Terezinha Acioli Lins de Lima
Francisco Cândido Xavier, considerado o mais conhecido agente psi do mundo, no que se refere à psicografia, nasceu em 2 de abril de 1910, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais. Pessoa bem dotada moralmente, devotou sua vida à produção de obras edificantes e ao auxílio dos pobres.
Seus livros tornam-se “best sellers”, com milhões de exemplares vendidos, oferecendo lucros significativos. No entanto, Chico Xavier nunca aceitou qualquer dinheiro por eles, negando até a sua própria autoria.
E, em “Palavras Minhas”, da obra em estudo, o próprio Chico indaga a esse respeito: “Serão das personalidades que as assinam? – é o que não posso afiançar; em consciência não posso dizer que são minhas, porque não desprendi nenhum esforço intelectual ao grafá-las no papel”.
Em 1932, logo que Emmanuel começava seus ensinamentos, Chico Xavier publicou seu primeiro livro “Parnaso de Além Túmulo”, uma coletânea de 259 poesias, atribuídas a 56 poetas brasileiros já falecidos, tais como Casimiro de Abreu, Olavo Bilac, Cruz e Souza, Augusto os Anjos, João de Deus e outros.
No dia 10 de julho do mesmo ano, o escritor Humberto de Campos, na crônica “Poetas do Outro Mundo”, publicada no Diário Carioca, assim se pronunciou sobre o livro: “Eu faltaria ao dever que me é imposto pela consciência, se não confessasse que, fazendo versos pela pena do Sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete apresentam as mesmas características de inspiração e expressão que os identificavam neste planeta.”
Poucos especialistas duvidam da autenticidade dos poemas psicografados por Chico Xavier. Um deles é o romancista mineiro João Dornas Filho. Citando Olavo Bilac, diz que o poeta “nunca assinou um verso imperfeito, nem em sua pior fase. Depois de morto, ditou ao médium sonetos inteiros abaixo de medíocres”.
Manuel Quintão, Presidente da Federação Espírita Brasileira, na época do lançamento da edição original do Parnaso, elogiando a perfeição com que Chico transcrevia os estilos diferentes de cada poeta, escreveu no prefácio da obra: “É ler Casimiro e reviver Primaveras; é declamar Junqueiro e lembrar a morte de Dom João; é frasear Augusto dos Anjos e evocar Eu ( …) Duvidamos que o mais intelectual dos nossos literatos consiga sequer imitar, ainda que premeditadamente, esta produção.” E acrescento: o trabalho linguístico é bom, difícil mesmo para o mais esforçado dos autodidatas.
A quantidade de seus poemas e certo nível literário apresentado pelo agente psi não encontra correspondência com certos fatos adversos de sua vida. (1) : pobre, apenas com o curso primário, sem estímulo de familiares para os estudos, trabalho e missão religiosa, consumindo a maior parte de seu tempo e não entender de estilos da época, segundo ele próprio revela.
Por outro lado, certos fatores funcionam favoravelmente à sua condição de excelente agente psi dentro da modalidade de psicografia literária (2) ; excelente aptidão
psi, alto nível de incidência de manifestação do fenômeno psi, fenomenologia psi de modo contínuo, o que não é comum, inclinação para a arte literária, certa fluência vocabular.
HIPÓTESE DA HIPOXEMIA CEREBRAL
O Dr. José C. Ferraz Salles, autor do livro “Os Superdotados” sustenta que médiuns, gurus, iogues e telepatas são considerados superdotados intelectualmente por “hipoxemia cerebral”, desenvolvendo, ao máximo, suas extraordinárias potencialidades telepáticas e premonitórias.
Segundo o autor, Chico Xavier sofrera uma hipoxemia ao nascer, pondo em ação o hemisfério direito supletivo, passando o recém-nascido a utilizar os dois hemisférios cerebrais. (3)
Lembro, aqui, que as pessoas comuns usam, praticamente, o hemisfério esquerdo (sede do raciocínio, da lógica, da objetividade, da palavra, do espírito crítico entre outros), ficando o hemisfério direito (sede da criatividade, da emoção, da imagem, da percepção global etc como que adormecido, sendo despertado, apenas, em determinadas circunstâncias.
