O projeto de fundar uma ciência do homem, uma Antropologia, é muito recente(século XVIII). Esse projeto consiste no reconhecimento, conhecimento, juntamente com a compreensão de uma humanidade plural.
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Fundadores da Etnografia — Franz Boas e Bronistaw Malinowski.
Primeiros teóricos da Antropologia — Emile Durkheim e Marcel Mauss.
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Etnografia — é a coleta direta, e o mais minucioso possível dos fenômenos que observamos.
Etnologia — consiste em um primeiro nível de abstração: analisando os materiais colhidos, fazendo aparecer a lógica específica da sociedade que se estuda.
Antropologia — consiste em um segundo nível de inteligibilidade: construir modelos que permitam comparar as sociedades entre si. Como escreveu Lévi-Strauss, “seu objetivo é alcançar, além da imagem consciente e sempre diferente que os homens formam do se devir, um inventário das possibilidades inconscientes, que não existem em número limitado”.
(François Laplantine. Aprender Antropologia)
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Antropologia — é o estudo das culturas da humanidade como um todo em suas diversidades históricas e geográficas. Consiste, portanto, no reconhecimento, conhecimento, juntamente com a compreensão de uma humanidade plural. Busca interpretações, estudando um código de símbolos partilhados pelos membros dessa cultura.
Cultura — ela abrange tudo o que o homem criou, tanto no campo das idéias como em termos de objetos e tecnologia, é um processo cumulativo e transmissível e que cada membro da sociedade recebe como herança. Este processo só se dá graças à capacidade do homem de inventar e decifrar símbolos, podendo criar sistemas lingüísticos e através deles passar adiante tudo o que aprendeu.
A cultura, pois, não somente nos envolve, mas nos penetra modelando a nossa atitude, a nossa personalidade, a nossa maneira de pensar, sentir e agir. As estruturas da sociedade tornam-se assim as estruturas do nosso próprio ser.
(Roque de Barros Laraia. Cultura um conceito antropológico).
Para Claude Lévi-Strauss, o mais destacado antropólogo francês, a cultura surgiu no momento em que o homem convencionou a primeira regra, a primeira norma. Para ele, esta seria a proibição do incesto, padrão de comportamento comum a todas as sociedades humanas. Todas estas proíbem a relação sexual de um homem com certas categorias.
A constituição inata genérica do homem moderno parece ser um produto tanto biológico quanto social e cultural, pelo fato de ser provavelmente mais correto pensar em muito da nossa estrutura como resultante da cultura em vez de pensar nos homens descobrindo lentamente a cultura.
Não é aconselhável a forma padronizada de tratar em série os parâmetros biológicos, social e cultural, sendo o primeiro tomado como anterior ao segundo, e o segundo como anterior ao terceiro. Esses níveis devem ser vistos como interrelacionados reciprocamente, e considerados em conjunto.
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(Clifford Geertz. A interpretação das culturas).
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Obs: Vide conceitos básicos de Antropologia (aculturação, relativismo cultural, identidade, endoculturação, reciprocidade, “etnos” e visão de mundo.
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Aspectos antropológicos da paranormalidade
Nos relatos de todas as culturas humanas encontramos registros de inúmeras proezas (dons “sobrenaturais”, da “adivinhação”, da ‘cura”) atribuídas a feiticeiros, oráculos, xamãs, profetas, santos etc., que indicam uma faculdade de conhecimentos parapsicológicos.
Aliás, deve-se registrar que esses trabalhos de pesquisas antropológicas, através de comprovações bem documentadas, mostram-nos que a função psi, em determinadas culturas é muito mais desenvolvida pelo simples fato de que nelas essas capacidades não são considerada ilógicas e irreais.
Vários pesquisadores penetraram no universo cultural de povos ditos primitivos e, no convívio de longos anos, abstraíram dados relevantes que versavam sobre ritos e purificação, as forças mágicas, a arte dos adivinhos e sonhos precognitivos, fornecendo-nos preciosidades para uma analogia entre os fenômenos parapsicológicos e o ambiente cultural.
Na época contemporânea, surgem novos registros de casos que continuam a intrigar os pesquisadores. Trata-se de experiências que nos desafiam, sobretudo, porque alguns, quando rigorosamente investigados, não encontram explicações à luz dos conhecimentos convencionais.
Foram realizadas várias experiências científicas entre os aborígines australianos; os chafres na África do Sul; os maories na Nova Zelândia, com resultados valiosíssimos, provando a comunicação de seus poderes psigâmicos (telepatia e clarividência).
Mediante tal constatação, considera-se que dados antropológicos obtidos através de pesquisa participante são de valor incalculável para a Parapsicologia, porque tais informações jamais seriam obtidas através de experimentos efetuados em laboratórios.
