Em duas salas conjugadas num prédio da rua da Concórdia (n9 772) se estudam os fenómenos paranormais e suas implicações. O ambiente é claro, como o interesse dos 15 sócios do “Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas”, não há mágicas, nem truques na sua metodologia. Predomina o “espírito científico”, frisa sempre seu diretor, o advogado Valter Rosa Borges.
– E o único instituto no Recife a se interessar cientificamente pelos fenômenos paranormais -diz Rosa Borges -. Muitas vezes, quando as pessoas sentem qualquer manifestação desse tipo procuram imediatamente os Centros Espíritas ou templos católicos para aconselhamento e não sabem que esses lugares podem apenas dar-lhes assistência espiritual. O lado científico do fenômeno não é esclarecido, exatamente o trabalho do nosso instituto.
Das muitas pessoas que procuraram a entidade apresentando sintomas de paranormalidade, nada ficou constatado de excepcionalidade nas manifestações, segundo Rosa Borges, “ao contrário, psicoses, neuroses e problemas existenciais foram confundidos com esses fenômenos. Desde 1973, quando o nosso grupo resolveu fundar o Instituto, não descobrimos nenhum fenômeno paranormal nos casos que consultamos.”
Dois testes fazem parte do inquérito inicial para detectar a paranormalidade: “Logo de início fazemos uma entrevista com a pessoa que nos procurou para saber da possibilidade ou não de uma investigação mais profunda sobre o caso. Passada a primeira fase, sem ficar constatado outros tipos de problemas que claramente interfeririam nas manifestações paranormais, damos as condições ambientais e psicológicas para que o fenômeno se manifeste. Para daí vir uma conclusão”.
É médium ou não? Para Valter Rosa Borges o “médium não apresenta características especiais, que o diferenciem das outras pessoas, e, em via de regra, é um ser normal. Alguns parapsicólogos admitem que todo médium é impressionável, o que não importa na recíproca de que toda pessoa impressionável seja médium. Os grandes médiuns são raros. São como os gênios que aparecem, esporadicamente, na história da Humanidade. Por isso Robert Tocquet admitiu que o aparecimento dos grandes médiuns se acha submetido a uma espécie de ritmo, provavelmente suscitado ele próprio por ciclos terrestres e cósmicos”. A ação paranormal, em regra, não resulta da vontade consciente do médium – esclarece Rosa Borges -Na quase totalidade dos casos ele revela uma intencionalidade e uma capacidade operacional além das possibilidades humanas normais.
‘Como ocorre a ação Psi (manifestação do fenômeno), segundo o diretor do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas:
– O agente ou médium pode estar em aparente vigília, sonhando, em transe, em iminente perigo de vida, em extrema debilidade orgânica ou sob indução psicométrica. Acontecendo, na sua maioria, na escuridão, certos fenômenos paranormais se tornam vulneráveis à arguição de fraude.
Porque tanto medo diante dos fenômenos paranormais ou parapsicológicos? Há sobrevivência depois da morte? Já existimos antes de nascer? Há fraude, há mentira, há o desconhecido?…
Para Valter Rosa Borges, não há porque relegar a sobrevivência extracorpórea a uma simples superstição. “O Homem não é apenas uma estrutura biológica, é também uma estrutura mental e não pode ser reduzido a uma simples manifestação fisiológica. O que há é um preconceito quanto à sobrevivência extracorpórea, o medo do desconhecido. Primeiro, quero esgotar as explicações científicas, para me pronunciar sobre a sobrevivência extracorpórea”
DP – E a fraude?
VRB – É o cavalo de batalha daqueles que negam, totalmente, os fenômenos paranormais, ou que apenas admitem os que mais lhes convém e se ajustam melhor aos seus preconceitos filosóficos e/ ou científicos, acrescenta Rosa Borges.
