VALTER DA ROSA BORGES
Procurador de Justiça aposentado.
Ex-Professor de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco.
Ex-Professor de Direito Civil da Universidade Católica de Pernambuco.
Professor do Curso de Pós-Graduação em Parapsicologia, do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas – I.P.P.P.
Fundador e Presidente, durante 22 anos, do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas – I.P.P.P.
Presidente do Conselho Diretor do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas – I.P.P.P.
Presidente de Honra do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas – I.P.P.P.
Diretor Geral do Anuário Brasileiro de Parapsicologia.
Membro da Associação Pernambucana dos Parapsicólogos.
Primeiro Presidente do Conselho Regional de Parapsicologia de Pernambuco.
Membro da Associação Brasileira de Parapsicologia.
Membro fundador da Sociedade Brasileira para o Progresso da Parapsicologia, em 1996.
Membro da Parapsychological Association.
Membro da Associación Iberoamericana de Parapsicologia.
Fundador e Presidente, em quatro mandatos, da Academia Pernambucana de Ciências.
Fundador e Presidente da Sociedade Internacional de Transcendentologia.
Membro fundador e acadêmico emérito da Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro.
Membro da Academia de Artes e Letras de Pernambuco.
Membro da União Brasileira de Escritores.
Membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Membro fundador do Centro de Referência da Terceira Idade – CEDERTI.
Autor de treze (13) livros, cinco dos quais de Parapsicologia.
Conferencista oficial em congressos e simpósios de Parapsicologia no Brasil e no Exterior.
REFLEXÕES SOBRE A PARAPSICOLOGIA
Valter da Rosa Borges
Oposição à Parapsicologia
Por que a Parapsicologia é tão combatida por cientistas de outras áreas e por religiosos, esotéricos e ocultistas?
Os motivos dessa obstinada ojeriza nos parecem claros e simples.
A Parapsicologia, na condição de ciência, investiga fenômenos que antes eram privativos do universo religioso, dando-lhes uma interpretação naturalista. Tal atitude desagrada profundamente os líderes religiosos, por questionar as causas transcendentais de tais fenômenos, parecendo-lhes enfraquecer dogmas e práticas ritualísticas, abalar a fé dos seus adeptos e constituir uma ingerência indébita em seu território.
Por outro lado, ao investigar fenômenos então tidos como estranhos à investigação científica, a Parapsicologia comprovou, experimentalmente, a sua realidade e a sua natureza não transcendental. Não se tratava de um homem, propondo um novo modelo revolucionário em determinado campo científico, mas do surgimento de uma nova ciência cujo objeto constituía uma revolução na cosmovisão científica da realidade. Compreensível, portanto, que a comunidade científica reagisse imediatamente a esta agressão que revelava a existência de lacunas gnosiológicas, exigindo, assim, uma nova interpretação da realidade. Se, antes, esses fenômenos eram ignorados por pertencerem ao mundo da religião, da magia, do ocultismo, da superstição, agora que foram trazidos à investigação científica pela Parapsicologia deveriam ser negados a todo custo, levantando-se suspeitas quanto a integridade moral e/ou psíquica dos pesquisadores, assim como dos procedimentos metodológicos, tidos por inadequados ou insuficientes, dando ensejo, portanto, às mais diversas formas de fraude. À medida que a investigação parapsicológica ia se aprimorando, constatando a realidade dos fenômenos paranormais, a exigência dos adversários da Parapsicologia também aumentava, principalmente de um grupo constituído de céticos, sempre disposto a refutar, numa obstinação inquisitorial, qualquer experimento parapsicológico.
Tal atitude, porém, teve e tem seu lado positivo. De tanto se verem atacados em suas pesquisas, os parapsicólogos, de formação científica, vêm se tornando epistemólogos, preocupados com a excelência da metodologia científica e cada vez mais críticos no controle das condições experimentais.
Mas, há um lado obscuro da questão. Em virtude de se encontrar numa área divisória entre a ciência e a religião, a Parapsicologia se ressente do assédio de representantes dessas duas áreas. De um lado, cientistas que, informados dos êxitos da investigação parapsicológica, buscam integrar a Parapsicologia dentro de seu campo científico, lutando, veladamente, para despojá-la de sua autonomia. De outro lado, religiosos, que se proclamando parapsicólogos, utilizam essa ciência para servir aos propósitos de sua fé e ao mesmo tempo investir contra as outras religiões.
Há cientista que, fascinados pela fenomenologia paranormal, se tornaram religiosos e religiosos que, embevecidos pela Parapsicologia, se tornaram parapsicólogos. Em ambos os casos, em virtude desse entusiasmo, esqueceram de fazer uma separação entre a postura de cientista, no trato destes fenômenos, de sua convicção religiosa, na interpretação dos mesmos.
Porque os fenômenos paranormais originariamente pareciam exclusivos do domínio religioso, a sua laicização não foi inteiramente bem sucedida. Permaneceram, na sua investigação, certos ranços transcendentalistas no que concerne a sua hermenêutica. Então facilmente se explica por que a Parapsicologia, ao ignorar explicações metafísicas para os fenômenos paranormais, passou a ser considerada, mais do que qualquer outra, uma ciência materialista. Ora, sob este ingênuo e simplório ponto de vista, todas as demais ciências são também materialistas, porque não cogitam de hipóteses sobrenaturalistas para os seus fenômenos. Acontece, porém, que o estigma maior ficou com a Parapsicologia por ter ousado, tal como Prometeu, trazer o fogo dos deuses olímpicos para o domínio dos homens.
Leigos, céticos e cientistas de outras áreas procuram invalidar as pesquisas psi como se os parapsicólogos fossem incompetentes na utilização da metodologia científica ou, no mínimo, ingênuos por se deixarem enganar por pretensos agentes psi. Em suma: parapsicólogos e pessoas dotadas de aptidão psi não merecem credibilidade.
Assim como a maioria das pessoas, muitos cientistas são rotineiros e pouquíssimos criativos. Eles desenvolvem estereótipos cognitivos e rejeitam sumariamente tudo o que venha a contrariar suas rotinas de trabalho. Passam a ser crentes (alguns até fanáticos) da eficácia absoluta da área do conhecimento a que se dedicam. E classificam de irracional, supersticioso, mágico, místico, metafísico, ilusório tudo aquilo que não esteja de acordo com o paradigma científico. Na verdade, os cientistas ortodoxos fizeram, inconscientemente, da ciência a sua religião. O método científico passou a ser o credo, o dogma, o ritual de seu trabalho. Fora do método, não há salvação.
Somente os obstinadamente cegos não querem e, por isso, não podem ver a importância da Parapsicologia, para a compreensão das potencialidades do homem e, por conseqüência, da própria realidade, porque, afinal, esta cegueira os protege, permitindo que continuem apenas percebendo os seus próprios preconceitos.
