Ivo Cyro Caruso
Enfrentamos nesta palestra uma complicação inicial em face da exiguidade do tempo, uma vez que, nem poderemos citar todos os problemas da Parapsicologia, nem poderemos aprofundar a analise daqueles que ora lhes trazemos.
A Parapsicologia é nova, pois no ano de 1953, vem à tona buscar o “status” da ciência, em Congresso Internacional, em Utrecht, Holanda, no mesmo país que pela primeira vez se organiza um curso a nível universitário. Apesar de nova, já lhe são reclamadas todas as soluções para antigos problemas com que o homem se depara. De outra parte, no que é próprio da ciência, a Parapsicologia cria os seus próprios problemas e, assim, fixa o seu campo de estudo e estabelece as suas tarefas.
Os problemas da Filosofia e da Religião não pertencem ao campo da Parapsicologia, como ciência. Isso não invalida que questões da Filosofia e da Religião façam partem das indagações pessoais do pesquisador parapsicólogo que assimilou uma sólida atitude científica.
Para que a Parapsicologia se mantenha como ciência, deverá comportar-se como tal em seu estudo sistematizado. Poderá ate mesmo servir-se, como fonte de estudo, de assuntos especulativos, ou afirmações e revelações encontradas em outras fontes do conhecimento (tais como a filosofia, religião, mitos, superstições, etc). Todavia, quando em aplicando os métodos científicos de observação, pesquisa e critica de hipóteses, terá de efetivar, continuamente, uma correta assepsia das afirmações e especulações que não foram testadas experimentalmente. E a Parapsicologia é rica de fatos!
E o bom registro dos fatos deve ser feito por pessoa habilitada e de formação científica. Registros rigorosos, ricos de descrição dos aspectos circunstanciais do fenômeno observado. As observações ampliam o conhecimento, que por seu turno, provocam novas questões, novos problemas. Como em ciência tudo é provisório, certos processos são esclarecidos à custa da geração de novas interrogações, novos problemas que tendem a ampliar o campo, bem como criar as próprias limitações de uma ciência em particular.
As diversas disciplinas científicas se interagem. A Parapsicologia e uma ciência interdisciplinar, tem problemas herdados e criou os seus próprios problemas, na tentativa de explicar os fatos paranormais, objeto de seu estudo.
É nossa pretensão apresentar-lhes um resumo dos principais problemas herdados e mencionar os mais importantes criados pela Parapsicologia, pois são todos eles aqueles que se projetam sobre o pesquisador. Tentaremos, a seguir, demarcar o campo e as tarefas da Parapsicologia.
PROBLEMAS HERDADOS
Na sua relação eu-mundo o homem desenvolve uma auto visão (a visão de si próprio, seus valores, etc.) e uma cosmovisão ( a sua visão do mundo, sua participação, etc.). Essas posições têm determinado uma série de problemas no campo da filosofia, das religiões e da própria ciência (as ciências humanas). Além desses problemas, preexistentes à Parapsicologia, também preexistem conceitos e definições bem ajustadas às respectivas áreas do saber que intervêm na compreensão e interpretação adequada. Sem mais delongas, os principais problemas herdados podem ser arrolados em:
a- o problema mente-corpo; b- a fisiologia da percepção e de outras funções cerebrais, tais como o pensamento, a memória, etc.; c – as questões de inconsciente, consciente e sua relação; d – as questões relacionadas com as diferenças individuais; e – as questões do tempo em que se desenrolam as reações nos indivíduos; f – as questões éticas de experimentações no indivíduo.
Alguns desses problemas merecem maior atenção, porque a sua solução poderá alterar as atuais teorias e hipóteses a respeito dos fenômenos até aqui estudados.
O problema mente—corpo envolve situações a serem evitadas aprioristicamente, quer em favor do dualismo, quer em favor do monismo, recordamos que o dualismo e qualquer ponto de vista que implique na diferença básica entre a mente e o corpo e, portanto, existe uma relação a ser explicada, O monismo é qualquer ponto de vista que ignore ou a mente, ou o corpo, ou que os inclua sob a mesma rubrica. Não existe nenhum método filosófico, nem científico, na atual etapa do conhecimento, que capacite a escolha definitiva de qualquer um desses pressupostos. Diante desse problema, sugere-se que a Parapsicologia parta do estudo do homem e de que os fenômenos paranormais, em princípio, têm sua origem no homem. Todavia essa postura não evita ter-se de enfrentar as questões das funções mentais e da função Psi, quer substancialmente, quer como sendo o cérebro o seu substrato. Avanços no estudo neurofisiológico terão de ser acompanhados de perto por parte dos parapsicólogos. (Pensamos que o estudo de qualquer função psíquica necessita atender aos conhecimentos da neurofisiologia e do sistema nervoso central, a fim de evitar desvios e falhas do saber.)