HIPÓTESE DA GRAFOSCOPIA
Carlos Augusto Perandréa, em seu livro “A Psicografia á Luz da Grafoscopia”, opina que a Grafoscopia se inclui na modalidade de “mão guiada”. Uma vez acionado o processo inconsciente, o receptor ou psicógrafo Chico Xavier, (4) por automatismo motor, escreve mensagens de pessoas falecidas que guiam a sua mão telepaticamente.
Segundo Perandréa, “o guiado é orientado no sentido de manter a mão inerte, não interferindo no ato de escrever”.
O guiado deve desconhecer o teor do texto, caso contrário, não interessa à psicografia. Se ele desconhece o teor do texto e não se conscientiza do andamento da mensagem, “a escrita apresenta as características gráficas genéticas do punho do guia”, mas “com relativas alterações da forma, em virtude da situação anormal”, observa Perandréa. Caso desconheça o teor do texto, mas se atém ao ato de escrever, a caracterização gráfica ainda é do guia, mas as alterações formais se acentuam.
Perandréa concluiu pela autenticidade das caligrafias e assinaturas, ao realizar exames grafotécnicos em mensagens psicografadas por Chico Xavier e atribuídas a pessoas falecidas e aos escritos dessas pessoas, quando em vida.
HIPÓTESE ESPÍRITA
Segundo os defensores dessa hipótese, o espírito sobrevive após a morte do corpo físico. O sobrevivente tem memória de seu passado, podendo comunicar-se com os que permanecem vivos na Terra, através de um médium.
Defendem a hipótese espírita o professor Willem Tenhaeff, da Universidade de Utrecht, na Holanda, parapsicólogo de renome e pioneiro do ensino da Parapsicologia; Hans Driesh; o filósofo William James; Louisa Rhine, esposa do Dr. Joseph Banks, considerado o “Pai da Parapsicologia Ocidental”. ‘
O Professor Harry Price, de Oxford e o Professor Wathely Carington, de Cambridge admitem a tese de que a mente sobrevive à morte do corpo e pode agir sobre a mente dos vivos. Trata-se, nesse caso, de uma volta à tese espirítica. (5)
A mente não se confunde com o cérebro. É como se esse fosse um computador e aquela, a sua programação.
Mente e matéria estão intimamente ligadas. Não se pode pensar numa sem a outra. A mente, tudo indica, é a força ou movimento dominante no Universo. Não pode ter tido princípio nem poderá ter fim. Sua propriedade é a capacidade de que dispõe de formar-se dentro dos objetos vistos ou imaginados e de dar causa ao movimento. Hoje, com o conhecimento mais avançado de que dispomos, podemos dizer com maior exatidão: a Mente é infinita e eterna, a mudar sempre, sempre a desenvolver-se, sempre a criar formas novas, tirando-as das velhas, nunca em repouso. Essa mente infinita deve existir. Cada um de nós tem a sua parte dessa mente universal e a que altitude de sabedoria podem as nossas mentes individuais chegar, ninguém na Terra está apto a dizer.
HIPÓTESE DE DINÂMICA INCONSCIENTE
Prefiro partir do processo inconsciente como fonte da psicografia de Chico Xavier em sua obra “Parnaso de Além Túmulo”. Nesta obra, o agente psi revela aptidões especiais que não resultaram de aprendizagem anterior. Trata-se da criptomnésia, conhecimento paranormal que não é obtido do mundo exterior, mas que já existe no inconsciente do agente psi. Compreende informações que não passaram, previamente, pelo nível consciente. É uma capacidade inata e o próprio Chico Xavier diz ter “o mais pronunciado pendor para a literatura.”
Pode-se descrever a Criatividade Psi (Psicofonia, Psicografia, Psicopictografia, Psicomusicografia) através da Criptomnésia, fonte interna do conhecimento psigâmico. Em todos os casos, só é considerado fenômeno criptomnésico se o seu conteúdo artístico (literatura, pintura, música) extrapolar a aptidão do agente psi em seu estado normal. E o agente psi Chico Xavier revela certa criatividade em seus poemas, quando elabora boas estruturas em língua portuguesa e arranjos temáticos imaginativos: “Além do túmulo o Espírito inda canta – Seus ideais de paz, de amor e luz, (…). Estes versos são extraídos do poema “Parnaso do Além Túmulo” (que deu título ao livro) do poeta português João de Deus e que traduzem, nitidamente, o tema espirítico da crença da sobrevivência da alma.
