VALTER DA ROSA BORGES (*)
COMUNICAÇÃO DO CASO
No dia 28 de março de 1996, recebi, pelo Correio, uma correspondência do meu velho amigo Luiz Coimbra Filho (rua Souza de Andrade, 55, bloco “C”, apto 501, Aflitos, Recife, Pernambuco), onde relatava um caso de psicografia apresentado por sua filha, Diana Coimbra Araújo, cuja caligrafia, assinatura e conteúdo eram de seu irmão Caetano Coimbra, que se encontrava, naquela ocasião hospitalizado. Transcrevo, na íntegra, a carta que me foi dirigida:
Recife, 24.3.96
Caro Dr. Walter.
Paz em Jesus.
Para acrescentar ao seu acervo de pesquisas, e para sua valiosa e abalisada apreciação, junto um valioso documento, que nos foi proporcionado pelo nosso querido irmão Caetano pouco antes de sua partida para o Mundo Espiritual. Trata-se de mensagem psicografada por nossa filha Diana, encontrando-se ela convalescente de uma histerectomia, em sua residência (dela).
Pelos documentos, fica comprovado que ele estava hospitalizado desde 27.7.95; a mensagem foi datada, por ele mesmo, de 29.7.95; a caligrafia é, exatamente a dele; a firma, absolutamente igual, tanto que o Cartório a reconheceu; e a Declaração do Hospital atesta que ele esteve interno de 27.7.95 a 13.8.95, quando faleceu – com firma também reconhecida.
Pode haver prova mais concludente da existência da alma e de sua comunicação, quando ainda em vida (material…)?!
Um grande abraço do confrade
Luiz
- Minha mãe também desencarnou em 24.8.95, confirmando a mensagem de Caetano, na mensagem.
Anexou à carta uma cópia xerox da mensagem psicografada e seu símile datilografado, tal como se segue:
Recife, 29 de junho de 1995
Meus familiares queridos.
Tudo o que está ocorrendo é necessário, tenhamos na misericórdia de Deus a nossa fé e nesses irmãos dedicados da espiritualidade o nosso apreço. Têm sido anjos tutelares das horas amargas destes meus últimos dias nesta encarnação.
Não se impressionem pelos fatos ocorridos pois tudo está sob contrôle.
Tenho me encontrado com Mamãe e conversamos bastante sobre tudo. Soube que o seu desencarne também está próximo, pois o corpo começa a dar os últimos sinais de vitalidade. Estamos próximos de nos unirmos na Espiritualidade e já fomos levados para visitarmos o lar que prepararam para nós, tendo de frente o Espírito amoroso de Sinhô e de D. Blandina.
Estamos bem e tudo passará. Não se impressionem com o que têm observado ao meu respeito, tenhamos fé em Deus pai de misericórdia infinita e em nosso Mestre e Senhor Jesus, o Cristo de Deus.
Lula, Tancredo, Paulo, Socorro, Judite e Marilu, ajudem a minha família principalmente aos filhos que precisam de uma fé e coragem que não têm. Peço a Deus por Edileuza, Espírito dedicado, amoroso em tôdas as horas. Jesus a abençôe por tudo. Tenhamos toda a fé que transporta montanhas, porque tudo passará. Que Jesus abençôe a todos.
Para você minha sobrinha do coração o meu ósculo de amor e carinho. Minha gratidão por tudo.
Agradeçamos a Jesus pelas dores e pelas provas que quebram a casca dos nossos desequilíbrios e débitos do passado a fim de nos libertarmos e sermos mais felizes.
Aqui me despeço com um beijo e um abraço para todos vós meus familiares queridos. A gratidão eterna deste irmão em Jesus.
Caetano Coimbra.
Na cópia xérox, vê-se o reconhecimento da firma de Caetano Coimbra, atestada pelo Cartório Pragana.
Finalmente, também em xérox, uma declaração do Hospital Santa Joana, assinada por Alayde Soares de Albuquerque, Chefe do Departamento de Enfermagem, com firma reconhecida pelo Cartório Costa Lima, cujo teor é o seguinte:
DECLARAÇÃO
Declaramos para os devidos fins que o Sr. Caetano Coimbra deu entrada em nossa urgência no dia 27.07.95 à 16:00 horas, permanecendo internado até o dia 13.08.95, quando foi o óbito.
