  A Revolução Científica Moderna.Imago Editora Ltda. 1985,  28 p.

(2)  Carlos Imbassahy. Enigmas da Parapsicologia.  Edição Calvário, 1967. 232 p.

(*) Este trabalho foi apresentado no I Simpósio Brasileiro de Parapsicologia, Medicina e Espiritismo, realizado em São Paulo no dia 26 de outubro de 1985.

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