Parapsicologia: ciência interdisciplinar (*)

INTRODUÇÃO

 

Afirmou, certa ocasião, o parapsicólogo Robert Amadou que “a parapsicologia é um ramo da psicologia” e que “os fenômenos estudados pela parapsicologia ver-se-ão, em futuro mais ou menos próximo, incluídos na psico­logia”. Por isso, augurava que “a parapsicologia desapa­recerá então como disciplina independente”. (1)

 

Falhou, no entanto, o vaticínio precipitado da­quele parapsicólogo.

 

Hoje e cada vez mais a Parapsicologia se vem afirmando como ciência autônoma, ampliando o seu campo de pesquisa, invadindo novas áreas do conhecimento e trans­formando-se, assim, numa ciência interdisciplinar. Ela já não pode ser assimilada pela psicologia ou por qualquer outra ciência – a física, a biologia, etc. -, mas, ao con­trário, procura valer-se dos subsídios das demais ciên­cias para investigar, em maior profundidade, a complexida­de da fenomenologia paranormal.

 

O parapsicólogo, por força dessa interdisciplinaridade, deve ser dotado de sólida cultura geral para mo­vimentar-se, com segurança, no estudo e na pesquisa des­ses fenômenos incomuns e principalmente esquivos a um sis­temático controle experimental.

 

Gustavo Geley, no seu livro “L’Ectoplasmie et la Clairvoyance”, já houvera reconhecido que a ciência metapsíquica – hoje, Parapsicologia – é “a mais difícil e com­plicada de todas as ciências” e “estende-se pela Filosofia e tem pontos de contato com a Física, com a Química, com a Biologia, com a Fisiologia, com a Medicina, com a Histó­ria Natural”. Por isso, não podemos concordar com a opi­nião de J. B. Rhine de que a Parapsicologia é ciência para o futuro e de que ela “pertence, de maneira geral, ao do­mínio da biologia”.

 

O objetivo deste ensaio é sumariar as possíveis relações entre a Parapsicologia e as demais disciplinas do conhecimento humano, apresentando sugestões para um in­tercâmbio recíproco de informações e pesquisas nas áreas de interesse comum a todas elas, assim como fornecer sub­sídios para a aplicação prática da faculdade paranormal.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A BIOLOGIA

 

A Biologia é a ciência que estuda os seres vi­vos, sua história evolutiva, seus mecanismos de transfor­mações e seus processos adaptativos ao meio ambiente. O postulado básico dessa ciência é que a vida se originou da vida, permanecendo ainda em aberto a questão do que é a vida e qual a sua origem.

 

Certos fenômenos paranormais revelam que a men­te humana, usando as energias orgânicas exteriorizadas, é capaz de criar formas viventes, conquanto momentâneas, produzindo uma réplica do corpo humano com todas as apa­rências de uma pessoa viva, com inteligência autônoma, ou, ainda, um simulacro biológico de corpos de animais.

 

Esses misteriosos fenômenos de ideoplastia ou materialização demonstram, cabalmente, que uma ideia pode objetivar-se, apresentando uma aparente atividade biológi­ca, em que pese a transitoriedade e singularidade de sua existência. Comprovam, assim, que a mente humana pode ma­nipular a matéria viva, dissolvendo parte do organismo do médium sob forma de uma substância indiferenciada – o ectoplasma – e, com essa “argila psíquica” (na feliz expres­são de Gustavo Geley), construir novas formas de vida, de duração efêmera. As criações ectoplásmicas fazem lembrar, por analogia, o processo da metamorfose, onde a cabine mediúnica se assemelha ao casulo, dentro da qual, isolado e na escuridão, jaz o médium adormecido, em processo de de­sagregação de suas forças orgânicas.

 

Há parapsicólogos que explicam as formações ideoplásticas como sonhos objetivados, cuja matéria prima é o próprio organismo do médium em processo de dissolução temporária.

 

Eusápia Paladino, durante as sessões que reali­zava, gemia e se contorcia como se estivesse em trabalho de parto. Na verdade, ela paria suas criações ectoplásmicas, os filhos efêmeros do seu inconsciente, numa espécie de maternidade psíquica.

 

É plenamente justificável a estupefação de um fisiologista, como Charles Richet, quando, nas pesquisas que realizou com médiuns extraordinários, teve a oportuni­dade de observar, minuciosamente, esses fenômenos de ideoplastia. Por isso, disse ele:

 

“Não imaginam as angústias interiores por que passa um sábio assim que se lhe apresenta um fenô­meno extraordinário, anormal, cruelmente inverossímil, que parece estar em contradição evi­dente com tudo quanto ele conhece, com tudo que seus mestres lhe ensinaram, com tudo que ele próprio ensinou. Poderá um jornalista adivinhar o que pensa um fisiologista quando presencia (como eu presenciei) uma expansão sair do corpo do médium, prolongar-se formando duas pernas estranhas que se fixam no solo, emitindo depois mais alguns prolongamentos que tomam aos poucos a forma de mão, da qual se distinguem vagamente os ossos, sentindo a sua pressão nos joelhos. É necessário coragem para crer nisso! E é neces­sário muito mais coragem para relatar”.

 

Essas ideoplastias podem, como geralmente acontece, ser parciais, apresentando-se sob forma de braços, mãos e até alavancas ectoplásmicas. Já em 1895, Oliver Lodge comparava essas formações ectoplásmicas – extensões polimorfas do corpo do médium – aos pseudópodes que as amebas, segundo as suas necessidades, emitem em todas as direções.

 

A versatilidade morfológica do corpo humano se manifesta nos fenômenos de transfiguração, em médiuns po­derosos como Daniel Dunglas Home, que apresentava modifi­cação facial e alongamento ou encurtamento de sua estatura.

 

O corpo humano pode ainda tornar-se, momentanea­mente, indene à ação do fogo ou comburir-se espontaneamente até a sua total destruição, fenômeno esse que, em 1833, já era objeto de relatórios na Academia de Ciên­cias de França.