Recife, 17 de agosto de 1995
Alayde Soares de Albuquerque
QUEM ERA CAETANO COIMBRA
Caetano Coimbra nasceu em São Caetano, município de Pernambuco, em 8 de novembro de 1929 e faleceu, no Recife, em 13 de agosto de 1995. Era um dos seis filhos de Luiz Coimbra Cordeiro Campos e Maria de Lourdes Gomes Coimbra, os quais foram os idealizadores da Fundação da Casa dos Espíritas de Pernambuco. Casou com a Sra. Edileuza Porto Coimbra e, desta união, nasceram três filhos. O seu irmão, Luiz Coimbra, foi quem nos enviou os fatos do qual resultou o presente trabalho.
Caetano Coimbra, assim como seus irmãos Luiz e Paulo, era espírita militante e durante 55 anos exerceu vários cargos de destaque em instituições espíritas, principalmente como palestrante e conferencista da Casa dos Espíritas de Pernambuco.
Conheci pessoalmente Caetano Coimbra e um dos nossos raros contatos aconteceu por ocasião de um encontro promovido pelo I.P.P.P. com os representantes de diversas instituições espíritas do Recife, em 6 de janeiro de 1974, no auditório do SESI, com a finalidade de discutir a fenomenologia paranormal e estabelecer as diferenças entre Parapsicologia e Espiritismo.
QUEM É A PSICÓGRAFA
Diana Coimbra Araújo, sobrinha de Caetano Coimbra, nasceu no Recife em 5 de outubro de 1951 e é casada com José Araújo Albuquerque Neto. Deste casamento nasceram os seguintes filhos: Carlos Henrique Coimbra Araújo, de 19 anos; Cláudia Regina Coimbra Araújo, de 18 anos; e Fábio José Araújo Albuquerque, de 15 anos.
Conforme sua informação, é médium consciente de psicofonia e psicografia há vinte e cinco anos.
INÍCIO DA INVESTIGAÇÃO
Com o propósito de aprofundar a pesquisa do fenômeno, remeti, no dia 11 de maio de 1996, a Luiz Coimbra Filho doze perguntas, como abaixo se segue, as quais foram, no dia 21 do mesmo mês, respondidas por escrito e fielmente transcritas na íntegra.
01) Qual a enfermidade de Caetano e qual o prognóstico sobre a mesma?
L.C. – Câncer nos ossos; nenhuma esperança de cura, desde as primeiras manifestações da doença; os médicos achavam que não teria mais que poucos meses de vida; – levou cerca de 5 anos.
02) Caetano manifestou a alguém o desejo de se comunicar psiquicamente com alguma pessoa durante sua doença?
L.C. – Não
03) Em caso afirmativo, ele disse qual seria a pessoa indicada?
L.C. – Prejudicado
04) Em caso afirmativo, foi a psicógrafa?
L.C. – Prejudicado
05) Em que situação se encontrava Caetano por ocasião da psicografia: sozinho ou com alguém no quarto, consciente ou inconsciente?
L.C. – Encontrava-se em quarto do Hospital Santa Joana, “dopado”, desde o dia 27.7.95, data do seu internamento, sob o efeito de fortes analgésicos.
06) Caetano, após o fenômeno, disse a alguém que o produzira voluntariamente ou que apenas dele teve consciência?
L.C. – Nada falou sobre o fenômeno, mesmo porque, quase todo o tempo permanecia dormindo; poucas vezes teve vislumbres de consciência, desde o seu internamento, face ao seu estado mencionado no item anterior.
07) Em caso afirmativo, relatou o conteúdo da psicografia?
L.C. – Prejudicado.
08) A psicógrafa era pessoa muito ligada afetivamente a Caetano, como parece sugerir a mensagem?
L.C. – Sim.
09) A psicógrafa já manifestara antes este tipo de fenômeno?
L.C. – Não.
10) Em caso afirmativo, já psicografara mensagens de outras pessoas vivas?
L.C. – Não.
11) Em que circunstâncias a psicógrafa recebeu a mensagem de Caetano?
