Manuela Cysneiros
Você acredita que alguém possa adivinhar os pensamentos e desejos de outra pessoa? Ou que consiga prever fatos que acontecerão no futuro? Se você acha que isso é possível, a dúvida agora é como, de que maneira estes fenômenos paranormais acontecem. Esta e uma outra polêmica, na qual a ocorrência da paranormalidade se divide em explicações bastante diversas, que vão da religião à ciência. Enquanto a religião e a Parapsicologia tentam explica-los, a ciência o renega.
Para o espiritismo, poderes paranormais são conferidos às pessoas chamadas de médiuns, que nascem com uma pré-disposição orgânica para comunicar-se com os espíritos e intermediar tais fenômenos. Os fenômenos espirituais ou mediúnicos, que têm a interferência externa de uma entidade desencarnada, ou seja, de um espírito, podem ser de efeitos físicos – os barulhos de passos, pancadas ou móveis sendo arrastados – e de comunicações inteligentes – a visualização de espíritos e a comunicação oral e escrita através de um médium.
Tentando realizar um intercâmbio com o mundo espiritual, grupos de espíritas estão se mobilizando para montar um laboratório de transcomunicação instrumental no Estado, especializado na captação de mensagens espíritas feitas por meio de elementos eletrônicos. Com isso, imagens e vozes de espíritos poderiam ser captadas através de gravadores, aparelhos de TV etc. Durante o Seminário Espírita de Transcomunicação Instrumental, realizado semana passada em, Olinda, os pesquisadores Eduardo Barros e Elder Vasconcelos apresentaram imagens espíritas e vozes paranormais comprovadas por técnicos da Universidade de São Paulo.
Já segundo o candomblé, a premonição e a telepatia podem existir através dos búzios. A mãe de santo Valência Silveira explica que, ao jogar os búzios, os orixás (seres encantados da natureza) revelariam fatos que estão acontecendo ou que estão para acontecer. “Os búzios são muito diretos. Não existe meio-termo”.
Acreditar em fenômenos paranormais, no entanto, não é singularidade das religiões. Prova disso são os estudos da Parapsicologia, ramo da Psicologia, que pesquisa os fenômenos incomuns da mente humana. A Igreja Católica, inclusive, pega carona na explicação utilizada pela Parapsicologia, que atribui os fenômenos paranormais a aptidões presentes na mente do indivíduo.
Para o parapsicólogo Válter da Rosa Borges, os paranormais, que já nascem com estes poderes, estão passíveis de sofrerem alucinações visuais e auditivas. E a causa destes fenômenos seria suas próprias mentes. “Não é espírito, nem orixá, nem satanás. É o homem que produz esses fenômenos independente de sua crença”.
Para a Parapsicologia, os fenômenos podem ser classificados como de percepção sensorial, quando envolve somente o trabalho das mentes (como a telepatia, a precognição e a clarividência) ou de ação da mente sobre a matéria. É o caso dos objetos que se movem e que pegam fogo espontaneamente e dos talheres e moedas que são entortados pela força do pensamento, assim como faz o polêmico paranormal brasileiro Thomaz Green Morton.
Válter da Rosa Borges ressalta que fenômenos paranormais como a telepatia já são bastante comuns. Certamente você já deve ter tido durante sua vida algum tipo de pressentimento, que é a forma mais comum de telepatia. Estatísticas sobre o assunto, entretanto, são inexistentes, já que os fenômenos são espontâneos e não há controle absoluto sobre eles. “Por isso que não existe cabimento em um mágico propor desafios aos paranormais, oferecendo dinheiro a quem demonstrar um fenômeno com dia e hora marcada, afirmou.
Qualquer que seja sua natureza, esses poderes incomuns não estão livres do ceticismo. Para o professor de Física da UFPE Giovani Vasconcelos, fenômenos paranormais não existem e nunca poderão ser encarados à luz da ciência, já que a paranormalidade não é passível de investigação e comprovação. “Aqueles que querem dar credibilidade às suas crenças, apresentando-as como ciência, estão fazendo um mau uso da ciência. A Parapsicologia é uma prática de semi-religiosidade”, declarou.
Poltergeist, a Soma de Todos os Sintomas
Vidros que se quebram, colchões que pegam fogo, objetos que voam e móveis que se arrastam, tudo sem uma razão aparente. Não, a causa destes acontecimentos não é assombração, e sim a psicocinesia espontânea recorrente, segundo a Parapsicologia. Se este não lhe é um termo muito familiar, talvez um outro nome possa fazer mais sentido: Poltergeist. A palavre que já foi emprestada para denominar uma trilogia do cinema americano (Poltergeist – O Fenômeno, Poltergeist II e Poltergeist III) é, na verdade, a soma de diversos fenômenos paranormais.
Conforme explicou o parapsicólogo Renato Barros, o fenômeno pode ser desencadeado quando um pré-adolescente com forte grau de paranormalidade sofre fortes emoções. E as ocorrências nem são tão raras assim. O parapsicólogo Válter da Rosa Borges já presenciou mais de 20 casos de Poltergeist no Recife. Um caso recente chegou a motivar a publicação do livro O Poltergeist de Beberibe, no ano de 2000. A causadora do fenômeno foi a garota L. N., de 15 anos, que tinha terminado um relacionamento amoroso e estava enfrentando conflitos familiares e perdas recentes na família. Durante um mês, pratos voaram, o teto foi destelhado, chuvas de pedra caíram sobre a residência e roupas, sofá e colchões foram incendiados.
De acordo com o vigário paroquial de Nossa Senhora de Boa Viagem, padre José Albérico Bezerra de Almeida, o catolicismo não encara mais esta situação como uma possessão demoníaca. “Hoje, a Igreja Católica ouve a Parapsicologia. Se a ciência não tiver mais nada a dizer é que consideraríamos a hipótese de exorcismo, mas isso é muito raro”, afirmou.
O presidente da Associação dos Divulgadores do Espiritismo, Carlos Pereira, explicou que, para o Espiritismo, o Poltergeist pode ter explicação anímica (causada pela mente de uma pessoa) ou mediúnica, produzidos por espíritos perturbados. Eles poderiam estar apenas querendo se divertir, ter morado na residência enquanto vivos e não quererem sair de lá ou até não terem tomado conhecimento que já desencarnaram, como no filme O Sexto Sentido. Para resolver o problema, um médium teria de fazer uma desobsessão na casa.
Instituto Testa Pré-Disposição
Se você acha que possui alguma aptidão paranormal, como uma forte intuição, por exemplo, pode certificar-se de sua paranormalidade no Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (IPPP). O instituto, fundado em 1973 pelo parapsicólogo Válter da Rosa Borges, além de oferecer cursos de Parapsicologia, realiza atendimento gratuito aos sábados.
Chegando ao IPPP, o visitante será entrevistado. “Muita gente reclama de calafrios, tonturas e visões, por isso, temos que detectar se o distúrbio é de ordem parapsicológica ou emocional. Muitas vezes encaminhamos a pessoa a um psicólogo”, diz Válter.
O próximo passo é um teste com o baralho Zener, constituído de 25 cartas e cinco símbolos. Este exercício serve para testar se a pessoa consegue interagir com a mente de uma outra, adivinhando qual o símbolo existente na carta que o pesquisador escolheu. Das 25 tentativas, até 5 é acaso.
No teste do duplo-cego o pesquisado tenta adivinhar o conteúdo de um envelope fechado.
SERVIÇO
Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas.
Endereço: Av. do Forte, 444. Cordeiro.
Telefone: 3441-2969.
FOLHA DE PERNAMBUCO
01/02/2004