Sonhos proféticos

Terezinha Acioli Lins

 

PROFETA E PROFECIA

 

É temática polêmica, nos dias atuais, a que se refere a profeta e profecia. Ganha espaço o Apocalipse e suas profecias. O povo repete de maneira enfática: “O mundo não chegará ao ano 2000”. E as previsões do Fim do Mundo” conseguiram adeptos entre profetas, místicos, cientistas que divulgaram as suas idéias e pesquisaram sobre o assunto. Esse estado eufórico, conhecido como “síndrome do milênio” contagiou a todos, baseando-se, principalmente na previsão do astrólogo e médico francês Nostradamus, em uma das quadras das centúrias e que se costuma atribuir ao fim do mundo. Por toda a parte, espalhou-se a ideia de que esse final teria data marcada para 11 de agosto de 1999, por ocasião da passagem do último eclipse total do Sol deste século.

E esse fascinante e complexo tema do Apocalipse, com a profecia do final dos tempos, já está viajando via Internet, sendo discussão constante de religiosos, fanáticos, cépticos, pesquisadores e até leigos. Não faltaram seitas que se prepararam para tão esperado momento, apresentando rituais, entremeados de cânticos e orações. (1)

O termo profecia (do latim prophetiam) é o mesmo que metagnomia profética, pré-conhecimento, premonição, precognição, presciência, previsão.

E profeta (do latim prophetam) é aquele que possui o dom paranormal da presciência, do conhecimento do futuro.

No sentido evangélico, o vocábulo profeta tem mais extensa significação. Diz-se de todo enviado de Deus com a missão de instruir os homens e de lhes revelar as coisas ocultas e os mistérios da vida transcendental. Pode um homem, pois, ser profeta, sem fazer predições. Aquela era a ideia dos judeus, ao tempo de Jesus. Daí, o fato de que, quando o levaram à presença do sumo sacerdote Caifás, os escribas e os Anciães, reunidos lhe cuspiram no rosto, deram-lhes socos e bofetadas, dizendo: “Cristo, profetiza para nós e dizem quem foi que te bateu”. Entretanto, deu-se o caso de haver profetas que tiveram a presciência do futuro, quer por intuição, quer por providencial revelação, a fim de transmitirem avisos aos homens. Tendo-se realizado os acontecimentos preditos, o Dom de predizer o futuro foi considerado como um dos atributos da qualidade de profeta.

Entre os hebreus, de acordo com os estudiosos, havia duas espécies de profetas: os nebriim, que eram os profetas propriamente ditos, ou seja, aqueles cuja missão era a de instruir os homens no conhecimento religioso, e os rôim, isto é, aqueles que tinham o dom da presciência.

Em suma, no sentido bíblico, profeta é líder religioso de Israel, sobretudo na época dos reis e do cativeiro da Babilônia.

Houve dois grupos de profetas: maiores e menores. Os maiores são Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. Os menores são: Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Eram reformadores e purificadores dos costumes do povo e grande parte de seus ensinamentos consiste em interpretar o sentido religiosos da História. Progressivamente interiorizavam a religião, até alcançar a doutrina de Jesus. É o que se depreende, principalmente, de Isaías e Ezequiel.

Fora do Cristianismo, destaca-se a figura de Maomé, como sendo o último dos profetas, na ordem cronológica.

 

HISTÓRICO

 

Em todas as épocas e em todos os povos, acreditou-se na adivinhação do futuro.

Toda a história de Israel, conforme a narrativa do Velho Testamento, está tão ligada ao espírito dos profetas que os casos narrados são numerosos demais para serem citados. Dezoito dos trinta e nove livros do Antigo Testamento são conhecidos pelo subtítulo “O Livro do Profeta”.  Realmente, há pouquíssimos momentos na história de Israel que não comecem com as palavras: “E o Senhor falou através de seus servos, os profetas, dizendo…” e não terminam com: “… e assim foi.”

Em I Reis, é sabido que a rainha Jezebel mantinha nada menos que 850 profetas à sua mesa, enquanto o rei Davi escolheu, como profetas oficiais da corte, Gad e Natan. No Êxodo, Moisés é servido por um profeta, seu irmão Aarão, através do qual Deus advertiu o Faraó sobre as Sete Pragas que Ele iria enviar ao Egito, caso os filhos de Israel não fossem libertados de sua escravidão.

É o Gênesis que proporciona, talvez, o exemplo mais claro dos tempos bíblicos dos reis e, certamente um dos mais citados hoje, quando se aborda a precognição: o de José e seus sonhos. José que atribuía seu dom à providência divina, como outros profetas de Israel, interpretou com exatidão o simbolismo dos sonhos do Faraó (as sete vacas gordas, devoradas por sete vacas magras, as sete espigas de milho boas devoradas por sete espigas de milho ruins), predizendo que sete anos de fome se seguiriam a sete anos de abundância.

Com sua previsão, José salvou da ruína o reino do Faraó e obteve, junto à família, uma posição de grande poder e influência como havia previsto (em sonhos) tidos na infância, quando junto à família.

Ouvi, peço-vos, este sonho que tenho sonhado: eis que estávamos juntando feixes no campo e meu feixe elevou-se e manteve-se ereto, e vossos feixes se puseram em torno e prestaram obediência ao meu.(Gênesis 37:6, 7)”

Foi para evitar que isso acontecesse que os irmãos de José, enciumados, venderam-no à escravidão do Egito, um gesto que, mais tarde os levou ao destino ao qual haviam pretendido escapar. (2)

Na Antigüidade Clássica, destaca-se o caso de Sócrates. Ele se dizia acompanhado de um intermediário entre Deus e o homem: “oráculo familiar dentro de mim” ou voz interior, a que, cientificamente, chamamos telepatia, clarividência, precognição. Freqüentemente, em público, ele parava, ouvia, e obedecia à voz ou transmitia seus avisos. Certa vez o oráculo interno instou para que Sócrates avisasse o jovem Cármides de que não deveria participar de certa competição esportiva. Cármides desprezou a advertência e acabou ferido.

Em outra ocasião, Sócrates e Timarco bebiam juntos e, antes de este partir para executar um plano assassino, o “oráculo dentro de Sócrates avisou Timarco de que não deveria ir, mas não mereceu atenção: Timarco foi morto”.