L.C. – Encontrava-se convalescendo de uma histerectomia, em seu quarto, sentada em uma cadeira de repouso. Desejou escrever algo sobre ele e apanhou um caderno; imediatamente sentiu sua presença e o seu desejo de transmitir uma mensagem. Começou a escrever no papel, sobre os joelhos. Ao terminar a mensagem, recebeu, intuitivamente, a recomendação para “ajeitar o bloco de papel em seu colo, pois, iria apor sua assinatura”.
12) A genitora dos Coimbra estava bem de saúde, doente ou gravemente enferma?
L.C. – Minha Mãe, Maria de Lourdes Gomes Coimbra (Lourdinha), próximo a completar 87 anos (o que aconteceria em a 06.12.95), sofria bastante com o reumatismo, quase não mais podendo ausentar-se do seu apartamento; era doente crônica, inclusive de outros “achaques” próprios da idade. Poucos dias após o internamento hospitalar de Caetano (27.7.95), seu estado de saúde agravou-se progressivamente, já permanecendo acamada, quando ele desencarnou, de cujo fato não tomou conhecimento nesta encarnação.
Em 31 de maio de 1996, enviei à psicógrafa às seguintes perguntas, as quais foram também respondidas por escrito e remetidas a mim, quatro dias depois, ou seja, no dia 4 de junho.
1) – Há quanto tempo é psicógrafa?
D.C.A – Sou psicógrafa há 25 anos.
2) – Qual a modalidade de psicografia: simples ou mecânica, consciente ou inconsciente?
D.C.A – Psicografia simples, consciente.
3) – Psicografa mensagens de pessoas mortas conhecidas?
D.C.A – Sim, apesar de no momento atuar mais como médium psicofônico.
4) – Em caso afirmativo, reproduz, com fidelidade, sua caligrafia e assinatura?
D.C.A – Nunca reproduzi mensagens com a caligrafia e a assinatura do Espírito.
5) – Em caso afirmativo, alguma dessas mensagens foi reconhecida em cartório?
D.C.A – A única foi exatamente a do meu tio Caetano Coimbra.
6) – Qual a impressão que teve do estado de saúde de Caetano, quando estava internado no Hospital?
D.C.A – O meu tio estava em fase terminal, sob o efeito de drogas fortíssimas que o deixavam adormecido por quase todo o tempo.
7) – Foi aquela a primeira vez que Caetano foi hospitalizado, após o diagnóstico de câncer?
D.C.A. – Não, há quatro anos e meio antes do seu desencarne, foi submetido a uma cirurgia relacionada com a sua doença: câncer de próstata.
8) – Era profundo o seu relacionamento afetivo com Caetano?
D.C.A – Sempre fui muito ligada a ele desde que nasci, pois os meus tios moravam todos em casas vizinhas, como uma vila. Daí me criei na companhia deles. Sempre tive por meu tio Coimbrinha (era assim que todos os seus familiares o tratavam) uma afinidade muito grande e quando tornei-me adulta, sentia uma profunda admiração por suas qualidades morais e intelectuais.
9) – Já havia passado antes por experiências telepáticas com Caetano?
D.C.A – Nunca tive este tipo de experiência com ele, apesar de ser grande a nossa convivência.
10) – Conhecia bem a caligrafia e a assinatura de Caetano?
D.C.A – Quem convive com alguém desde que nasceu, tem que conhecer a caligrafia e a assinatura dela.
11) – Possui outras aptidões paranormais além da psicografia?
D.C.A – Sou médium psicofônico consciente.
As respostas dadas pela psicógrafa primaram pela objetividade, clareza e simplicidade. Facilmente se deduz a sinceridade do relato, no qual não se vislumbra o mínimo indício de valorização pessoal ou de explícita modéstia.
EXAME GRAFOSCÓPICO
O reconhecimento, em Cartório, da assinatura de Caetano Coimbra na mensagem psicográfica, embora sugestivo, não era, no entanto, conclusivo, sob o ponto de vista científico, para a validação da documentação apresentada. Assim, em 10 de junho, solicitei de Luiz Coimbra Filho a mensagem psicográfica original, assim como papeis, livros ou documentos de quaisquer natureza, onde constassem escritos e assinaturas de Caetano Coimbra.
No dia 25 de junho, Luiz Coimbra Filho veio, pessoalmente, à minha residência trazer o material solicitado, constituído da mensagem psicográfica original, quatro (4) páginas manuscritas de Caetano Coimbra e quatro (4) livros, contendo todos eles a sua assinatura. Dentro do envelope, encontrei a seguinte missiva:
Recife, 25.6.96
Caro Valter –
Paz em Jesus.
