Jones Melo
O professor Valter da Rosa Borges concluiu a tese “Parapsicologia Ciência Interdisciplinar”, nascida de vários anos de estudo e pesquisas realizadas no Recife. Tendo como local o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (Rua da Concórdia, 372, salas 46 e 47), onde desenvolveu e ainda ministra cursos sistemáticos sobre o assunto, ele construiu a tese que representará Pernambuco no 3º Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica, marcado para os dias 25 a 28, no Rio de Janeiro.
Nesta entrevista exclusiva ao DIÁRIO DE PERNAMBUCO, ele explana o assunto.
DP — “Parapsicologia Ciência Interdisciplinar”. Com esta tese, você leva aos congressistas da especialidade, no Rio de Janeiro, uma contribuição objetiva ao estudo científico. Dá para explicar o seu trabalho?
VRB — A Parapsicologia vem se afirmando como ciência autônoma, ampliando o seu campo de pesquisa, invadindo novas áreas do conhecimento e transformando-se, assim, numa ciência interdisciplinar. Por isso, o parapsicólogo, por força dessa interdisciplinaridade deve possuir uma sólida cultura geral para movimentar-se com segurança no estudo e na pesquisa dos fenômenos paranormais.
DP — À luz de seu estudo, quais as ciências interdisciplinadas com a Parapsicologia?
VRB — O objetivo de nosso trabalho é sumariar as possíveis relações entre a parapsicologia e as demais ciências, apresentando sugestões para o intercâmbio de informações e pesquisas recíprocas nas áreas de interesse comum a todas elas.
Na Biologia, por exemplo, podemos observar que a mente humana, em certos fenômenos paranormais, utilizando as energias orgânicas exteriorizadas, é capaz de criar formas viventes momentâneas, seja de pessoas, seja de animais, com todas as aparências de um ser vivo. São os misteriosos fenômenos de “ideoplastia”, demonstrando a capacidade de que dispõe o homem para manipular a matéria viva, construindo graças ao poder criativo do seu inconsciente, um simulacro biológico de duração efêmera. Por outro lado, a versatilidade morfológica do corpo humano é constatável nos fenômenos de transfiguração, em médiuns poderosos como Daniel Dunglas Home (Escócia), o qual, em certas ocasiões apresentava modificação facial e alongamento ou encurtamento de sua estatura.
O corpo humano pode tornar-se momentaneamente indene á ação do fogo, ou comburir-se espontaneamente até a sua total destruição. Alguns médiuns apresentam manifestações de eletricidade estática em seu corpo, fenômeno esse biologicamente similar ao das enguias ou dos “peixes elétricos”.
Em certas ocasiões, alguns médiuns apresentam uma singular luminescência corporal assemelhada à fosforescência produzida pelos pirilampos. Finalmente, alguns sensitivos como Gerard Croiset, (França), e Olof Jonsson (Dinamarca), são capazes de localizar, por clarividência, o paradeiro de pessoas desaparecidas, encontrando paralelo com o sentido de orientação de muitas espécies de pássaros e de certos animais domésticos, os quais podem vencer enorme distância sem jamais se transviarem.
DP — No campo da ciência médica, por exemplo, como se inter-relaciona a Parapsicologia?
VRB — São intimas e profundas as relações entre a Parapsicologia e a Medicina. Alguns fenômenos paranormais estão a exigir uma revisão na fisiologia pelas inusitadas alterações que eles provocam no organismo de certos médiuns. Nina Kulagina (Rússia), durante as experiências de psicocinesia aumentava assustadoramente o seu ritmo cardíaco, chegando a atingir uma pulsação de 240 por minuto.
César Lombroso (Itália) faz menção a vários casos de transposição dos sentidos, e Albert Rochas (França) se reporta a experiências bem conduzidas de exteriorização da sensibilidade. O padre Pio (Itália) apresentava um singular fenômeno de hipertermia: a sua temperatura se elevava até 48 graus centígrados.
Matéria de evidente interesse médico é, sem dúvida, o desequilíbrio energético observado nalgumas pessoas jovens na transição da puberdade para a adolescência, resultando na manifestação de fenômenos paranormais geralmente violentos e conhecidos pelo nome de “poltergeist” ou, ainda, de RSPK (Recurrent Spontaneous Psychokinesis), ou Psicocinese Espontânea Recorrente.
É bom ainda salientar que a constatação da realidade das curas paranormais futuramente descortina uma nova alternativa terapêutica para a Medicina.
DP — A relação da Parapsicologia com a Física?
VRB — A Parapsicologia propõe à Física um território comum de investigação, pois, certos fenômenos paranormais demonstram a existência de leis mais abrangentes regendo as relações mente/matéria. Há médiuns que são capazes de movimentar objetos à distância e fazê-los desaparecer ou reaparecer em condições inexplicáveis de obter, a produção de vozes e músicas sem qualquer fonte física conhecida, de deformar objetos metálicos ou influir no funcionamento de apetrechos mecânicos.
Em certas circunstâncias algumas pessoas são levitadas, fenômeno esse bastante conhecido no hagiológio católico, contrariando frontalmente a lei da gravidade. A telepatia, por sua vez, demonstra que a mente humana não é afetada pelos parâmetros de tempo e de espaço e sua ação não é obstaculizada por qualquer estrutura material ou campo magnético.
Há, por conseguinte, uma incontestável ação direta da mente humana sobre a matéria, o que sugere o estabelecimento de um novo ramo especializado dentro da física — a Física Psíquica.
DP — No campo da História, como ocorre a inter-relação?
VRB — A pesquisa parapsicológica, através de um fenômeno paranormal conhecido por psicometria, pode fornecer valiosos subsídios ao historiador, pois, através deste processo, é possível a reconstituição de fatos controvertidos ou a descoberta de novos fatos capazes de modificar ou ampliar o conhecimento de determinada época, em qualquer região ou país.
Utilizando o concurso de médiuns bem treinados, torna-se plausível uma “visita psíquica” aos séculos passados com a reconstituição do ambiente geográfico, social e cultural de determinados povos. Atualmente, a psicóloga Helen Wambach vem realizando significativas experiências de regressão de memória em seus pacientes, obtendo interessantes informações históricas através desse procedimento.
Diário de Pernambuco
4 de julho de 1982