Valter da Rosa Borges: o pesquisador da parapsicologia

O procurador de justiça aposentado Valter Rodrigues da Rosa Borges é um homem que se sempre foi fascinado pelo estudo da mente humana. Com 65 anos, aposentou-se há seis anos do Ministério Público, onde completou 30 anos de serviço, mas até hoje não deixou de pesquisar sobre a Ciência da Parapsicologia. Mas as suas pesquisas incluem também a Filosofia, Ciência e Religião.

Ele falou também, em entrevista à reportagem do Jornal Linha Direta, sobre a atuação do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (IPPP), no qual foi o fundador, seus livros e a vocação pelo Ministério Público.

 

Linha Direta – Por que o senhor despertou o interesse pela parapsicologia?

Valter Rosa Borges – Desde a minha adolescência, sempre fui fascinado pelo estudo da mente humana. Porém, aos 19 anos de idade, li um livro do médium Francisco Cândido Xavier, intitulado “Parnaso do Além-Túmulo”, com poesias psicografadas e atribuídas a poetas brasileiros e portugueses falecidos. Naquela ocasião, estava bastante familiarizado com a literatura luso-brasileira e me preparava para lançar meu primeiro livro de poesias, “Os Brinquedos”, o que aconteceu quase um ano depois. A leitura teve, sobre mim, o efeito de um impacto devastador, porque ou Francisco Cândido Xavier era o maior gênio literário de todos os tempos, capaz de replicar, com maestria, conforme atestara Humberto de Campos, o estilo dos maiores poetas brasileiros e portugueses das mais diversas escolas literárias, ou havia algo, na mente humana, capaz de explicar aquele prodígio. A esta pesquisa dediquei toda minha vida e, hoje, aos 65 anos de idade, ainda me sinto tomado pelo mesmo fascínio.

LD – O que é a parapsicologia?

VRB – A parapsicologia é uma ciência que tem por objeto o estudo e a pesquisa dos fenômenos paranormais. Estes fenômenos consistem num tipo de conhecimento (psi-gama) que conflita com a epistemologia tradicional ou aristotélica e numa ação (psi-kapa) da mente sobre o mundo exterior, afetando os seres vivos e a matéria em geral.

Aristóteles dizia que “nada está no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos”. Este é o que o paradigma epistemológico do conhecimento dito normal. Acontece, porém, que os fenômenos paranormais de psi-gama consistem num tipo de conhecimento que não se origina dos sentidos, da atividade intelectual e do aprendizado. Eles são: a) a telepatia, que consiste numa interação psíquica a nível inconsciente entre duas mentes; b) a clarividência, que é o conhecimento do que se passa no mundo exterior sem a utilização dos sentidos; c) a precognição, que é o conhecimento antecipado de um fato futuro, sem a utilização de dados que permitam uma previsão com base inferência!

Os fenômenos paranormais do tipo psi-kapa consistem na atuação da mente fora do seu contexto orgânico, produzindo alterações fisiológicas nos seres vivos, alterações físicas, químicas e morfológicas nos corpos, impressões na matéria ou movimentos de objetos sem qualquer contato físico com os mesmos.

Até o momento, a investigação parapsicológica não descobriu qual a causa desta ação, aparentemente direta, da mente sobre a matéria, pois as pesquisas em laboratório não determinaram a presença de qualquer das quatro forças físicas da natureza – as interações fortes, as interações fracas, as forças eletromagnéticas e gravitacionais.

LD – Toda pessoa pode ter essa capacidade de produzir fenômenos paranormais?

VRB – Potencialmente, todos nós somos dotados de aptidão paranormal. Inúmeras pesquisas realizadas demonstraram que quase totalidade das pessoas, ao menos uma vez na vida, passou por uma experiência paranormal. Isto, porém, não quer dizer que elas sejam paranormais. Só são considerados paranormais aqueles que, habitualmente, passam por esse tipo de experiência.

LD – O senhor fundou o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (IPPP) em que ano e com que objetivo?

VRB – Fundei o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (IPPP) em 1973 e fui o seu presidente durante 22 anos. Em seguida, passei a presidência ao meu sucessor, Dr. Ronaldo Dantas Lins Filgueira, médico e matemático.

O IPPP tem por objetivo promover o desenvolvimento da parapsicologia em Pernambuco, mediante pesquisas e cursos, assim como prestar assistência às pessoas que estão passando por experiências paranormais.

Em 1988, o Instituto iniciou o seu Curso de Pós-Graduação (lato sensu) de Parapsicologia visando a formação científica do parapsicólogo.

O IPPP, declarado de utilidade pública municipal e estadual, é, hoje, conhecido internacionalmente. Já realizou 16 Simpósios Pernambucanos de Parapsicologia (1983-1998), o I Congresso Nordestino de Parapsicologia (1985), o V Congresso Brasileiro de Parapsicologia e Psicotrônica (1986) e o I Congresso Internacional e Brasileiro de Parapsicologia (1997).

Sediado, atualmente, à Av. Dezessete de Agosto, 1778, no bairro de Casa Forte, fone-fax 441.0157, o IPPP está ao aberto ao público de terça a sábado no horário das 9 às 13 horas.