 

Alguns médiuns – Maria Silbert, por exemplo, apresentam, em certas ocasiões, uma singular luminescência corporal, o que lembra a fosforescência produzida pelos pirilampos.

 

Embora muito raramente, médiuns, como o Reveren­do William Stainton Moses, trescalam perfume, impregnando todo seu corpo e perfumando as outras pessoas, como também o ambiente. Outros, contrariamente, exalam odores diver­sos, o que lembra a estratégia de que se valem certos ani­mais para se defenderem, quando ameaçados.

 

Já se observou que certas pessoas apresentam em seu corpo ligeiras manifestações de eletricidade estáti­ca, fenômeno esse que as aproxima, numa analogia biológi­ca, das enguias e dos peixes elétricos.

 

Finalmente, alguns médiuns, como Gerard Croiset, Peter Hurkos e Olof Jonsson, podem localizar, por clarividência, o paradeiro de pessoas desaparecidas. Esse “dom” em muito se assemelha, biologicamente, ao senso de orien­tação de muitas espécies de pássaros e de certos animais domésticos, que são capazes de vencer enormes distan­cias, sem jamais se transviarem. Não seria esse tipo de clarividência uma forma sofisticada de orientação bioló­gica?

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A MEDICINA

 

Íntimas e profundas são as relações entre a Parapsicologia e a Medicina, o que está a exigir uma maior aproximação entre os profissionais dessas duas discipli­nas.

 

Fisiologia.

 

Alguns fenômenos paranormais sugerem a neces­sidade de uma revisão na fisiologia, dadas as inusitadas alterações que eles provocam no organismo de certos médiuns.

 

Nina Kulagina, cujo pseudônimo é Nelya Mikhailova, durante as experiências de psicocinesia, aumentava, assustadoramente, o ritmo cardíaco, atingindo uma pulsação de 240 por minuto.

 

César Lombroso relaciona, no seu livro “Hipno­tismo e Espiritismo”, vários casos extraordinários de transposição dos sentidos e Albert de Rochas, por sua vez, relata experimentos bem conduzidos de exteriorização da sensibilidade.

 

Os fenômenos de hiperestesia comprovam, claramen­te, que as nossas percepções podem ser grandemente aumen­tadas, inclusive alterando a especificidade dos sentidos. Médiuns, como Rosa Kuleshova, parecem “enxergar” as cores pelos dedos, distinguindo-as, segundo as sensações táteis que elas lhes transmitem.

 

Em pessoas especialmente predispostas, um in­tenso estado emocional, de fundo místico, pode produzir, em certas partes de seu corpo, graves ulcerações, como nos casos das estigmatizações, tão difundidos no contexto re­ligioso do Cristianismo.

 

O padre Pio apresentava um singular fenômeno de hipertermia, com a elevação de sua temperatura a 48 graus centígrados. No Tibete, alguns monges obtêm voluntaria­mente esse fenômeno, através de um exercício denominado de “tumo”, o que lhes permite ficar despidos nas mais bai­xas temperaturas ou enxugar lençóis molhados, colocando-os em contato com o seu corpo.

 

As experiências realizadas com a médium Olga Kahl demonstraram que a sugestão telepática pode ser con­vertida em modificação somática, ensejando o aparecimento de letras e palavras, por irritação cutânea, na epiderme de uma pessoa.

 

Matéria, ainda, de evidente interesse médico é, sem dúvida, o desequilíbrio energético observado em algu­mas pessoas jovens na transição da puberdade para a ado­lescência, resultando na manifestação de fenômenos paranormais, geralmente violentos, conhecidos pelo nome de “poltergeist” ou, mais precisamente de RSPK (Recurrent Spontaneous Psychokinesis) ou Psicocinese Espontânea Re­corrente.

 

Terapêutica.

 

A constatação da realidade das curas paranormais poderá, em futuro, descortinar, para a Medicina, uma nova alternativa terapêutica.

 

Essas curas paranormais são decorrentes; a) de ação de personalidade secundária ou, para alguns parapsicólogos, também de agente teta, na realização de cirur­gia por processos convencionais ou desconhecidos; b) de ação telérgica, a que se poderia chamar de telergiatria, mediante a transferência da bioenergia do médium curador ao paciente; c) de ação paranormal à distância ou teliatria.

 

Essa atividade terapêutica, no entanto, deve ser supervisionada por um médico conhecedor, se possível de Parapsicologia, com a finalidade de evitar os inconvenien­tes e os perigos decorrentes da atividade incontrolada do médium curador ou dos “cirurgiões psíquicos”. Daí, a ne­cessidade do estudo crítico das técnicas ainda empíricas de transmissão telérgica, conhecida popularmente pelo nome de “passes”. Ficou experimentalmente constatado que as mãos dos médiuns curadores soviéticos Alex e Viktor Krivorotov irradiam raios ultravioletas.

 

Nosologia.

 

A doença paranormal, de sintomatologia varia­da, poderá, no futuro, integrar o elenco nosológico da Me­dicina. A telergia também pode exercer uma ação patológica sobre o organismo dos seres vivos – pessoas, animais e plantas. As pessoas, notadamente as crianças de tenra idade, adoecem, os animais, muitas vezes, morrem e as plantas murcham, logo após o contato, ainda que passageiro, com pessoas, portadoras de telergia enfermiça a que o povo dá o nome de “mau olhado”. Parece que essas pessoas possuem uma estranha propriedade de vampirizar a energia dos seres vivos ou de alterar-lhes a si­nergia orgânica.

 

Alguns parapsicólogos afirmam que o olhar humano emite um tipo de radiação que é prejudicial, em certas circunstâncias, à saúde das pessoas. O Dr. Albert Leprince explica o “mau olhado” por um excesso de pigmentação do fundo do olho, produzindo a emissão de “nêutrons cerebrais” os quais, numa reação em cadeia, destroem o equilíbrio atômico e celular dos seres vivos.