O problema da Percepção além de, por si, complexo — e ainda não resolvido nem pela neurofisiologia, nem pela psicologia — recebe um desdobramento conceitual complicador por parte da Parapsicologia, quando lança à percepção-extra-sensorial a responsabilidade dos fenômenos psi-gama.
Podem ser mencionados autores de todos os continentes que aceitam que a percepção e suscetível de desenvolvimento e o indivíduo pode desenvolver certas potencialidades a um elevado grau de desempenho. A Psicologia aplica o método dos Estímulos— Constantes, quando examina a detecção de cada estímulo e a busca dos pontos (a) onde o estímulo é percebido sempre com grande segurança, e (b) aqueles pontos onde o estímulo é percebido com grande incerteza. Além disso, mede a frequência das detecções de cada estímulo. Essas frequências obtidas em função das intensidades dos estímulos são conhecidas como “funções psicométricas”. Isso mostra ser possível não só o registro, mas também, a medida de uma atividade psicológica. Alguns estímulos, até mesmo fora do foco da atenção da consciência — bem aquém do seu “limiar inferior” ou além do seu “limiar superior” — foram perfeitamente percebidos a nível do “inconsciente”.
Quanto ao Pensamento, Jacobson, na Universidade de Chicago, fez experiências bem sucedidas confirmando que durante a atividade do pensamento aparecem contrações musculares. Na Universidade de Roma, um professor de neuropatologia, Giuseppe Callegari conseguiu resultados em experiências que detectavam movimentos musculares, ainda que mínimos, partindo de elaborações do pensamento. A miografia (registro elétrico das contrações musculares) detecta mudanças de potencial elétrico de origem muscular acompanhando pequenas contrações musculares como efeito, cuja causa se relaciona com atividades mentais mais complexas.
Os parapsicólogos devem manter-se atentos a tais desdobramentos de outros campos de pesquisa, a fim de não marcharem na direção de desvios, afastados de outros avanços científicos.
Os movimentos musculares acima mencionados e que se geram a partir de pensamentos, trazem à baila a signopatia, ou a percepção de sinais mínimos, como aparecem no “cumberlandismo”. Por essas razões, podemos vir a analisar que, em determinadas circunstâncias, certas pessoas podem perceber, ainda que inconscientemente, sinais fornecidos por outras pessoas.
Aqui se aponta uma atitude conceptual na parapsicologia, quando se aceita que sinais dificilmente percebidos a nível “consciente” mostram-se detectados a nível inconsciente”.
E é exatamente o “inconsciente” outro conceito herdado e de que se valem os parapsicólogos ao estabelecer a hipótese básica da Parapsicologia, cujo estudo é tão ou mais complexo quanto o do pensamento, da memória, da percepção, etc. Trata-se de um “constructo” incorporado a psicologia através da Psicanálise, cujos conceitos são aproveitados pela Parapsicologia, que desenvolveu, por seu turno, estruturas de personalidades secundárias que ao lado de certos automatismos emergem do inconsciente.
Penfield conseguiu provocar em paciente que se encontrava sob anestesia local uma série de sensações simultâneas: sentia-se em duas épocas e lugares — na sala de cirurgia, no presente e ao mesmo tempo, no passado, revivendo uma situação no lar de sua infância muito distante quer no espaço, quer no tempo. (1)
O sistema nervoso, tendo o cérebro como o seu principal órgão, é formado de um tecido muito vulnerável; o seu metabolismo é afetado por situações psicológicas (tais como intensa emoção, aflição, dor, temor, medo, etc.) com resultados psicossomáticos. Há de estudar-se melhor as liberações das morfinas naturalmente segregadas pelo cérebro, das histaminas, adrenalina, além das toxinas que penetram na corrente sanguínea e daí ao cérebro. Este tem contínua fome de açúcar. As atividades cerebrais sofrem em sua eficiência pelo excesso ou falta de enzimas, histaminas, açúcar, toxinas, adrenalina e perturbações sinápticas. Podem originar pseudo-visões, alucinações, efeitos encontrados em crises epileptoides de uma parte, porém talvez deflagre perturbações de origem ainda não totalmente detectada, com efeitos denominados paranormais, quando na verdade, seriam pseudo-paranormais. Efeitos luminosos ritmados (estroboscópicos) provocam disfunções cerebrais, do tipo epileptoide e durante tais crises podem surgir visões especiais, quando o indivíduo vê imagens de santos, etc.
