Walter Rosa Borges, estudioso e pesquisador da Parapsicologia em Pernambuco, autor do livro «Introdução ao Paranormal», Professor nas Universidades Federal (Sociologia) e Católica de Pernambuco (Direito Civil), afirma que, «a Parapsicologia tem demonstrado que o homem é muito mais do que aquilo que ele suspeitava. Ele é detentor de poderes e faculdades que, em futuro não tão distante, poderão tornar obsoletos seus adjutórios materiais. Será, não resta dúvida, o definitivo domínio da mente sobre a matéria, sem necessidade do concurso dos habituais intermediários físicos. Porque a mente do homem será a sua natural extensão, o seu único instrumento de atuação sobre o mundo exterior», admite.
Borges defende a inclusão do estudo da Parapsicologia como disciplina universitária, considerando o elevado estágio que essa ciência já atingiu. O entrevistado se dedica a esses estudos e pesquisas há 25 anos, sendo atualmente presidente do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (IPPP), do qual é fundador juntamente com um grupo de estudiosos. Sua tese — «Telepatia, Sugestões para a Pesquisa» —, apresentada no recente Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica, realizado no Rio de Janeiro, alcançou notória distinção.
- — Que impressão teve você do II Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica?
- — Este Congresso, realizado em outubro de 1979, no Sheraton Hotel, no Rio de Janeiro, promovido pela Associação Brasileira de Parapsicologia (ABRAP), se constituiu em acontecimento histórico para o movimento parapsicológico brasileiro. As teses, nele apresentadas, revelaram o alto nível científico que já atingiu esta ciência em nosso país. Podemos afiançar que, no todo, o congresso atingiu as suas finalidades, reunindo parapsicólogos dos Estados do Amazonas, Pará, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
A ABRAP, à qual somos filiados, consagrou, definitivamente, a sua liderança na Parapsicologia brasileira, graças ao dinamismo invejável do seu presidente Prof. Mário Amaral Machado. O III Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica será realizado em 1981, na região Norte-Nordeste, possivelmente em Amazonas ou Pernambuco.
Foi aprovado, naquela oportunidade, o código de ética do parapsicólogo, que consta, em um dos seus artigos, a proibição da utilização da Parapsicologia como instrumento de combate ou apologia de qualquer credo religioso ou sistema filosófico Finalmente, o que nos causou justificada satisfação foi o fato de ter sido a nossa tese «Telepatia, Sugestões para a Pesquisa», considerada uma das melhores apresentadas naquele Congresso. Em nossa tese, elogiada logo após a sua leitura pelo parapsicólogo e psiquiatra, dr. Eliezer C. Mendes, num gesto espontâneo que muito nos sensibilizou, elaboramos duas hipóteses de trabalho — a telepatia com reforço grupal e a psi-gestalt — cujos aspectos estatísticos e matemáticos, arrimados em base experimental, foram brilhantemente desenvolvidos pelo dr. Ivo Cyro Caruso, em tese especial enviada àquele Congresso.
- — O que significa Psicotrônica?
- — A Psicotrônica, se assim nos podemos exprimir, é uma especialização dentro da Parapsicologia. Consiste na utilização de instrumentos especiais, que, segundo dizem, podem captar a telergia ou bioenergia que todos os seres vivos, potencialmente, possuem, armazenando-a para utilização posterior. Creem os parapsicólogos tchecos que esses «geradores psicotrônicos» poderão substituir os médiuns, apresentando um desempenho muitas vezes superior ao deles. Até o momento, no entanto, não temos conhecimento de que os «geradores psicotrônicos» tenham conseguido esta façanha.
- — Quem são os expoentes da Parapsicologia no Brasil? Há bons trabalhos, aqui, sobre o assunto?
- — Firmamos o nosso critério de escolha, não só nas qualificações pessoais de cada parapsicólogo, mas principalmente, na qualidade dos seus trabalhos publicados. Assim, destacamos, como expoentes da Parapsicologia brasileira, o dr. Hernani Guimarães Andrade, engenheiro e presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas (IBPP), cuja fama é internacional; o padre Oscar Gonzalez Quevedo, diretor-presidente do Centro Latino Americano de Parapsicologia; e o dr. Alberto Lyra, psiquiatra. Queremos, aqui, destacar o brilhantismo de outros parapsicológicos, como o dr. Carlos Alberto Tinoco, engenheiro, os drs. Eliezer C. Mendes, Jorge André, psiquiatras os quais tive a satisfação de conhecer pessoalmente por ocasião do aludido Congresso. Em Pernambuco, só existe o nosso livro «Introdução ao Paranormal».
