Uma parceria bem sucedida

Valter da Rosa Borges

O parapsicólogo Willem Tenhaeff e o paranormal Gerard Croiset constituem um dos raros e bem sucedidos casos de parceria na investigação dos fenômenos parapsicológicos.

Certa ocasião perguntaram a Tenhaeff qual a principal diferença metodológica entre ele e J. B. Rhine. Tenhaeff respondeu que, enquanto Rhine se interessava exclusivamente pela pesquisa quantitativa e estatística do baralho, ele se interessava tanto pelo método quantitativo quanto pelo qualitativo. Porém, na sua opinião, o método qualitativo é mais importante, porque a Parapsicologia já avançou além do estágio quantitativo. Contudo, advertiu que ambos os métodos são importantes.

Gerard Croiset foi um dos mais testados Agentes Psi de todos os tempos. Desde 1946, ele se submeteu a numerosos testes com Tenhaeff e outros parapsicólogos de diversos países. Em virtude disto, segundo o seu biógrafo Jack Harrison Pollack, ele solucionou centenas de casos em muitas partes do mundo.

Croiset ajudou a polícia, não só da Holanda, mas de outros países da Europa, assim como dos Estados Unidos, solucionando muitos crimes misteriosos.

Ele preferia ser consultado por telefone, porque, na sua opinião, este procedimento eliminava influências estranhas e reduzia a confusão ou sobreposição de impressões.

Croiset não aceitava pagamento pelos seus trabalhos, ainda mesmo quando consultado pela Polícia, pois afirmava que utilizava seus poderes em benefício da humanidade.

Ele disse uma vez:

“Eu tenho um dom de Deus que não compreendo. Eu não posso usá-lo para fazer dinheiro em meu benefício. Se eu o fizer, eu posso perdê-lo.”

Croiset visualizava imagens, colhidas da memória das pessoas que o consultavam. Alguma vezes, essas imagens surgiam em sua visão em grande velocidade. Por isso, ele não pensava com palavras, mas com imagens. Como já observara H. H. Price, os métodos educacionais modernos desencorajaram o pensamento por imagens, substituindo-o pelo pensamento por palavras.

Croiset descrevia, com assombrosa precisão, os locais onde as pessoas desaparecidas tinham passado,onde naquele momento se encontravam, as roupas que trajavam, onde, em caso de morte, os seus corpos se achavam ou seriam achados. Também com idêntica precisão, localizava animais e objetos perdidos. Em algumas ocasiões, Croiset se equivocava, mas quase sempre isso ocorria nos pequenos detalhes.

Em maio de 1951, J. B. Rhine visitou a Holanda, e Tenhaeff o apresentou a Croiset. Rhine, então, o convidou para testá-lo, utilizando o baralho Zener, mas Croiset recusou o convite, alegando:

“Eu respeito muito o seu trabalho, Dr. Rhine. Mas eu não gosto mesmo de adivinhar cartas. Eu tenho de estar emocionalmente envolvido num caso como o de uma criança perdida ou o de alguém em dificuldade.”

Em virtude disto, Pollack uma vez lhe perguntou, porque ele não se submeteu a testes com J. B. Rhine. E Croiset argumentou:

“Os testes estatísticos de Dr. Rhine poderiam somente provar que eu tenho uma habilidade paragnóstica. Eu sei disso! Eu estou muito ocupado para fazer jogos como cartas de adivinhação como uma criança! Os testes qualitativos do Dr. Tenhaeff são muito mais profundos do que os quantitativos do Dr. Rhine. Eles mostram o valor daquilo que estou tentando fazer – como eu posso ajudar pessoas. Isto é mais importante para mim do que descobrir quantas cartas eu posso adivinhar.”

Pollack apresentou, no seu livro, quase uma centena de casos que demonstram convincentemente a extraordinária paranormalidade de Gerard Croiset. O seu índice de acertos é tão impressionante que os seus pequenos equívocos contribuem para ressaltar a natureza extremamente complexa de sua aptidão psi.