 

Há indivíduos que passam por experiências de telessomatização, compartilhando, por indução psíquica, de enfermidade que está acometendo pessoas de sua intimidade.

 

Diagnose.

 

Finalmente, alguns médiuns clarividentes, como Edgar Cayce, são capazes de realizar diagnose paranormal, seja na presença do paciente ou mesmo na sua ausência, com um índice de acerto tão elevado, que torna recomendável o aproveitamento dessa faculdade como estratégia alterna­tiva neste setor da Medicina. Isto posto, de logo se im­põe a necessidade de se treinar médiuns para interpretar tecnicamente os sintomas que ele percebe seja por clarivi­dência, seja por telessomatização, do paciente sob obser­vação.

 

Também como instrumento auxiliar da diagnose po­de ser utilizada a endoscopia paranormal, uma modalidade especial da clarividência, a qual, em casos especiais, pode constituir um sucedâneo do Raio X, da tomografia e da ultrassonografia. Também o estudo da aura humana, princi­palmente através do processo da Kirliangrafia poderá, em futuro, se tornar instrumento auxiliar para a averiguação do estado de saúde física e mental das pessoas.

 

Em 1970, foi criada em Denver, Colorado, EUA, a Academia de Parapsicologia e Medicina cujo objetivo pri­mordial é promover o estudo de terapias alternativas e não ortodoxas.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A GENÉTICA

 

Os fenômenos de memória extracerebral sugerem relação entre a Genética e a Parapsicologia.

 

A Genética demonstra a milenar continuidade da informação através da infindável sucessão dos seres vivos. A informação, num permanente processo de organismo a organismo, denominado de hereditariedade, parece-nos eterna, ao menos enquanto a matéria existir. Este complexo informacional ou código genético “reencarna” em cada novo organismo, no qual adquire identidade própria e experiências pessoais.

 

Podemos, assim, sob esse enfoque, classificar o homem como entidade informacional autoconsciente. Ele é, portanto, herdeiro de si mesmo em cada uma de suas “reencarnações”, incorporando, a cada novo veículo biológico de existenciação, a síntese global de todas as suas vivências pretéritas.

 

Parece-nos, portanto, esdrúxula a hipótese de que a memória extracerebral seja a manifestação de um gene recessivo especial, que confere a cada indivíduo, poten­cialmente, a faculdade de se tornar herdeiro de todo pa­trimônio mnemônico da humanidade.

 

A Parapsicologia, assim, poderá contribuir para a compreensão de certos dilemas da Genética e esta poderá subsidia-la no esclarecimento de certas continuidades so­máticas, interessando determinadas formações patológicas, com base na viciação originária do ADN.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A ZOOLOGIA

 

As experiências telepáticas em cães, realizadas, na década de 20, por Vladimir Durov e Bechterev, propor­cionam uma inevitável aproximação entre a Parapsicolo­gia e a Zoologia, sugerindo também a existência de comuni­cação paranormal entre o homem e o animal.

 

O médium Olof Jonsson chegou mesmo a afirmar que podia controlar, psiquicamente, embora nem sempre, os cães e os gatos.

Parece, assim, que certos animais também parti­lham com os homens dos direitos de cidadania de nosso uni­verso psíquico.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A BOTÂNICA

 

Cleve Backster, em 1966, descobriu, fortuitamente, que as plantas podem captar o pensamento humano e rea­gir segundo ele. Elas modificam sua atividade elétrica na presença de certas pessoas, como se “compreendessem” suas intenções, o que demonstra a existência de uma forma de interação psíquica entre o homem e o vegetal. Tal consta­tação evidencia um campo de interesse comum entre a Para­psicologia e a Botânica, descortinando uma forma de intera­ção sutil entre duas espécies tão distanciadas na escala evolutiva.

 

O Dr. Marcel Vogel, à frente de uma equipe de pesquisadores norte-americanos, está, atualmente, empenha­do em determinar a capacidade das plantas como agentes sensoriais em casos de doenças psicopatológicas, partindo da premissa de que elas podem ser afetadas pelo campo bioelétrico do homem, revelando essa influência nos registros poligráficos. Sabe-se, empiricamente, que certas plantas, como o pinhão roxo e a vassourinha, “atraem” as “influên­cias maléficas” que acometem algumas pessoas, causando-lhes indisposições e uma poderosa sensação de adinamia. São as famosas plantas de “descarrego”, tão comumente usa­das nos famosos “banhos de descarga”, para livrar a pessoa dos seus males espirituais.

 

Em 1947, o médico francês Paul Vasse e sua espo­sa Christiane realizaram experiências de aceleração germi­nal mediante concentração mental. Anos depois, em 1953, essa experiência foi repetida pelo médico inglês Richard da Silva.

 

Podemos, ousadamente, afirmar que as plantas re­fletem o tipo de relacionamento psíquico que mantém com as pessoas que delas cuidam ou vivem próximas a elas.

 

Lutero Burbank “dialogava” com as plantas, tor­nando-as mais viçosas. Por esse processo, ele obteve o desenvolvimento de um cacto sem espinho.

 

O químico agrícola George Washington Carver tam­bém “conversava” com as plantas e as curava de suas enfer­midades, cuidando delas como se fossem pessoas humanas.

 

Tudo isso nos sugere que há um fertilizante cha­mado amor. E que a telergia, como adubo mental, pode pro­mover o desenvolvimento das plantas.

 

É possível, assim, que os rituais da fertilidade, praticados pelos povos primitivos tenham, mesmo empiricamente, uma base científica. Deste modo, os atos de amor, no meio das plantações, podem trazer resultados práticos, pois a excitação sexual, em pessoas dotadas de faculdade de psi-kapa, é suscetível de exteriorizar telergia, a qual poderá influir, poderosamente, no desenvolvimento das colheitas.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A FÍSICA

 

A Parapsicologia propõe à Física um território comum de investigação, pois certos fenômenos paranormais demonstram a existência de leis mais abrangentes, regendo as relações mente-matéria.