A Parapsicologia, para ser uma ciência, não necessita da aprovação de cientistas de outras áreas. Toda ciência se constrói por si mesma, definindo seu objeto e utilizando sua própria metodologia, a qual deve adequar-se aos princípios gerais do método científico.
A oposição dos céticos
Os céticos inicialmente etiquetaram a Parapsicologia como “pseudo-ciência” e estigmatizaram os parapsicólogos como pesquisadores incompetentes ou fraudulentos. Significativa parte dos céticos é oriunda da Psicologia, o que evidencia um flagrante preconceito contra um possível concorrente em sua área profissional.
Durante décadas, os céticos investiram contra a Parapsicologia, argumentando que os fenômenos psi eram impossíveis porque violavam algumas leis da física ou porque seus efeitos não eram repetíveis. Com base nesta premissa, concluíram que os experimentos bem sucedidos deveriam ser atribuídos a fraude, a experimentos mal feitos, a técnicas inadequadas ou ao mero acaso. E alegavam ainda que, se os experimentos fossem bem conduzidos, os fenômenos psi não apareceriam, porque, na verdade, eles não existem.
Esses argumentos, atualmente, perderam a sua validade.
Os céticos bem informados não mais alegam que os resultados da experimentação psi são devidos ao acaso, e um deles, Ray Hyman reconheceu que estes resultados eram “astronomicamente significantes”. Isto implica, conforme observa Dean Radin, na mudança do enfoque do debate da mera existência de efeitos interessantes para a sua própria interpretação.
Charles Honorton argumenta que os céticos criticam a imperfeição dos experimen-tos parapsicológicos, parecendo ignorar que nada é perfeito nas ciências empíricas. E Dean Radin assevera que todas as medições contêm algum erro, mas que as meta-análises suprem as falhas dos experimentos pelo sucesso cumulativo de suas taxas.
A Psicologia, que é anterior à Parapsicologia, jamais conseguiu um modelo explica-tivo para a consciência e até mesmo chegou a negar a sua existência, como o fez o Behaviorismo. Por isso, tem razão Dean Radin ao afirmar: “se adotarmos os arrazoados dos céticos, muitos dos quais são psicólogos, então a Psicologia convencional é também um triste fracasso.”
Observa Honorton que, embora os céticos discutam sobre a plausibilidade de várias hipóteses alternativas, eles quase nunca testam as suas próprias hipóteses.
Alguns céticos aduziram que se os fenômenos psi fossem autênticos, mesmo assim seriam fracos e desinteressantes. Outros, embora relutantemente, aceitassem que efeitos de psi possam ser genuínos, tentaram minimizar este reconhecimento, alegando que eles eram simplesmente muito fracos para serem interessantes.
Os céticos insistem obstinadamente que os estudos aparentemente exitosos se basearam em experimentos falhos e que ainda não existe evidência convincente dos fenômenos psi em mais de um século de pesquisa.
Observa, com razão, Dean Radin que comumente se pensa, de maneira equivocada, que todas as críticas em ciência são iguais. As críticas têm de ter duas propriedades para serem consideradas válidas. Primeiro, a crítica deve ser controlada, significando que ela também não pode aplicar-se a disciplinas científicas bem-aceitas. Ou em outras palavras: não podemos usar um duplo padrão e aplicar um conjunto de críticas a tópicos insipientes e um outro completamente diferente para disciplinas estabelecidas. Se o fizermos, nada de novo poderia ser aceito como legítimo. Segundo, uma crítica deve ser testável, significando que um crítico tem de especificar as condições sob as quais a pesquisa poderia evitar a crítica, pois em caso contrário, a objeção é apenas um argumento filosófico que está fora do reino de ciência.
Lembra Radin uma afirmação popular, segundo a qual “muitos fenômenos que, uma vez, foram tidos por paranormal, se revelaram como tendo uma explicação normal”. Esta, diz ele, é uma crítica inválida, porque não é controlável, pois essa mesma crítica pode ser aplicada a muitas descobertas em outras disciplinas científicas bem-aceitas. Mesmo se originalmente pensássemos que a psi fosse uma coisa e mais tarde descobríssemos que ela era outra coisa, isto não poderia invalidar a existência do efeito. Teríamos apenas de redefinir o que pensamos acerca disto.
Outra crítica proclama que alguns efeitos paranormais foram resultado de fraude ou erro e, por isso qualquer resultado bem sucedido deve ser tido por suspeito. Tal alegação, argumenta Radin, não tem validade‚ porque se nós fôssemos forçados a descartar alegações científicas em todos os campos onde ocorreram casos de fraude do experimentador, teríamos de jogar fora virtualmente cada reino da ciência, visto que a fraude existe em todos os empreendimentos humanos.
Ressalta Radin que outra crítica favorita dos céticos é que não há teorias de psi. Esta crítica também é insustentável porque o termo psi poderia ser substituído por “consciência”, “gravidade”, “anestesia” ou ainda por dúzias de outros conceitos bem-aceitos ou fenômenos. O fato de que os cientistas não entendem muito bem alguns fenômenos não reduz o seu interesse científico por eles.
Os céticos, diz Radin, também argumentam que “a Psi não pode ser ligada e desligada e as variáveis que a afetam não podem ser controladas”. E assevera que esta é outra crítica inválida, porque há todos os tipos de efeitos sobre quais não temos qualquer controle direto e nisto incluímos a maioria dos aspectos realmente interessantes do comportamento humano. Contudo essa circunstância não os desqualifica como objetos legítimos de estudo. Em todo caso, a psi é algo controlável no sentido que podemos causar efeitos previsíveis em sua manifestação pela solicitação às pessoas para que façam alguma coisa em suas próprias mentes.
Radin assinala que alguns céticos alegam ser “impossível distinguir entre psi e efeitos de chance mesmo numa experiência bem sucedida sem o uso de estatísticas”. E argumenta que essa crítica é igualmente inválida, porque o mesmo pode ser dito para quase todas as experiências em biologia, psicologia, sociologia, e biomedicina. Obviamente, se houvesse algum modo de separar claramente um sinal de ruído fortuito antes da experiência ser conduzida, então as estatísticas não teriam sido usadas em primeiro lugar.
Finalizando, conclui Radin, a maioria das alegações contra a pesquisa psi é improcedente porque se aplica igualmente a disciplinas convencionais bem sucedidas e também porque estas alegações são também não-testáveis.
O cético, em Parapsicologia, portanto, é uma pessoa que não admite a realidade do fenômeno psi e, por isso, não quer e nem pode entender o que, para ele, é inadmissível. Há um bloqueio cognitivo em seus processos de raciocínio assentados na premissa denegatória da experiência psi. É quase impossível fazer alguém compreender aquilo que obstinadamente nega. Ceticismo e fanatismo são cegueira psíquica, embora de origens diferentes. Por isso, é pura perda de tempo discutir com os céticos que apenas estão interessados em sustentar obstinadamente a sua opinião.