E diz mais: “na verdade, as fraudes são mais alegadas do que provadas. Para os negadores sistemáticos, basta a suposição de que um médium poderia ter escamoteado um determinado fenômeno desta ou daquela maneira, mesmo à míngua do menor indício que autorize tal hipótese, para que a prova da fraude fique indiscutivelmente estabelecida. Não há de negar: médiuns famosos fraudaram. Porém, nem todos fraudaram. E os que fraudaram, nem sempre o fizeram todas as vezes, pois se fraudassem sempre, não seriam médiuns”.
Segundo o estudioso em Parapsicologia, “Ochorowicz já advertia que o inconsciente é amoral e inteiramente fisiológico. Ele obedece às sugestões e ordens recebidas mesmo telepaticamente e se utiliza de todos os meios para lhes dar cumprimento. Tal comportamento do médium, sob a ação do seu inconsciente, é interpretado por pesquisadores neófitos ou inábeis como evidência de fraude. Tinha razão Gustave Geley, quando asseverou que fraude inconsciente não é fraude, pois, em estado de transe, o médium é suscetível de aceder, automaticamente, às sugestões verbais ou mentais dos pesquisadores”.
E cita o caso do conhecidíssimo Uri Geller, médium milionário por suas exibições em todo o mundo:
– Não existem pessoas que ganham dinheiro com seu corpo. Nós não ganhamos dinheiros utilizando nossa mente? Por que Uri Geller não pode comercializar seus dons mentais e paranormais? Existe um preconceito religioso, castigando aqueles que usam esses dons que, segundo os crentes, são dons dados por Deus.
Outro acusador frequente de fraudes dos fenômenos paranormais, diz Rosa Borges, é o padre Quevedo, “que vê essas manifestações com uma ótica cristã radical”.
“Para Quevedo, segundo Rosa Borges, os poderes paranormais seriam resquícios do poder do Homem no Paraíso, antes de sua queda na Terra. O padre, como militante religioso, está apenas querendo combater o espiritismo de uma maneira passional. É uma atitude anticientífica”.
É possível controlar os fenômenos paranormais?
VRB – É um fenômeno espontâneo, mas controlável até certo ponto. Por exemplo, a NASA – Centro de Aeronáutica Americano – utilizou a telepatia nos voos tripulados à Lua. O médium aprende a usar sua “energia” na medida em que se conscientiza da sua força mental. O que falta ainda é que esses fenômenos sejam estudados nas escolas de Medicina e Psicologia, para situar os futuros psiquiatras e psicólogos dentro do universo da paranormalidade para não acontecer, como acontece agora, um total desconhecimento das manifestações paranormais, atribuindo sempre a problemas meramente psicológicos e não parapsicológicos.
DP – Você disso antes que os fenômenos paranormais sugerem fortemente a sobrevivência extracorpórea. Por que não nos lembramos de existências anteriores à nossa admitindo-se a pré e pós existência?
VRB – Há uma separação entre a mente e o cérebro. Temos uma memória extracerebral que funciona como arquivo, mas sabe-se que a nossa memória é seletiva e só os fatos marcantes, com utilidade presente, ficam em nível consciente. Daí as pessoas normais não terem consciência desses dados. Na criança, que pelo menos até aos sete anos vive mais fechada para o mundo, sem influências externas, pode acontecer fenômenos paranormais com mais frequência. Mas geralmente, quando isso acontece, ela é levada ao ridículo, em uma família católica, ou estimulada a fabulações de ordem mediúnicas – em uma família espírita. Nos dois casos são atitudes antagônicas e difíceis de estudar.
Valter Rosa Borges finaliza: “A Parapsicologia é uma nova abertura para o entendimento da realidade do Homem”.
Valter Rosa Borges se interessou pelos fenômenos paranormais ao ler o livro “Parnaso do Além-Túmulo” do médium Chico Xavier, aos 20 anos de idade. Hoje, aos 44 já leu todas as obras referentes ao assunto em português e boa parte em espanhol. Autor do livro “Introdução ao Paranormal” é também diretor do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas.
Diário de Pernambuco
30 de outubro de 1977