Lendo e interpretando os poemas escritos em vida por essa plêiade de poetas brasileiros e portugueses e comparando-os com a psicografia de Chico Xavier, vemos, de modo claro que nela se manifesta mais o mimetismo inconsciente que a criatividade psi. (6) Esse mimetismo inconsciente, a que podemos denominar mimetismo psi, Chico Xavier discorre através dos versos: “Fluidos teledinâmicos me servem – Transmitindo as idéias que me fervem – No cérebro candente, ígneo, em brasa…”, psicografia creditada a
Augusto dos Anjos no poema “Incógnita”. Aqui, o agente psi atinge o auge de sua capacidade de imitação, que podemos observar na temática filosófica (no próprio título “Incógnita”) e no vocabulário científico, extraído da biologia, física e química. Da biologia, destaco “cérebro” e a repetição literal do termo “ígneo”, o mesmo usado por Augusto dos Anjos, quando vivo, em seu poema “O morcego”: “Morde-me a guela ígneo e escaldante molho.”
Em suma, a produção poética, psicografada pelo agente psi Chico Xavier compreende uma manifestação a nível inconsciente, em que devem ser considerados os fenômenos da criptomnésia, a criatividade psi e o mimetismo (predominantemente), acrescido do cotidiano do próprio agente psi com seu repertório e aquisições diversas de conhecimento. E, apesar da imitação, o percipiente não perdera a sua individualidade que está antes de tudo, em apresentar o seu próprio estilo, ser ele mesmo.
O percipiente é um indivíduo que, em determinados momentos, pode alcançar um estado de consciência tal, que não fica mais limitado pelo tempo, pelo espaço, pela causalidade, pelos órgãos sensoriais, pela matéria. Entra em sintonia com o núcleo profundo de sua personalidade total: o “selbst” e pode, também, entrar em sintonia com os “selbsts” dos outros indivíduos. Daí, a fenomenologia parapsicológica. (7)
DISCUSSÃO
O “Parnaso de Além Túmulo” constitui uma das mais polêmicas discussões em psicografia automática, quanto à autoria de seus inúmeros poemas: se dos poetas brasileiros e portugueses já falecidos ou se do próprio agente psi Francisco Cândido Xavier.
No caso em estudo, o caminho mais curto (navalha de Occan) é a descrição do fenômeno, partindo do processo inconsciente do agente psi, da mente de uma pessoa viva e não atribuir a algo, até agora, desconhecido – o espírito de um morto. Essa idéia é ratificada por Ernesto Bozzano, quando opina: “para resolver o grande problema da sobrevivência do espírito humano desencarnado, o melhor método é o de estudar os poderes do espírito humano encarnado. Também enfatiza essa hipótese Alexandre Aksakof que foi o primeiro, entre os estudiosos do Espiritismo, que se deu conta da extrema dificuldade de se comprovar a realidade de uma comunicação mediúnica, uma vez que grande parte das manifestações espíritas poderia ser atribuída à ação do inconsciente do médium. Esta é a razão pela qual ele denominou esses fenômenos de anímicos.
No Parnaso, há mais uma imitação dos poetas que criatividade poética. Daí, o agente psi Chico Xavier enquadrar-se melhor no mimetismo inconsciente que na criatividade psi.
O mimetismo é uma capacidade especial existente no ser vivo, seja animal ou homem, como uma técnica de sobrevivência. Há pássaros que imitam o canto de outras aves; o papagaio imita a própria voz humana. Daí ser evidente a hipótese de que há pessoas dotadas dessa aptidão e, portanto, capazes de imitar as outras na voz, nos gestos, no andar, no olhar, nas expressões artísticas e até nos estilos literários. A intuição responde também ao social e ao psicológico e o homem imita os exemplos consagrados pela sua cultura e as pessoas que ele admira. Comumente, somos cônscios da mimese que, em alguns casos, pode ocorrer a nível inconsciente.