Observou Pollack que, como quase todo grande paranormal, Croiset era também narcisista e tinha seus momentos de megalomania. Diz ele ainda que o Prof. Tenhaeff também achava que Croiset tinha uma grande vaidade, agressividade, uma sede forte pelo poder e falta de trato social, o que lhe causou ocasionalmente alguns conflitos. Aliás, Tenhaeff já havia observado que uma pessoa dotada de aptidão paranormal não tem uma personalidade harmoniosa,

Apesar disso, conta Pollack, Croiset uma vez admitiu que “mesmo um bom paragnóstico seria de pouca utilidade para a polícia sem a ajuda de um parapsicólogo experiente como o Professor Tenhaeff”

Tenhaeff observou que Croiset tinha um bloqueio mental, quando usava seu poder para descobrir ladrões. Por sua vez, Pollack acha que, em parte, esta inibição decorreu do fato de que um amigo íntimo de Croiset foi injustamente acusado de furto e preso. Croiset já havia revelado o motivo desta inibição:

“Imagine se eu acusasse a pessoa errada e ajudasse a pôr um inocente na cadeia como aconteceu com o meu amigo.”

Croiset via facilmente o passado de pessoas, quando ele tinha semelhança com a sua própria experiência de vida. Era uma espécie de empatia temática e, por isto, de forte conteúdo emocional, o que constitui um poderoso fator facilitador da experiência psigâmica. Tratava-se de uma empatia situacional e não pessoal, visto que, em muitos casos, Croiset não conhecia a pessoa com a qual entrava em relacionamento psi. É possível, assim, que uma empatia temática associada a uma empatia pessoal produza um resultado psigâmico altamente satisfatório.

Os maiores êxitos obtidos por Croiset se referiam à localização de pessoas desaparecidas, notadamente de crianças. Por isso, muitos pais de crianças que tinham desaparecido preferiam telefonar para Croiset antes de procurar a Polícia.

Informa Pollack que os pais, como sinal de agradecimento, ofereciam dinheiro a Croiset pelos seus serviços. Mas ele sempre lhes respondia:

“A única recompensa que eu quero é que, por obséquio, enviam um relato completo para o Professor Tenhaeff”.

Infelizmente, comenta Pollack, poucos foram os que atenderam a este pedido.

Quando criança, Croiset quase se afogou. Por isso, tinha uma estranha associação com água e afogamento. E ele confessou:

“Quando eu tenho de encontrar com os pais de crianças afogadas, eu algumas vezes me sinto tão mal que não posso dizer-lhes o que aconteceu.”

Em relação à localização de objetos perdidos, Croiset tinha uma posição definida. Ele só se interessava em localizá-los, quando sentia que se tratava de um serviço realmente útil.

Um dos casos mais interessantes no campo da diagnose por clarividência ocorreu com Croiset, quando foi procurado, em novembro de 1953, pelo senhor F. Wolle, de Colônia, Alemanha, que não tinha tido sucesso no tratamento médico de suas dores abdominais. Em desespero, viajou para a Holanda a fim de consultar-se com Croiset, que, logo ao examiná-lo, exclamou:

“Que estranho! Eu vejo uma linha ao redor de sua bexiga. Eu nunca vi alguma coisa igual antes em minha vida. É como se existissem duas bexigas! Como isto é possível? Tudo o que sei é que elas estão cheias e pressionando juntas, e eu vejo uma grande linha entre elas. Vá e diga ao seu médico o que eu acabei de declarar”.

Relutantemente, o senhor Wolle concordou em fazer um raio X e o resultado demonstrou a existência de duas bexigas, resultantes de um defeito congênito.

Essa clarividência diagnostica, porém, afetava emocionalmente Croiset. Ele confessou, certa vez, que isto lhe fazia mal, embrulhando-lhe o estômago.

Croiset também fazia perícia de máquinas, conforme conta Pollack.

No dia 30 de junho de 1958, o Capitão Willem Jansen, por sugestão do professor Tenhaeff, telefonou para Croiset a fim de lhe pedir ajuda. E, em desespero, lhe contou:

“Nosso navio está preso no porto e nós não podemos movê-lo. Alguma coisa está errada com a máquina embora ela seja nova em folha. Estamos ancorados aqui há três semanas e temos experimentado tudo. Os engenheiros não encontraram o defeito. Nossa carga está se estragando. Se não partirmos logo, perderemos a maior parte do nosso lucro. Por favor, pode ajudar-nos, sr. Croiset?”