É outro exemplo de experiência premonitória espontânea na Antigüidade, o sonho de Calpúrnia na noite que antecedeu ao assassinato de César. Calpúrnia via a estátua de seu marido jorrando sangue, sendo um sonho precognitivo de significado tão óbvio que nenhuma interpretação exigia.

Um exemplo registrado por Heródoto e que envolve Creso, o rei da Lídia, é interessante e merece ser mencionado:

Preocupado com a crescente militarização da Pérsia, Creso planejou consultar um oráculo, mas sendo um tanto céptico, resolveu “testar” diversos oráculos a título de experiência (provavelmente, como observou Whately Carington, trata-se do primeiro exemplo concreto e documentado de pesquisa psíquica). Creso enviou sete mensagens a sete oráculos diferentes, instruindo cada um deles para que, no centésimo dia, a contar de sua partida, fosse perguntado ao oráculo: “O que está fazendo agora o rei Creso, o filho de Alíates?” Os mensageiros deveriam, então, trazer a resposta por escrito.

A resposta vinda de Delfos e a única correta, dizia:

Posso contar os grãos de areia, posso medir os mares;

Escuto o silêncio e posse dizer o que o mundo falou;

Oh! surpreendo-me com o cheiro de uma tartaruga coberta com uma carapaça;

E cozinhando agora num fogo com a carne de um carneiro em      caldeirão;

Há bronze na panela por baixo, e bronze na tampa em cima.

Foi tão preciso o oráculo que dispensou qualquer interpretação. (3)

No século XIII, são Tomás de Aquino, em sua discussão do instinto profético, observou que ele não era necessariamente miraculoso. Seu contemporâneo, Santo Alberto Magno, julgava-o mais comum a mulheres que os homens. Quinhentos anos depois, Próspero Lambertini, ao escrever seu longo, culto e cuidadoso estudo “De Canonizationi”, distinguiu entre o miraculoso e o insólito e reconheceu o último como ocorrendo entre os homens e animais (inclusive insetos e peixes). Afirmou que a profecia natural entre os homens parecia emergir mais freqüentemente durante o sonho que em vigília, e que era rara entre pessoas instruídas e mais comum entre os iletrados e aquelas mentes “não inteiramente absorvidas em paixões e ocupações externas”, recorda-nos Renée Haynes, da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres.

 

AS PROFECIAS DE NOSTRADAMUS

 

 

Médico e astrólogo francês, nasceu em Saint-Rémy (Provença), sendo o mais associado a profecias e previsões que qualquer outro na mente popular. Astrólogo, médico e profundamente enraizado na tradição mística judaica (era um judeu convertido), entre suas profecias perturbadoras estão algumas que parecem haver previsto: a Revolução Francesa, a ascensão de Napoleão e, talvez, o domínio de Hitler. (4)

Quando coincidiu cumprir-se sua predição sobre a morte trágica de Henrique II (que morreu em um torneio), sua fama não conheceu limites, e muitos lhe atribuíram o dom profético.

Por volta de 1547, começou a fazer predições, publicando, em 1555, um livro de profecias em rimas, intitulado “Os Séculos” (Centúrias). Republicou a obra em 1558, aumentando-a e dedicando-a a Henrique II.

Compunham-se de quadras grupadas às centenas, cada uma delas formando um século. Famoso em todo o mundo por suas Centúrias, escritas em verso e de sentido cabalístico.

A maioria das predições de Nostradamus chegou até nós com a publicação de suas Centúrias, mas há uma história que se refere a algo ocorrido em sua juventude. Durante uma viagem a Itália, teve a oportunidade de encontrar um guardador de porcos que se havia tornado monge, chamado Felix Peretti. Nostradamus imediatamente caiu de joelhos e dirigiu-se a Peretti como “Sua Santidade”. Anos depois da morte de Nostradamus, Peretti se tornou o Papa Sixto V.

As Centúrias são quadras agrupadas em centenas e prefazem um total de 966. Atribui-se a cada uma dessas quadras a visão de algum acontecimento futuro. Estão escritas de maneira estranha, muitas vezes cheias de um obscuro simbolismo enigmático. Seu caráter extremamente vago deixa-as abertas a interpretações mais amplas. Esta é a principal acusação contra as predições de Nostradamus, vinda de pessoas que supõem que um intérprete bastante hábil seria capaz de ler qualquer coisa nelas. Por outro lado, Colin Wilam em The Occult chama a atenção para o fato de que, considerando-se as Centúrias como um todo, a grande quantidade de acertos diretos confirmados em suas predições à luz de acontecimentos históricos posteriores é impressionante.

Nostradamus era um francês de boa educação, versado nos caprichos da política de seu país e bem situado na sociedade de seu tempo, não é de surpreender que entre as mais obviamente significativas e exatas de suas previsões estejam visões de fatos ocorridas posteriormente na história da França. Várias falam diretamente sobre a Revolução – embora esta só tenha acontecido dois séculos depois da morte de Nostradamus.

Duas quadras costumam ser citadas freqüentemente como presságios da Revolução. Uma diz:

Os líderes da cidade em revolta,

Em nome da liberdade,

Trucidarão seus habitantes sem distinguir idade ou sexo

E haverá gritos, choros e tristes visões em Nantes.

Os estudiosos de Nostradamus são quase unânimes em opinar que essa quadra é, com toda probabilidade, uma previsão do sádico derramamento de sangue e dos afogamentos que o louco Carrier ordenou em Nantes em 1793, sob os auspícios do Comitê Revolucionário de Segurança Pública. Entre as vítimas de Carrier, estavam mulheres e crianças de colo e, quando os pescoços dos bebês se mostraram muito pequenos para a guilhotina e o instrumento se tornou por demais lento para o massacre, Carrier mandou que os infelizes condenados fossem colocados às centenas em barcos que então eram deliberadamente afundados.

A Segunda “quadra Revolucionária”, aceita em geral como a previsão das mortes de Luís XV e Maria Antonieta é sinistra em seu detalhamento.

Pela noite virão através da floresta de Reines

Duas pessoas casadas, por indireta via; Herne, a pedra branca.