Entre os animais, o papagaio se destaca como um imitador, por excelência, causando-nos, muitas vezes, espanto e admiração: ele imita a fala humana em suas variadas nuances, grita, assobia. Essa mimese é considerada uma aptidão inata, instintiva, como se nascesse com uma programação básica, um legado da espécie, que poderá evoluir ou desenvolver-se através da repetição. Quanto mais se repete, mais aperfeiçoada se torna a imitação. Mas o papagaio, por exemplo, não chega a elaborar arranjos diferentes, ele não consegue dar continuidade á conversação, ele não tem o “dom” da improvisação, que é requisito humano por excelência. Já o homem dispõe das duas habilidades, podendo ora repetir e imitar e ora, criar, tornando-se diferente e original, improvisando arranjos novos, com seu pensamento imaginário, criativo, inventivo, sempre dando roupagem nova à realidade de onde parte, para criar a sua obra de arte. É assim que age o artista.
Criar não é imitar. Daí, criatividade psi e mimetismo psi apresentarem caracterizações distintas. Quanto mais a pessoa imita, mais foge do processo criativo que, partindo de um referencial, produz algo de maneira diferente e singular, usando de sensibilidade e emoção para isso. Tanto o imitador quanto o artista partem da realidade (por isso se assemelham em sua essência), mas, enquanto, no mimetismo psi, o agente repete essa realidade e quanto mais se tornar fiel ao modelo, mais é imitador, na criatividade psi quanto mais o agente se afasta dessa realidade e a transfigura, é mais artista. Na obra de arte, opera-se um transbordamento de informação, sensibilidade e imaginação, enquanto no ato de imitar há uma acentuada capacidade para assimilar o modelo e repeti-lo.
Quando observamos, atentamente, os versos psicografados por Chico Xavier, ressalta-se, de imediato, a semelhança, entre esses escritos e os originais dos poetas, escritos quando vivos. Essa semelhança atinge o estilo de época e o estilo individual, como se o agente psi perdesse em parte a sua singularidade, por conta do mimetismo psi.
Ocorre, porém, que a pessoa de Chico Xavier, mesmo nesse desempenho imitativo, não se ausenta de todo. Pode ser notado isso, quanto à escolha dos títulos dos poemas que, em sua maioria, foge à marca pessoal de cada autor em suas diversas escolas e lembra o próprio Chico Xavier em sua temática espírita e apostólica. Entre outros citamos: A Morte (Castro Alves), Aos Descrentes (Olavo Bilac), Caridade (Cruz e Sousa), Espírito (Augusto dos Anjos).
Se fossem os poetas que, voltando do além, prosseguissem a sua obra, através de Chico Xavier, por que se afastariam da caracterização do estilo de época e do estilo individual para adotar temas “espiríticos”? O próprio agente psi fica em dúvida quanto a isso: “Serão das personalidades que os assinam?”
Eu respondo que não, pois se, ao morrer, segundo a religião espírita, o indivíduo permanece com os laços afetivos, com os sentimentos e com a personalidade, não é lógico que se desligue, como artista e poeta, da Escola Literária a que pertencia em vida.
E respondo sim à dinâmica inconsciente que independe dos órgãos dos sentidos, da razão (quanto menos Eu mais Psi), do tempo, do espaço, da massa, da inteligência, do aprendizado anterior a nível consciente, de raça, etnia, sexo, para manifestar o fenômeno psi.
E Chico Xavier, como usuário profundo do nível inconsciente, daí ser considerado um agente psi confiável, tendo alta incidência de manifestação do fenômeno psi, relatamos o que experimenta fisicamente, quanto ao fenômeno que se produz frequentemente com ele – a psicografia literária:
“A sensação que sempre senti, ao escrevê-las, era a de que rigorosa mão impulsionava a minha. Outras vezes, parecia-me ter em frente um volume imaterial, onde eu as lia e copiava; e, doutras, que alguém mas ditava aos ouvidos, experimentando sempre no braço, ao psicografá-las, a sensação de fluidos elétricos que o envolvessem, acontecendo o mesmo com o cérebro, que se me afigurava invadido por incalculável número de vibrações indefiníveis. Certas vezes, esse estado atingia o auge, e o interessante é que parecia-me haver ficado sem o corpo, não sentindo, por momentos, as menores impressões físicas”. (8)
Através do transe, o agente psi pode manifestar fenômenos anímicos, porque o nível inconsciente não depende do raciocínio dedutivo e indutivo, próprio do “Ego”, nem de espaço, tempo e causalidade que constituem a base do pensamento lógico, racional, científico.