Croiset, de imediato, respondeu:

“Eu vejo duas máquinas. Elas estão colocadas com as pontas em direção ao navio, com suas cabeças face a face na frente da embarcação. Está correto?”

Ante a afirmativa, continuou:

“Desça para a casa de máquinas onde as duas máquinas estão. Olhe para a máquina da direita ao fundo. Você encontrará um tubo que me faz lembrar o sifão de bacia sanitária. Naquele pequeno tubo está uma pequena fenda. Você pode encontrá-la só pela partida do motor. Então ela escoa ali. Experimente isto e me telefone de volta.”

Dois dias depois, Jansen telefonou para Croiset, agradecendo a ajuda e dizendo que o motor estava funcionando perfeitamente. A fenda que Croiset tinha visto fora encontrada exatamente no lugar que ele designara. Com a espessura de um fio de cabelo, ela era imperceptível, a menos que o óleo fosse forçado a sair mediante uma grande pressão. Ela havia sido encontrada no buraco da lingüeta pelo tubo que Croiset tinha descrito.

Croiset também obteve êxito na investigação paranormal de fósseis e manuscritos. O seu maior feito, porém, em excelentes condições experimentais, consistiu no teste da cadeira vazia, mediante o qual ele era capaz de predizer, no prazo de uma hora ao de vinte seis dias antes, quem seria a pessoa que iria sentar-se numa determinada cadeira, em determinado lugar e em determinado dia.

Em testes de psicometria, o êxito de Croiset foi extraordinário. Em um dos experimentos, relatados por Pollack, ele não só descreveu o conteúdo de uma carta fechada, mas também descreveu a pessoa que a escrevera, o seu estado de saúde e se referiu, ainda, a uma cirurgia a que ela se submeteu para a extração da vesícula biliar. Este experimento aconteceu em 20 de junho de 1950.

O teste da cadeira vazia foi inventado pelo Dr. Eugene Osty, em Paris, em 1926, no Instituto Metapsíquico Internacional, e utilizado com Pascal Forthuny.

Em 1947, o prof. Tenhaeff começou a fazer, com Croiset, testes de precognição, utilizando a idéia do Dr. Osty. Assim, foram realizados, com êxito, cerca de 400 experiências, sob rígido controle de cientistas na Holanda, Itália, Áustria, Alemanha e Suíça. O número de uma cadeira num evento público futuro era escolhido ao acaso e Croiset, convidado a descrever, com detalhes, a pessoa que nela se sentará.

Pollack descreveu uma destas impressionantes experiências:

“Aqui está um típico exemplo das usuais cautelosas salvaguardas de Tenhaeff: No dia 6 de janeiro de 1957, às 14:00 horas, Gerard Croiset foi ao Instituto de Parapsicologia com o Professor Tenhaeff, a srta. Louwerens, e dois professores da Universidade de Utreque, L. H. Bretschneider, um biólogo, e J. A. Smit, um físico. O paragnóstico foi conduzido a um projeto de assentos para uma reunião a ser realizada vinte cinco dias mais tarde na residência da Sra. C. V. T, uma mulher de Hague a qual nem ele nem o Professor Tenhaeff conhecia. A lista de convidados para as trinta cadeiras não tinha ainda sido ajustada. Croiset escolheu a cadeira Número 9.

“Pode dizer-nos alguma coisa acerca da pessoa que ocupará a cadeira Número 9?”perguntou o Professor Tenhaeff.

Croiset tocou com o dedo o mapa por um momento e então começou a falar para um gravador:

“1. Na sexta-feira, dia 1 de fevereiro de 1957, na casa de uma senhora no Hague, uma jovial, ativa, pequena senhora de meia idade se sentará na cadeira Número 9. Ela é muito interessada em cuidar de crianças.