Infelizmente, muitos parapsicólogos, ao invés de se dedicarem à pesquisa intensiva da fenomenologia psi, buscam convencer os céticos, como se sua anuência fosse imprescindível para validar a investigação parapsicológica. E isto nos parece a evidência de uma lastimável insegurança epistemológica ou de uma reprovável subserviência intelectual.
Não precisamos de céticos na investigação da fenomenologia psi, mas de parapsicólogos dotados de competência e de agudo espírito crítico. Somos os únicos cientistas que ouvem a opinião necessariamente leiga de cientistas de outras áreas a respeito de questões fundamentais da investigação e da natureza da fenomenologia psi. Queremos que eles nos aceitem como cientistas ao invés de trabalharmos pela qualidade científica dos nossos estudos e pesquisas. Afinal, há algumas disciplinas lecionadas em Universidades e Faculdades, cuja cientificidade é discutível e apenas têm respeitabilidade em virtude de seu status acadêmico.
Os céticos já esgotaram todo o seu arsenal de críticas, de certo modo valioso, porque nos permitiu aprofundar, cada vez mais, no estudo da metodologia científica e da epistemologia aplicados à Parapsicologia. Tudo o que eles dizem agora não passa de monótona repetição de argumentação já cediça e definitivamente superada. Cabe-nos retomar, com mais entusiasmo e vigor, o estudo e a investigação dos fenômenos parapsicológicos, permutando experiências e discutindo hipóteses e experimentos com os nossos colegas, na consolidação cada vez maior de uma comunidade científica de parapsicólogos, sem necessidade de angariar apoio e aprovação de cientistas de outra áreas a não a ser a título de colaboração no interesse de todos.
Os tipos de céticos
Podemos distinguir dois tipos de céticos: o cético ideológico e o cético reativo.
O cético ideológico é aquele que jamais se convencerá da realidade daquilo que ele não aceita. Seu lema é bastante conhecido: mesmo que eu visse, não acreditaria. Ele tudo fará para provar a sua negação. A sua presença numa experiência psi é prejudicial porque por seu ceticismo irredutível, ele sustenta a permanente dúvida sobre a autenticidade das experiências por mais brilhantes e irrefutáveis que sejam. O seu comportamento dogmático pode influir poderosamente no desempenho do agente psi, fazendo com que o fenômeno se manifeste de maneira insatisfatória ou até mesmo não aconteça. E esta é a grande vitória do cético, pois ele constata que pela sua simples presença a farsa não se realizou. Mesmo quando o fenômeno ocorre, ele reafirma a sua crença de que tudo não passou de uma fraude ainda que não possa comprová-la. Para ele, os experimentadores que se convencem dos experimentos psi não passam de ingênuos, incompetentes e até mesmo cúmplices da alegada fraude.
O cético ideológico, ao participar de uma pesquisa, pode também ser sutil e esconder a sua postura refratária a psi. No entanto, em alguns casos, o agente psi percebe esta oposição, passando a antipatizar o pesquisador ou a ficar intimidado com a sua presença. Os resultados modestos ou mesmo nulos farão com que o cético se sinta gratificado por ter comprovado o seu ponto de vista, atribuindo à fraude os resultados positivos, embora educadamente não faça qualquer comentário a respeito.
O cético reativo é aquele que, como jamais conseguiu ver um fenômeno psi, simplesmente o nega. É a compreensível estratégia da raposa que não consegue alcançar as uvas, na fábula de La Fontaine, retratando a compensação da frustração de não se conseguir o objeto desejado. A frustração do infortunado pesquisador psi se transforma em rejeição do fenômeno e na certeza compensatória de que os pesquisadores que o constataram estão equivocados. O ceticismo é, neste caso, um efeito do insucesso das pesquisa. É possível que, intimamente, alguns destes céticos acalentem a possibilidade de um dia presenciar este fenômeno, mas, para se protegerem contra uma falsa esperança, eles se tornam cada vez mais radicais e exigentes na pesquisa do fenômeno psi, o que os coloca cada vez mais distante dele.
Parapsicólogos afobados ou desiludidos
Como se não bastassem as críticas quase sempre fanáticas dos céticos, os parapsicó-logos ainda se vêem às voltas com alguns colegas que, por questões pragmáticas ou por desilusão quanto ao futuro da Parapsicologia, procuram, por meios diretos ou indiretos, integrá-la no domínio de outra ciência, notadamente da Psicologia. Tais parapsicólogos deveriam, de uma vez por todas, declinar desta condição e integrar, de maneira clara e inequívoca, o bloco dos opositores da Parapsicologia, visto que a sua postura é contrária e prejudicial ao movimento parapsicológico a nível nacional e internacional.
Dizendo-se desmotivados pelo progresso extremamente lento e pouco significativo da Parapsicologia, estes parapsicólogos afobados argumentam que a sua falta de aceitação nas Universidades, a quase impossibilidade de obtenção de fundos para pesquisas parapsicológicas, a inexistência de mercado de trabalho, demonstram a sua inviabilidade como ciência e sugerem que a melhor solução é torná-la uma especialidade de outra área científica.
Estamos vivendo uma época de extrema especialização do conhecimento, o que resulta no surgimento, cada vez mais crescente, de outras disciplinas científicas, resultantes de desmembramentos de domínios mais amplos do conhecimento. Por isso, não vemos porque privar a Parapsicologia de manter a sua autonomia, mesmo a custa dos mais ingentes sacrifícios. Na verdade, no momento atual, a Parapsicologia é mais vocação do que profissão e aqueles que pretendem ganhar dinheiro como parapsicólogos devem, naturalmente, procurar outra atividade que lhes permita o seu sustento material. Por que deve a Parapsicologia, para se desenvolver como ciência, estar atrelada ao mercado de trabalho? Por que devem os parapsicólogos, açodadamente, tentar estabelecer frágeis vínculos com as Universidades, a fim de obter verbas para pesquisas psi, sob forma camuflada?
É preciso que nos conscientizemos de que a Parapsicologia ainda se encontra na fase da semeadura e não da colheita. Estamos, lenta mas gradualmente, criando uma mentalidade parapsicológica no Brasil e no Exterior e isto demanda tempo, sacrifício, paciência e abnegação. O parapsicólogo que não souber conviver com estas condições é melhor arrumar as suas malas e procurar uma área científica que possa facultar-lhe um vasto campo de pesquisa e também um salário condigno. E esquecer a Parapsicologia, porque, assim procedendo, estará beneficiando a si próprio e a quixotesca comunidade de parapsicólogos da qual o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas – I.P.P.P. – é um dos seus mais obstinados guardiões.