O monge negro em cinza entraram em Varennes;

Eleito capeto, causa tempestade, fogo, sangue e cortes.

Em junho de 1791, Luís XVI e Maria Antonieta tentaram fugir de Paris disfarçando-se – ele com uma roupa cinza, ela de branco e escapando pelos apartamentos da rainha. Chegaram até Chalon, antes de serem reconhecidos pelo chefe dos correios da aldeia. Foram levados presos a Varennes, mantidos ali durante a noite e devolvidos a Paris para serem decapitados. Luís XVI costuma ser descrito como um homem de aparência monacal e foi o primeiro rei francês a ser eleito pela Assembléia Constituinte em vez de valer-se da lei do Direito Divino.

Nostradamus escreveu três quadras que são atribuídas à profecia da ascensão de Hitler e todo o derramamento de sangue que seu governo determinou. A mais citada talvez seja esta:

Bestas famintas enlouquecidas farão as correntes tremer;

A maior parte da Terra estará sob Hister.

Numa gaiola de ferro o grande será arrastado,

Quando o filho da Alemanha observa o nada.

Embora pareçam próximas da verdade, suas quadras de Hister estão sujeitas a controvérsias.

Muitas das profecias de Nostradamus parecem referir-se a acontecimentos que ainda estão por se realizar, em um tom perturbador. Uma, à qual se costuma atribuir a previsão do “Fim do Mundo”, é assim:

Como o grande rei de Angoulême,

no ano de 1999, no sétimo mês,

e Grande Rei do Terror irá descer do céu,

e, nessa época, Marte reinará pela boa causa.

Enquanto inúmeros estudiosos acreditam que o Grande Rei de Angoulême deve referir-se a Genges Khan, pois Nostradamus aponta freqüentemente os mongóis como os de Angoulême, as opiniões se dividem entre os que consideram que a quadra em seu todo seja a previsão de uma grande guerra com bombas de hidrogêneo, a tomada do mundo pelos orientais ou uma invasão de Marte. Até o momento, ainda não presenciamos isso.

A maioria dos pesquisadores de Nostradamus procuram demonstrar que suas profecias estão relacionadas aos acontecimentos da Revolução Francesa ou à Segunda Guerra Mundial ou ainda a um futuro distante. Daí, forçou o aparecimento de uma nova e importante tradução (para o inglês) crítica das Centúrias, questionando toda essa abordagem ao trabalho de Nostradamus.

Em seu The Profhecies and Enigmas of Nostradamus, o historiador francês Liberté Le Vert sugere que, na verdade, muitos dos acontecimentos a que se referem as quadras das Centúrias sejam alusões a fatos que ocorreram durante o período de vida do próprio Nostradamus: a retirada do Imperador Carlos V (em vez do exílio de Napoleão em Elba), as rebeliões políticas na Bretanha do século XVI (em vez dos graves acontecimentos que envolveram a posterior execução de Carlos I na Bretanha) ou acontecimento ligados ao rio Danúbio (o Hister, a que se atribuem as quadras de Hitler). Le Vert argumenta que sempre que Nostradamus tentou profetizar acontecimentos mais distantes “ele geralmente esteve equivocado.”

De acordo com a notável estudiosa, senhora Franceyates, o novo trabalho de Le Vert prestou uma grande colaboração à história e a Nostradamus, ao proporcionar pela primeira vez um texto e uma tradução confiáveis das poesias de Nostradamus, varrendo as desprezíveis interpretações que séculos de exploração de baixo nível haviam deixado encobertas. Ela acredita que só Le Vert conseguiu desvendar o verdadeira Nostradamus.

 

SONHO

 

O sonho é a linguagem, por excelência, do inconsciente.

Para Sigmund Freud, a sua função é a da guardo do sono e de realização dos desejos.

Na concepção de Carl Gustave Jung, o Sonho é a uma autorrepresentação, uma forma espontânea e simbólica, da situação atual do inconsciente”, incluindo entre seus fatores determinantes, a telepatia. (5)

Os sonhos são mensagens criptomnésicos e telepáticas que, durante a vigília, não tinham alcançado o nível da consciência.

É o sonho a expressão típica da vida inconsciente. Nele não temos o relacionamento de tempo e espaço, da vida psíquica vigílica. A sua manifestação é frequentemente simbólica e fortemente emocional, irracional, com relações pré-lógicas e mágicas.

Morfeu faz desaparecer todas as dimensões que se conhecem, substituindo-as por outras, em que as coisas mais absurdas se tornam naturais e, dentro dos limites dessas novas dimensões, as pessoas conseguem desdobrar-se, multiplicar-se e encontrar-se a si próprias.

No sonho, os mortos revivem e os vivos podem passar por uma morte efêmera. Pode-se voar, entender os animais e as coisas e comunicar-se com eles, conseguindo até efeito extraordinário, praticando crimes e atos estranhos ao cotidiano de vida. O mesmo indivíduo, em estado de hipnose não o faria, se fosse contrário à sua programação básica. Na hipnose, verifica-se uma ação, enquanto que no sonho, ocorre uma representação simbólica.

Extremamente significativo e alucinante é o sonho de um jovem autor teatral que se viu sentado na plateia, assistindo à apresentação de uma peça. Ao mesmo tempo, ele via-se no palco representando todos os papéis. De repente, levantou-se olhando para trás, percebeu que o teatro estava repleto de centenas e centenas de pessoas idênticas a ele.

Os pesquisadores chegaram à conclusão de que, mesmo que não recordemos nossos sonhos, produzimo-los várias vezes por noite, em média três ou quatro vezes. Mas é muito pouco ou nada, o que se recorda ao acordar. Alguns, todavia, lembram-se de todos os sonhos e sonham o que desejam. Alguns exercícios podem ser úteis para a memória e controle dos sonhos.

Experiências com sonhos começaram a ser realizadas. Na década de 50, Nathaniel Kleitman, trabalhando no laboratório da Universidade de Chicago, conseguiu registrar estranhos movimentos oculares que eram produzidos durante certa etapas. Seu ajudante, William Demet, batizou este período de “Rapid Eye Moviments”, abreviado como REM. Acrescentam-se a essas descobertas, experiências vivenciadas por exploradores em contato com tribos chamadas primitivas que, segundo foi observado, podem controlar seus sonhos conforme suas vontades.