Em Chico Xavier, torna-se evidente a manifestação da modalidade psigâmica da psicografia, pois o próprio conteúdo paranormal o reforça: o agente psi apresenta aptidões e habilidades que não correspondem ao seu cotidiano, ao seu desempenho habitual, em sua rotina biológica e psíquica.
Conclusão
A psicografia é um fenômeno de psi-gama subjetivo, do conhecimento (gama é a primeira letra da palavra gnose – conhecimento) e, por isso mesmo, de intensa complexidade. Na obra de Chico Xavier, houve predomínio da fenomenologia psigâmica, embora, em menor escala, ele tenha manifestado também o fenômeno de psi-kapa, objetivo, energético (kapa é a primeira letra da palavra knesis – ação, energia).
E, para uma melhor compreensão do fenômeno em estudo, o pesquisador atual deve conscientizar-se de que as tradicionais definições de matéria, espaço, tempo e causalidade da antiga concepção mecanicista passaram por extrema modificação. Há uma necessidade de paradigmas mais abrangentes para elucidar a problemática de certos fenômenos.
A Parapsicologia é uma ciência rica em sua interdisciplinaridade, podendo buscar subsídios na psicologia, biologia, física, química, sociologia e outros campos do conhecimento. Daí surgem idéias novas e ousadas que desafiam o tradicionalismo científico, mas que nos impelem a um caminho novo de reflexões sobre o homem e seu espaço no Universo. O físico foi o primeiro a provar cientificamente verdades, antes só aceitas pela fé. (9)
O Parnaso de Além-Túmulo, obra psicografada por Chico Xavier é produto da dinâmica inconsciente do agente psi em combinação com o seu cotidiano, as suas aquisições culturais e experiências. O nível inconsciente trabalha com a essência, a ideia
– base (hemisfério direito do cérebro) e o nível consciente elabora os fatores secundários, os detalhes de enriquecimento, por assim dizer, o cenário da obra.
Tudo indica não haver fenômeno paranormal puro. Na telepatia, por exemplo, a informação sofre desgastes, deformações provocadas por ruídos objetivos e subjetivos, bloqueios psicológicos e interpretação do próprio agente psi que atua com sua singularidade.
O trabalho a nível inconsciente não necessita de aprendizado anterior para a elaboração de seu processo associativo, auto-reprodutor, dinâmico e constante. Desse modo, tanto apresenta produtos geniais (como crianças falando língua estrangeira e analfabetos escrevendo excelentes romances – psicografia), quanto pueris, brincalhões e repetitivos (o caso das mesas girantes – telecinesia) em que, como se atuasse uma força intencional de um agente inteligente, a mesa inclinava-se de um lado, após rodopiar e derrubar os que se sentavam, tentando pará-la. (10)
Tudo leva a crer que o nível inconsciente detém o todo da informação, como um DNA PSI (11), em estado potencial, esperando apenas um fato circunstancial para passar de potência a ato. E o agente psi, via de regra, em estado emocional intensificado, entra numa determinada freqüência que o possibilita reproduzir a informação, manifestando o fenômeno psi.
Muitas vezes, a dinâmica inconsciente, em sua riqueza de produção, responde, de modo especial a atuações simbólicas e analógicas (necessárias, intencionais e não temporais, espaciais, causais. (12) Quando o agente psi capta uma determinada informação, essa atuação, por analogia e correspondência, pode agir sobre outra, desencadeando uma série de fenômenos semelhantes, provocando efeitos físicos.
Pelo exposto, o objetivo imediato do trabalho é considerar a autoria de o “Parnaso de Além-Túmulo” à aptidão e habilidade extraordinária do agente psi Chico Xavier em sua modalidade de psicografia automática e literária. Para isso, concorreram os dois hemisférios cerebrais do perceptor: o hemisfério direito, de modo intenso, considerado sede da sensibilidade e o hemisfério esquerdo, que acrescenta a objetividade e o espírito crítico, sendo considerado a sede da razão.