Uma lição a lembrar
Temos de concordar com Max Planck e aplicar o seu conselho na investigação parapsicológica. A Parapsicologia, ainda, por algum tempo, será combatida veementemente por seus obstinados adversários, que simplesmente não podem compreender a nova realidade que ela pesquisa, porque estão aprisionados nas malhas de seu paradigma científico. Acontece, porém, que eles enfim morrerão, cedendo seu lugar à nova geração de cientistas já familiarizada com os avanços da Parapsicologia e, por conseguinte, mais receptiva à investigação da fenomenologia paranormal.
O problema da fraude
Em regra geral, o agente psi foi tratado como uma pessoa conhecedora das artes mágicas e incorrigível fraudador. Assim os fenômenos que ele apresentava eram sempre recebidos com reserva, desconfiança e até hostilidade, mesmo que nenhuma fraude fosse constatada.
O agente psi, principalmente na época da Metapsíquica, foi investigado com rigores abusivos, passando por situações constrangedoras e humilhantes, para que os pesquisadores pudessem provar aos céticos que os fenômenos eram autênticos. Ou seja: os pesquisadores queriam, antes de mais nada e compreensivelmente, preservar a sua reputação científica. Logo, pouco importava o vexame a que submetiam o agente psi, tratado como se fosse uma pessoa altamente suspeita. Ele era submetido ao mais rigoroso controle possível, como se se tratasse de um grande mágico e refinado embusteiro. Tinha-se a impressão de que os pesquisadores implicitamente admitiam que todo grande agente psi era necessariamente um mágico. Assim, por melhores que fossem os controles, suspeitava-se de alguma falha na segurança, quando o fenômeno acontecia. O mais incrível, porém, é que o fenômeno acontecia apesar do clima de suspeição e hostilidade, onde o agente psi possivelmente se sentia equiparado a um perigoso criminoso. Qualquer que fosse o seu êxito, era sempre tido como duvidoso.
Por outro lado, o agente psi, empolgado pelos fenômenos que produzia, desenvolvia um perigoso narcisismo que se tornava numa propensão à fraude a fim de assegurar o seu status de pessoa especial.
Fraudes houve, não há o que negar. Pesquisadores foram ludibriados pelos agentes psi mais famosos. Porém, a alegação, mesmo sem prova, tinha a mesma força da prova. Aliás, a bem da verdade, há mais alegações do que provas concretas de fraude.
O parapsicólogo Robert Amadou considerava todos os agentes psi como fraudulentos, argumentando que até aqueles que nunca foram pegos em fraude, “poderiam ter fraudado”. Ora, nem todos os agentes psi fraudaram e mesmo os que foram pegos em fraude não fraudaram sempre.
Geralmente os que afirmam a existência de fraude se baseiam em meras suposições. E quem alega um fato cabe o ônus de prová-lo. No entanto, em relação à investigação parapsicológica, tem-se invertido o ônus da prova, exigindo-se do pesquisador apresentar provas para refutar as suposições levantadas contra a sua pesquisa. E o mais impressionante é que as suposições, por mais estapafúrdias que sejam, têm a força de pôr em dúvida as melhores pesquisas realizadas por pesquisadores qualificados.
Infelizmente, porém, alguns destes contestadores são parapsicólogos, que invalidam experimentos de seus colegas, louvando-se também em suposições. Eles assim procedem, sob a alegação de não terem conseguido obter os mesmos resultados satisfatórios com o mesmo agente psi. Eles, na verdade, não admitem o seu insucesso e, por isso, afirmam que a seriedade de seus experimentos demonstrou o equívoco das experiências que não conseguiram reproduzir.
Gustavo Geley já advertia que o agente psi pode ser levado à fraude por sugestão verbal ou telepática do pesquisador. Por isso, estabeleceu o princípio de que quando o agente psi frauda, a culpa é dos pesquisadores.
Asseverou Geley que, na investigação dos fenômenos psi, se inverteu o ônus da prova. Em vez de se exigir do pesquisador hostil a prova de suas alegações de fraude, transferiu-se ao agente psi a responsabilidade de provar que não fraudou. E o caviloso argumento se baseia na seguinte premissa: se não está demonstrado que não houve fraude, logo a fraude está provada, embora nenhum pesquisador a tenha constatado.
O Agente Psi
Gustave Geley foi quem primeiro se preocupou com a atenção que se deve dar ao agente psi. As suas recomendações se revelaram de fundamental importância para a pesquisa parapsicológica. Ele advertia que, para se obter um bom rendimento de um agente psi, é mister que ele esteja saudável, de bom humor, sinta-se à vontade e tenha confiança nos pesquisadores.
Com muita argúcia, Geley observou que um controle excessivamente rígido sobre o agente psi pode resultar na inexistência de fenômenos. Parece que os metapsiquistas estavam desatentos aos fatores psicológicos, submetendo o agente psi a constrangimentos físicos e emocionais, fazendo-o sentir-se tratado como uma pessoa indigna de confiança.
Quem é parapsicólogo sabe que o agente psi não apresenta o mesmo desempenho com o mesmo pesquisador nas mesmas condições experimentais. Nem tampouco pode replicar com outro pesquisador, nas mesmas condições experimentais, o desempenho que tivera com o pesquisador anterior. Não se pode medir o desempenho de um agente psi como se faz com uma reação química ou um fenômeno físico. Cada ato humano é essencialmente irrepetível por muito que se assemelhe a outro ato humano em condições semelhantes. Porque, a rigor, não existem situações iguais, por mais semelhantes que pareçam. Isto é o que os adversários da Parapsicologia não querem ou não podem entender, transformando suas suposições em evidências e certezas, esquecidos de que quem alega cabe o ônus da prova. Quando muito, eles demonstram como os fenômenos podem ser fraudados, mas não apresentam provas de que aqueles fenômenos foram produzidos mediante fraude.
Trabalhar com um ser humano não é o mesmo que trabalhar com um rato ou com a matéria bruta. O ser humano é um fenômeno extremamente complexo e não pode ser simplificado a um número limitado e às vezes arbitrário de variáveis.
Atualmente, a investigação parapsicológica tem dado uma ênfase exagerada ao método quantitativo-estatístico-matemático, trabalhando com pessoas que não apresentam manifestamente fenômenos psi. Ou seja: trabalha-se com números, esquecendo-se das pessoas. Assim, da atitude de hostilidade contra o agente psi se passou a tratá-lo como número.
Há ingredientes psicológicos no êxito de uma experiência psi. A falta de um deles pode influir parcial ou totalmente nos resultados, reduzindo a quantidade de acertos ou redundando em fracasso.
Ora, o mesmo se dará em uma experiência química: a falta de um dos elementos essenciais para a produção de determinada reação resultará necessariamente no seu malogro.