Remeto-lhe, conforme seu pedido, o original da mensagem de Caetano, recebida por Diana, datada de 29.7.95, e os seguintes livros, onde se encontra a sua assinatura, com várias datas:
– Antologia de Rui Barbosa;
– A Revolução contra a Igreja;
– Deuses, Túmulos e Sábios;
– O Ponto de Mutação;
assim como, 4 páginas de parte de um estudo que ele deixou manuscrito, para oportuna publicação.
Evidentemente, em muita confiança é que lhe estou emprestando esse material, para seus estudos, principalmente o original da mensagem.
Meu abraço
Luiz Coimbra
À primeira vista, pareceu-me evidente que a assinatura e a caligrafia de Caetano Coimbra não se assemelhavam à assinatura e à caligrafia da mensagem psicografada. Apesar disto, entrei em contato com meu ex-aluno de Direito Civil da Universidade Católica de Pernambuco, Dr. Giovanni Rolim, advogado, psicólogo e perito do Instituto de Criminalística da Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco e indaguei da possibilidade de se proceder um exame grafoscópico do referido material. De imediato, o Dr. Giovanni respondeu-me afirmativamente e, assim, no dia 3 de julho, compareci ao Instituto de Criminalística onde, em sua companhia, apresentei ao perito Dr. Roberto Eiras e um de seus auxiliares o material para o exame grafoscópico.
O exame inicial realizado pelos dois peritos coincidiu com a minha impressão inicial: não existia coincidência entre as grafias e as assinaturas confrontadas. Mesmo assim, antes de me fornecerem seu parecer final, solicitaram-me o envio de novo material, sugerindo-me que obtivesse da psicógrafa o mesmo texto, na íntegra, da mensagem psicografada com a sua própria letra, assim como qualquer texto escrito por Caetano Coimbra na época aproximada de sua morte.
No dia 6 de julho, entrei em contato telefônico com a psicógrafa e lhe solicitei o material sugerido pelos peritos do Instituto de Criminalística, tendo recebido a promessa de que o material requerido me seria entregue na próxima segunda-feira.
No dia 10 de julho fui ao Cartório Pragana, onde fora reconhecida a assinatura de Caetano Coimbra, e solicitei ao seu titular, Erasmo Falcão, 1o Tabelião da Capital, uma cópia xerox autenticada das fichas de assinatura de Caetano Coimbra, no que fui prontamente atendido.
Em 23 de julho, recebi a comunicação mediúnica escrita com a própria grafia da psicógrafa, assim como uma folha de papel com anotações de Caetano Coimbra e com a sua assinatura, com data de 17 de março de 1995.
No dia seguinte, dirige-me, de novo, ao Instituto de Criminalística e apresentei ao Dr. Roberto Eiras o novo material fornecido por Luiz Coimbra, assim como as fichas de assinatura, em xérox, de Caetano Coimbra.
O Dr. Roberto Eiras declarou-me, após o exame do material, que não poderia fornecer parecer sobre o caso por questão de ordem burocrática, a não ser que fosse oficialmente solicitado pela família de Caetano Coimbra. No entanto, esclareceu-me, como informação estritamente particular, que entre a mensagem psicografada e os escritos de Caetano, inclusive sua assinatura, existem divergências de ordem formal e grafocinética, assim como quanto às qualidades gerais de grafismo e de traçados. Tais elementos, disse-me ele, são suficientes para a certeza de que a escrita cursiva não foi oriunda de uma fonte exterior, no caso a telepatia. Ainda mais: na verificação entre a psicografia e a escrita normal da psicógrafa estão presentes elementos identificadores do mesmo punho, exibindo um grafocinetismo próprio da personalidade gráfica da psicógrafa.
ANÁLISE DO CASO
A intenção do meu amigo Luiz Coimbra era demonstrar que a mensagem psicografada por sua filha Diana fora obtida por ação direta do espírito do seu irmão Caetano Coimbra, quando ainda vivo, tanto assim que a assinatura na mensagem mediúnica tivera sido reconhecida em Cartório. Por isto, ele ponderou: “Pode haver prova mais concludente da existência da alma e de sua comunicação, quando ainda em vida (material…)?!”