São características dos sonhos: o raciocínio integral não se manifesta com facilidade; a faculdade crítica fica diminuída; muitas imagens não correspondem ao real, podendo aparecer deformadas; dificuldade de o sonhador lembrar-se das sequências das imagens; dificilmente o enredo de um sonho é continuação do sonho anterior; as excitações sensoriais podem agir na produção da fantasias; as imagens dos sonhos podem refletir-se no mundo real; as figuras são vistas com intensidade inferior à da vigília; as lembranças das imagens não são tão fortes; as imagens são lógicas, vagas e cambiantes; os sonhos não vivenciam cheiros ou sabores, já que as células nervosas enviam estímulos apenas à visão e à audição.

 

SONHO PRECOGNITIVO

 

As referências ao futuro e que perturbam nosso conceito usual de tempo, ocorrem ao dormir, quando as barreiras entre consciência e inconsciência são enfraquecidas. Na cultura da Índia, a ESP é mais aceita e menos inibida, portanto, que na cultural Ocidental.

Na linguagem descritiva dos percipientes, os sonhos são relatados como vívidos e realistas; frequentemente lembrados em seu encadeamento; podem não acontecer certos detalhes; alguns aspectos considerados insignificantes aparecem idênticos, quando a experiência ocorre; o sonhador pode ficar fortemente impressionado, perdendo, às vezes, o sono pelo resto da noite; parecem uma fotografia impressionante do fato, quando este vem a ocorrer (forma pictórica, sem disfarces); fica gravado na mente do sonhador; a recorrência que, em algumas pessoas força a credibilidade no sonho.

Se o ser humano pode modificar o fato, retardá-lo ou antecipá-lo para seu bem, da família e da comunidade. Ele é um ser livre, podendo programar o inconsciente para que mova a realidade, segundo suas necessidades e interesses. (6)

Se o ser humano é capaz de desenvolver a capacidade de precognição ou premonição é porque ela deverá ter uma finalidade construtiva para o indivíduo e a espécie. O consciente, a mente racional torna o ser humano livre e dono do seu destino. Daí, o nível inconsciente trabalhar mais com probabilidades que com o destino.

O fenômeno de premonição é um anteprojeto programado a nível inconsciente, não ainda em fase de execução, mas em estado potencial, podendo o agente psi reforçar a programação, alterá-la parcialmente, invertê-lo.

Alguém sonha várias vezes que perdeu a pedra do anel. Ao despertar, sente-se aliviado, por constatar ser apenas um sonho. Tempos depois, perde a pedra do anel. A dinâmica inconsciente avisara do anteprojeto da perda do anel. Não sabendo ouvir ou interpretar a informação, perdeu a oportunidade de evitar a perda.

O agente psi sonha e acontece; sente e acontece; vê e acontece. O processo inconsciente pode programar a intuição, reforçar a previsão, alterar a previsão e modificar as previsões negativas. Às vezes, o precógnito não pode fugir do evento. (7)

Quando se percebe algo que, para os outros pode ainda ser futuro, para quem o percebe, já se fez presente. Daí, poder-se agir sobre ele, poder-se modificá-lo: relatividade do tempo e adaptação do ser humano a ritmos temporais diferentes.

O anúncio precognitivo pode ser transmitido de várias maneiras, tais como intuições, vozes, aparições, sendo os sonhos a sua mais frequente manifestação, segundo dados estatísticos do Society por Psaychical Resecarch (SPR). Em 1951, a pesquisa estabeleceu um percentual de 68%. (8)

Há sonhos premonitórios sobre mortes, acidentes, doenças, tragédias, prêmios em jogos, incidentes triviais etc. Pode ser anunciado por pessoa viva ou por pessoa morta. Frequentemente o evento precognitivo é comunicado sob forma de símbolos. Daí, tornar-se difícil a interpretação. Uma censura do ego pode amenizar e disfarçar uma informação traumática, vinda do inconsciente. O evento precognitivo pode referir-se a eventos próximos ou remotos. Pode repetir-se, como ocorreu com o naufrágio do Titanic, em que O’Connor sonhou duas vezes com o acidente.

Os sonhos precognitivos mais frequentes se referem a crises pessoais, seguindo-se de parentes e amigos. Há, todavia, temas agradáveis, como a felicidade de ganhar em jogos; a concretização de uma viagem desejada; melhoria de emprego etc.

Quanto ao intervalo de tempo entre precognição e eventos confirmatórios, as experiências precognitivas não compreendem grandes extensões de tempo, como décadas ou séculos (segundo se dá com a profecia tradicional. Muitas se cumprem dentro de minutos, horas ou dias. O fato é que não se conhece nenhum limite para essa forma de psi.

A verdadeira precognição refere-se a acontecimentos surpreendentes, triviais ou trágicos, que nenhuma inferência permitiria prever. Detalhes exatos e objetivos eliminam o acaso ou diminuem a probabilidade de sua ocorrência. Registro por escrito, com data, corroborado por testemunhas idôneas, ou relato oral a uma ou várias pessoas, garante a autenticidade do precognição. Daí documentos e testemunhas idôneas são importantes no reconhecimento do fenômeno extra-sensorial espontâneo. (9)

Segundo Charles Richet, a precognição é inesperada e imprevista para o próprio paragnóstico.

O parapsicólogo holandês Willem Tenhaeff, primeiro professor titular de Parapsicologia numa universidade, em seu livro Telepatia e Clarividência, chamou aos videntes do futuro de proscopistas e à precognição, proscopia (memória do futuro).

Em suma, quanto mais vaga e quanto mais geral é a predição, tanto mais probabilidade tem de vir a ser cumprida. Outrossim, precognições confirmadas são extremamente raras, esporádicas e excepcionais.

 

PRECOGNIÇÃO E LIVRE-ESCOLHA

 

A precognição e a livre-escolha coexistem naturalmente. Não há 100% de precisão na adivinhação do futuro, pois se isso ocorresse, teríamos acentuadas implicações em nossa filosofia de vida. Não haveria a liberdade de escolha e mesmo que uma pessoa fosse informada que iria sofrer um desastre de trem, por exemplo, ela não poderia evitá-lo. A precognição, nesse caso, perderia o sentido.