  1. Entre 1928 e 1930, eu vejo que muitas de suas pegadas foram tomadas perto do Circo Kurhaus e Strassburger em Scheveningen.
  2. Quando ela era uma garotinha, teve muitas experiências num distrito onde havia muitos fazedores de queijo… Eu vejo uma fazenda em chamas onde alguns animais estão morrendo queimados.
  3. Eu vejo também três garotos. Um tem uma estatura igual a minha. Ele tem um negócio em alguma área ultramarina. Parece-me ser um território britânico.
  4. Está ela olhando para um quadro de um marajá? Eu vejo alguém da Índia… ele está vestindo a roupa de um habitante daquele país… um turbante com uma grande jóia.
  5. Deixou ela, como uma criança, cair um lenço numa gaiola com animais selvagens? Eu vejo um pedaço de pano cair. Estes animais, e eles parecem leões, rasgam o pano em pedaços.
  6. Eu vejo um pedaço de almofada com o número seis no topo. A princípio era um cinco mas ela o mudou para um seis. Isto acabou de acontecer e ela teve muitas discussões sobre isto.
  7. Recentemente ela também sujou suas mãos numa antiquada caixa de tinta? Eu vejo uma caixa com pequenas pastilhas de tinta… Ela cortou-se levemente com isto? O dedo médio de sua mão direita.
  8. Ela também recentemente foi visitada por uma mulher amiga cerca de quarenta e quatro anos de idade… não muito alta, bem proporcionada, robusta, com cabelos pretos, e vestindo uma roupa com diversas pregas largas na frente? Esta mulher falou com ela sobre problemas sexuais e ela aconselhou sua amiga a procurar um psiquiatra?
  9. Ela experimentou uma forte emoção com a ópera Falstaff? Foi aquela a
    primeira ópera que ela viu?
  10. Seu pai recebeu uma medalha de ouro por serviços prestados?
  11. Ela levou uma garotinha ao dentista? E esta consulta criou muita comoção? Eu posso quase dizer que isto acontecerá na sexta-feira, 1 de fevereiro de 1957.”

A fita foi rodada para o clarividente e lhe perguntaram se ele tinha algumas impressões adicionais. Sim, Croiset tinha:

Ponto 2. “Aqui, eu vejo o quadro de um homem de cerca de 45 anos de idade, muito emocional e sensível… sua esposa não o entende. Eles estão separados… Este homem tinha negócios com outras mulheres. E sua esposa tinha negócios com outros homens.”

Ponto 4. “Eu tenho a impressão que um desses garotos está morto. Sua morte tem alguma coisa a ver com a (alemã) ocupação de nosso país.”

Ponto 5. Admitindo que esta imagem de um leão foi provavelmente simbólica, Croiset disse: “Eu uma vez comparei um mesmerista a um domador de leão e o público aos leões. Quando o domador de leão fica muito perto dos leões, eles o devoram.

“Ponto 6. “Eu de repente vi minha irmã adulta quando criança. Quando ela tinha cinco anos de idade, eu a levei ao dentista. Ela recusou abrir a boca e permaneceu com o dentista por diversas horas.”

No dia seguinte, em 7 de janeiro, como fora preestabelecido, o Professor Tenhaeff telefonou para o Dr. A. Tuyter em Utreque, dizendo: “O Sr. Croiset gravou suas impressões para o teste da cadeira de 1 de fevereiro.” Naturalmente, ele não revelou nada que o paragnóstico tinha dito. Dr. Tuyter então telefonou para a Sra. C. V. T., dizendo-lhe: “Você pode expedir os trinta convites agora.”

As primeiras impressões de Croiset foram então transcritas do gravador, e quarenta cópias foram mimeografadas. Mas seus dados suplementares não foram mimeografados porque não poderiam ser discutidos com a pessoa “alvo” até a sua verificação.

Para garantir a seleção acidental das cadeiras, dois pacotes de cartas (cada um numerado de 1 a 30) foram preparados no Instituto de Parapsicologia em 31 de janeiro.   Um pacote foi cortado por meio  de  uma  científica   “chave  de  tempo” completamente embaralhado e lacrado. O outro foi deixado sem ser lacrado.

Na noite seguinte, em 1 de fevereiro, o Professor Tenhaeff, as Srtas. Nick e Annet Louwerens, o Dr. Tuyter e um visitante recém-chegado parapsicólogo, Magister J. Fahler, chegaram a casa da Sra. C.V.T., no Hague, às 19 horas. As cartas não lacradas foram colocadas nas trinta cadeiras numeradas (seis filas com cinco cadeiras) no espaçoso aposento de teste no primeiro andar.

