Quando há 32 anos Valter da Rosa Borges presenciou um suposto fenômeno paranormal, denominado psicocinesia e que identifica o movimento de objetos por força de energia mental, estava determinado o surgimento de um dos mais conceituados parapsicólogos do Brasil
Mesmo tendo, posteriormente, obtido a graduação como advogado e, atualmente, exercendo as funções de Promotor de Justiça e professor de Direito Civil na Universidade Católica de Pernambuco, Valter da Rosa Borges nunca abandonou o estudo da parapsicologia e luta para que esta ciência seja reconhecida em Pernambuco e seja elevada a nível acadêmico. Para isso, ele desenvolve um amplo trabalho de conscientização e informação sobre o assunto, que inclui debates, palestras, seminários e demais atividades promovidas pelo Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, sediado à rua da Concórdia. 372. salas 46/47, do qual é o atual presidente.
UMA COISA DO OUTRO MUNDO?
Valter da Rosa Borges, em entrevista para o JORNAL DO COMMERCIO, explica, em linhas gerais, as bases dessa ciência fascinante e ainda desconhecida por muitos.
P — Existe alguma diferença entre a Parapsicologia e o Espiritismo?
R — A Parapsicologia é uma ciência, nascida oficialmente em 1953, e tem por objeto a investigação dos fenômenos paranormais.
O Espiritismo, por sua vez, é uma doutrina que segundo seu fundador Allan Kardec, trata da natureza, destino e origem dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal. A Parapsicologia estuda os fenômenos extraordinários da mente humana como telepatia, clarividência, precognição e psicocinesia e, portanto, lida tão somente com o homem vivo. Assim não é de sua competência discutir as questões ligadas à sobrevivência, à comunicação entre vivos e mortos e à reencarnação. O parapsicólogo, por conseguinte, pode ser espírita, católico, protestante ou materialista. O que ele não pode é misturar suas convicções religiosas ou filosóficas com as pesquisas parapsicológicas.
P — Dizem que o homem só está utilizando 30% dos seus poderes mentais. O que se deve fazer para que ele desenvolva a totalidade destes poderes?
R – Inicialmente é preciso que se esclareça que esta afirmação não tem qualquer base científica. Não sabemos qual a capacidade total da mente humana e, em consequência, é rematada tolice estabelecer percentuais sobre a utilização de suas potencialidades.
Não sabemos os limites da mente humana, o que não quer dizer que o nosso psiquismo tenha poderes ilimitados. O que nos cabe fazer é utilizar, pragmaticamente, as nossas potencialidades psíquicas, mediante treinamento dirigido e sistemático, nos moldes dos melhores laboratórios de Parapsicologia. Essas técnicas, porém, variam de conformidade com o tipo de paranormalidade apresentado pela pessoa e também na conformidade de suas características psicológicas.
P — Sabe-se que a Parapsicologia está muito desenvolvida em países como os Estados Unidos e a União Soviética. E no Brasil, como está a Parapsicologia?
R — No Brasil, a Parapsicologia ainda encontra sérios obstáculos aos seu desenvolvimento, principalmente em razão do entranhado misticismo do nosso povo. Mas, apesar disso e de outros fatores mais específicos, já se começa a formar uma comunidade científica de parapsicólogos, espalhadas em institutos de parapsicologia em alguns Estados do Brasil, notadamente Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Pernambuco. A Associação Brasileira de Parapsicologia — ABRAP — congrega os melhores pesquisadores da paranormalidade em nosso País e a Federação Brasileira de Parapsicologia – FEBRAP – reúne importantes institutos do género, entre eles o Instituto Pernambucano de Pesquisas Biofísicas — I.P.P.B. — o qual, em outubro deste ano, no Clube Internacional do Recife, promoveu com êxito o V Congresso Brasileiro de Parapsicologia e Psicotrônica, com a participação de estudiosos e interessados de quase todos os Estados do Brasil.
P — Como é que se sabe que uma pessoa é médium. Todas as pessoas possuem esse dom?
R — Não há critérios objetivos para se determinar se uma pessoa possui talentos paranormais a não ser mediante a experimentação. É certo que todo ser humano é passível de passar por experiências paranormais. Mas, raros são aqueles que, frequentemente, manifestam esses fenômenos. Por isso, a pesquisa parapsicológica só demonstra resultados satisfatórios quando realizada com pessoas que apresentam alto índice de manifestação desses fenômenos. E tais pessoas constituem uma dolorosa exceção.
P — Ouvimos falar maravilhas sobre determinados médiuns. Eles realizam prodígios difíceis de se acreditar. Não é possível que alguns desses fenômenos não passam de mistificação?