A lição da Sofrologia — que estuda a harmonia corpo-mente – é de que uma perturbação tanto pode ocorrer a nível patológico, que designaríamos negativo (esquizoide, epileptoide, etc.), quanto a nível sofrônico, diríamos, positivamente (estados hipnóticos, meditativos e contemplativos, etc.). Tudo dependendo do treinamento ou da terapêutica adequada ao caso.
Parece que não existem dois paranormais iguais e isso traz uma complicação metodológica, na busca de padrões genéricos. Ou, em vez de procurar-se o paranormal “médio” (ou ainda o mais frequente) deva-se buscar aqueles caracteres paranormais, como se distingue o superdotado e, então, classificar-se ou hierarquizar tais caracteres. E isso vem sendo feito pelo Dr. José C. Ferraz Salles (2), apresentando 17 itens principais, que definem o superdotado por hipoxemia cerebral. Assim sendo, um item importante é o estudo dos desvios clínicos, de traços singulares de natureza patológica. Não que um traço singular patológico, seja sempre negativo. Como já citamos, sob um prisma sofrológico um estado semelhante, porém a nível sofrônico, poderia ser atingido e, se controlado pelo indivíduo, manter-se durante algum tempo, com a suficiente harmonia mente-corpo. Resta saber se esse indivíduo terá meios de controlar-se sempre a nível sofrônico sem degenerar o seu estado para o nível patológico. Daí se explica a necessidade orientadora do mestre. O guru, o pai-de-santo e outros orientadores, cada um em sua seita e a seu modo, exige, com certa razão, que o adepto somente exercite a sua “atividade” em presença de seu orientador.
PROBLEMAS DA PARAPSICOLOGIA
A Parapsicologia tem por objeto o estudo do fenômeno paranormal, Diz-se paranormal o fenômeno, o seu agente — um ou mais — e o processo. O problema fundamental da Parapsicologia é explicar o processo e o controle do fenômeno paranormal, que por sua natureza escapa ao domínio das leis conhecidas como naturais, no atual estágio do saber científico.
Paranormal é um conceito eminentemente parapsicológico. E por ser um conceito fundamental, é mais fácil compreender do que definir. E quem já assou por uma vivência paranormal, está capacitado a compreender o conceito em sua plenitude!
O Congresso Internacional de Utrecht, já citado, classificou esses fenômenos em dois grandes grupos: Psi-gama e Psi-kapa. Resumiremos os seus conceitos:
- a) os fenômenos PSI-GAMA (de psicognose) de percepção-extrassensorial (ESP) do tipo mente-mente, ou de efeitos de comunicação mental; (*)
- b) os fenômenos PSI-KAPA (de psicocinese) era que se manifesta certa modalidade de energia, ainda não definida, cujos efeitos, ou agência, se lança do homem ao objeto.
(*) A expressão ESP (extrasensory perception) percepção extra-sensorial se deve a Joseph Banks Rhine, enquanto a divisão “Psi—gama” e “psi— kapa” se deve a Thouless e Wiesner, que as apresentaram ao Congresso Internacional de Utrecht)
PSI é um constructo autenticamente parapsicológico e designa o campo e a função dos fenômenos, ou as faculdades psíquicas; e uma expressão genérica para identificar o intercâmbio extra-sensório-motor com o ambiente. Psi inclui o fenômeno ESP e PK.
Tais são conceitos e constructos que, por seu conjunto, fixam a Parapsicologia por sua própria terminologia.
Advém que o “processo”, pelo qual o fenômeno paranormal acontece, é ainda desconhecido. Por isso essas definições pecam quanto à abrangência e diversas hipóteses, no atual estágio, poderão pulular. Algumas concepções arrojadas mas desviadas de fundamentações científicas serão derramadas sobre todos nós pacientes pesquisadores. Interessará à Parapsicologia saber o que acontece e como, quando o homem se encontra como agente de um processo paranormal.
Nada impede, então, que entre o agente paranormal, ou o “médium” e o objeto (ou outro sujeito) se estabeleça duplo sentido (vai-e-vem) na mesma direção. De fato, nota-se uma dependência do homem e sua ESP ou PK. No caso de médiuns de fenômenos psi-kapa também se nota o total envolvimento com boa dose de entusiasmo pelo sujeito agente e o objeto alvo de suas atenções. É como se houvesse uma retroalimentação (biofeedeback).
Tudo leva a aceitar, em princípio, que a unidade fundamental, no estudo parapsicológico, é o homem, enquanto é o fenômeno paranormal.