Enquanto isso, no porão, os trinta convidados, participantes desconhecidos recebiam uma explicação da técnica do teste da cadeira pelo Professor Tenhaeff. Todos os trinta receberam uma cópia mimeografada dos dados de Croiset e lhes foi dito: “Por favor leiam cuidadosamente. Se algum desses pontos se aplica a você, diga sim à direita de cada ponto.”

O envelope lacrado das trinta cartas numeradas foi então quebrado e como os testados começaram subindo a escada, cada um pegou um de Nicky Louwerens. À porta do aposento do teste, sua irmã Annet verificou se cada pessoa estava sentada corretamente. “Por favor, não toque em nenhuma cadeira que não tenha seu número,” advertiu Dr. Tenhaeff, “porque isto pode afetar os resultados.”

Depois de todos estarem devidamente sentados, Gerard Croiset soou a campainhia da porta da frente e foi dramaticamente introduzido no aposento. Ele tinha guiado as trinta e seis milhas de Utreque para Hague sob ordens de não se apresentar antes das 20:15; isto para eliminar qualquer possibilidade de que sua presença pudesse influenciar a seleção da cadeira.

A forma mimeografada foi lida em alta voz ponto por ponto. A cada momento a Sra. M.J.D., a mulher que tinha o bilhete Número 9 – e portanto cadeira Número 9 – era indagada se alguma das impressões de vinte e seis dias atrás se aplicava a ela. “Sim, muitas delas sim”, ela admitiu. Porque virtualmente nenhuma das afirmações se aplicava as outras vinte e nove pessoas, ela foi considerada a pessoa “alvo”.

A avaliação pública daquela noite de 1 de fevereiro e mais tarde em 18 de maio em entrevista privada com ela em Amsterdam e em 20 de junho a sessão gravada com ela e seu marido no Instituto de Parapsicologia revelou o seguinte:

Ponto 1. A Sra. M.J.D. tinha quarenta e dois anos de idade, uma mulher jovial, ativa e vivaz que admitiu ter interesse em cuidar de criança. Quando criança, ela muitas vezes observou que queria um castelo com uma centena de criancinhas!

Ponto 2. Seus pais eram divorciados. Seu pai, um homem sensível e emocional, trabalhou na Netherlands East Indies. Quando ele periodicamente retornava a Holanda de folga, freqüentemente a levava para o circo em Scheveningen. Ambos os pais da Sra. D. mantinham íntimas relações com outras mulheres e homens respectivamente.

Ponto 3. Quando criança, a Sra. D. muitas vezes visitava fazendas. Mas o principal produto era manteiga, não queijo. O fogo na fazenda com animais mortos por queimadura e “visto” por Croiset pode ser explicado por uma experiência do filho mais velho da Sra. D.: o menino trabalhava numa fazenda onde presenciou um cavalo morto por um raio; ele ficou profundamente impressionado por muito tempo depois.

Ponto 4. Embora a Sra. D. não pudesse conectar os dados de Croiset com algum evento de sua própria vida, seu esposo declarou que ele tinha dois irmãos. Um, que voluntariamente combateu na Indonésia em 1945, foi treinado na Inglaterra, mas apenas permaneceu em Singapura. O outro irmão, que morreu num campo de concentração da Alemanha, era do feitio de Croiset.

Ponto 5. Dias antes do encontro de 1 de fevereiro, a Sra. D. admitiu ter olhado para o quadro de um logue num livro. Ela então teve uma conversa com seu filho acerca disto e do Hindu Magi. O esposo da Sra. D. acrescentou que sua mulher lhe tinha dito que em muitas noites ela repetidamente tinha consciência da presença de um “ajudante invisível” ou “protetor espiritual” que ela imaginava ser um logue.

Ponto 6. A Sra. D. insistiu que ela não poderia possivelmente “colocar” esta imagem. Mas Croiset replicou que isto poderia tornar-se claro quando o ponto 9 fosse discutido.

Ponto 7. Entre 26 de janeiro e 1 de fevereiro, quando a Sra. D. estava conferindo seu livro de economia doméstica, descobriu que tinha posto um cinco onde deveria ter sido um seis na adição. Por isto o livro de economia doméstica não estava correto e isto causou uma discussão com seu marido.