Se o clima físico favorece, dificulta ou mesmo impede a manifestação de fenôme-nos das mais diversas naturezas, o clima psicológico (e também físico) de uma experimen-tação parapsicológica tem decisiva importância em seu êxito ou fracasso. A hostilidade, o ceticismo, a ironia, a suspeição constituem elementos desfavoráveis à manifestação psi. Enquanto a amistosidade, a confiança, a empatia, a colaboração, a compreensão, a afetividade constituem elementos que favorecem a ocorrência do fenômeno. Por isso costuma-se dizer que cada pesquisador encontra sempre aquilo que procura, o que é, parcialmente, verdadeiro.
Há casos em que o fenômeno psi se manifesta apesar da má vontade do pesquisador (e a literatura paranormal apresenta vários desses casos), o qual, assim mesmo, não se convence do sucedido e se socorre das mais esdrúxulas explicações para negá-lo. Como também há casos em que o fenômeno não acontece apesar da melhor boa vontade do pesquisador. Ora, se o fenômeno psi pode se frustrar mesmo nas condições favoráveis, por que, com mais razão, não deixaria de ocorrer em condições adversas? É porque, em algumas situações, o agente psi não se encontra em boas condições físicas e/ou psicológicas para produzir o fenômeno esperado. É nessas ocasiões que ele pode ser tentado à prática da fraude, podendo até cometê-la.
Ademais, uma experiência parapsicológica não é uma experiência física, a qual se assenta em fatores determinísticos. A experiência parapsicológica é essencialmente probabilística.
Em experiência de laboratório, o êxito de um experimento quase nunca depende exclusivamente do agente psi, mas de uma parceria resultante entre ele e os pesquisadores, na construção de um ambiente propício à manifestação do fenômeno psi.
Favorecer o fenômeno não é favorecer a possibilidade da fraude. Sabe-se que, em algumas experiências do passado, a atitude inquisitorial do pesquisador ou inibiu o fenômeno ou provocou a fraude ou a sua tentativa. Pressionado, psicologicamente, a produzir o fenômeno para provar a sua paranormalidade, alguns agentes psi famosos foram induzidos, consciente ou inconscientemente, a fraudar para o gáudio do pesquisador hostil.
Por que devemos fazer experiências psi com a presença de pessoas que claramente criam obstáculos às mesmas, no caso os céticos? Esta é uma atitude tão irracional quanto aquela de se esperar a ocorrência de uma reação química, mudando as condições em que elas ocorrem. Nenhum cético teria a petulância de afirmar que só admitiria uma determinada reação química, se ela acontecesse nas condições que ele estabelecesse.
Ora, a experiência psi também tem as suas regras e até de maior complexidade do que aquelas que presidem a uma reação química. Há uma multiplicidade de fatores que influem na experiência e que variam de um agente psi para outro . Apesar disso, no entanto, já observamos a existência de regras genéricas que podem ser observadas e que facilitam a manifestação do fenômeno. São as estas regras que os céticos não querem se submeter.
A Dra. Gertrude Schmeidler estabeleceu uma lúcida divisão entre pessoas propensas ou refratárias à experiência psi, denominando as primeiras de carneiros e as últimas de bodes. Na Índia, B. K. Kanthamani e K. Ramakrishna Rao fizeram um estudo sobre esses tipos de pessoas e chegaram ao seguinte resultado sobre as suas características psicológicas. As pessoas propensas a obter resultados positivos em experiências psi eram afetuosas, sociáveis, calmas, autoconfiantes, persistentes, loquazes, joviais, vivazes, impulsivas, emocionais, despreocupadas, realísticas, práticas, relaxadas e tranqüilas. As pessoas propensas a obter resultados negativos eram tensas, excitáveis, frustradas, questionadoras, impacientes, dependentes, sensíveis, tímidas, sensíveis a ameaça, retraídas, submissas, desconfiadas, tendentes à depressão.
Estes testes também deveriam ser aplicados aos pesquisadores, afastando das experiência psi aqueles que demonstrassem pertencer à categoria dos bodes, ou seja, propensos a influir no resultado negativo dos experimentos. Cuidamos, assim, de determinar as características psicológicas do agente psi e descuidamos das do pesquisador.
Podemos então teorizar que se colocássemos, num experimento, um pesquisado bode com um pesquisador bode a possibilidade de manifestação da psi seria praticamente nula, o que reforçaria a crença dos dois parceiros de que a psi não existe.
Se, ao contrário, colocássemos, noutro experimento, um pesquisado carneiro com um pesquisador carneiro a possibilidade de ocorrer a manifestação psi seria muito alto, o que reforçaria a crença dos dois parceiros na realidade da psi.
Finalmente, se reunirmos num experimento psi um pesquisador bode com um pesquisado carneiro, a manifestação psi seria afetada pelo desempenho do primeiro, podendo até abalar seriamente a crença do último em sua aptidão parapsicológica.
Poderíamos ainda lembrar que uma experiência psi entre um pesquisador carneiro e um pesquisado bode alcançaria o mesmo resultado, pois a crença do pesquisador na realidade da psi de modo algum influiria na crença do pesquisado de que a psi não existe.
Efeito do experimentador
O efeito do experimentador pode ter conseqüências não apenas psicológicas, mas também parapsicológicas, nas pesquisas com um agente psi.
As conseqüências psicológicas já são bem conhecidas. A atitude de hostilidade, de ceticismo, o tratamento desdenhoso e antipático podem causar inibição no agente psi, diminuindo a intensidade dos fenômenos, ou, como acontece na maioria dos casos, impedindo a sua manifestação. Além disso, o experimentador sedento de observar o fenômeno, pode coagir psicologicamente o agente psi a produzi-lo ou sentir-se na obrigação de provar que ele é capaz de fazê-lo sempre que for solicitado.
Há parapsicólogos que lidam com o agente psi como se fosse um mero objeto de pesquisa, um rato de laboratório, uma pessoa suspeita e, quando muito, o tratam com artificial cortesia. Consciente ou inconscientemente, tudo fazem para dificultar a produção do fenômeno e, paradoxalmente, se sentem contrariados quando realizam este propósito.
Contrariamente, a atitude compreensiva, afetuosa e estimulante do pesquisador pode, muitas vezes, favorecer o fenômeno, porque cria uma relação de confiança participativa entre ele e o agente psi.
Estas mesmas condições psicológicas podem gerar, por sua vez, conseqüências parapsicológicas. Desta vez, porém, é a mente do experimentador que pode influir diretamente sobre o fenômeno, diminuindo ou aumentando a sua intensidade.
O ideal seria o experimentador manter uma atitude neutra o que, na verdade, é extremamente difícil. Mesmo que, a nível consciente, ele procure sempre adotar esta atitude, a nível inconsciente ele poderá estar influindo, segundo suas expectativas, na manifestação do fenômeno.
Metapsiquistas, como César Lombroso, já admitiam que o pensamento dos assistentes exerce certa influência sobre os fenômenos.