 

O homem, mesmo involuntariamente, quando dotado de uma extraordinária aptidão de psi-kapa, é capaz de mo­vimentar objetos à distância, de fazê-los aparecer, desa­parecer ou reaparecer em condições inexplicáveis, de obter a audição de vozes e músicas sem qualquer fonte conheci­da, de deformar objetos metálicos ou influir no funciona­mento de apetrechos mecânicos.

Além disso, em certas circunstâncias, algumas pessoas são, à sua revelia, elevadas do solo, passando a flutuar no espaço, fenômeno esse conhecido pelo nome de levitação.

 

Outro fenômeno que, aparentemente, pode estar ligado a levitação e a telecinesia e aquele que consiste na variação de peso, observado em alguns médiuns e também em objetos, o que sugere uma alteração na massa dos corpos ou em sua relação gravitacional.

 

A telepatia sugere que a ação da mente humana não é afetada pelos parâmetros de tempo e de espaço, nem também e obstaculizada por qualquer estrutura material ou campo eletromagnético. E a clarividência revela a capa­cidade de que somos dotados de percebermos muito além do campo visual e também de obstáculos materiais.

 

Provada, portanto, a ação da mente sobre a matéria e a manifestação de fenômenos insólitos decorrentes des­sa interação, é lógico reconhecer que se estabelece um no­vo ramo especializado dentro da Física – a física psíqui­ca -, a qual deverá ter por objeto a compreensão e o con­trole desses eventos.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A QUÍMICA

 

Indiscutíveis também são as relações entre a Pa­rapsicologia e a Química.

 

Na presença de determinados médiuns ocorrem fe­nômenos de impressão de letras e palavras num papel em branco, ou de imagens em película fotográfica sem necessi­dade de estimulação luminosa e também de combustão espon­tânea de objetos, mesmo que eles sejam de matéria incombustível.

 

Vê-se, assim, que a mente humana tem o poder de desencadear fenômenos químicos, sem necessidade de utili­zar qualquer reagente material, o que, de logo, sugere a possiblidade de se utilizar, em certas circunstâncias, a faculdade paranormal de um médium para provocar reações químicas especiais. Esta espécie de catalise – a que poderíamos chamar de catálise psi – é suscetível, portanto, de alterar a natureza e a propriedade dos corpos pela mo­dificação de suas estruturas atômicas e moleculares.

 

Tudo parece, assim, indicar que a mente humana é o Alquimista e a matéria o seu verdadeiro atanor.

 

RELAÇÕES DA PARAPSICOLOGIA COM A ELETRÔNICA

 

Quando em 1959, Friedrich Jürgenson, casualmen­te, descobriu o fenômeno de gravação paranormal de vozes humanas em fita magnética, ampliou- se o conhecimento do poder do psiquismo humano sobre o mundo material. De logo, ficou evidente o relacionamento da Parapsicologia com a Eletrônica, face às interações, agora manifestas, entre o psiquismo e os campos magnéticos ou eletromagnéticos. Imaginou-se, então, a existência de um campo psi capaz de interagir com campos magnéticos, influenciando-se reciprocamente.

 

Em 1968, na Conferência de Parapsicologia, rea­lizada em Moscou, foi criada a Psicotrônica, estabelecida no Manifesto Tcheco. A Psicotrônica reconhece que a cons­ciência, a energia e a matéria estão intimamente interli­gadas, o que amplia a compreensão das potencialidades energéticas dos seres humanos, dos processos biológicos e da matéria em geral, conforme definição proposta no II Con­gresso de Psicotrônica, reunido, em 1975, em Monte Carlo, Mônaco.

 

A mesma importância que teve a eletricidade, no século passado, na pesquisa dos fenômenos paranormais, te­rá também – e talvez bem mais – a eletrônica em nosso sé­culo, oferecendo recursos mais seguros e sofisticados à instrumentação parapsicológica.

 

RELAÇÕES DA PARAPSICOLOGIA COM A GEOLOGIA

 

Foi William Denton que, em 1854, teve a ideia de utilizar a psicometria para investigações geológicas e históricas. Aliás, a Academia de Ciências de França, em 1913, reconheceu o valor da rabdomancia na prospecção de terrenos, com a finalidade de determinar a localização de jazidas e veios d’agua. Na verdade, os bons rabdomantes apresentam um índice de acertos que recomenda a adoção desse procedimento paranormal como um confiável instrumen­to de pesquisa geológica e de custo financeiro mais baixo.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A GEOGRAFIA

 

A constatação, até certo ponto empírica, de re­giões favoráveis ou desfavoráveis às manifestações de fe­nômenos parapsicológicos, vem favorecendo a hipótese sus­citada por alguns pesquisadores da possível existência de uma geografia paranormal.

 

O médium Horace Leaf chegou a observar modifi­cações em suas faculdades, quando ele se encontrava em determinados locais.

 

Fatores climáticos, atmosféricos, a composição do solo, etc., parecem exercer significativa influência so­bre a Psi, alterando o seu rendimento ou até anulando a sua manifestação.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A HISTÓRIA

 

A pesquisa parapsicológica pode fornecer valiosos subsídios ao historiador, eis que, por intermédio da psicometria, é possível a reconstituição de fatos contro­vertidos ou a descoberta de fatos desconhecidos, suscetí­veis de modificar ou ampliar o conhecimento oficial de de­terminada época em qualquer região ou país.

 

A retrocognição paranormal, numa espécie de viagem no tempo, poderá desvendar facetas inéditas do conheci­mento histórico, mediante a utilização da regressão hipnó­tica dirigida, ou, eventualmente, em casos de memória extracerebral.