R — Infelizmente, quase todos os famosos médiuns fraudaram ou foram suspeitos de práticas fraudulentas. Muitos foram pegos em flagrante delito. Outros procederam de modo a justificar dúvidas sobre a autenticidade de seus fenômenos. Poucos foram os médiuns que se deixaram submeter ou foram submetidos a rigoroso e irrepreensível controle experimental. O saldo, porém, é altamente positivo. A pesquisa parapsicológica demonstrou que a mente humana é capaz de obter conhecimentos do mundo exterior por processos extrassensoriais, alterando os parâmetros habituais de tempo e espaço e também pode agir sobre seres vivos e a matéria em geral, modificando as suas propriedades, por afetar as suas estruturas moleculares.
P — Sabemos que o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas foi considerado pelo parapsicólogo Karl W. Goldstein, como um dos três melhores institutos de parapsicologia do Brasil. O que é que faz o I.P.P.P.?
R — O Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas foi fundado em 1973 e é uma sociedade civil, de natureza científica, sem fins lucrativos, que tem como finalidade o estudo e a pesquisa dos fenômenos paranormais e o desenvolvimento da Parapsicologia em Pernambuco. Como representante no Nordeste da FEBRAP, o I.P.P.P. já realizou vários congressos de Parapsicologia e promove regularmente cursos básicos de parapsicologia. Brevemente, o I.P.P.P. estará concluindo um convênio com a Universidade Católica de Pernambuco para ministrar, no próximo ano, naquela Universidade, um Curso de Extensão em Parapsicologia, destinado, exclusivamente, aos portadores de diploma universitário. Além disso, o I.P.P.P. realiza investigações de fenômenos paranormais espontâneos, como o famoso caso do “poltergeist” do edifício Paris, na Avenida Cruz Cabugá, e submete a experimentação de laboratório as pessoas que se dizem portadoras de faculdades paranormais. O Departamento de Psicoterapia do I. P. P. P. assessora o Departamento Científico nas pesquisas parapsicológicas, provendo o reajustamento emocional e psicológico das pessoas que estão passando por experiências paranormais. Também brevemente, o Instituto estará firmando convênio com a Secretaria de Educação do Estado para assistência ao superdotado e, especialmente, ao superdotado paranormal.
P — A faculdade paranormal tem alguma utilidade?
R — É o mesmo que perguntar: o talento artístico ou literário tem alguma utilidade a não ser o prazer estético que proporciona? O homem não se mede pelos resultados econômicos de suas atividades. A paranormalidade, no entanto, não é apenas uma ocasião de deleite como apelo às necessidades do maravilhoso que existe em cada pessoa. O seu alcance é ainda maior, pois descortina, para o homem novas perspectivas de domínio sobre a natureza. Uma pessoa assim dotada é capaz de, em certas ocasiões, tomar conhecimento de fatos distantes não apenas no espaço — clarividência — mas também no tempo — precognição. Pode, em contato com objetos pertencentes a pessoas desaparecidas, descobrir o seu paradeiro. Ou, de posse de uma localizar veios d’água ou jazidas de minérios. Pode, ainda, sob diversos modos, agir sobre a matéria e, com isto, sob certos aspectos, substituir instrumentos e ferramentas convencionais. Infelizmente, esses extraordinários poderes da mente humana são passíveis de destinação inadequada, ameaçando a liberdade e a segurança das pessoas, visto que podem ser utilizados — como vem ocorrendo nos Estados Unidos e na Rússia – para finalidades militares. Agora que homem, pelas pesquisas parapsicológicas, descobriu que a mente não age sobre a matéria utilizando apenas recursos materiais, mas pode fazê-lo diretamente, afetando o universo atômico, com reflexos imediatos nos complexos moleculares e celulares, passa a compreender a necessidade de se autoconhecer cada vez mais para melhor controlar os seus poderes. Porque, em certos aspectos, muito mais perigosa do que a guerra termonuclear, será, ao menos teoricamente, uma guerra psíquica, cujas dimensões talvez ultrapassem as mais arrojadas ficções científicas. Os mais belos sonhos da humanidade às vezes se tornam pesadelos. Inventos e descobertas que pareciam uma esperança para a melhoria do próprio homem se tornaram ocasiões de terríveis sofrimentos coletivos. Santos Dumont suicidou-se porque o avião não se limitou à aproximação pacífica dos povos. Seria, então, indesculpável ingenuidade pensar que o homem, no estágio moral em que se encontra, somente utilizará os seus poderes paranormais para o benefício da humanidade.
JORNAL DO COMMERCIO
17 de dezembro de 1986