Charles Honorton demonstrou que os efeitos psicocinéticos produzidos nos geradores de números aleatórios eram devidos mais a ele mesmo do que às pessoas por ele pesquisadas. Observou que elas só produziam fenômenos quando ele se encontrava presente, mas que o mesmo não acontecia na sua ausência, quando aquelas pessoas eram testadas por outro pesquisador.
Charles Honorton e Helmudt Schmidt, o inventor de um gerador aleatório de números, observaram que obtiam bons resultados quando realizavam experimentos com eles próprios.
A pesquisa, mais do que neutra e fria observação, é, principalmente, afetiva e confiante participação. O efeito que se espera de um experimento físico não é o mesmo de um experimento com um ser humano. As condições são fundamentalmente diferentes. Se um químico emprega todas as condições para produzir uma determinada reação química, o mesmo deve fazer um parapsicólogo para conseguir do agente psi o fenômeno desejado. O cético, além de deliberadamente não atender essas regras, espera absurdamente que o fenômeno paranormal ocorra à revelia das mesmas. Ora, se ele empregar este mesmo método em experimento químico, por certo jamais obterá o resultado desejado.
Indução experimental
O psicólogo britânico Kenneth Batcheldor fundou, em 1966, na Inglaterra, um grupo que se propunha a investigar os efeitos “massivos” de psicocinese. Para isso, os componentes do grupo se sentavam ao redor de uma mesa de madeira, colocavam as mãos sobre ela, e se comportavam como se estivessem numa sessão espírita. Eles queriam demonstrar que a mesa se moveria como conseqüência da influência da mente sobre a matéria e não em razão da intervenção de espíritos. Afirma-se que os resultados foram espantosos e, no decorrer dos anos, mesas de vários tamanhos moveram-se e levitaram.
Eles observaram que, para induzir fenômenos de psi-kapa, era necessária a observância de certas condições, como a forte crença na possibilidade do sucesso da experiência, pois constataram que o ceticismo inibia a manifestação paranormal. Assim, em algumas ocasiões, o grupo começava a rir, a cantar e conversar animadamente, para evitar pensamentos negativos.
Quando, a despeito de tudo isso, nada acontecia, Batcheldor simulava propositadamente um fenômeno de psi-kapa. Este procedimento psicológico de indução, que ele denominou de “indução de artefato” produziu resultados positivos e foram obtidas algumas telecinesias genuínas.
O grupo observou, ainda, que o desenvolvimento de uma mente grupal resultava na obtenção dos melhores resultados com o mínimo de esforço. No entanto, sempre que se introduzia alguma forma de controle ou teste, o efeito diminuía ou até mesmo desaparecia.
Segundo Lyall Watson, Batcheldor e o seu grupo “foram capazes de provocar a levitação de mesas pesadas, e até de um piano, sem tocá-los sequer.”
A simulação, como um sucedâneo da realidade, é, hoje, bastante empregada em jogos de computadores para treinamento de pessoas. A realidade virtual constitui uma forma de condicionar indivíduos para, um dia, enfrentar, com eficiência, um fato real análogo. O como se pode transforma-se numa atitude de extrema confiança para a realização daquilo que se pretende alcançar.
Cremos não ser necessário “ajudar” o fenômeno, simulando-o sem que ninguém o saiba. Tudo pode ser feito com o conhecimento dos participantes da experiência. Neste caso, todos deverão simular conscientemente o fenômeno desejado até que se crie a emoção e o envolvimento necessários à sua realização.
Em 1972, vários membros da Toronto Society for Psychical Research, no Canadá, liderado pelo físico George Owen e sua esposa Iris, decidiu repetir a experiência de Batcheldor e, seguindo o seu modelo, criou um fantasma, denominado “Philip”, inventando para ele uma história completa com detalhes pessoais, nomes de contemporâneos, uma esposa e até uma amante. “Philip” teria vivido durante a época de Oliver Cromwell, no solar Didington e, a fim de dar maior realismo à história, Owen usou uma casa que ainda existe e mostrou fotografias dela para estimular o grupo.
Convencionou-se também um código de comunicação, mediante o qual “Philip” revelava sua presença dando uma batida para “sim” e duas para “não”. No curso das experiências, ele não só respondeu a perguntas sobre sua vida fictícia, mas também corrigiu certas informações errôneas, dadas pelo grupo, sobre um dos dignitários da corte daquela época.
Depois de um certo tempo, “Philip” começou a produzir autênticos fenômenos de telecinesia.
De modo exatamente contrário dos grupos britânico e canadense procedem os céticos, que por má fé, ignorância ou preconceito criam situações que inviabilizam a manifestação dos fenômenos parapsicológicos, mediante desafios, oferta de prêmios, suspeições e todos os tipos de coação psicológica que desestabilizam o agente psi.
Parceria
A pesquisa, em Parapsicologia, é fundamentalmente uma parceria entre o parapsicólogo e o agente psi, visando criar as condições favoráveis para a manifestação do fenômeno. As leis gerais para o êxito desse experimento já são conhecidas. E a crença na realidade da psi é uma das condições mais importantes para a sua manifestação.
É preciso que se reconheça que essa parceria varia de resultados com a troca de parceiros. Ou seja: o resultado obtido por um pesquisador com um agente psi jamais será idêntico ao obtido com outro pesquisador. Logo, a repetibilidade do fenômeno poderá ser qualitativa, jamais quantitativa. Porque, em sua essência, o fenômeno psi é a resultante de uma relação interpessoal entre o pesquisador e o agente psi. Não é uma relação pessoa-coisa, mas uma relação pessoa-pessoa. É a relação positiva entre o pesquisador e o agente psi que determina a exuberância da manifestação parapsicológica. Quanto mais essa relação for de afeto e simpatia, maiores as probabilidades do êxito da experiência. Antes, o pesquisador não queria assumir riscos e por isso se distanciava do agente psi, mantendo uma atitude de reserva e até mesmo de hostilidade. Assim, o êxito das experiências era de responsabilidade exclusiva do agente psi. Se houvesse fracasso, a culpa seria deste, jamais do pesquisador, que se julgava e se comportava como elemento neutro na experiência, quando, na verdade, na maioria das vezes, funcionava como um fator inibidor do fenômeno.
Um dos mais belos exemplos de parceria psi aconteceu entre o parapsicólogo Willem Tenhaeff e o agente psi Gerard Croiset, com resultados significativos na utilização do método qualitativo. Por isso, Croiset recusou o convite de J. B. Rhine para ser testado em seu laboratório, alegando que não sabia relacionar-se com as cartas do baralho Zener, mas, sim, com pessoas. Uma demonstração inequívoca de quem conhece o seu estilo psi e não se permite contrariá-lo para atender aos caprichos metodológicos de outro pesquisador, por mais qualificado que ele seja.