A Parapsicologia surge com um método de pesquisa impessoal, diferenciado daquele da Metapsíquica, dependente do médium e do talento e criatividade do pesquisador que seguia um método “ad hoc”. Surge, porem, da própria ressonância da Metapsíquica, que é contemporânea da evolução do ‘behaviorismo’’ na Psicologia do lado americano e da Psicanálise do lado europeu. A Parapsicologia se inicia como um desvio da Psicologia e se desenvolve quando a ciência passa a dar maior atenção ao método indutivo quantitativo com a força das interpretações estatístico-matemático e do cálculo da probabilidade. Esse é um método de prova e de análise, ou interpretação, de um conjunto de fenômenos complexos.
Ainda nesse período de emergência da Parapsicologia, por um lado projeta-se na ciência, com origem na própria Física, o princípio de indeterminação de Heisenberg e por outro o processo gestáltico da percepção. Assim que, pelo princípio de Heisenberg foi “sacudida” a exigência da hipótese ter de passar por uma medição determinística e que, de certa forma, implica em argumentos do tipo demonstrativo, tirado do modelo bem sucedido da física-matemática. Passou-se então, para o raciocínio plausível, baseado na explicação probabilística que permite avanços, principalmente nos fenômenos de alta complexidade. Para as ciências humanas trata-se de uma transformação fundamental na forma de tomada de conhecimento, isto é, do argumento plausível das estruturas mais complexas, em substituição ao argumento demonstrativo, que, no entanto, se é possível às estruturas mais simples da física, já não o é, na própria física nos fenômenos elementares ligados à existência de um “quantum” de ação. Mas é fundamental observar que no “Gedankenexperiment” (experimento imaginário) as condições circunstanciais básicas correspondem àquelas habitualmente encontradas, para que a hipótese seja levantada com bases sólidas cientificamente e não escorregue para a especulação.
Ainda pelo princípio da indeterminação, conhecemos a dificuldade resultante de nossos métodos de medida, na detecção em Psi, de determinadas manifestações da energia envolvida.
Não existe nenhuma proibição a que o “agente teta” que algumas interpretações incluem na Parapsicologia, seja substancial, quer matéria, quer energia, em suas formas as mais elementares. Mas, no estágio atual, se se admitir que um agente teta” é constituído de átomos de hélio (He) dispostos em um sistema cristalográfico, sua detecção seria difícil.
O He não se combina, a sua órbita externa é completa, e os seus índices óticos são os mesmos do ar. Os sentidos e instrumentos detectam a reflexão e a refração que provocam alterações de posições e movimento.
Pelos conceitos da Psicologia da Forma, ou Gestalt, a partir de Wertheimer, uma nova proposta vem em auxílio da percepção extra-sensorial como que a adequar os questionamentos de J.B. Rhine.
O raciocínio plausível desenvolve as bases da teoria e da pesquisa da percepção extrassensorial que passaria a ser entendida como uma captação direta da realidade pelo inconsciente em processo gestáltico de percepção totalizante que os sentidos fisiológicos, isoladamente, não são capazes de focalizar e abranger. Em sua análise — Parapsicologia Hoje e Amanhã — 3. Herculano Pires conclui que os limites do psiquismo se ampliam muito além dos sentidos comumente conhecidos. E deduzimos que a base ainda é fisiológica e neuropsicológica. Outro tanto, se essa hipótese plausível explica os fenômenos psigama, ou de ESP, não é abrangente aos PK, nem traz avanços quanto à Precognição.
Na Precognição o “tempo” vai-e-vem, sobrepõe-se e confunde tudo, presente com o passado e causa e o futuro; a causa e o efeito já não são sucessivos. (*)(*) Uma abordagem detalhada lograria explicar-se através da teoria das rotas de colisão. Outra confusão ocorre com o espaço. Então o espaço-tempo relativístico, nem espaço nem tempo newtoniano, tem sentido no fenômeno. Em sendo explicada a Precognição através de um modelo testável, mantidas aquelas circunstâncias espaço-temporais, emergiria uma nova crise de grande repercussão cientifica. Ou a sua refutação exigiria uma revisão parapsicológica. Ou o domínio da Parapsicologia exige uma definição e, desse modo, que a libertaria do determinismo físico e até mesmo biológico e fisiológico e, no entanto, se manteria aderente à realidade sob o aspecto plausível de uma outra categoria a ser definida. De qualquer modo seu substrato permaneceria sendo o homem total.
