O presidente do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, Valter da Rosa Borges, considera que Jesus Cristo “é o arquétipo do super-homem, a antecipação do homem do futuro, na revelação mais ampla e profunda de suas potencialidades”, e que o médium seria o “homem novo” de que fala o Evangelho, já que apresenta muitos dos fenómenos realizados por Jesus, como a levitação, metafanismo, curas paranormais e ideoplastia, “além de outros, como a deformação de metais, não realizados pelo Mestre”.
Valter da Rosa Borges é também membro efetivo da Associação Brasileira de Parapsicologia e conselheiro efetivo do Conselho Superior da Federação Brasileira de Parapsicologia. Para ele, Jesus apresentou “em pré-estreia” o que será o homem do futuro, aquele que utilizará maior parcela dos poderes latentes do psiquismo humano (o que já é feito pelos médiuns).
- — Poderia estabelecer um paralelo entre o significado do Natal em relação à Parapsicologia?
- — O Natal é o simbolismo por excelência da cristandade. Significa muito mais do que um acontecimento biológico, pois se constitui a promessa e a esperança de uma nova dimensão da realidade humana.
Jesus não é apenas um homem: é o arquétipo do super-homem, a antecipação do homem do futuro, na revelação mais ampla e profunda das suas potencialidades.
P — Acha, então, que Jesus significa o exemplo do homem novo dos Evangelhos?
- — Sob certo ponto de vista, sim. Ele representa, à luz de um enfoque restritamente parapsicológico, a revelação dos poderes latentes do psiquismo humano.
O médium pode, em termos, ser considerado o homem novo dos Evangelhos, e a paranormalidade a manifestação desses seus poderes e capacidades já em regime de atualização em determinadas pessoas.
- — O que leva você a fazer essa afirmação?
- — Quando Jesus disse que todas as coisas que ele fez, nós também as faríamos e até melhores, estava afirmando o nascimento de uma nova humanidade, onde o que, até então, era considerado -“milagre” passaria a constituir-se uma atividade rotineira do homem comum. Aliás, diga-se, de passagem, Jesus jamais afirmou que os prodígios que realizou eram milagres.
O Natal de Jesus é, pois, simbolicamente, o natal deste homem novo, que, progressivamente, irá substituindo o homem velho ainda agrilhoado às suas milenares limitações biológicas.
- — Allan Kardec afirmou que todas as pessoas são médiuns. O que você pensa sobre isso?
- — Quando Kardec asseverou que todas as pessoas são médiuns, ele estabeleceu uma audaciosa generalização que, hoje, deve ser entendida de uma maneira mais específica. Assim, sob o ponto de vista teórico, todas as pessoas possuem, potencialmente, aptidões paranormais. Porém, na prática, poucas são as que atualizam essas aptidões e podem ser, então, consideradas médiuns. Assim, analogicamente, podemos dizer que, em cada pessoa, existe, em latência, o homem novo dos Evangelhos, mas raras são aquelas em que ele substitui o homem velho que ainda somos.
O médium, porém, não é apenas, como na acepção espírita, o intermediário entre dois universos, entre dois níveis ontológicos, mas também e, principalmente, como tem provado a Parapsicologia, uma pessoa que atualizou uma parcela de suas maravilhosas potencialidades.
O homem do século XX não empreende apenas a conquista do macrocosmo e do microcosmo, como incansável viajante de todos os espaços. Ele busca, também, a aventura do psicocosmo, como colonizador solitário do seu próprio universo interior. Agora, mais do que nunca, o “conhece-te a ti mesmo” renova a sua atualidade e o Natal se faz símbolo e memória da revelação do homem novo.
- — Jesus, portanto, na sua opinião, foi o arauto desse homem novo?
- — E por que não? Ele exibiu, numa espécie de pré-estreia, o que será o homem do futuro. Levitou sobre as águas, multiplicou pães e peixes, curou enfermos, transformou água em vinho, estabeleceu a comunicação entre vivos e mortos quando, na presença de Pedro, Tiago e João, fez aparecer os falecidos Moisés e Elias e, finalmente, para não alongar em demasia os exemplos, apareceu, após a sua morte, diversas vezes aos seus discípulos, investido em um corpo com propriedades diferentes da nossa organização biológica, visto que não era afetado por obstáculos materiais.
Ora, os médiuns também apresentam esses fenómenos realizados por Jesus — levitação, metafanismo, curas paranormais e ideoplastia — e até outros, como, por exemplo, a deformação de metais, não realizados pelo Mestre. Mas, o que há nisso de surpreendente, se foi o próprio Jesus quem afiançou que tudo o que ele fez, nós também o faríamos e até coisas melhores?
- — E qual o papel da Parapsicologia em tudo isso?
- — A Parapsicologia é uma espécie de mãe generosa que adotou todos os fatos enjeitados pelas demais ciências e com eles constituiu uma poderosa família de relações fenomênicas capaz de proporcionar ao cientista, ao filósofo e ao religioso uma nova cosmovisão mais abrangente da realidade.
A Parapsicologia estuda e pesquisa as faculdades deste homem novo, enquanto aguarda que este Natal, restrito apenas e algumas pessoas mais afortunadas, se torne, em breve, o património de toda a humanidade.
Diário de Pernambuco
25 de dezembro de 1982