 

Assim, é possível, com o concurso de médiuns especializados, visitar os séculos passados, reconstituindo o ambiente geográfico, social e cultural de determinados povos, reencontrando costumes e línguas mortas ou extinta; em toda sua pureza e esplendor.

 

Em 1887, Fernando Colavida elaborava o método que denominou de “regressão da idade” e, em 1894, Albert de Rochas retomava esse tipo de experimentação, hoje co­nhecido como “regressão da memória”. Atualmente, a psicó­loga Helen Wambach vem realizando significativas experiências de regressão dos seus pacientes a existência anteriores, obtendo interessantes informações históricas sobre os séculos passados.

 

A psicografia também pode fornecer valiosos subsídios ao historiador, bastando lembrar os escritos mediúnicos de Geraldine Cummins, da Sra. Curran, de “Rosemary” e do nosso Francisco Cândido Xavier.

 

Finalmente, há indícios de que os acontecimentos ficam como que gravados em determinados ambientes, poden­do, em certas circunstâncias, ser revividos por algumas pessoas, principalmente se se trata de cenas de intensa emoção ou violência.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A ANTROPOLOGIA

 

Há sugestivos indícios de que as manifestações paranormais são mais frequentes entre as culturas mais primitivas. O homem, dito civilizado, parece ter sufocado essa atividade do inconsciente, pela adoção de uma atitude permanentemente crítica, analítica e racional.

 

O antropólogo australiano Ronald Rose constatou a altíssima incidência de fenômenos paranormais em povos primitivos, onde a telepatia chega a ser uma forma de comu­nicação bastante utilizada entre pessoas que estão distan­tes.

 

Já em 1966, o parapsicólogo holandês, Dr. W.H.C. Tenhaeff observou que a personalidade das pessoas dotadas de poderes psi está muito próxima da criança e do homem primitivo do que dos homens cultos e de forte personalidade.

 

No propósito de estreitar as relações entre a Parapsicologia e a Antropologia seria de todo recomendá­vel que se utilizassem médiuns para estabelecer contatos paranormais com indivíduos de comunidades atrasadas como técnica alternativa de pesquisa na compreensão cada vez maior da chamada “mente primitiva”. O médium, devidamente habilitado, poderia imergir no inconsciente coletivo de determinado grupo étnico, vivenciando, intimamente, os seus costumes, práticas e crenças e apreendendo a origem de suas posturas mágicas e conhecimentos empíricos. Tal estratégia de pesquisa poderá – quem sabe? – evitar o in­conveniente do conhecido fenômeno de “bias”, que distorce a apreensão dos processos sociais de uma dada cultura. A observação direta do pesquisador social afeta o comporta­mento dos indivíduos observados, os quais instintivamente se defendem, velando os mecanismos mais profundos da dinâ­mica de sua cultura.

 

Max Freedom Long, no seu livro “Os Milagres da Ciência Secreta”, mostrou-se maravilhado pelo conhecimento que possuem os Kahunas da fenomenologia paranormal, como também da sua aplicação prática.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A SOCIOLOGIA

 

Parece evidente que os indivíduos de um determinado grupo ou classe social não estabelecem relações recíprocas apenas a nível consciente. Todos estão imersos em uma espécie de oceano psíquico comum, onde cada qual, particular, manifesta as tendências e inclinações mais profundas do seu agrupamento. O grupo é, na verdade, um sistema altamente complexo de interações manifestas e latentes, visíveis e invisíveis, afetando a vida particular de cada indivíduo. Todos vivem uma espécie de hipnose cultural, em padrões seletivos de percepção, e, assim, possível apreender a realidade profunda de um determinado grupo social pela prospecção paranormal de qualquer de seus membros, principalmente daqueles mais receptivos.

 

É possível que a abordagem parapsicológica de dado fenômeno social possa contribuir para esclarecer melhor a conduta das pessoas e o comportamento das lideranças. Pode-se, então, questionar até que ponto o carisma do líder influiu sobre a orientação comunitária ou, se ao contrário, ele foi um porta-voz, um instrumento dos ideais e necessidades mais profundos da sua comunidade. É difícil, na prática, estabelecer fronteiras definidas entre social, o psicológico e o parapsicológico na determinação casuística de um acontecimento histórico específico.

 

Não foi sem razão, portanto, que Jan Ehrenwald admitiu que a telepatia é “um fator mais ou menos autônomo ainda que sutil, responsável da formação de grupos”. Na verdade, a pesquisa parapsicológica tem demonstrado o poder que uma mente pode exercer tiranicamente sobre as outras. E esta dominação oculta pode estar na origem de certas manipulações de massa, nos obscuros períodos de exceção dos regimes totalitários, ensejando a permanência de uma comunhão telepática de natureza patológica, e favorá­vel, pelo mecanismo do reforço, a determinada ideologia política, consolidando o poder do grupo dominante.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E O DIREITO

 

Toda a estrutura ontológica do Direito se funda­menta no primado da vontade em consonância operativa com o fato, a norma e o valor.

 

O ato jurídico tem a sua gênese no nível cons­ciente da personalidade humana, pois, objetivando a se­gurança das relações sociais protegidas pela lei, o direi­to presume que a vontade é livre – embora, casuisticamente, se admita prova em contrário – e, portanto, capaz de gerar ações e de responder por suas consequências.

 

Parece, assim, à primeira vista, inexistir qual­quer possível relação entre a Parapsicologia e o Direito, visto que os fenômenos paranormais se originam do inconsciente, cuja ação se situa fora da jurisdição da norma jurí­dica.

 

É justamente no reconhecimento da atividade paranormal influindo poderosamente sobre a vontade, admiti­da, em princípio, como autônoma em cada ação praticada no universo jurídico, que reside o mais importante relaciona­mento entre o jurista e o parapsicólogo.

 

Direito Civil

 

O Direito Civil subordina a eficácia dos atos jurídicos ao livre exercício da vontade. Se essa vontade foi viciada, o ato jurídico é anulável.