Nos estudos de precognição, até hoje, quer em casos espontâneos já registrados, quer em qualquer dado escolhido em experiências de laboratório houve indício de precisão. Ao contrário, é uma faculdade tão imprevisível que dá aos cépticos boas razões para questionar a sua existência.

 

PRECOGNIÇÃO E TEMPO

 

As noções de tempo e espaço constituem uma criação da mente humana. São apriorísticas, segundo o filósofo Immanuel Kant. Não são uma propriedade das coisas, nem se originam de nossa observação do mundo exterior. Ao contrário, o mundo exterior tem o tempo e o espaço como pré-requisitos. O fato de que as coisas sejam simultâneas ou sucessivas já supõe o tempo como algo pré-existente, assim como o espaço já está implicado na justaposição ou separação das coisas. Não podemos eliminar o tempo e o espaço das coisas, porque todos os objetos da nossa experiência existem sob o domínio dessas duas formas de percepção. Mas nada indica que essas duas formas sejam necessárias para além do mundo mental dos seres humanos.

 

HIPÓTESES DA PRECOGNIÇÃO

 

Eterno Presente: a existência total da Terra é um fenômeno espontâneo. O nosso “EU” limitado vê como fenômeno sucessivo, enquanto o “EU” transcendental pode sintonizar-se com a instantaneidade. Daí, os clarividentes verem, por assim dizer, indiferentemente, o passado, o presente e o futuro.

Eterno Retorno: hipótese lançado por Leon Perom e aceita por Nietsche e pelos estoicas. Segundo os defensores dessa hipótese, as combinações do Universo, não sendo ilimitados, teriam que se repetir um dia. Desse modo, o futuro não é mais do que um passado que se vai repetir.

Sincronismo de Jung: a precognição seria uma coincidência significativa acausal entre um conteúdo psíquico e um fato físico. Sua teoria não pode ser testada em laboratório de parapsicologia, porque elimina a causalidade e favorece a coincidência, o acaso significativo.

Hipótese do Dr. Wasserman: o futuro já se encontra latente no presente como padrões potenciais de todos os acontecimentos possíveis. Discorda de Bergson que diz que o futuro está sendo criado em cada momento. Para ele, os padrões de todos os acontecimentos possíveis se situam fora do tempo e nem todos sairão de seu estado potencial, convertendo-se em fatos físicos.

Hipótese da liberdade de escolha (da autora). Toma-se por base a interação entre os elementos de um arranjo qualquer. A nível inconsciente, os fatos do mundo físico são captados sob forma simbólica, reúnem-se livremente, tendo muitas possibilidades para conduzir o futuro. Tudo indica que a liberdade de escolha se verifica pelo processo de interação entre os dados na formação dos arranjos psíquicos. É uma previsão, em que os fatores se encontram em estado  potencial, podendo caminhar para atualizar-se. O percipiente tem o sonho precognitivo que se realizará ou não, tudo dependendo do seu curso não ser interrompido por algum fator circunstancial. Caso o seja, o sonho precognitivo, não acontecerá, resultando daí a sua imprecisão, que tanta polêmica causa entre os cépticos. A liberdade de escolha anula o determinismo, o que vem corroborar que, na precognição, nada existe determinado, mas se trata de um futuro em formação, podendo concretizar-se ou não, na realidade. Caso os arranjos psíquicos passem de potência a ato, o fato previsto ocorre. Caso contrário, permanece, em estado latente.

 

PRECOGNIÇÃO E EXPERIÊNCIA CIENTÍFICA

 

O Dr. Joseph Bank Rhine comprovou, em 1933, a evidência da precognição através da experiência científica. Rhine não é apenas um pesquisador, é também um pensador. E um pensador capaz de tratar os resultados de suas experiências, não apenas de maneira matemática e lógica, mas também emocional. Em “The Reach of the Mind”, sua primeira frase é socrática: “Vós e eu os seres humanos, o que somos? E ele mesmo responde: “Ninguém o sabe”.

O professor Soal que sempre teve de lutar muito para conseguir êxito no terreno das pesquisas, havia concluída de maneira negativa o rigoroso exame de seus experimentos com 160 sujeitos, em que obtivera 128.350 respostas sem que pudesse ultrapassar a barreira do acaso. Carington adverte-o quanto aos desvios e Soal resolve cuidar do problema, verificando que dois sensitivos, Mrs. Stewart e Mr. Shackleton, eram precognitivos. Shackleton colocou-se à disposição de Soal e as experiências se realizaram durante a guerra de 39 – 45. Destaque-se que o sensitivo não era apenas precognitivo, mas também retrocognitivo. Nos desvios examinados por Soal, ele havia adivinhado ora a carta anterior ora a posterior, não acertando nunca no alvo. Era um sensitivo deslocado no tempo e, por isso mesmo, mais valioso.

As experiências de Soal não eram feitas com as cartas Zener, mas com as suas próprias, constando de uma série zoológica: E-Elefante; G-Girafa; P-Pelicano; Z-Zebra e L-Leão. Havia-se cansado de lidar com as figuras geométricas e criou cartas coloridas, pois Soal se enfartara das figuras negras e geométricas de Zener, atirando no mar os seus maços. Elas reagem à frieza geométrica e à severidade da cor negra.

Mais tarde, Soal conseguiu realizar algumas experiências com Mrs. Stewart, sendo bem sucedido. Depois da guerra, ela realizou novas experiências com Soal, quando se verificou que a sensitiva havia perdido o dom da premonição. Não adivinhava mais a carta seguinte, mas a chamada carta O, que corresponde ao presente, a carta objetivo. Com essas experiências, Soal doutorou-se pela Universidade de Londres.

Um caso típico de precognição é o de Wathely Carington. Ele abria um dicionário, tomava a primeira palavra utilizável para o caso, fazia um desenho e o afixava em seu gabinete. O sensitivo captava a distância, não aquele desenho, mas o que seria feito no dia seguinte. Entretanto, nem o próprio Carington sabia qual iria ser esse novo desenho que dependeria da palavra a ser-lhe novamente oferecida pelo dicionário.