Na verdade, é muito fácil inibir o agente psi: qualquer pessoa pode fazê-lo, principalmente aquelas que são céticas ou mesmo hostis em relação à paranormalidade. Tais pessoas jamais deveriam ser admitidas em uma pesquisa, porque, além de não serem parapsicólogas e, portanto não qualificadas para isso, ainda são fatores que podem impedir a manifestação do fenômeno psi.
A atitude hostil e/ou cética do pesquisador influi poderosamente sobre o desempe-nho do agente psi e, assim, de tanto querer provar que o fenômeno inexiste ou ansiosamente evitar a possibilidade de fraude, ele cria condições que impedem a manifestação do referido fenômeno.
A paranormalidade, se ainda não é um fato é, no mínimo, uma hipótese respeitável que deve ser investigada de maneira mais ampla e audaciosa. A utilização do baralho Zener já teve a sua época de ouro e seu inquestionável papel e valor para dar à Parapsicologia o seu status de ciência. É a hora de se retornar ao método qualitativo, à pesquisa com as pessoas verdadeiramente dotadas de aptidão paranormal e promover um melhor e mais profundo relacionamento entre os parapsicólogos e os agentes psi.
O baralho Zener pode pobremente constatar que uma pessoa é dotada de um talento paranormal, mas em nada pode ajudá-la a se familiarizar com esta sua aptidão, conhecer as peculiaridades e as condições que favorecem ou dificultam a sua manifestação e, principalmente, o que fazer com a sua paranormalidade.
Paradoxalmente, certos pesquisadores, para investigar a paranormalidade do agente psi, se esmeram em criar os mais diversos artifícios e estratégias, os quais redundam, em alguns casos, no impedimento da manifestação do fenômeno. A sua obsessão pela fraude é tão grande ou a sua hostilidade é tão míope e, até às vezes, cega, que eles, ao lançar fora a água da banheira também o faz com a criança que nela se encontra. E, depois, ingênua ou hipocritamente, alegam não ter encontrado a criança na banheira.
Para se pesquisar a paranormalidade de alguém, é preciso descobrir as condições que favorecem a sua manifestação e todo trabalho de pesquisa consistirá em proporcionar ao agente psi um treinamento adequado para ele se familiarizar com as características de sua aptidão e criar condicionamentos que facilitem o seu exercício. É preciso ajudar o agente psi a administrar a sua paranormalidade e não criar empecilhos que o dificultem exercitar o seu talento. É como se alguém quisesse treinar um atleta inventando dificuldades para o seu condicionamento corporal. Tal procedimento seria uma arrematada tolice e é isto justamente o que fazem estes parapsicólogos pesquisadores que mais parecem leigos tal o desconhecimento que demonstram dos fatores psicológicos que influem na pesquisa.
A investigação centrada no Agente Psi
É preciso, portanto, mudar esse estado de coisas e dar um enfoque diferente na investigação parapsicológica. Propomos, assim, a criação de uma nova abordagem da fenomenologia psi com o nome de Investigação Centrada no Agente Psi. Essa nova estratégia experimental proclama a necessidade de preparar o parapsicólogo e o agente psi para o enfrentamento do fenômeno parapsicológico, estabelecendo que o êxito da investigação parapsicológica decorre de uma parceria entre ambos.
No passado, como já vimos, o pesquisador criava todas as condições psicológicas contrárias à manifestação do fenômeno e este, em alguns casos acontecia, apesar de todas as dificuldades. Agora, o pesquisador deve colaborar na manifestação do fenômeno, ajudando psicologicamente o agente psi a produzi-lo. É preciso que o parapsicólogo se conscientize de que a motivação do agente psi é um dos fatores mais importantes – talvez o mais importante – para o êxito do experimento.
Com a estratégia da Parapsicologia centrada no agente psi, podemos reverter esse quadro, principalmente com fundamento no chamado “efeito do experimentador”. O parapsicólogo se reconhece como participante e não mero observador do fenômeno psi, consciente de que o seu comportamento poderá influir no êxito ou no fracasso da experiência.
É de fundamental importância que o parapsicólogo aceite o fenômeno psi e nele invista todo o seu entusiasmo, motivando sinceramente o agente psi a produzi-lo. É importante que o parapsicólogo confie no agente psi e que este confie naquele e que ambos acreditem que o fenômeno possa ser produzido em razão de sua parceria. O agente psi confiando na competência do parapsicólogo e o parapsicólogo, na aptidão psi do agente psi. Melhor, ainda, se parapsicólogo já tenha passado por uma experiência psi, pois está convicto da realidade e do significado do fenômeno psi. Aliás, Gertrude Schmeidler constatou experimentalmente que as pessoas que acreditavam no fenômeno psi obtinha melhores resultados nos testes parapsicológicos do que aquelas que não acreditavam.
Tem razão o Dr. Naum Kreiman, quando enfatiza a necessidade do treinamento do pesquisador parapsicológico, tal como acontece com o médico e com o psicanalista que, durante anos de aprendizado, se preparam para lidar com os seus pacientes. Com base nessa observação, podemos concluir que como o médico e o psicanalista são treinados para ajudar os seus pacientes a resolver seus problemas orgânicos e psicológicos, o parapsicólogo também deve ser treinado para ajudar o agente psi a lidar com os seus fenômenos psi.
A metodologia parapsicológica deve residir na observação controlada do fenômeno psi e no registro de como cada agente psi se comporta na produção do mesmo. Por isso, é mister que se faça uma entrevista prévia com o agente psi, a qual se repetirá a cada sessão experimental. Isso fará com que ele se torne cada vez mais consciente de sua aptidão e das condições em que o fenômeno se produz. E o pesquisador, por sua vez, se enriquecerá com uma compreensão cada vez maior do fenômeno, a qual se ampliará se tiver a felicidade de realizar parcerias com outros agentes psi.
Seja nos experimentos de escolhas livres, seja nos experimentos de escolhas forçadas, o parapsicólogo deve sempre manter o agente psi no mais alto grau possível de motivação. Mesmo que alguns resultados não sejam satisfatórios, o parapsicólogo deve incentivá-lo a confiar no seu talento psi, fazendo-o conscientizar-se de que o fenômeno é caprichoso, instável e independente da volição consciente. E mais ainda: que a observância das condições favoráveis à gênese do fenômeno aumenta as chances de sua manifestação, mas não a determinam. Conhecendo o estilo fenomenológico do agente psi, o pesquisador não vai direcionar a pesquisa para fenômenos que ele não está habituado a produzir.
A relação entre parapsicólogo e agente psi deve ser fundamentada na confiança recíproca. A confiança do parapsicólogo na sinceridade do agente psi e a confiança deste na competência do parapsicólogo. Não mais a velha atitude de desconfiança do parapsicólogo em relação ao agente psi, na expectativa – às vezes paranóica – de que ele estaria fraudando ou poderá fraudar. Nem a compulsão do agente psi de demonstrar, em qualquer circunstância, a sua aptidão psi, o que, em alguns casos, levou alguns deles à prática consciente ou inconsciente da fraude.