 

Ora, a Parapsicologia demonstrou, cabalmente, a realidade da telepatia. E ainda mais: da sugestão men­tal. Assim, em certas circunstâncias, uma mente pode in­fluir sobre a outra, dominando-a e impondo-lhe a sua von­tade. Médiuns como Wolf Messing e Olof Jonsson demons­traram seu poder telepático de dominação sobre as pessoas. Se o legislador, um dia, reconhecer a dominação telepá­tica como um vício da vontade, terá a árdua tarefa de es­tabelecer os critérios para o reconhecimento dessa espécie de anulabilidade do ato jurídico praticado.

 

No Direito de Família também poderiam ser reconhecidos as sevicias telepáticas, o castigo telérgico per­manente, afetando a saúde física e psíquica de um dos cônjuges, o que importaria na ampliação do conceito da insuportabilidade da vida em comum para justificar o pedido de separação judicial.

 

Direito Penal

 

A ação psi-kapa pode comprometer vitalidade dos seres vivos, resultando, assim, teoricamente, na responsabilidade penal do seu agente sobre outrem, desde a lesão simples até o homicídio.

 

Comprovada, como está, a dominação telepática, é possível admitir-se, em princípio, que alguém possa vir a praticar um crime sob a influência psíquica de outrem. Ou até mesmo suicidar-se. Basta que, para isso, a suges­tão telepática recebida encontre ressonância com a estru­tura psicológica do criminoso.

 

O estudo da vitimologia – ou seja, da partici­pação inconsciente da vítima no crime – poderá ser enri­quecido pela compreensão da possível interação telepáti­ca entre as pessoas envolvidas na prática de um delito, onde o criminoso foi induzido, psiquicamente, pela pró­pria vítima, a cometê-lo.

 

Os fenômenos de memória extracerebral também po­derão trazer valiosos subsídios para o estudo das tendên­cias criminosas, situando algumas delas além do contexto orgânico-ambiental do criminoso.

 

Em países como a França e a Holanda, certos mé­diuns clarividentes são utilizados, eventualmente, para desvendar crimes misteriosos e fazer a sua reconstituição. Poderíamos chamar a esse procedimento de perícia psicométrica. Médiuns famosos – Gerard Croiset, Peter Hurkos, Olof Jonsson – vêm realizando, com o êxito desejado, esse tipo de experiência.

 

Direito Penitenciário.

 

A finalidade da pena não consiste apenas na intimidação mas também na recuperação do crimi­noso.

Teoricamente, o sistema penitenciário é um instrumento de readaptação do delinquente à sociedade, mediante o concurso de criminologistas, psicólogos, assistentes sociais e ministros reli­giosos. Todos trabalham visando o mesmo objetivo, embora adotando procedimentos variados, na busca de promover a reestruturação existencial do detento. A tendência criminosa, numa visão mais profunda, pode ser considerada co­mo resposta a um condicionamento inadequado e não apenas como simples conduta antissocial. Neste caso, a Parapsicologia poderá trazer a sua contribuição para a reprogra­mação psíquica do presidiário, mediante o emprego da su­gestão telepática, a qual, atuando a nível inconsciente, e menos sujeita, assim, aos mecanismos de defesa do psiquismo consciente, poderá obter um sucesso terapêutico muito mais rápido e eficaz.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A EDUCAÇÃO

 

Sabe-se que o processo educativo e pedagógico, até o presente, apenas se desenvolveu no patamar da nossa consciência. Todavia, é consenso geral que toda a ativi­dade criativa se origina das profundezas do nosso incons­ciente.

 

Os fenômenos paranormais têm demonstrado, farta­mente, a admirável versatilidade do psiquismo humano, principalmente quando funciona sem o controle seletivo do nos­so estado de vigília.

 

O aprendizado verdadeiro é aquele que afeta o homem em todos os níveis do seu ser e não apenas em deter­minados aspectos particulares e estritamente pragmáticos.

 

A educação, em seu sentido mais amplo, é uma atividade global, demonstrando que a comunicação entre as pessoas se processa também muito além dos veículos conven­cionais da linguagem. Estamos em comunhão psíquica perma­nente muito mais do que imaginamos, principalmente com aqueles que fazem parte do nosso universo afetivo. A Parapsicologia poderá auxiliar, neste aspecto, ao educador, demonstrando até que ponto nós educamos telepaticamente os nossos filhos.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A FILOLOGIA

 

Indiscutivelmente, os fenômenos de xenoglossia poderão subsidiar a pesquisa filológica no estudo de idiomas mortos ou extintos, não só em relação a sua grafia, mas também quanto a sua fonética.

 

Mediante a técnica de regressão da memória, o médium, induzido a realizar uma hipotética viagem no tempo, poderá falar ou escrever em idioma utilizado em determinado século e determinada região. Os famosos casos de “Lady Nona” e de “Simandini” autorizam a possibilidade de êxito dessa experiência.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A PSICOLOGIA

 

A Parapsicologia e a Psicologia são, na verdade, irmãs gêmeas. Ambas estão empenhadas na compreensão, cada vez maior, do psiquismo humano. Diferem, porém, quanto a seu campo de pesquisa e de procedimento metodológico em relação aos fenômenos que estudam.

 

A Parapsicologia estuda as manifestações incomuns da mente humana, como a telepatia, a clarividência, precognição, a experiência fora do corpo (EFC) e a memória extracerebral.

 

A Psicologia estuda os fenômenos ordinários do psiquismo do homem normal.

 

Ambas desenvolvem também uma atividade terapêutica com o proposito de devolver o equilíbrio psicológico e emocional das pessoas sadias, transitoriamente perturbadas por problemas existenciais ou experiências parapsicológicas.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A PSICANÁLISE

 

A Parapsicologia e a Psicanálise também se en­contram intimamente relacionadas, dada a familiaridade de ambas com os problemas do inconsciente.