- — Pode-se conferir status de ciência à Parapsicologia?
- — Toda ciência tem objeto próprio e determinado procedimento metodológico. A Parapsicologia tem objeto definido — os fenômenos paranormais. E adota, em suas pesquisas, segundo a orientação de cada parapsicólogo e na conformidade dos fenômenos observados e controlados, tanto o método quantitativo-estatístico-matemático, quanto o método qualitativo. Por conseguinte, a Parapsicologia é uma ciência.
- — Quais os caminhos a serem percorridos pela Parapsicologia, num mundo cada vez mais dominado pela técnica?
- — Os caminhos da Parapsicologia são os caminhos do próprio Homem. Ela não busca apenas explicações, mas implicações, envolvendo o ser em todas as suas potencialidades. Os fenômenos paranormais são uma evidência incontestável de que a técnica é apenas uma simples estratégia de aplicação racional do conhecimento científico e não instrumento adequado e eficaz para a apreensão da sempre fugidia realidade. Eles demonstram que o real é sempre novo e, por isto, não é redutível a qualquer padrão epistemológico. E o que, na verdade, nos fascina nesta pesquisa não é o pouco que conseguimos apreender, mas, principalmente, o muito, o permanente inédito, que nos estimula a conquistá-lo. A Parapsicologia tem demonstrado que o homem é muito mais do que aquilo que ele suspeitava. Ele é detentor de poderes e faculdades que, em futuro não tão remoto, poderão tornar obsoletos seus adjutórios materiais. Será, não resta dúvida, o definitivo domínio da mente sobre a matéria, sem necessidade do concurso dos habituais intermediários físicos. Porque a mente do homem será a sua natural extensão, o seu único instrumento de atuação sobre o mundo exterior.
- — Que trabalhos tem você desenvolvido sobre o assunto?
- — Há mais de 25 anos que nos dedicamos, não apenas ao estudo sistemático, como também à pesquisa metódica dos fenômenos paranormais. Jamais nos limitamos a elucubrações de gabinete, mas enriquecemos a nossa experiência no trato direto dos casos concretos em grande número de centros espíritas e terreiros de umbanda.
Em 1º de janeiro de 1973, fundamos o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, do qual somos presidente desde aquela data. Em 1974, ministrei curso de Parapsicologia na TV Universitária Canal 11.
Em 1976, publiquei o livro «Introdução ao Paranormal», o qual foi lançado no dia 29 daquele ano, na TV Universitária Canal 11, em solenidade presidida pelo reitor da U.F.PE, o Prof. Paulo Maciel. Ainda em outubro do mesmo ano, a convite da Fundação Cultural do Estado da Paraíba (FUNCEP), com o apoio da Universidade Federal da Paraíba, ministramos um curso de parapsicologia no auditório da Reitoria daquela Universidade. Em outubro de 1979, participamos, na qualidade de Congressista Titular do II Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica, realizado no Rio de Janeiro. Finalmente, em 1979 e 1980, sob o patrocínio Universidade Católica de Pernambuco, ministram dos cursos de Parapsicologia, sob o título sugestivo de Semana estudos sobre Parapsicologia (I e II), no auditório da referida Universidade.
- — Até que ponto poderia a Universidade brasileira incluir, nos seus currículos, uma cadeira de parapsicologia ao menos como disciplina optativa?