Na minha condição de parapsicólogo, me esquivei de analisar a questão da sobrevivência post mortem do homem e me interessei em estudar o caso sob dois enfoques distintos:
- se se tratava de uma possível ação psicocinética de Caetano Coimbra sobre o organismo de sua sobrinha, reproduzindo, por psicografia, a sua assinatura,
- se se tratava de uma experiência precognitiva sob forma psicográfica.
Pela leitura dos dados obtidos, observa-se que Caetano Coimbra era portador de câncer ósseo com uma sobrevida que excedeu, de muito, o prognóstico médico. Logo, o seu falecimento, a qualquer tempo, era esperado, principalmente quando foi internado no Hospital Santa Joana e ali permaneceu, durante todo o tempo “dopado”, pelo efeito de fortes analgésicos e com brevíssimos momentos de lucidez.
Não obstante, só foi hospitalizado duas vezes: uma, há quatro anos atrás, para se submeter a uma cirurgia de câncer de próstata e a outra, no dia 27 de julho de 1995, na emergência do Hospital Santa Joana, onde veio a falecer no dia 13 de agosto do mesmo ano.
Em momento algum, Caetano demonstrou aos seus familiares o desejo de se comunicar psiquicamente com qualquer deles e, devido ao seu estado de precária lucidez, jamais fez referência ao fenômeno acontecido. Logo, não se pode saber se ele, voluntária ou involuntariamente, interagiu telepaticamente com a sua sobrinha psicógrafa e, em caso afirmativo, se teve consciência do fato.
Caetano era muito ligado afetivamente à sua sobrinha Diana, filha de seu irmão Luiz e esta, por sua vez, jamais psicografara comunicação de pessoa viva. A psicógrafa, por sua vez, ratificou que possuía uma “afinidade muito grande” por seu tio e que sentia “uma profunda admiração por suas qualidades morais e intelectuais”.
Diana, no momento da psicografia, estava em sua residência, convalescendo de uma histerectomia, quando teve vontade de escrever sobre seu tio Caetano. Ao apanhar um caderno, sentiu, imediatamente, que ele queria transmitir-lhe uma mensagem, a qual foi escrita apoiada sobre os seus joelhos. Ao término da mesma, recebeu, intuitivamente, a recomendação de Caetano para ajeitar o bloco de papel em seu colo, pois iria apor a sua assinatura, a qual, posteriormente, foi reconhecida pelo Cartório Pragana, em 2 de agosto de 1995, ou seja, onze dias antes da sua morte.
A mensagem psicografada data de 29 de julho de 1995, ou seja, dois dias após o internamento hospitalar de Caetano e se caracteriza pela rara serenidade de uma pessoa ante a iminência da sua própria morte e da morte de outra pessoa querida, no caso a sua própria genitora. Ele não exalta o seu sofrimento, nem adota uma postura de estoicismo, procurando, antes, preservar o equilíbrio emocional de seus familiares. Relata o seu contato com o Além, em companhia de sua genitora, em procedimento de preparação para o desencarne próximo dos dois e singelamente declara: “Estamos bem e tudo passará”.
A genitora dos Coimbra, D. Maria de Lourdes Gomes Coimbra, então com quase 87 anos de idade, era uma doente crônica, tendo o seu estado de saúde se agravado, após o internamento de Caetano, não tendo tomado conhecimento, ao menos a nível consciente, da morte de seu filho. Ela faleceu em 24 de agosto de 1995, ou seja, 11 (onze) dias após a morte de Caetano Coimbra.
HIPÓTESES
Podemos aventar duas hipóteses para a explicação do caso:
- a) Fenômeno psicológico
- b) Fenômeno parapsicológico
Fenômeno psicológico
À primeira vista, a explicação psicológica parece a que melhor se ajusta ao caso, visto que a morte de Caetano e de D. Maria de Lourdes era um fato esperado por todos. O conteúdo da mensagem reflete a crença de todos os membros da família na continuidade da vida após a morte.
Poder-se-ia argumentar que a psicógrafa, temerosa da morte do tio querido, procurou, inconscientemente, conformar-se com a sua perda, elaborando uma mensagem dentro da concepção espírita da família. E, neste processo de dramatização catártica, incluiu também a morte de sua avó, cujo estado de saúde, pela sua própria idade, inspirava cuidados.
