Parapsicólogos discutem práticas aplicações e o sentido dessa ciência

Izaura Alves

 

Iniciado sexta-feira, encer­ra-se hoje, no Clube internacional do Recife, o V Congresso Brasileiro de Parapsicologia e Psicotrônica e IV Simpósio Pernambucano de Parapsicologia, com o apoio da Fundação Joaquim Nabuco, que tem como objetivo discutir os problemas teóricos e aplicações práticas da Parapsicologia, além de consci­entizar sobre o sentido específi­co da ciência.

Hoje, às 8h terão início as teses e comunicados. As 10h haverá uma mesa-redonda so­bre “A Parapsicologia no Bra­sil” e em seguida serão tiradas as conclusõeg do conclave, quando os presentes serão convocados para o VI Congresso Bra­sileiro e o V Simpósio Pernam­bucano de Parapsicologia.

Segundo o professor Valter da Rosa Borges, presidente do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, a pa­rapsicologia é uma ciência que tem por objeto o estudo e a pesquisa dos chamados fenôme­nos paranormais. Um parapsi­cólogo não é necessariamente um paranormal ou médium, entretanto o médium é a con­dirão do fenômeno paranormal.

Para o parapsicólogo o fe­nômeno é produzido pela pró­pria mente do médium — a ní­vel inconsciente — já que a parapsicologia estuda o ser hu­mano enquanto ser vivo. Já o espiritismo estuda o fenôme­no como ocorrência de estágios anteriores da vida atual do médium, daí o surgimento de terapias como a “regressiva a existências passadas” que reali­zam médicos reconhecidos in­ternacionalmente, como a dra. Maria Júlia Moraes Peres, à rua Maestro Cardim, 887, São Pau­lo, CEP 01323.

A dra. Maria Júlia que tem sua agenda de consultas com­pleta até maio do próximo ano, participou ontem do Congres­so como conferencista, através da palestra “Terapia Regressiva a Vivências Passadas”, quando falou de sua experiência nessa área. Com dados e relatórios disse que conseguiu até agora 80% de sucesso no tratamento dos pacientes. 10% desistem por vários motivos como mu­dança de cidade, 5%, obtêm re­sultados regulareg e 5% ne­nhum resultado.

Terapia regressiva

“Trata-se de uma técnica psicoterápica relativamente no­va no Brasil, que utiliza como recurso terapêutico a regres­são, processo pelo qual o ser humano é levado a retroceder a estágios anteriores da vida, com o objetivo de detectar a nível inconsciente, vivências traumáticas das existências passadas vida intra-uterina, nas­cimento, primeira infância ou outras, responsáveis por nume­rosas manifestações patológicas, psíquicas, psicossomáticas, or­gânicas e desajustes comportamentais. Asisim, a reencamação que até há pouco tempo era abordada somente sob o aspecto religioso, filosófico ou científico, constitui agora um instrumento terapêutico intro­duzido por Morris Netherton, PhD, autor do livro Past Life Therapy, traduzido ao português com o título de “Vidas Passadas em Terapia”, afirmou a médica.

Citou ela que a “terapia re­gressiva reencamatória abre no­vos parâmetros no campo dos recursos terapêuticos, consti­tuindo mais um instrumento a ser usado pelo profissional, quer isoladamente, quer acopla­do a outras técnicas psicoterápicas para obter melhores resultados para seu paciente. Não é aplicada em hipótese ne­nhuma para satisfazer curiosi­dades fúteis e pessoais, de des­cobrir o que foi de importante no passado ou confirmar im­precisas informações de carto­mantes e videntes. A sua indi­cação é somente para fins te­rapêuticos, na vigência de sin­tomas psicopatológicos, doen­ças psicogênicas, neuroses”, etc.

Para complementar a expli­cação da terapia, a dra. Maria Júíia relatou um dos casos. Um economista, J.P.Q., 28 anos, casado, apresentava co­mo queixa principal medo de ter convulsão epiléptica, mau relacionamento com a mãe, choro frequente e espontâneo e afastamento do serviço. Nega­va incidente emocional que pu­desse ter desencadeado esse quadro. (EEG normais — e exame clínico e neurológico nor­mais em 12/2/85 e 10/5/85).

Na primeira vivência dele durante o tratamento regressi­vo “vê-se atravessando uma rua, onde tem uma crise convulsi­va, passando um caminhão imediatamente sobre sua cabe­ça. Sente abrir a cabeça ao meio, vivência a cena de mor­te, com aquela mesma sensa­ção de que está saindo algo da cabeça; vivência com grande conteúdo emocional: choro, contrações musculares generali­zadas (não convulsiva)”. Na vivtència intrauterina “vê-se no último útero materno, na fa­zenda de seu avô, onde mãe ca­minhando distraída, bate em um trator parado, tem uma tontura e caí. Nesse instantete, ela deseja ardentemente que com aquela queda ela possa perder a criança, que é indesejada. Ele se revolta, fica an­gustiado e chora”.

Na vida intrauterina o eco­nomista chega a sentir a hora do nascimento e também um momento traumatizante na primeira infância quando cai de uma bicicleta e fratura a tíbia. Após 8 sessões, teve alta em 12/6/86. A dra. Maria Júlia faz o acompanhamento por te­lefone e as informações da mãe dele são de que está tudo normal agora, tanto na vida pes­soal quanto no trabalho.

Espiritismo

 

Muitos espíritas afirmam que a religião do futuro é a kardecista, pois a tendência é as pessoas de todo o mundo.. se interessarem cada vez mais por ela. Para a dra. Maria Jú­lia esse pensamento poderá vir a tornar-se realidade, face ao grande número de adeptos e frisa que isso se deve “à evolu­ção da cultura do povo e maior abertura aos conheci­mentos religiosos e filosóficos em geral.

Ressalta ela que espiritismo é um só kardecista, codificado por Alan Kardec. em 1815. Na sua opinião, as outras reli­giões mediúnicas são resultan­tes do sincretismo religioso  afro-brasileiro, “e nós kardecistas, respeitamos todas, mas não as consideramos espiritis­mo”, concluiu.

O Congresso de parapsico­logia é uma oportunidade para todas as pessoas que têm curiosidade em saber mais sobre o assunto, começar a se interessar ou rejeitar. Há espaço hoje pe­la manhã, porque o Congresso está sendo realizado na área onde ocorrem os bailes de car­naval do Internacional. Quem não tiver tempo pode se dirigir ao Instituto de Pesquisas Pslcobiofísicas de Pernambuco lo­calizado á rua da Concórdia, 372, 49 andar, salas 46/47.

 

JORNAL DO COMMERCIO
Recife — Domingo, 5 de outubro de 1986

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