Carington explica essa ocorrência através da hipótese do associacionismo paranormal. Havia um sistema de relações inconscientes que permitiu o processo de precognição telepática, como uma forma de comunhão mental.

 

PREGNOSE NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA GRECO-LATINA

 

Sócrates dizia-se acompanhado de um intermediário entre Deus e o homem: “Oráculo familiar dentro de mim” ou voz interior, a que cientificamente chamamos telepatia, clarividência, precognição. Frequentemente, em público, ele parava, ouvia e obedecia à voz ou transmitia seus avisos. Certa vez, o oráculo interno instou para que Sócrates avisasse o jovem Cármides de que não deveria participar de certa competição esportiva. Cárides despregou a advertência e acabou ferido.

Em outra ocasião, Sócrates e Timarco bebiam juntos, antes de este partir para executar plano assassino, o “oráculo” dentro de Sócrates avisou Timarco de que não deveria ir, mas não mereceu atenção: Timarco foi morto.

Em Roma, o sonho de Calpúnia, na noite que antecedeu ao assassinato de César, é um exemplo de experiência premonitória espontânea na Antigüidade, Calfúnia viu a estátua de se marido jorrando sangue, um sonho precognitivo de significado tão óbvio que nenhuma interpretação exigia.

Predições astrológicas não são pregnoses, pois têm por base as coordenadas do lugar e hora exata de nascimento, conhecimento de signos, casas de horóscopo e outros cálculos. A verdadeira precognição, porém, não é calculada, não é discursiva, não é inferencial. Acontece imprevistamente.

Antigas técnicas de pregnose ainda sobrevivem. Os gregos usavam o sufixo mantéia para derivar o dom do adivinho. Entre outras, destacam-se:

  1. Quiromancia: adivinhação pelas linhas das mãos.
  2. Cartomancia: vaticínio pela disposição de cartas em jogos de baralhos.
  3. Cristalomancia: vaticínio pela leitura da bola de cristal (também substituída por copo d’água).
  4. Numerologia: vaticínio pelo significado oculto dos números e suas influências no caráter e no destino dos indivíduos.
  5. Oniromancia: vaticínio pela interpretação dos sonhos.
  6. Radiestesia: vaticínio, usando-se forquilha ou varetas de mental, localizando fontes de água mineral, poços etc.

O homem arcaico recorreu a tudo que se possa conceber para atingir o conhecimento do futuro: fenômenos da natureza, eventos sociais, objetos, pedras, plantas e animais.

Ao indivíduo céptico, alguns desses recursos ou todos eles, parecem ingênuos, cômicos, superstições absurdas. Contudo, encarados como focos de concentração da mente, como norma de aquietar o cérebro em ondas alfa, trazem à tona da consciência processos subliminares.

 

CONCLUSÃO

 

A precognição tem sua incidência maior através do sonho, sendo este a linguagem simbólica do inconsciente.

Carl Gustavo Jung demonstrou a importância da mente inconsciente de cada indivíduo (como Sigmund Freud), cujos impulsos sombrios moldam a conduta, mas só acessíveis por meio das saídas criativas, como sonhos, fantasias ou obras de arte e, assim mesmo, em termos simbólicos. A análise que fez de seus próprios sonhos, levou-o a afirmar a existência de outro tipo mais amplo de inconsciente, a que denominou de inconsciente coletivo Para Jung, o inconsciente coletivo pertence a toda a humanidade, sendo expresso em arquétipos ou símbolos primitivos, mitos ou histórias folclóricas com temas e formas comuns, encontrados em todas as culturas, em qualquer época. Essas imagens e história não foram concebidas por experiência individual, mas constituem herança comum de toda a humanidade.

Às vezes, Jung conferia ao inconsciente coletivo um poder paranormal de previsão dos acontecimentos. Acreditava, por exemplo, que uma série de sonhos que teve no final de 1913, cheios de imagens de corpos esfolados, mergulhados em mares de sangue, fora um presságio do conflito que irrompeu na Europa em 1914 – A Primeira Guerra Mundial.

A definição da mente, em suas interpretações atingiu uma compreensão nova que transcendia o escopo da discussão entre materialistas e dualistas.

E o que dizer dos cépticos e crentes na fenomenologia psi?

Rhine acentua o aspecto contraditório do nosso tempo: enquanto nas Faculdades de Teologia preparam-se jovens pregadores instruídos em velhos princípios de fé, nas Faculdades de Medicina, a poucos metros de distância das primeiras, formam-se jovens médicos instruídos nos princípios das descrença. E ambos, o sacerdote e o médico vão operar no meio social, muitas vezes encontrando-se aos pés do mesmo leito, cada um com sua verdade particular, oposta e irredutível à verdade do outro. O mesmo enfermo, todavia, aceita e ajusta as duas verdades, diante dos dois perigos que enfrenta: o da morte e da sobrevivência.

E afirmou, ainda: as experiências de ESP e PK demonstram que a mente está livre das leis físicas. E acrescentava: “Estas investigações oferecem a única comprovação indiscutível que pode contribuir para a solução do problema da liberdade moral”.

Charles Richet propôs no Traité de Metapsychique a teoria do condicionamento da percepção extra-sensorial à crença. Soal comprovou em experiências de voz direta, realizadas em Cambridge, a importância desse possível condicionamento. O sensitivo católico, ao perceber uma visão extrafísica luminosa, empresta-lhe as características do santo de sua devoção ou o sensitivo espírita que lhe dá a forma de um espírito de pessoa sua conhecida estão condicionados pela crença.

A precognição oferece dois problemas ainda não solucionados: a) a inacongruência no tempo, efeito antes da causa: o homem conhece um fato que ainda não aconteceu, logo o efeito acontece antes da causa; b) o conflito entre determinismo e livre-arbítrio: o homem é livre, podendo interferir para evitar uma pregnose indesejável, como se explica a pregnose que se confirma contra a vontade e o esforço do homem.

Formou-se um paradoxo: ou é valida e acontecerá de todo jeito; ou é inválida, não havendo necessidade de interferir, nem de fugir ao destino e liberdade.