- — A Universidade brasileira já há muito deveria incluir a Parapsicologia no ensino universitário. Este seu alheamento injustificável em relação ao desenvolvimento desta pode ser interpretado, à primeira vista, como uma atitude retrógrada, um conservadorismo intransigente que não mais de coaduna com o espírito cientifico contemporâneo. Muitas universidades nos Estados Unidos, Argentina, Reino Unido, Holanda, Alemanha e Índia oferecem cursos de mestrado e doutorado em Parapsicologia. Recentemente, no Brasil, a dra. Adelaide Petters Lessa, em seu doutorado em Psicologia, defendeu como tese, no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, o seu notável livro «Precognição» que é, hoje, indubitavelmente, um clássico sobre o assunto. A Parapsicologia tem apresentado um extraordinário desenvolvimento também nos países comunistas: Rússia, Tchecoslováquia, Polônia, Romênia e também na Alemanha Oriental. Convém, ainda, salientar que, em 30.12.69, a Parapsychological Association foi aceita como membro da famosa American Association For The Advancement Of Science. Pernambuco bem que poderia ser o pioneiro na criação de cursos ou de cadeira de Parapsicologia na Universidade.
- — Há, por acaso, interesses comuns capazes de ligarem a ciência psicanalítica à ciência parapsicológica?
- — Claro que sim. Afinal, todos nós nos interessamos em conhecer cada vez mais as estruturas mais profundas da mente humana. Somos escafandristas empenhados na mesma aventura submarina, partilhando de assombros paralelos ante a luxuriante paisagem deste pélago psíquico. E o Inconsciente é, por certo, o território comum de todos os psiquiatras, conquanto disputem sobre os modos e as preferências na exploração dos seus recursos.
- — A Parapsicologia dispõe de elementos capazes de explicar de forma concreta o fenômeno do sonho?
- — A Parapsicologia não se ocupa, especificamente, com os sonhos, mas se preocupa com tudo aquilo que os sonhos possam revelar a respeito do misterioso universo do Inconsciente.
Ainda não existe uma codificação, de natureza estritamente científica, para explicar o sonho, mas tão somente duvidosas abordagens empíricas, de mistura, não raro, com práticas mágicas e supersticiosas.
Dúvida não há de que a maioria dos sonhos é produzida por elementos extraídos das atividades vigílicas, associados a conteúdos desconhecidos do psiquismo profundo. É esta a razão pela qual os sonhos se apresentam tão ilógicos, principalmente se os queremos compreender pelos padrões do nosso comportamento consciente e convencional. Os sonhos são mensagens vertidas em linguagem de abstruso simbolismo e de gramática singular.
Há sonhos, porém, de natureza paranormal. Estes, sim, interessam particularmente à Parapsicologia, porque favorecem uma maior compreensão dos possíveis mecanismos dos fenômenos de psi-gama, notadamente o da telepatia.
- — O que faz, como funciona e quais as perspectivas do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (IPPP)?
- — O I.P.P.P. é a única sociedade civil, de natureza científica, que, em Pernambuco, se dedica ao estudo e à pesquisa dos fenômenos paranormais.
Como já dissemos, anteriormente, ele foi fundado em 1º de Janeiro de 1973 e, durante todo esse tempo, vem cumprindo, na medida de suas possibilidades, o seu programa de ação, promovendo seminários, realizando pesquisas, aprimorando o nível técnico de sua equipe, elaborando e testando teorias e construindo gradualmente seu arsenal tecnológico para melhor observação e controle dos fenômenos paranormais. E, tudo isso, às expensas dos seus associados, cujo número é irrisório, visto que a sociedade não recebe qualquer tipo de ajuda financeira, seja ela municipal, estadual ou federal. O que explica, portanto, a sobrevivência do I.P.P.P. é o incansável idealismo dos seus pesquisadores.
Em nossa sede provisória, à Rua da Concórdia, 372, salas 46 / 47, realizamos, regularmente, reuniões de estudo e experiências, utilizando procedimentos metodológicos variados, na conformidade da natureza dos fenômenos pretendidos ou apresentados. A orientação e execução da programação científica do I.P.P.P. está sob a responsabilidade de um colegiado, assim constituído: Valter da Rosa Borges, promotor público, Aécio Campello de Souza, engenheiro, Ivo Cyro Caruso, engenheiro e Geraldo Fonseca Lima, médico.
O nosso telefone pessoal — 3612337 — está à disposição dos interessados para qualquer informação sobre o assunto ou comunicação referente a manifestações paranormais, notadamente no Recife e municípios próximos.
Jornal Universitário
da Universidade Federal de Pernambuco
Edição de abril — 1980