LD – Como o IPPP faz pesquisas? Existe algum tipo de equipamento para testar a telepatia, por exemplo?

VRB – Os equipamentos sofisticados para a investigação dos fenômenos paranormais só são utilizados nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. Infelizmente, não dispomos de recursos financeiros para a aquisição de tais equipamentos. Por isso, utilizamos procedimentos mais modestos, porém não menos eficientes. Ê um deles, por exemplo, é a utilização do baralho Zener para os testes de telepatia, clarividência e precognição e também de outros experimentos mais criativos, elaborados pela equipe do IPPP.

LD – O Instituto pode conferir se uma pessoa é paranormal? Como se dá a confirmação?

VRB – Esta confirmação ocorre mediante uma série de testes, com a utilização do método quantitativo-estatístico-matemático ou do método qualitativo, dependendo da natureza do fenômeno paranor­mal investigado. A entrevista, com remissão ao histórico existencial da pessoa pesquisada, é de fundamental importância e antecede todos os demais experimentos.

LD – Que tipo de aconselhamento é dado a um paranormal no IPPP?

VRB – Uma vez comprovado que a pessoa investigada é dotada de um talento psi ou paranormal, ela é orientada no sentido de se familiarizar, cada vez mais, com as características de sua paranormalidade, a fim de que possa melhor administrá-la. Assim, durante certo período, esta pessoa será supervisionada por um dos nossos parapsicólogos, orientando-a na observação dos fatores que favorecem ou dificultam a manifestação de sua aptidão psi. É ela quem vai determinar o término deste monitoramento, quando se sentir apta a lidar adequadamente com a sua paranormalidade e do que fazer com ela em seu benefício ou em benefício de terceiros.

LD – Existe preconceito por parte da sociedade por uma pessoa ser paranormal?

VRB – Não. O que existe é desinformação e é isto que deforma a percepção da natureza da paranormalidade. Sempre hostilizamos e tememos aquilo que não conhecemos e a fenomenologia paranor­mal ainda se ressente das fantasias que se tecem a seu respeito, principalmente em virtude das matérias sensacionalistas e irresponsáveis que a seu respeito são divulgadas na mídia.

LD – A parapsicologia trabalha também com a possibilidade da vida após a morte?

VRB – A parapsicologia, por ser uma ciência, não lida com problemas metafísicos, tais como a sobrevivência após a morte, a comunicação entre vivos e mortos, a reencarnação. No entanto, alguns cientistas de renome, principalmente no campo da física quântica, têm se preocupado com a possibilidade da existência de um universo não-físico, fazendo uma interface com o nosso universo físico. Acontece que esta possível realidade transcendental era matéria privativa das religiões e estas, em virtudes de seus dogmas e questões de fé, jamais estabeleceram diálogo a respeito do universo dito espiritual.

Este ano, propus um novo tipo de conhecimento para a investigação desta possível realidade transcendental – a Transcendentologia. Não se trata de uma nova ciência, de nova religião, de uma nova filosofia, mas de uma interdisciplinaridade de saberes, constituindo uma nova ordem gnosiológica. No segundo semestre deste ano, estarei lançando o livro que é a pedra fundamental deste novo ramo do conhecimento e cujo título é “A Realidade Transcendental: Uma Introdução à Transcendentologia”. Aliás, para firmar o nascimento da Transcendentologia, realizou-se, nos dias 17 e 18 do mês de abril deste ano, no Mar Hotel, o I Seminário Internacional de Pesquisas Psíquicas e Transcendentais, onde apresentei um trabalho intitulado “Introdução à Transcendentologia”, e, na oportunidade, também criei a Sociedade Internacional de Transcendentologia – SIT – com sede no Recife e com representação na cidade de São Francisco, na Califórnia, EUA.

LD – Como foi sua experiência no Ministério Público?

VRB – Foi uma das grandes experiências da minha vida e da qual ainda guardo as mais gratificantes recordações. O Ministério Público foi, para mim, uma vocação natural por afeiçoar-se às características da minha personalidade. Sempre exerci as minhas funções com intenso amor e dedicação, ciente e consciente do relevante papel que a nossa instituição desempenha na sociedade, no atendimento da justiça e da consolidação dos direitos da cidadania. Durante 30 anos (l963-1993), dediquei uma grande parcela de minha vida ao desempenho das tarefas que me foram confiadas, culminando a minha trajetória com a promoção para Procurador de Justiça, o que, paradoxalmente, me privou do que julgava uma das missões de minha vida – a Coordenadoria do Meio Ambiente, da qual fui o primeiro coordenador. Esta circunstância, profundamente frustrante, me levou a requerer a aposentadoria e dedicar-me às outras grandes vocações – a filosofia, a ciência, a religião – e à publicação de livros sobre aqueles assuntos.

LD – Quais são os seus títulos?

VRB – Já tenho nove livros publicados e este ano pretendo editar mais três: “A Saga do Existir”, já no prelo, “A Realidade Transcendental: Uma Introdução à Transcendentologia” e, finalmente, no fim deste ano, “A Parapsicologia em Pernambuco”.

 

Jornal da Associação do Ministério Público de Pernambuco.

Ano I, Nº 5. Maio/Junho. 1999.

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