Ponto 8. Em janeiro passado, as crianças da Sra. D. estavam “bisbilhotando” uma caixa de tintas antiquada com pequenas pastilhas de tinta. Ela queria ficar livre delas e em fazendo assim usou suas mãos e uma toalha suja com tinta. Ao mesmo tempo, cortou o dedo médio de sua mão direita numa lata de vegetais – o que indica que Croiset combinou duas imagens.

Ponto 9. A Sra. D. admitiu que uma mulher amiga, com a qual ela tinha discutido recentemente problemas sexuais, não era muito alta, e era de bom feitio, robusta, tinha cabelos pretos, e freqüentemente usava um vestido com pregas largas. Ela havia aconselhado esta mulher a consultar um mesmerista. Quando a Sra. D. disse isto na reunião de 1 de fevereiro, Croiset havia mencionado que ela tinha feito errado em encaminhar esta mulher para consultar um mesmerista. Quando ele ouviu o nome do mesmerista, em 20 de junho, no Instituto de Parapsicologia, Croiset disse: “Este homem não é confiável em questões sexuais. Um mesmerista ou psiquiatra deve saber como permanecer à distância de seus pacientes. De outra maneira os leões o devorarão.”

Perguntado sobre o que isto tinha a ver com o lenço, Croiset respondeu que isto se referia a um jogo que ele brincava quando criança. “Lenço escondido, quer dizer proibido.” Ninguém deverá contar o que houve entre uma mulher e seu mesmerista ou psiquiatra.

Ponto 10. A Sra. D., uma cantora profissional de ópera, confirmou que a primeira ópera na qual ela cantou fora Falstaff. Além disso, ela se apaixonou pelo seu tenor.

Ponto 11. Quando seu pai se aposentou, ele foi presenteado com uma caixa de cigarros com inscrição dourada.

Ponto 12. A irmã pequena da Sra. D. tinha uma cárie no dente da frente. Em 1 de fevereiro, a Sra. D. a levou ao dentista – três semanas depois da previsão de Croiset. A criança estava muito assustada com a dor e sofreu durante a visita.

Vamos fazer agora uma análise minuciosa deste caso extraordinário que, por si só, vale mais do que todas as pesquisas com baralho Zener.

Croiset teria de descrever a pessoa que se sentaria, após vinte cinco dias da realização do teste, em uma das trintas cadeiras numeradas num determinado recinto em Hague, na residência da Sra. C.V.T., a qual nem ele nem o Professor Tenhaeff conhecia.

Quando Croiset escolheu a cadeira de número 9, a lista dos trinta convidados ainda não havia sido elaborada. Logo, não se pode alegar que, mesmo telepaticamente, Croiset influenciara na escolha de pessoas que, além de desconhecidas dele e do professor Tenhaeff , ainda não tinham sido escolhidas. E, por isso, não poderia ter influído, por este meio paranormal, sobre a pessoa “alvo” para que ela se sentasse na cadeira 9.

Escolhida a cadeira 9, Croiset passou a descrever a pessoa que nela sentaria, assim como alguns fatos ligados à sua vida. Analisemos um por um todos esses fatos.

Croiset afirmou que uma senhora jovial, ativa, pequena e de meia idade se sentará na cadeira Número 9 e que ela é muito interessada em cuidar de crianças.

A pessoa “alvo”, a Sra. M.J.D. declarou que tinha quarenta e dois anos de idade, (logo, uma pessoa de meia idade) e que realmente era uma mulher jovial, ativa e vivaz e que tinha interesse em cuidar de criança.

Croiset afirmou ter visto, entre os anos de 1928 e 1930, as pegadas da pessoa “alvo” perto do Circo Kurhaus e Strassburger em Scheveningen.

A Sra. D., embora não se referisse a datas, confirmou que o seu pai freqüentemente a levava ao circo em Scheveningen, mas nada disse sobre o nome do circo.

Croiset “viu” um homem de cerca de 45 anos de idade, muito emocional e sensível, cuja esposa não o entende. Eles estão separados. O homem tem negócios com outras mulheres e sua esposa, com outros homens.

A Sra. D. esclareceu que seus pais eram divorciados. Disse que seu pai era um homem sensível e emocional, mas não fez referência a sua idade. E admitiu que os seus pais mantinham relações íntimas com outras mulheres e homens respectivamente. Croiset não se referiu à intimidade destas relações. Teria sido uma omissão ou uma atitude de discrição em nível consciente ou inconsciente?