Um alerta: as pesquisas devem prosseguir quanto ao polêmico assunto, sendo este um pequeno ensaio ainda em fase de estudo e desenvolvimento.
No estágio atual, não sabemos “como” se processa esse fenômeno, o seu “modus operandi”, pois desconhecemos mecanismos e leis que regem a fenomenologia psi.
NOTAS
(1) (1) Chico Xavier apenas concluiu num grupo escolar, o curso primário, estudando somente uma pequena parte do dia e trabalhando numa fábrica das 15h às 2h da manhã, chegando a adoecer por tal esforço. a seu lar era pobre, vivendo com dificuldades e sofrimentos, tendo de trabalhar desde criança para ajudar no sustento da família, sem espaço para que ele pensasse nas questões literárias. Não teve estímulo de familiares para os seus estudos e com seus trabalhos e obrigações não teve contato com intelectuais de sua terra. Em casa estudou o que pôde e como seu pai era de opinião contrária, diz Chico: “muitas vezes, tive o desprazer de ver os meus livros e revistas queimados”. Ao abraçar a missão religiosa, entregou-se plenamente ao espiritismo, o que dificultou ainda mais o seu tempo para as suas leituras de aperfeiçoamento, pois passou a dormir apenas 3 horas por noite. Ele próprio afirma não entender de estilos de época e revela: “Jamais tive autores prediletos”.
(2) (2) O agente psi Chico Xavier usa, intensamente, o potencial do hemisfério direito do cérebro, em desuso, na prática, em outras pessoas. É considerado um agente psi confiável (nomenclatura criada pelo IPPP), porque tem uma alta incidência de manifestação do fenômeno psi. Apresenta uma capacidade inata para a literatura. O fenômeno psi nele se manifesta continuamente, sem sofrer solução de continuidade.
(3) (3) O nosso cérebro (visto de cima e eliminando-se os ossos do crânio) é semelhante a uma grande noz, com dois hemisférios separados, um do outro. O corpo caloso os une, conectando as fibras nervosas de um lado com as do outro, integrando-as.
O hemisfério esquerdo é responsável pelo raciocínio lógico, sendo a sede da razão, do conhecimento matemático, das palavras e o artífice de nosso senso de comparação. Domina o lado direito do corpo, sendo bastante necessário no nosso mundo de hoje, difícil e competitivo.
O hemisfério direito é a morada da sensibilidade, da emoção, da intuição, do temperamento artístico, da capacidade imaginativa, onde os sonhos se desenvolvem em sua amplitude fabulativa e a invenção encontra sua origem e desenvolvimento pleno. Domina o lado esquerdo do corpo, não estabelecendo juízos nem articulando palavras. Trabalha com símbolos e compara imagens. Segundo o neurocirurgião Richard Berland, “temos uma espécie de sábio vivendo no hemisfério esquerdo e um místico habitando o direito”.
Em parte, é depreciado por alguns cientistas, que o consideram uma parte inativa, inútil do nosso cérebro. No momento, estudam-se mecanismos e se programam exercícios para ampliar a potencialidade do cérebro direito que, na maioria dos seres humanos, encontra-se adormecido.
(4) O Ego e o inconsciente constituem dois polos opostos da psique humana.
Quando um silencia, o outro entra no máximo de sua atividade. Se estamos em consciência vigílica (que não é total por causa da seletividade), funcionando o pensamento lógico, a mente consciente em ação, o inconsciente está agindo apenas de maneira sub-reptícia, graças a sua dinâmica permanente. Não basta o silêncio, a tranquilidade e o recolhimento do Ego, para a manifestação do inconsciente pessoal ou coletivo. Há um outro fator importantíssimo, que é o excitante específico do nível inconsciente: a emoção. Desse modo, não podemos despertar a dinâmica inconsciente pelo raciocínio, pela lógica, pela ação consciente, mas pela sensibilidade e também pela imaginação que, em grande parte, provém também do trabalho inconsciente.