Valter Rosa Borges, no seu livro Parapsicologia: Um novo modelo (1986), sugere que “no propósito de estreitar as relações entre a Parapsicologia e a Antropologia seria de todo recomendável que se treinasse médiuns para estabelecer contatos paranormais com indivíduos de comunidades atrasadas como técnica alternativa de pesquisa na compreensão cada vez maior da chamada “mente primitiva”. O médium, devidamente habilitado, poderia imergir no inconsciente coletivo de determinado grupo étnico, vivenciando, intimamente, os seus costumes, práticas e crenças e apreendendo a origem de suas posturas mágicas e conhecimentos empíricos. Tal estratégia de pesquisa poderá — quem sabe? — evitar o inconveniente do conhecido fenômeno de “bias”, que distorce a apreensão dos processos sociais de uma dada cultura” (Borges, 1986).
Supomos, ainda, que um agente psi confiável poderia revisitar a história e obter dados que pudessem melhor esclarecer os fatos históricos, como também através de vislumbres precognitivos poderia prever tragédias e, possivelmente, evitá-las, ou descobrir as estratégias do inimigo, quando em conflito. (Durante a segunda grande guerra, a então União Soviética utilizou agente psi, com a finalidade de localizar as posições inimigas, tendo obtido alguns resultados significativos)
É oportuno citarmos alguns fatos históricos significativos:
O famoso clarividente Edgar Cayce, de Praga, antiga Tchecoslováquia, em estado alterado de consciência podia ter acesso ao passado. Em algumas ocasiões, deitando-se num divã, em sua casa, ditava vários fatos históricos da humanidade, desconhecidos até então, e que, após confirmados, deixavam surpresos os estudiosos, pela riqueza dos detalhes. Por exemplo, ele citou o local com precisão e, minuciosamente, ressaltou o papel histórico da comunidade essênia em Qumran, onze anos antes da descoberta dos manuscritos do Mar Morto (nas cavernas do alto Qumran) confirmarem suas declarações.
O antropólogo Carlos Castaneda, interessado em estudar os usos das plantas alucinógenas por certos povos indígenas do México, para uma tese de mestrado na Universidade da Califórnia, obteve informações de uma dimensão desconhecida da realidade, revelados por um bruxo Dom Juan, um mundo de realidade paranormal, completamente além dos conceitos da civilização ocidental.
Na Roma antiga, a vidente Spurina que se celebrizou com as previsões, previu, com antecedência a morte de César e em quais circunstâncias ocorreria.
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Em conseqüência da aculturação dos nossos índios, cujo rumo se norteou à influência da cultura ocidental, as práticas xamânicas tradicionais foram suplantadas pelas da medicina ocidental. Todavia, lhes foi “concedido” o direito de poder escolher entre os dois sistemas. Em contrapartida os brancos têm se utilizado, em várias ocasiões, das vias tradicionais xamânicas. Cientistas, de diferentes nacionalidades, por diversas vezes estiveram no Amazonas com a finalidade de melhor compreender os tratamentos realizados por nossos índios, à base de plantas e catalogá-las para o seu uso em laboratórios. Um outro objetivo era compreender por que certos tratamento terapêuticos, por eles utilizados, obtinham resultados satisfatórios de recuperação e/ou curas.
Através dos rituais xamânicos de cura, com seus oficiantes (pajés) em estado alterado de consciência, utilizando a purificação pela água, chás, o uso de diversificados apetrechos, sempre acompanhados dos tradicionais cantos sagrados, obtêm resultados que deixam surpreendidos os estudiosos da área de saúde.
Em algumas Universidades do mundo, já estão sendo desenvolvidos tratamentos de saúde com uma equipe multidisciplinar, composta por Psiquiatras, Psicólogos e Antropólogos (Etnopsiquiatria e Etnopsicologia), que têm conciliado com bastante êxito, em determinados casos, a utilização das duas terapias: a terapia médica e a terapia xamânica tradicional.
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A história apresenta vários exemplos de pessoas que se livraram de acidentes e outras tragédias, após darem crédito aos seus vislumbres precognitivos, sugerindo, portanto, que, em alguns estados alterados de consciência, a experiência de tempo foge ao modelo convencional.
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A cultura fortalece as convicções das pessoas. E essas convicções são admitidas como padrão. Logo, em qualquer sociedade, existem preceitos que agem promovendo determinadas crenças. Trata-se de uma questão psicológica com a sua equivalência sociológica.
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Sugestão para leitura
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– Os ensinamentos de Dom Juan. Carlos Castaneda..
– Deus, Espírito e Magia num contexto africano. Josef A. Graf.
– Êxtase religioso. Ioan M. Lewis.
– O xamanismo e as técnicas arcaicas do êxtase. Mircea Eliade.
– Antropologia Estrutura. Lévi -Strauss.
– A arte dos pajés. Orlando Vilas Boas.
– Paranormalidade e Cultura. Erivam Felix.
– A feitiçaria: aspectos psigâmicos de um problema sociocultural. Erivam Felix.
– Sociologia da Cultura. Karl Mannheim.