Croiset afirmou que quando a pessoa “alvo” era uma garotinha, teve muitas experiências num distrito onde havia muitos fazedores de queijo. A Sra. D. esclareceu que freqüentemente visitava fazendas, mas que ali não se fabricam queijos, mas manteiga. Croiset não foi claro sobre o que eram essas experiências, nem a Sra. D. a elas se referiu. Essas experiências não existiram ou a Sra. D. preferiu omiti-las por questão de foro íntimo?

Croiset “viu” uma fazenda em chamas onde alguns animais morriam queimados. A Sra. D. negou que este fato aconteceu com ela, mas esclareceu que o seu filho mais velho e que trabalhava numa fazenda, viu um cavalo ser morto por um raio. Esta experiência lhe causou uma impressão tão profunda que perdurou muito tempo depois.

Poder-se-ia alegar que esta experiência foi captada telepaticamente pelo inconsciente da Sra. D. e que Croiset daí retirou a informação, dando-lhe a impressão de que se tratava de fato ligado à vida daquela senhora. Acontece, porém, que Croiset não conhecia a Sra. D. e, no dia em que fez esta declaração, ela ainda não tinha sido escolhida.

Croiset afirmou que “viu” três garotos. Um deles com a estatura igual a de Croiset e que tinha negócio em alguma área ultramarina, parecendo ser um território britânico. Pareceu-lhe ainda que um desses garotos já morrera e que a sua morte tinha algo a ver com a ocupação alemã na Holanda.

Mais uma vez, a Sra. D. negou estes fatos. Seu esposo, porém, declarou que ele tinha dois irmãos. Um, que voluntariamente combateu na Indonésia em 1945, foi treinado na Inglaterra, mas apenas permaneceu em Singapura. O outro irmão, que morreu num campo de concentração da Alemanha, era do feitio de Croiset.

Croiset se equivocou no número dos garotos. Confundiu as informações. O garoto falecido, realmente morreu em virtude da ocupação alemã na Holanda. E o garoto que tinha o seu feitio estava vivo.

Croiset disse ter visto a pessoa “alvo” olhando um quadro de um marajá, trajando roupa típica de seu país e um turbante com uma grande jóia.

A Sra. D. admitiu ter olhado para o quadro de um iogue num livro, dias antes da realização do teste em 1 de fevereiro. Por isto, teve uma conversa com seu filho acerca deste fato. Seu esposo acrescentou que ela lhe tinha dito que, em muitas noites, tinha consciência da presença de um “ajudante invisível” ou “protetor espiritual” que ela imaginava ser um iogue.

Croiset se perguntou se a pessoa “alvo”, quando criança deixara cair um lenço numa gaiola com animais selvagens. Estes animais, que pareciam leões, rasgaram o pano em pedaços. Admitiu, logo depois, que essa imagem de um leão foi provavelmente simbólica, e esclareceu:

“Eu uma vez comparei um mesmerista a um domador de leão e o público aos leões. Quando o domador de leão fica muito perto dos leões, eles o devoram.”

A Sra. D não fez qualquer comentário sobre este tópico.

Croiset “viu” um pedaço de almofada com o número seis no topo. Anteriormente, ali existia o número cinco, mas a pessoa “alvo” mudou para seis, o que resultou em muitas discussões sobre o fato.

A Sra. D. informou que, entre 26 de janeiro e 1 de fevereiro, quando conferia seu livro de economia doméstica, descobriu que tinha posto um cinco onde deveria ter sido um seis na adição. Esta incorreção foi a causa de uma discussão com seu marido. O único equívoco de Croiset foi confundir o livro com uma almofada.

Croiset afirmou que parecia que a pessoa “alvo” recentemente tinha sujado suas mãos numa antiquada caixa de tinta Ele viu uma caixa com pequenas pastilhas de tinta. Disse, ainda, que a pessoa “alvo” cortou levemente o dedo médio de sua mão direita.

A Sra. D. informou que, em janeiro passado, suas crianças estavam “futricando” uma caixa de tintas antiquada com pequenas pastilhas de tinta. Ela queria livrar-se delas e, em assim fazendo, usou suas mãos e uma toalha suja com a tinta. Ao mesmo tempo, ela cortou o dedo médio de sua mão direita numa lata de vegetais. Croiset não dissera como a Sra. D se cortara.