(5) É a investigação da atividade do psiquismo inconsciente que mais facilmente poderá conduzir o homem à constatação científica de sua sobrevivência.
Há três postulados básicos a considerar-se:
1 – a sobrevivência não implica em comunicação mediúnica ou em reencarnação;
2 – a comunicação mediúnica implica em sobrevivência, mas não em reencarnação;
3 – a reencarnação implica em sobrevivência, mas não em comunicação mediúnica.
(6) (6) Um exemplo clássico de criatividade psi é o caso de Pearl Lenore Curran que, personificando “Patience Worth”, em língua anglo-saxônica do século XVII, produziu o poema ‘Telka”, constituído, aproximadamente, de 70.000 palavras,
num período de 35 horas, através de psicofonia xenoglóssica ou por xenoglossia.
Outro trabalho em que se manifesta a criatividade psi é o primeiro volume de “Arcanos da Natureza” com o título de “História e Leis da Criação”, psicografado pelo camponês Hudson Tuttle, então com 18 anos de idade. Büchner fez citações textuais dessa obra e ficou decepcionado, quando conheceu, pessoalmente, o seu autor.
(7) (7) O “Ego”, como foco de consciência, pode ir abrangendo campos cada vez maiores. Ele vai ampliando-se, a ponto de destruir as suas próprias barreiras e limitações e confundir-se com os “Egos” alheios ou abarcar o Cosmos nos fenômenos de “Expansão do Eu” ou “Ego Expansão”. Isto ocorre, porque fundiu o seu foco de consciência com o foco de consciência do “Selbst”. Há uma expansão da consciência no tempo e no espaço. Não existe “aqui” ou “ali”, não há o conceito de distância, como também não há o “antes” e o “depois”, mas somente o “Eterno Presente”, quando se escapa das limitações dos órgãos dos sentidos, verifica-se uma indiferenciação do tempo.
(8) (8) O transe (espontâneo ou provocado, hipnótico, auto provocado, mediúnico, ióguico, farmacológico, tóxico por psicodislépticos, como a mescalina, LSD e outros), ao produzir obnubilação da consciência, vai dar vazão ao inconsciente, que se manifesta pelos automatismos, visões, fenômenos parapsicológicos.
(9) (9) A Física Quântica oferece ideias ousadas que funcionam como verdadeiros pré-requisitos para a discussão da fenomenologia psi: a da “Mente Universal”, de Henry Margenau; a da “Mente Grupal num Universo Holográfico”, de David Bohm e a de um “Mundo Não-Localizado”, de John Stewart Bell.
Para Margenau, o fato de percebermos o mesmo mundo, evidencia a existência da Mente Universal. É preciso uma única consciência para fazer uma única imagem do mundo, especialmente, quando essa imagem é compartilhada por cinco bilhões de cérebros neste planeta. Se essa Mente não estivesse operante, moldando a grande quantidade de dados sensoriais processados a cada momento por uma imensidão de cérebros, tudo indica que a formação de imagens do mundo seriam tão dispares quanto incomunicáveis.
Segundo David Bohm a informação de todo o Universo está contida em cada uma de suas partes. A parte contém o todo e, no dia-a-dia, temos exemplo desse fato: espelhos, um defronte do outro, refletindo uma série interminável de imagens idênticas que, aos poucos, vão diminuindo de tamanho, para, finalmente desaparecerem do nosso campo óptico.
O prêmio Nobel de Física de 1940, Dennis Gabor, apresenta a teoria matemática que possibilitou o desenvolvimento dos hologramas (vinte anos depois, com a invenção do laser).
Para o físico irlandês John Stewart Bell, um mundo não-localizado de fato existe. Isso desafia a Física desde Newton. As conexões entre objetos distantes ocorreriam mais rápido que a velocidade da luz. E uma Mente não-localizada seria uma mente ligada a todas as outras coisas, uma Mente vinculada a todos os outros momentos, lugares e pessoas. As conexões não-realizadas estão em toda parte, porque a própria realidade é não localizada.