 

Jan Ehrenwald já suscitava a influência da tele­patia nas relações interpessoais, como também em determi­nadas situações psico-analíticas. Principalmente no rela­cionamento familiar pode-se observar uma interação telepá­tica profunda entre marido e mulher e entre pais e filhos.

 

J.L. Moreno e seus colaboradores fizeram obser­vações sugestivas sobre as interações telepáticas nas te­rapias de grupo e Pederson-Krag escreveu um interessante trabalho acerca da telepatia e da repressão.

 

Possivelmente certos fenômenos paranormais podem ser melhor compreendidos à luz de interpretações psicanalíticas, notadamente os que envolvem relações parentais.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A PSIQUIATRIA

 

O relacionamento existente entre a Parapsicolo­gia e a Psiquiatria se refere à imperiosa necessidade de distinção entre uma manifestação paranormal e um aconte­cimento psicopatológico.

 

O psiquiatra trata de pacientes portadores de doença mental. O parapsicólogo esclarece pessoas que estão passando eventualmente por experiências paranormais e orienta aquelas dotadas de aptidão paranormal.

 

O médium não é um psicopata, embora um psicopata possa ser médium. Daí, a necessidade de uma aproximação entre o parapsicólogo e o psiquiatra com a fi­nalidade de aprimorar os critérios diferenciais para dis­tinguir, em cada caso concreto, uma manifestação paranor­mal de uma manifestação psicopatológica, notadamente nos fenômenos de personalidade secundaria, os quais não devem ser confundidos com os surtos de esquizofrenia ou paranoia.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A FILOSOFIA

 

As relações entre a Parapsicologia e a Filoso­fia são profundamente enriquecedoras, possibilitando um maior aprofundamento dos temas fundamentais da existên­cia humana.

 

Os fenômenos de precognição reacendem a velha polêmica do determinismo x livre arbítrio.

 

A telepatia e a clarividência suscitam a neces­sidade de um novo posicionamento sobre o conceito de indi­vidualidade e das relações do homem com o universo mate­rial.

 

Por outro lado, a ação da mente sobre a matéria exige uma ampliação do relacionamento mente-matéria, em favor da visão monística do universo.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A RELIGIÃO

 

De todas as ciências, a Parapsicologia é a que mantem mais estreitas relações com a Religião. A pesquisa parapsicológica recoloca, em nova abordagem, o problema da sobrevivência, o qual passa também a ser matéria de espe­culação cientifica.

 

J.B. Rhine já admitira que “a prova de ESP seria mais do que suficiente para estabelecer a hipótese da sobrevivência sobre bases lógicas” (4).

 

E acrescenta:

 

“Podemos dizer que a pesquisa de ESP faz diretamente surgir a questão do lugar da personalidade no sistema espaço-tempo, oferecendo positiva indicação a favor da sobrevivência. Se não tivesse havido nunca formulação anterior do problema da sobrevivência, ele teria surgido da pesquisa ESP”.(5)

 

Rhine entende que “correto é dizer que a inves­tigação da hipótese da sobrevivência e da comunicação dos espíritos seria investigação parapsicológica”.(6)

 

Alguns cientistas procuraram abordar o problema da sobrevivência de maneira mais concreta e objetiva. Thomas Alva Edison, em 1920, concebeu um aparelho para es­tabelecer comunicação com os mortos. E, em 1930, Oliver Lodge previu a invenção de uma máquina eletrônica para tornar possível essa comunicação. Recentemente, um enge­nheiro, Dr. George Meek, informou que obteve a primeira comunicação com os mortos, utilizando um aparelho que denominou de “Spiricom”, qual consiste num conjunto de dois sistemas eletrônicos: um aparelho gerador de sinais em mega-hertz e um receptor acoplado a uma antena, que recebe os sinais, depois amplificados.

 

O estudo das comunicações mediúnicas se reves­te agora de um novo significado, oferecendo um campo pro­missor para novas especulações sobre o relacionamento en­tre vivos e mortos, a natureza e dificuldades desse inter­câmbio, a influência recíproca entre os dois universos, os problemas existenciais ligados a continuidade, a validade do conhecimento integrado de duas realidades distintas.

 

As pesquisas realizadas pelo Dr. Raymond Mood Jr., entrevistando pessoas que passaram pela experiência da aparente morte clínica e que retornavam à vida, trans­formadas pela convicção profunda da sobrevivência pessoal, constituem um extraordinário adjutório para o fortaleci­mento da fé.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA. AS ARTES E A LITERATURA

 

Dúvida não há a respeito do parentesco entre o fenômeno paranormal e a inspiração artística. Na verdade, tanto o processo da criação estética como o mecanismo da manifestação psi independe da vontade do artista ou do mé­dium, embora, até certo ponto, eles possam desenvolver uma técnica pessoal para a sua manipulação.

 

Podemos, hoje, falar de artes mediúnicas, como as criações plásticas de Luiz Antônio Gasparetto e as com­posições musicais de Rosemary Brown, e também de literatu­ra paranormal como a psicografia do operário James, con­cluindo o romance inacabado de Charles Dickens, intitulado “O Mistério de Edwin Drood”, a da Sra. Curran, escrevendo o extraordinário poema “Telka” e a do nosso Francisco Cân­dido Xavier, psicografando trabalhos de escritores e poe­tas brasileiros e portugueses falecidos.

 

RELAÇÕES ENTRE A PARAPSICOLOGIA E A TECNOLOGIA

 

A Tecnologia é a aplicação prática do conheci­mento científico. A Parapsicologia, portanto, pode tam­bém desenvolver sua própria tecnologia – a tecnologia psi -, mediante a utilização das faculdades paranormais para finalidades pragmáticas. Permitimo-nos sugerir algu­mas atividades técnicas que poderão ser desenvolvidas por médiuns que possuam relativo controle sobre suas faculdades.