Croiset disse que a pessoa “alvo” fora recentemente visitada por uma amiga, com idade aproximada de quarenta e quatro anos, não muito alta, bem proporcionada, robusta, com cabelos pretos, e vestindo uma roupa com diversas pregas largas na frente. Esta mulher lhe falou sobre problemas sexuais e ela a aconselhou a procurar um psiquiatra.

A Sra. D. confirmou que uma amiga, com a qual tinha discutido recentemente problemas sexuais, não era muito alta, mas de bom feitio, robusta, com cabelos pretos e freqüentemente usava um vestido com pregas largas. Ela havia aconselhado a amiga a consultar um mesmerista e não um psiquiatra. Um pequeno equívoco de Croiset apenas em relação ao profissional consultado, mas não à natureza da consulta. Talvez porque ele não nutrisse simpatias pelo mesmerismo, criticou a Sra. D, quando veio a saber a que tipo de profissional ela havia enviado a sua amiga.

Croiset afirmou que a pessoa “alvo” experimentou uma forte emoção com a ópera Falstaff talvez por ter sido aquela a primeira ópera que ela viu.

A Sra. D. esclareceu que tinha sido uma cantora profissional de ópera, e confirmou que a primeira ópera na qual ela cantou fora Falstaff. Disse ainda que se apaixonara pelo tenor, fato este omitido por Croiset, talvez por uma atitude de discrição consciente ou inconsciente

Croiset teve a impressão de que o pai da pessoa “alvo” recebeu uma medalha de ouro por serviços prestados.

A Sra. D. disse que quando seu pai se aposentou, foi presenteado com uma caixa de cigarros com inscrição dourada.

Croiset teve a percepção de que a pessoa “alvo” levou uma garotinha ao dentista e a consulta lhe criou muita comoção. E com muita convicção asseverou que isto aconteceria na sexta-feira, 1 de fevereiro de 1957.

Croiset associou esta visão a sua própria experiência, quando levou sua irmã, então com cinco anos de idade, ao dentista. Ela se recusou abrir a boca e permaneceu no consultório odontológico por diversas horas.

A irmã pequena da Sra. D. tinha uma cárie no dente da frente e, por isto, em 1 de fevereiro, ela a levou ao dentista. A criança estava muito assustada com a dor e sofreu durante a visita. Este fato aconteceu três semanas depois da previsão de Croiset.

Um dos testes mais impressionantes de cadeira vazia ocorreu em 15 de outubro de 1952. O professor Tenhaeff estava preparando um teste para se realizar dali a quatro dias em Rotterdam, e escolheu a cadeira número 18. De imediato, Croiset declarou que não estava vendo nada. Perplexo, porque se tratava de um fato inédito neste experimento, Tenhaeff escolheu o número 3. Então Croiset sorriu e, de imediato disse:

“Ali se sentará uma mulher. Ela tem uma cicatriz em sua face. Eu vejo que esta cicatriz tem algo a ver com um acidente automobilístico na Itália.”

Na noite do evento, nevava em Rotterdam. Das trinta pessoas convidadas a comparecer, uma não pôde vir. Era a que se sentaria na cadeira 18, a qual Croiset dissera que não via nada.

Porém, na cadeira 3 se sentou uma mulher com uma visível cicatriz no rosto. Indagada se cicatriz fora decorrente de um acidente automobilístico na Itália, ela confirmou a informação, dizendo que o fato ocorrera há cerca de dois meses atrás.

Pollack relata outros testes de cadeira vazia realizados na Holanda, Alemanha e Itália, cuja precisão dos resultados surpreendeu a outros pesquisadores presentes. Durante cerca de duas décadas, estes experimentos de precognição em laboratório validaram a imensa coletânea de casos espontâneos do gênero, numa demonstração científica, solidamente fundamentada, de que a mente humana possui uma capacidade cognitiva de se relacionar com padrões de virtualidades no seu processo de conversão em acontecimentos da realidade física.

Nota: Todos os dados deste trabalho foram colhidos do livro “Croiset the Clairvoyant”, de Jack Harrison Pollack (Doubleday & Company Inc, Garden City, New York, 1964) e as citações foram por mim traduzidas para o português.

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