Uma súmula do “poltergeist” da Av. João de Barros

Valter da Rosa Borges

 

No dia 30 de abril de 1999, pela manhã, recebi um telefonema do Sr. Maurício Coimbra, que solicitou o meu auxílio para um fenômeno de poltergeist que havia ocorrido na casa de uma senhora, sua amiga, e residente à Av. João de Barros, 340, bairro da Boa Vista. Ele temia que o fenômeno voltasse a se repetir e desejava que eu tomasse conta do caso.

Combinamos que, no dia seguinte, dia 1º de maio, ele viria buscar-me em minha residência para irmos juntos até a casa onde acontecera o fenômeno. Tudo ocorreu segundo o combinado e, por volta das 10 horas da manhã, estávamos na casa da Sra. Maria Regueira Carneiro Leal, onde estavam as pessoas que também presenciaram os fenômenos, as suas filhas, Sras. Maria Elisabeth Regueira Carneiro Leal e Ana Lúcia Carneiro Leal Falcão, e uma jovem de 16 anos de idade, Marinalva Maria da Silva, a qual, há mais de um ano, faz companhia àquelas senhoras.

Disseram-me, na ocasião, que foi o padre da Igreja do Espinheiro, que estivera presente no “poltergeist” do Ed. Paris que as aconselhou a me procurarem.

Os fenômenos que elas me relataram foram, em ordem cronológica, os seguintes:

Dia 14 de abril 

O rádio que se encontrava na cozinha começou a tocar sem que ninguém o tivesse ligado.

Queda do quadro do coração de Jesus, à noite, quando todas as pessoas se encontravam dormindo.

Dia 15 de abril

Por volta das 17:30 começaram a cair pedras do teto (em estilo de xadrês), sem que houvesse dano no mesmo. Uma dessas pedras atingiu a Sra. Maria no rosto, produzindo-lhe um leve ferimento.

A televisor da sala ligou automaticamente e no volume mais alto, no momento em que a Sra. Ana Lúcia passava em sua frente. Ela me informou que ficou ainda mais surpresa, quando observou que o televisor estava desligado da tomada.

Uma cadeira de plástico voou do terraço para o hall de entrada, ficando danificada.

Três quadros voaram da parede, caindo no chão, sem, no entanto, causar dano à moldura.

As portas da cozinha e da sala, de repente, se abriram espontaneamente.

As luzes da casa começaram a acender e a apagar e elas observaram que a iluminação das casas vizinhas estava normal. Foi preciso utilizar uma vela para fazer face à falta de luz intermitente.

Elas observaram, depois, que o maço de velas desapareceu misteriosamente.

Dia 16 de abril

De manhã, o maço de velas desaparecido foi encontrado debaixo da cama de Marinalva.

Dia 17 de abril

Fenômenos de combustão espontânea, queimando uma toalha de mesa, o assento e o espaldar de duas cadeiras, a parte interna do lado direito do guarda-roupa da Sra. Maria Elisabeth, destruindo seus melhores vestidos e a parte interna do lado esquerdo do guarda-roupa da Sra. Maria. Também uma trouxa de roupa começou a incendiar. Como elas residem defronte do Corpo de Bombeiros, solicitaram o seu auxílio. Os bombeiros, ao verificar os pequenos incêndios disseram que nada podiam fazer, porque parecia tratar-se de um fenômeno paranormal.

Assustadas, as Sras. resolveram mudar-se, temporariamente, para a casa da Sra. Lenira Regueira, irmã de Maria e tia de Maria Elisabeth e Ana Lúcia, à rua Bom Pastor, 362, no bairro da Iputinga..

Dia 23 de abril

Na casa da Sra. Lenira, à noite, no quarto onde dormia Mariana, foram ouvidas fortes pancadas na janela.

Entrevista

A possível AP, Marinalva Maria da Silva, tem 16 anos, de estatura mediana, vivaz, de cor clara, parecendo, pelo seu porte, fazer parte da família. Nasceu no Recife, mas viveu durante 14 anos no município de Panelas, Pernambuco e, desde tenra idade, foi criada por um casal de protestantes. Disse-me que sempre desejou morar no Recife e há mais de um ano veio morar com a família Regueira Carneiro Leal.

A sua menarca aconteceu quando tinha 15 anos. Ela se acha um tanto criança para sua idade. Falou-me que era trelosa e desobediente. Seus pais adotivos obrigavam-na a ir ao culto e isto a contrariava. Sempre gostou de festas, mas era reprimida pela rigidez de sua religião. Nunca teve sorte com amizades.

Na casa onde se encontra, sente-se sozinha. Não vai para lugar nenhum. Sente necessidade de ter uma amiga e constrangida por não ter um namorado. Na verdade, sente-se como se tivesse numa prisão. É revoltada contra esta obediência. Sente-se uma estranha na casa.

Orientei-a a respeito da possibilidade de ser a causadora dos fenômenos. Ela disse que já lhe haviam dito isto e ela se sentia culpada. Demonstrei o equívoco de seu julgamento, porque isto não dependia de sua vontade e, de maneira simples, a esclareci a respeito do assunto.

No dia 4 de julho, voltei, novamente ao local, desta vez acompanhado por José Renato de Barros Silva e Márcia da Rosa Borges para fazer filmagens e bater fotografias, visto que as fotos batidas por Maurício Coimbra não foram de boa qualidade. Enquanto Renato e Márcia filmavam e fotografavam, acompanhados pela Sra. Maria Elisabeth, conversei com Maurício e ele me informou que Mariana se encontrava em férias, na casa dos pais adotivos, em Panelas. Os fenômenos haviam cessado, mas a família está receosa que, com a sua volta, eles voltem a acontecer. Asseverei que, em regra geral, o “poltergeist”, uma vez cessado, não retorna, mas, se tal acontecesse, estaríamos dispostos a cuidar, de novo, do caso.

Conclusão

Os relatos das pessoas que presenciaram o “poltergeist” da Av. João de Barros me parecem consistentes e não vislumbrei nas testemunhas qualquer indício de fraude, contradições, manifestações histéricas, mas apenas o desejo de compreender o que estava acontecendo na casa onde moravam.  A agente psi, Mariana, me pareceu uma pessoa sincera e se mostrou muito receptiva durante a entrevista, falando com segurança e simplicidade, e sem subterfúgios. É possível que tenha fraudado, mas não revelou indícios da necessidade emocional de chamar a atenção para si ou de assustar as pessoas da casa onde prestava serviços de doméstica.

O fato de a família não mais me ter procurado até a presente data, leva-me à conclusão de que o “poltergeist” não voltou a manifestar-se.

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