A pregnose não é conhecimento absoluto do futuro, mas de futuros optativos, ainda em formação. As situações prováveis permitem que, um futuro condicional seja predito, mas podendo haver lugar para a intervenção para que se altere o indesejável, sem haver contradição lógica.

Atualmente os psicólogos concordam que todos os sonhos são simbólicos, não proféticos e que representam pessoas, lugares e coisas significativas para os problemas e conflitos emocionais da vida real. Concordam também que as imagens criadas nos sonhos, sendo um produto da própria mente do indivíduo, assumem uma forma condicionada, não só pelo seu passado como também pela sua personalidade. Entretanto dessa e de inúmeras outras teorias, ainda não são desconhecidos todos os motivos que nos levam a dormir e a sonhar. Os sonhos continuam a ser um mistério para quem os estuda e os pesquisas.

Todavia, profecia, precognição, premonição ou presciência constituem uma evidência, percorrendo o tempo desde a Antiguidade até os nossos dias, mesmo que ainda não saibamos os mecanismos e leis que regem esse fenômeno para a elaboração de uma teoria geral da fenomenologia psi.

 

NOTAS

 

1)                                   Entre os escritos proféticos, há páginas consideras obras-primas da literatura universal, como os capítulos 52 e 53 de Isaías, 36 e 37 de Ezequiel. Apresentavam-se como defensores do povo e frequentemente se opunham às classes dominantes, criticando a prepotência e exploração dos sacerdotes (Ez. XXXIV). O seu tema central pode ser considerado o da aliança entre Deus e Israel, que propunham restaurar pela purificação espiritual. Os profetas, dada a íntima ligação entre religião e estrutura social no judaísmo teocrático, foram igualmente reformadores sociais. O Messias que anunciavam, evoluiu em sua figura de guerreira e rei vencedor temporal para a imagem de um salvador espiritual que vem revelar o verdadeiro culto e que consiste em fazer a vontade de Deus. Foram ainda os defensores intransigentes do monoteísmo, lutando contra os chamados profetas de Baal, deus pagão. Os cristãos admitem que os profetas foram inspirados pelo Espírito Santo (Concílio de Nicéia) e isso se fundamenta nas epístolas de São Paulo e nos próprios Evangelhos, que procuram justificar os atos de Jesus com citações deles. Essa tendência levou alguns grupos cristãos a confundir misticismo e profetismo: anabatistas, quapers. São Paulo (I. Cor. XIV) procurou disciplinar os abusos que podiam surgir do dom da profecia nas comunidades primitivas.

2)                                   Para o livro do Gênesis, o sonho era profético. Todavia, para surpresa dos estudiosos contemporâneos, os irmãos de José interpretaram seus sonhos de acordo com a psicologia moderna: viram nele um jovem ambicioso que se deixava levar por fantasias de poder, pretendendo que seus irmãos o reconhecessem como chefe.

3)                                   Na tradição grega, o Oráculo de Delfos foi o mais famoso local da profecia, situado na base do monte Parnaso, no lugar que Zeus havia indicado ser o centro da Terra, esse oráculo dominou a vida política e religiosa da Grécia, desde os tempos dos povos minoanos até o advento da cristandade.

Poucos gregos daquela época tomariam qualquer decisão importante sem antes fazer uma peregrinação a Delfos, em busca da orientação do Oráculo.

Os oráculos eram dados por uma jovem sacerdotisa – Pítia – em estado de transe, graças à indução de alguns vapores que saíam de uma fenda na rocha, sobre a qual ela se sentava. Outros dizem tratar-se de autossugestão. De acordo com os dados modernos sobre percepções precognitivas, evidencia-se o fato de que as visões em Delfos ocorriam num estado alterado de consciência. Durante o estado de transe de Pítia, Apolo, o Deus da Verdade, concedia-lhe uma visão do futuro do peregrino.

Tudo leva a crer que muitas das “profecias” fossem, verdadeiramente, pequenos conselhos oferecidos por sacerdotes que, muitas vezes, atuavam como intermediários na interpretação das mensagens da sacerdotisa.

4)                                   Nostradamus nasceu em Saint Rémy, em 1503 e faleceu em 1566. Estudou filosofia em Avignon e Medicina em Montpellier, graduando em 1529. Fez fortuna como médico, exercendo a profissão com rara magnanimidade e coragem, especialmente por ocasião de epidemias. Conquistou desde cedo uma grande reputação, graças a seus brilhantes trabalhos médicos durante a eclosão da praga no sul da França. O êxito no tratamento da praga deveu-se amplamente à sua insistência sobre a importância do ar fresco e do desinfetante no combate à doença, embora nenhum dos dois (e nem mesmo a existência dos germes) tenha sido reconhecido de maneira generalizada até o século XIX.

Eficaz em suas medidas higiênicas contra várias epidemias, foi invejado e atacado por seus rivais de profissão diante do êxito popular, retirando-se à vida solitária de estudo, a fórmulas farmacêuticas. Publica-as, atribuindo-lhes propriedades ocultas. Foi médico de Carlos IX e alcançou grande aceitação na corte.

Dedicando-se à astrologia, fez prognósticos que foram apreciados no seu tempo, sendo admirado e protegido por Catarina de Médicis. Compilou almanaques com anúncios meteorológicos certos (série que começou no ano de 1550).

Parece que algumas de suas profecias vieram a confirmar-se e sua fama atingiu tal elevação que passou a ser requisitado por reis e príncipes europeus. O significado das adivinhações, todavia, sempre foi motivo de controvérsia, em razão de que algumas delas prediziam acontecimentos de um futuro muito distante. É célebre sua profecia dos afogamentos de suspeitos em Nantes, levado a efeito, em 1793, pelo Comitê de Segurança Pública, e que se acha na 33ª quadra do V “Século”, Les Prophéties, muito imitadas na França e Itália e que na Espanha (já no século XVIII, influenciaram, de algum modo, Torres Villarroel.

Mesmo em nossos dias, diversos autores tem-se aplicado seriamente em interpretar os tenebrosos oráculos do profeta. Em 1781, as predições de Nostradamus, foram condenadas pela Congregação do Índex.

Havendo sido um homem generoso e realmente doutor é, nos dias de hoje, difícil discernir entre o charlatanismo deliberado de sua parte e o fanatismo de seus numerosos admiradores.