É claro que a confiança recíproca não exclui as necessárias medidas de segurança na experimentação em laboratório. Porém, fica evidentemente claro para o agente psi que não se trata de suspeição à sua pessoa, mas de garantia de credibilidade da experiência.
Já havíamos advertido que nem todos os agentes psi famosos fraudaram e o que fraudaram nem sempre o fizeram todas as vezes, pois se fraudassem sempre não seria agente psi.
De agora em diante, o agente psi não se submeterá a reptos e nem se deixará pesquisar por leigos ou pessoas céticas, preconceituosas, pois são incompetentes para lidar com o fenômeno, ainda que sejam cientistas, mas não parapsicólogos. Seria o mesmo que se admitir que alguém, com problemas orgânicos, fosse orientado por um físico ou, apresentando distúrbios psicológicos se dirigisse a um botânico. Só um parapsicólogo de formação tem competência para investigar fenômenos paranormais e prestar a assistência necessária ao agente psi.
Se o parapsicólogo deve ser treinado para lidar com questões parapsicológicas, o agente psi deve ser conscientizado de que, enganando o parapsicólogo, ele estará, na realidade, enganando a si mesmo. É como se um paciente procurasse enganar ao seu médico, alegando doenças imaginárias ou camuflando sintomas, o que resultaria em prejuízo financeiro ou de saúde para ele próprio.
Está na hora de voltarmos a trabalhar com agentes psi por mais raros que eles sejam. Poucos parapsicólogos terão essa sorte. Mas, paciência! Estamos lidando com um talento especial e que pouquíssimas pessoas o possuem em grau significativo. William James encontrou o seu “cisne branco” na pessoa de Eleonore Piper. E Richard Hodgson, então cético, confirmou essa descoberta. Franek Kluski deslumbrou o experiente pesquisador Gustave Geley. William Crookes se convenceu da aptidão psi de Daniel Dunglas Home. E Rudy Schneider, severamente investigado por Harry Price, comprovou a autenticidade dos fenômenos que produzia.
Teste da cadeira ocupada -TCO
Foi em virtude da nossa preocupação com a humanização da pesquisa parapsicológica que concebemos o teste da cadeira ocupada – TCO -, inspirado na experiência da cadeira vazia, inventado por Willem Tenhaeff para testar experimentalmente a aptidão psi de Gerard Croiset. Tratava-se de uma experiência de precognição, utilizando-se o método qualitativo, mediante a qual Croiset descrevia a pessoa que, em determinado dia, se sentaria em determinada cadeira, em um determinado ambiente. O número das cadeiras do teste era selecionado aleatoriamente e nenhuma delas era reservada. O primeiro experimento ocorreu em Amsterdam, Holanda, em outubro de 1947, na Sociedade Holandesa de Pesquisas Psíquicas. Os resultados foram impressionantes e novos experimentos realizados obtiveram igual êxito. Croiset foi também testado na Alemanha, Itália, Áustria e Inglaterra, repetindo o mesmo sucesso. E, em 1961, o Prof. Tenhaeff publicou uma compacta coleção destes testes no livro “Precognição”.
Diferentemente da cadeira vazia, o TCO é uma experiência de telepatia e clarividência e que utiliza o método quantitativo-estatístico-matemático, substituindo as cinco figuras do baralho Zener por cinco pessoas.
A experiência consta de 25 tentativas. Cada pessoa, designada de pessoa-alvo, corresponde a uma carta do baralho Zener, e se senta em uma cadeira à medida que sua carta é retirada do baralho. O teste consiste na tentativa do percipiente de identificar, sucessivamente, a pessoa que se encontra sentada na cadeira a cada seleção.
As pessoas-alvo são, geralmente, conhecidas do percipiente o qual, se quiser, poderá, previamente, indicar com qual delas parece afinar-se melhor.
O percipiente fica confinado em outro aposento, à porta fechada, e é informado por um sinal luminoso, que o experimento começou e que a cadeira já se encontra ocupada por uma das cinco pessoas. Em seguida, aciona o sinal luminoso, comunicando ao experimentador que já escreveu, no papel do teste, o nome da pessoa que imagina estar sentada na cadeira. Este procedimento se repete até perfazer o total de vinte e cinco tentativas.
Nesse teste, não há preocupação de se estabelecer distinção entre telepatia e clarividência, admitindo-se a possibilidade de convergência dos dois fenômenos.
A sua grande vantagem consiste na substituição de símbolos, emocionalmente inertes, por pessoas, o que, possivelmente, influirá na motivação do experimento e nos seus resultados.
Duas abordagens estatísticas distintas resultam do experimento:
- o índice de acerto do total das vinte e cinco tentativas;
- o índice de acerto em relação a cada pessoa-alvo.
Nesse experimento, o efeito de declínio é minimizado, embora devamos observar o efeito de deslocamento, principalmente em relação à pessoa preferida pelo percipiente.
Por outro lado, não há o inconveniente da semelhança topológica, observada por Ronaldo Dantas, na sua crítica bem fundamentada ao baralho Zener.
O alvo humano não tem a frieza e a artificialidade dos símbolos das cartas Zener. Pelo contrário, é um alvo que interage com o percipiente e colabora com o seu esforço de adivinhação, principalmente se agente e percipiente estiverem ligados por fortes laços afetivos. O ponto forte do experimento é o seu envolvimento emocional e ausência de neutralidade. É a criação de uma situação humana real em laboratório e não um seu sucedâneo artificial nem sempre bem sucedido. Essa artificialidade foi a razão pela qual Gerard Croiset se recusou a participar de experiências com baralho Zener, quando convidado por J. B. Rhine. Segundo o seu biógrafo Jack Harrison Pollack, ele teria assim formulado a sua recusa:
“I respect your work very much, Dr, Rhine. But I do not like just to guess cards. I have to be emotionally involved in a case like that a missing child or somebody in trouble”.
O experimento pode ser feito com cinco pessoas conhecidas do percipiente, com cinco pessoas desconhecidas, porém apresentadas a ele antes do experimento e ainda com a mistura de pessoas conhecidas e desconhecidas. Assim, é possível avaliar se o percipiente obtém ou não melhor resultado com pessoas conhecidas do que com pessoas que apenas conheceu momentos antes da experiência.
Observamos um outro efeito do TCO. Por que o percipiente escolhe mais certas pessoas-alvos do que outras, mesmo que essa preferência não se reflita significativamente nos acertos? Será que essas pessoas-alvos influenciam mais o percipiente do que as outras. Ou será essa influência de natureza meramente psicológica?
Já iniciamos o TCO e esperamos publicar os resultados do experimento no próximo Anuário Brasileiro de Parapsicologia.
BIBLIOGRAFIA
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