Fenômeno parapsicológico
Poderíamos argumentar que a mensagem psicográfica resultou de uma relação telepática entre a psicógrafa Diana Coimbra Araújo e seu tio Caetano Coimbra, embora aquela tenha asseverado que jamais teve esse tipo de experiência com este, apesar de ser grande a convivência entre ambos.
Diana esclareceu que tinha uma “afinidade muito grande” por seu tio, o que constitui em fator facilitador da experiência telepática. E informa, ainda, que, quando se tornou adulta, passou a sentir “uma profunda admiração por suas qualidades morais e intelectuais”.
É possível que, por telepatia, Diana tivesse captado do inconsciente de Caetano, assim como de sua avó, a informação da morte iminente dos dois, dramatizando o seu conteúdo na conformidade de sua crença espírita. E esta precognição, resultante da interação telepática, logrou tornar-se realidade.
Neste caso, a não comprovação grafoscópica da mensagem psicografada não invalidaria a experiência precognitiva, tornando apenas inválida a hipótese de uma ação psi-kapa do inconsciente de Caetano sobre o mão de Diana no momento da aposição de sua assinatura.
Observando-se atentamente a assinatura de Caetano e a produzida pela psicógrafa, constata-se uma certa semelhança entre elas, o que poderia ser explicado por uma criptomnésia de natureza psicológica e não parapsicológica.
Quando por mim indagada se conhecia bem a caligrafia e a assinatura de Caetano, Diana respondeu sem qualquer tergiversação e com a reconhecida sinceridade dos Coimbras: “Quem convive com alguém desde que nasceu, tem que conhecer a caligrafia e a assinatura dela.”
Naturalmente, o afeto e a admiração de Diana por Caetano imprimiram, no seu inconsciente, as características psicológicas do seu tio, inclusive a sua caligrafia e assinatura. E, assim, por ocasião da manifestação precognitiva, que noticiava, por psicografia, a morte próxima de Caetano, ela, para validar, inconscientemente, a autenticidade da mensagem mediúnica de seu tio, apôs, ao final da comunicação, a sua assinatura.
CONCLUSÃO
Em consonância com o famoso princípio da “navalha de Ockam”, aplicado ao presente caso, temos de reconhecer que a explicação psicológica prevalece sobre a parapsicológica, sem que, porém, a exclua.
O conteúdo da mensagem psicográfica não parece originário de uma relação telepática, mas de uma elaboração do próprio inconsciente da psicógrafa.
A morte iminente de Caetano era um acontecimento logicamente esperado e o possível falecimento de sua genitora, doente crônica e com 86 anos de idade, constituía uma probabilidade razoável, notadamente quando ela, direta ou indiretamente, tomasse conhecimento da morte do filho.
A mensagem psicográfica revela a aceitação da morte esperada, devidamente adornada com uma dramatização doutrinária espírita.
O exame grafoscópico, no caso presente, desautorizou a hipótese de que a mente de Caetano Coimbra agiu psicocineticamente sobre o sistema nervoso e muscular de sua sobrinha Diana, fazendo com que esta, por psicografia, reproduzisse sua caligrafia e assinatura.
Nem sequer podemos argumentar que a mente da psicógrafa utilizou, exitosamente, o conhecimento que possuía, consciente ou inconscientemente, da grafia e da assinatura de seu tio Caetano Coimbra, para a composição da mensagem mediúnica.
O reconhecimento da firma de Caetano pelo Cartório Pragana foi um equívoco tabelionário lastimável, gerando uma convicção ilusória na família dos Coimbra de que a mensagem psicografada resultou, inequivocamente, de uma comunicação mediúnica entre vivos ou, na linguagem parapsicológica, de uma experiência telepática.
(*) Valter da Rosa Borges é fundador do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas – IPPP e atualmente preside o seu Conselho Direto. É membro fundador da Sociedade Brasileira para o Progresso da Parapsicologia, membro pleno da Parapsychological Association, membro da Associação Iberoamericana de Parapsicologia e da Associação Brasileira de Parapsicologia. É membro fundador da Academia Pernambucana de Ciências, membro fundador e emérito da Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro, membro da Academia de Artes e Letras de Pernambuco e da União Brasileira de Escritores – seção de Pernambuco.