5)                                   Carl Gustave Jung, dento do campo psíquico, destaca-se como um dos principais investigadores da vida mental. Rompeu com Sigmund Freud por este não dar uma explicação completa da mente. As apreensões da mente humana, segundo  Freud, teriam a sua causa na repressão dos instintos sexuais Jung foi mais adiante, entendendo a mente como não-localizada na psique. E  muitas de suas idéias foram fruto de suas experiências pessoais, particularmente de seus sonhos. “Dia após dia vivemos bem além dos limites da nossa consciência”. “Sem sabermos, a vida do inconsciente também se desdobra de nós… comunicando-nos coisas… fenômenos sincronisticas, premonições e sonhos”. Para ele, o homem possui uma herança psíquica definida como também física. São expressões necessárias à vida que se manifestam tanto psíquica como fisicamente. São “disposições universais da mente”, correspondendo a categorias da imaginação e não da razão. Jung chamou-as de arquétipos. Estes se traduzem em família em sonhos, mitos, fantasias espontâneas e visões. Ao conjunto dessas formas universais em pleno dinamismo, Jung chamou de inconsciente coletivo.

6)                                   Sonho em que a pessoa conseguiu escapar. É o caso de um homem que planejava viajar de trem um certo dia. Na noite que antecedeu a viagem, ele teve um sonho em que via seu trem sofrendo um acidente e via a si  mesmo gravemente ferido. O sonho fez com que ele mudasse os seus planos de viagem e não se feriu. Mais tarde, leu no jornal que o trem em que pretendia viajar havia, realmente, sofrido acidente. Esse caso ilustra um dos principais paradoxos que se levantam nas imprecisões da precognização imaginária.

7)                                   Sonho precognitivo em que o protagonista não pode fugir do evento.

Um ferreiro, trabalhando em uma fábrica, deixou-se apanhar por uma roda hidráulica. Sabia ele, que a roda hidráulica necessitava de reparo e uma noite, sonhou que, ao se encerrarem as atividades do dia seguinte, o gerente o deteve para fazer o conserto e que seu pé escorregou e se prendeu na engrenagem, sendo gravemente ferido e mais tarde, amputado. Pela manhã contou o sonho a sua mulher e resolveu que estaria ausente, quando fosse procurado para consertar a roda. Durante o dia, anunciou o gerente que a roda entraria em reparo, logo após a saída dos operários, à tarde.

O ferreiro, entretanto, resolveu afastar-se antes da hora. Foi para um bosque situado na vizinhança e ali tencionava esconder-se. Ao chegar a um local onde havia certa quantidade de madeira pertencente à fábrica, surpreendeu um sujeito que furtava algumas peças de pilhas. Partiu ao seu encalço, com o intuito de apanhá-lo, mas ficou de tal maneira excitado que chegou a esquecer-se inteiramente da resolução anterior. E, sem que se desse conta disso, regressou à fábrica justamente na hora em que os trabalhadores se retiravam. Não poderia esquivar-se à recomendação recebida. E, sendo o ferreiro mais categorizado da fábrica, cabia-lhe o trabalho na roda. Decidiu, enfim, que o faria com especial cuidado. Apesar de todas as precauções, seu pé escorregou e foi apanhado pela engrenagem, tal como no sonho, com tanta infelicidade que ficou esmagado, obrigando-o a ser conduzido para a enfermaria de Bradford, onde a perna foi amputada acima do joelho. Dessa forma, cumpriu-se, integralmente, o sonho profético.

8)                                   Sonho Precognitivo de Morte da Própria Pessoa (ocorrência rara) – É o caso do sonho do Presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln que assim o descreve:

       “Parecia haver um silêncio mortal à minha volta… e então ouvi soluções contidos, como se muitas pessoas estivessem chorando. Achei que tinha saído, de minha cama e estava andando no andar térreo. Ali o silêncio era rompido pelos mesmos soluços contidos, mas as pessoas enlutadas não podiam ser vistas. Fui a todos os cômodos; não havia ninguém dentro de nenhum deles, mas o mesmo som lastimoso de aflição chegava até mim, enquanto eu ia passando… Fiquei intringado e alarmado. O que poderia significar tudo isso? Cheguei à Sala Leste, onde entrei. A surpresa pelo que havia ali, me fez passar mal. Diante de mim estava o catafalco sobre o qual repousava um corpo envolto em roupas de funeral. Ao redor, havia soldados portados em guarda; um grande número de pessoas encontrava-se na sala, algumas olhavam enlutadas para o corpo, cujo rosto estava coberto, outras choravam penalizadas. Perguntei: ‘Quem morreu na Casa Branca?’ ‘O presidente… ele foi assassinado…’

Essas, foram as palavras de Abraham Lincoln a seu biógrafo Ward Will Lamar, em março de 1865. Disse o Presidente: ‘Não consegui mais dormir naquela noite e, desde então, fiquei estranhamente incomodado’. Algumas semanas mais tarde, o Presidente foi assassinado por John Booth.

É importante destacar que, nos momentos que precederam à morte do Presidente Lincoln, o seu cachorro teria começado a correr por dentro da Casa Branca ‘como que em delírio e uivando continuamente de modo fúnebre’.”

9)  Sonho Precognitivo de Acidente com a Comunidade (ocorre a recorrência). O Titanic, um navio de declarada insubmergibilidade (departamento estranque), naufragou, tragicamente, na noite de 14 para 15 de abril de 1912, matando 1502 pessoas. O Sr. J. O’Connor tinha reserva de passagem para si e para a família nesta viagem. Mas, uns dez dias antes da data destinada à saída do navio, O’Connor sonhou que via o navio com a quilha ao ar e a bagagem e os passageiros flutuando ao redor”.

O’Connor para não assustar seus familiares e amigos, não contou nada. O sonho se repetiu na noite seguinte. Ainda assim, ocultou-o. Tendo então, recebido notícias da América que se poderia retardar sua viagem, decidiu prestar ouvido ao sonho e mandou cancelar sua reserva no “Titanic”. Pôde, então, contar o sonho a seus amigos, como explicação do motivo de não viajar. Não queria correr riscos, uma vez que a viagem não era urgente.

 

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