(10(10) William Barret narra a sua luta contra uma mesa, numa reunião a que compareceu, na casa do agente psi Kathleen Goligher, convidado pelo físico William Crawford. Assim descreve:
“A mesa elevou-se, então, cerca de 45 centímetros e ficou suspensa,
. perfeitamente nivelada. Fui autorizado a examina-Ia e vi claramente que ninguém lhe tocara e que estava isolada dos assistentes. Tentei pô-la no chão e não consegui, apesar de empregar toda minha força. Quando me sentei em cima dela, os pés começaram a oscilar. Fui sacudido dum lado e doutro e escorreguei para o chão. A mesa voltou-se sem lhe tocarem e pareceu-me estar colada ao soalho. Em vão me esforcei para a levantar. Os assistentes mantinham-se de mãos erguidas. E logo que desisti dos meus esforços, a mesa endireitou-se sozinha.”
(11(11) Segundo o psiquiatra suíço, Jung, não há na criatura humana, apenas um repositório de suas experiências pessoais. O homem traz, latentes e concentradas em si, todas as experiências pretéritas de seus ancestrais. Não é somente a experiência individual que o homem encerra, mas toda a sabedoria da espécie, a qual permanece latente, à espera de oportunidade para revelar-se.
(12(12) Há uma lei chamada “Lei das Correspondências” que, tudo indica, poderia adequar-se ao caso. No Universo, há uma correspondência analógica entre os elementos, de modo que, quando se atua sobre um, essa atuação, por correspondência, pode agir sobre o outro. Trata-se de relações analógicas ou simbólicas, necessárias, intencionais, sem depender de tempo, espaço e causa.
Segundo Robert Amadou, os elementos de um conjunto se relacionam intencionalmente com todos os elementos desse conjunto e com cada um deles.
E acrescento: a dinâmica inconsciente responde de modo especial a essas atuações simbólicas, pois trabalha com imagens, desenhos, intenções e não com palavras, interpretações e significados. Por exemplo: uma palavra, mesmo inventada “abracadabra”, poderá mexer com a inconsciência, não por ‘ela em si, pelo seu significado, mas pelo que ela representa e simboliza. Em certos rituais mágicos, quando se derrama água na terra seca, pedindo chuva, a lei das correspondências poderá atuar e o trabalho inconsciente entrará em ação, podendo desencadear efeitos físicos. Assim, por correspondência e analogia, essa chuva (os semelhantes se atraem) poderá vir, por mais incrível que nos pareça.
Quem sabe, no caso de Chico Xavier, que escreveu uma quantidade considerável de poemas, em seu “Parnaso de Além-Túmulo, não possamos aplicar essa lei? Assim, quando ele personifica um determinado poeta e escola, por correspondência e analogia, vai psicografando outro, mais outro, mais outro… É como se houvesse um encadeamento de fatos psíquicos significativos acausais, mas atuantes no mundo físico.
Ao que parece, a “Lei das Correspondências” forneceria indícios elucidativos para o surgimento de levas de grandes pintores, musicistas, marcando uma determinada época. Também a grande ocorrência de fenômenos paranormais, sucedendo-se, um após outro, em determinado tempo, como na fase de ouro da fenomenologia psi com Charles Richet, que poderia relacionar-se com essa lei.
É uma lei que nos leva a pensar em fatos do cotidiano, quando ocorrem catástrofes e acidentes e glórias e conquistas. É fato observado que, quando um avião cai em determinado lugar, por correspondência e analogia, outro avião cai em outra parte, mais outro, mais outro e assim por diante, não importando o tempo, o espaço, a causa. O mesmo tem ocorrido com trens, ônibus, desabamentos de prédios etc. Há pouco presenciamos o funcionamento dessa lei, ao que tudo indica, quanto à morte de cantores: João Paulo, Tim Maia, Nelson Gonçalves, Frank Sinatra, Leandro… Também constatamos fatos felizes: pessoas que são agraciadas com prêmios e loterias por um determinado período. E, por incrível que pareça, até dentro de casa, vemos essa ocorrência: um material elétrico se quebra, talvez, por correspondência e analogia, quebra-se outro, mais outro…
Jung chama a esse fenômeno de sincronístico, um condicionamento significativo acausal. Ocorre um fato significativo sem causa, mas atuante no mundo físico. Não se conhecem, ainda, mecanismos e leis que regem essa atuação física.
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