No estágio atual, a Parapsicologia, que se revela interdisciplinar, agrega ao seu acervo científico o estudo de fenômenos que escapam ao objeto de estudo de outras disciplinas. E poderá vir a aplicar as suas generalizações características em domínios onde as outras disciplinas limitam-se a descrever, classificar e comparar, dando com isso origem às especializações particulares em Parapsicologia.
É fácil observar que a Parapsicologia se debate na busca de um método generalizado, além do disciplinamento de um sistema, a fim de evitar, ao pesquisador, sobreposição sectária, em geral ideológica, ou mística, uma vez que ela aborda fenômeno fronteiriço com as religiões.
Um modelo unificado com vistas a uma teoria unificada dos fenômenos parapsicológicos tem sido uma preocupação do autor.
Os estudiosos da parapsicologia acompanham duas grandes escolas:
- a) a dos parapsicólogos norte-americanos e europeus, da escola de Rhine, que encaram os fenômenos como de natureza ou extensão psicológica;
- b) a dos parapsicólogos soviéticos e leste europeu da escola soviética de Vasiliev, que encaram os fenômenos de natureza fisiológica, ou neuropsicológica.
E aqui reaparece o problema herdado mente-corpo, do dualismo e monismo, a espera de uma síntese. Em qualquer situação seus seguidores convergem em considerar que poucos passos foram dados diante da complexidade dos fenômenos e reside aí o homem como agente e substrato, sendo a mente ou um ente autônomo ou um epifenômeno, de acordo com a escola a que se vincula ideologicamente o estudioso.
Apesar de tudo, a Parapsicologia se ressente de um “sistema parapsicológico”. Assim entendemos uma organização e interpretação coerente e inclusiva, se bem que flexível, dos fatos e das hipóteses relativas ao objeto de estudo da parapsicologia. Os sentidos de coerente e inclusivo são os de curso comum entre estudiosos. Pelo menos, o sistema parapsicológico, no estágio atual, deveria definir as funções tais como preparar e dirigir o pesquisador em seus estudos, de modo que os seus esforços possam ser utilizados com o melhor desempenho e lhe sirvam de conhecimento de consequência útil.
Estamos cada vez mais seguros de que não cabe à Parapsicologia, como ciência, fazer avaliações de ordem moral, considerar o certo ou o errado, julgar ou discutir um desejável estado de coisas, ou pesquisar uma maneira de através de seus conceitos, “corrigir” o mundo. Esse papel não poderá ser retirado da Filosofia, ou da Religião, ou do Direito, ou da Política. Ou a Parapsicologia adota compromisso com o método científico, ou passará tal como mais um modismo. Não lhe cabe incluir juízo valorativo.
Atribuem-se à parapsicologia certas tarefas fundamentais, que são descrever, analisar e avaliar fenômenos paranormais, formular hipóteses e idealizar modelos abrangentes. Deverá gerar conhecimentos autocorrigíveis expostos abertamente à crítica e à refutação a todo momento. Deve ser aberta ao público, nada escondendo.
Estamos seguros de que a função psi compreende causas mais elementares. Ou os fenômenos já classificados telepatia, precognição, etc. são fenômenos elementares da função psi, ou se tratam de fenômenos redutíveis a outros mais elementares. A questão é: ou a função psi provém de causas múltiplas, ou se trata de uma complexidade redutível a causas elementares. Se provém de causas múltiplas, poderia originar-se de diversos fenômenos interagentes elementares. Então, tais fenômenos elementares devem merecer uma prioridade hierarquizada no estudo sistematizado. Enquanto isso, a Parapsicologia não teria meios de avançar nos estudos dos fenômenos mais complexos sem evitar os perigos de incluir desvios especulativos. De outra parte, quando esses fenômenos elementares forem explicados, servirão às hipóteses mais abrangentes dos fenômenos mais complexos. Em se atingindo esse degrau a metodologia na Parapsicologia será mais explicativa e determinará técnicas adequadas, além de uma compreensão mais aderente a realidade.
(1) 1) Penfield, Wilder —“Os mistérios da mente”, Atheneu, Ed. da USP, 1983, p. 61, sendo mais relevante que os citados na p. 23.
“ 2) Superdotados”, Ed. Alvorada, São Paulo, 2ª edição, 1982.
(*) Parapsicólogos que se dizem conhecedores de aspectos ocultos, que curam, que desenvolvem “poderes” da mente e outras fantasias, logram seguidores ingênuos por algum tempo, mas não podem ser admitidos com seriedade pelos estudiosos da parapsicologia.
(*) Tese apresentada no II Simpósio Pernambucano de Parapsicologia, Auditório da Universidade Católica de Pernambuco, Recife, 5 a 7 de outubro de 1984.