Simpósio estuda, em Recife, parapsicologia como ciência

Danielle Romani

 

Você acredita em poltergeists, espíritos batedores? É do tipo que engole toda história sobre almas, demônios e entidades misteriosas? Pois bem, já está na hora de saber que todos esses fenômenos têm explicação científica rigorosa e estão muito longe de serem aparições do além. Sabe como eles se chamam? Manifestações de psicocinesia espontânea, uma das modalidades dos fenômenos paranormais, provocados por algo bem complexo e humano: a mente.

Portanto, se em sua casa objetos estive­rem pegando fogo, móveis balançando, pratos que­brando inexplicavelmente, não 38 assuste nem hesite: o melhor ‘ fazer é deixar de lado pais-de- santo, padres, espíritas e recorrer ao Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, IPPP, única sociedade científica, do Nordeste, a estudar e pes­quisar os fenômenos paranormais.

Mas mesmo que nada disso esteja acontecendo com você ou com amigos, particularmente, vale a pena dar uma conferida no V Simpósio Pernambucano de Parapsicologia, que o IPPP estará promovendo no próximo dia 3, no auditório da Universidade Católica de Pernambuco. Lá serão discutidas, não só a parapsicologia em si, mas suas relações com outras ciências, a exemplo da psicologia, física, medicina, educação e religião, com a participação de profissionais ligados a todas essas áreas científicas.

 

Muitas histórias. Poucos paranormais

 

A parapsicologia muitos sab­em do que se trata: uma ciência que objetiva o estudo dos fenômenos paranormais, das manifestações incomuns produzidas pelo psiquismo humano, via de regra, a nível de inconsciente. Reconhecida em 1969 ela Associação Nacional Norte-Americana Para o Progresso da Ciência, ela é já respeitada em to­do mundo e em torno dela, são feitas pesquisas em diversos países. Mas ainda há quem a confunda com espiritismo. “No que está totalmente equivoca­do”, assegura Walter Rosa Bor­ges, atual presidente do IPPP no Recife.

Walter, que é parapsicólogo, mas não é paranormal, garante que a interpretação espírita de fenômenos mediúnicos, atribuí­dos a espíritos “desencarnados”, são na realidade meras demons­trações de paranormalidade. O que não significa que a parapsi­cologia tenha aí enorme material humano de estudo. Pelo contrá­rio. “O número de paranormais constatados é reduzidíssimo. O que não impede que várias pes­soas vivam experiências parapsicológicas isoladas”. No Brasil bons exemplos de paranormais “autênticos” só três. Thomas Green Morton (lembram do guru dos astros e estrelas?) Francisco Xavier (o papa do espiritismo) e Luiz Antônio Gasparetto.

“O Thomas Morton, então, é mais poderoso ainda do que o Uri Geller, que fez exibições no mundo todo pela TV”, assegura Walter. E diz o porquê: enquanto Uri Geller, além da paranormali­dade se vale da prestidigitação para aumentar seus poderes, o Thomas Morton não. “Ele foi pesquisado, sem saber, por um representante do Centro Latino-Americano de Parapsicologia, padre Edwino, e quanto a isso não restaram dúvidas: ele não só desconhece “mágicas” como realiza fenômenos dos mais fortes em parapsicologia.” Quanto as insinuações de que Thomas aproveitaria comercial­mente do seu poder Walter tam­bém é claro: “há uma paparicagem muito grande em torno dessas pessoas que conseguem realizar ações do tipo. Eles fi­cam sendo vistos como deuses, são divinizados e daí à fraude é apenas um passo”.

 

Poltergeists fajutos

 

Talvez poucos recordem de alguns falsos “poltergeists” que aconteceram na cidade: um deles, mais comentado, foi o ca­so do Edf. Paris onde há seis anos, inexplicavelmente, objetos começaram a chocar-se na pa­rede, pratos quebravam, móveis saiam do lugar, assustando os moradores e vizinhos do apar­tamento. Ou mesmo, poucos te­nham ouvido comentários sobre uma casa, em Olinda, onde ob­jetos pegavam fogo, sem expli­cação e de repente. Padres e rezas não foram eficazes para deter tais acontecimentos que só foram esclarecidos com a en­trada, em campo, do Instituto de Pesquisas Psicobiofísicas: os responsáveis por tais “algazar­ras” eram ninguém menos que uma garotinha (no caso do Edf. Paris) e um garotinho (no caso de Olinda) paranormais, prova­velmente vivendo uma época de intensa crise emocional.

“Com nossa ajuda e escla­recimento do que se tratava, não só os “fenômenos” cessaram, como as famílias ficaram tran­quilizadas”, explica Walter Rosa Borges. Justamente por esse motivo ele acha fundamental que o Instituto seja procurado quando algo do tipo for notado. “Nosso principal objetivo é orien­tar essas pessoas, evitar que elas se deixem levar pelo pânico e crendices. Explicar-lhes que eles acontecem quando o paranormal está sob fortes distúrbios emocionais, de maneira que tan­to ele, quanto sua família, rece­bam o retorno de manifestações semelhantes, num clima de maior tranquilidade”.

Walter garante, também, que o Instituto se dispõe a exa­minar qualquer outro caso atri­buído a paranormalidade. “De cara vamos logo pensando que o fenômeno não é autêntico, só depois de afastar todas as hipó­teses é que consideramos o fato como tal”. O IPPP dispõe, ainda, de testes especializados para detectar a paranormalidade nas pessoas. O mais conhecido de­les é o baralho Zener, onde de­ve-se adivinhar os números ou figuras, prevendo-se assim, a capacidade de clarividência. Ou­tro, relativamente conhecido, é o teste com esfera sob campo magnético. “Neste especifica­mente, pode-se saber se a pes­soa é ou não dotada de psicocinesia, pois ela terá que afastar a esfera que está suspensa, pro­curando retirá-la do campo magnético”. De antemão Walter avisa: em Pernambuco, até hoje, ninguém conseguiu realizar esta façanha. Numa última etapa é usado o teste eletrônico, onde as pessoas devem acertar qual a luz que por último ficará acesa ou conseguir, com sua mente in­fluir no resultado.

O Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, que é composto por 25 pessoas (parapsicólogos, psicólogos, mas nenhum deles paranormal) pro­move, ainda, mensalmente, o seu Seminário de Múltiplos Sa­beres, além de estar ministrando Cursos de Extensão e de Pós-Graduação em Parapsicologia, segundo orientação recebida pela Delegacia Regional do Mi­nistério de Educação. Anual­mente realiza um simpósio, a exemplo do V Simpósio Per­nambucano de Parapsicologia, que terá início sexta-feira, na Católica, uma boa oportunidade para quem deseja inteirar-se so­bre o assunto. O endereço para as inscrições é: Livraria Síntese, rua do Riachuelo 202, fone 2214044, ou no próprio Instituto, na rua da Concórdia, 372, salas, 46/47.

 

JORNAL DO COMMERCIO

Recife – Terça-feira, 29 de setembro de 1987

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