 

1) Utilização da precognição como instrumento de prospecção cognitiva do futuro, aliado ao conjunto das previsões de natureza estritamente racionais, ampliando, assim o conhecimento de acontecimentos possíveis ou pro­váveis e interessando, notadamente, o mundo da política e dos negócios, o que permitirá a adoção de medidas de mais largo alcance e efetividade para o controle dos fa­tos. Basta lembrar que, em 1967, o Dr. J.C. Barker, psi­quiatra, fundou, em Londres, o British Premonitions Bureau o primeiro centro receptor de avisos sobre pessoas e comu­nidades ameaçadas.

2) Utilização da clarividência para a desco­berta de pessoas desaparecidas e elucidação de crimes mis­teriosos, assim como para a observação de acontecimentos, à distância. Em 1919, os tchecos empregaram, com êxito, a clarividência na luta contra os húngaros. O mesmo fez o notável médium Stepan Ossowieck, na segunda guerra mundi­al, na defesa de seu país, a Polônia, contra a Alemanha, tendo sido, em 1940, trucidado pelos nazistas. Os mili­tares tchecos, em 1925, publicaram um manual sobre PES, para o exército, intitulado “Clarividência, Hipnotismo e Magnetismo”, de autoria de Karel Hejbalik.

3) Utilização da Clarividência psicométrica para as pesquisas históricas, geológicas, arqueológicas e paleontológicas.

4) Utilização da clarividência endoscópica co­mo sucedâneo, em circunstâncias especiais, do raio X, da tomografia e ultrassonografia.

5) Utilização da projeção da consciência para observação de situações especiais, onde não seja possível ou recomendável a presença física de observador humano.

6) Utilização da telepatia para comunicações de emergência, quando impossível o emprego dos veículos tradicionais de comunicação. A experiência telepática realizada pelo astronauta Edgar Michell, na cápsula espa­cial Apoio XIV, e o médium sueco Olof Jonsson, justifica, plenamente, essa expectativa.

7) Utilização da telepatia nas dificuldades eventuais de tradução interlinguística. O médium Dadashev demonstrou, em 1973, que a telepatia pode romper a barreira idiomática que separa as pessoas.

8) Utilização da telergia, sob supervisão mé­dica, no tratamento convencional, como eventual auxiliar terapêutico.

9) Utilização da telergia como recurso tecno­lógico suplementar de ação sobre o universo material, com o emprego de extensões telérgicas ou ectoplásmicas na substituição eventual de autômatos, ou em situações especiais de emergência, para a manipulação de objetos e acionamento de mecanismos à distâncias.

10) Utilização da telergia na agricultura, como sucedâneo de fertilizantes artificiais, para acelerar o processo germinativo e assegurar o êxito das safras.

11) Utilização da faculdade de psi-kapa para produzir a combustão de materiais de qualquer natureza, ou provocar reações químicas especiais, fazer funcionar ou parar sistemas mecânicos, promover o transporte de objetos de um local para outro, seja através do nosso espaço tridimensional, seja através do que se convencionou chamar de hiperespaço, e outras tantas atividades que a experimentação parapsicológica possa demonstrar possíveis.

 

CONCLUSÃO

 

Tudo parece indicar que, a nível inconsciente sabemos e fazemos coisas extraordinárias, que estão fora do alcance da nossa consciência vigílica. Esta só conhece o que diz respeito às relações com o mundo objetivo e todo seu conhecimento se restringe ao controle dos fatos do universo físico.

 

Fomos educados a acreditar que só sabemos o que aprendemos à exceção, é claro, do nosso conhecimento instintivo.

 

O nosso organismo realiza o seu magnífico trabalho sem a nossa participação consciente.

 

Ora, por que não admitir que podemos possuir um “conhecimento inato”, muito mais amplo do que aquele que se limita à satisfação das nossas necessidades estritamente biológicas? Por que não deverá existir um nível mais alto do nosso ser, de onde se origina um novo tipo de conhecimento e uma outra forma mais abrangente de percepção? Se essa hipótese for verdadeira, então somos aptos a manipular com princípios e forças, ainda desconhecido pela nossa ciência, conquanto, até o momento, o façamos de maneira inconsciente, empírica e automática. Assim, nesse nível ontológico, agimos à semelhança de uma criança que faz o que sabe, sem que saiba que sabe. O médium, sob esse enfoque, é uma espécie de criança e o fenômeno paranormal a sua atividade lúdica.

 

O objetivo, talvez mais importante, da Parapsicologia consiste em transformar essa ciência do inconscien­te em conhecimento sistematizado, isto é, em conhecimento científico. Por conseguinte, necessário se faz o treinamento dos médiuns, habilitando-os a obter voluntariamen­te o fenômeno psi e, através de uma constante e incansável observação, descobrir os seus mecanismos. Uma vez atingido esse desiderato, a faculdade paranormal poderá ser utilizada para finalidades práticas, quando, então, estará consolidada a mais importante revolução que já aconteceu na historia da humanidade – A Revolução da Mente -, inaugurando um novo ca­pítulo na evolução biológica.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

( 1) Robert Amadou. Parapsicologia. Editora Mestre Jou São Paulo, 1ª ed. 1966.

( 2) J.B. Rhine. O Novo Mundo do Espírito. Bestseller Importadora de Livros S.A., São Paulo, 1966.

( 3) Charles Richet. A Grande Esperança. Lake – Livrar Allan Kardec Editora, São Paulo, 1956.

( 4) J.B. Rhine. 0 Alcance do Espírito. Bestseller Importadora de Livros S.A., Sio Paulo, 1965.

( 6) J.B. Rhine. Parapsicologia. Fronteira Científica da Mente. Hemus Livraria Editora Ltda., 1966.

 

(*) Tese apresentada no III Con­gresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica, reali­zado, no Rio de Janeiro, de 25 a 28 de julho de 1982.

 

 

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