O IPPP é afiliado à The Parapsychological Association

Previsões são improváveis

Borra de café e lógica

Andressa Anholete

 

Nascida na antiga Iugoslávia, a vidente Lidija Milovic, aprendeu a técnica da cafeomancia com a mãe. Hoje, chega a atender 12 clientes por dia, no Café da Linda, na 409 Norte. O preço da consulta é R$ 30. Linda prepara um café turco, que o cliente deve tomar lentamente. Em seguida, faz movimentos circulares com a xícara e a coloca de cabeça para baixo no pires. “São cores, movimentos, imagens, letras e energia que podem ser percebidos. Não é uma ciência, é pura lógica”, diz.

Dona Dayane cobra um pouco mais caro pela consulta. A mulher alta, traços fortes, atende em sua casa, na Asa Sul. É num quarto apertado, escuro e incensado, que o cliente é recebido. No centro da mesa, um tabuleiro com búzios já lançados. O diagnóstico vem rápido: “Vejo que está carregado. Tem dificuldades em tudo o que faz.” Dona Dayane pede que o cliente vá até o supermercado e compre quatro velas de sete dias, e dois pacotes de velas normais. “Serve como uma bênção, mas é preciso desfazer a macumba que foi feita”, continua. Para tanto, é necessário um trabalho com uma vela de um metro e meio de altura, que custa R$ 200. “Estou cobrando só o material.”

Em entrevista ao Jornal de Brasília, padre Quevedo, fundador do Centro Latino Americano de Parapsicologia (Clap) e estudioso dos fenômenos paranormais, disse considerar improváveis as previsões para o futuro. “Os fenômenos parapsicológicos existem, mas está demonstrado que são casos espontâneos, incontroláveis e perigosos”. Ninguém domina fenômeno parapsicológico, nem o mais frequente, que é a adivinhação.”

“Quem faz isso ou é louco, ou é sem vergonha. Em grande parte dos casos, sabem que estão enganando, fazem truques, falam generalidades, usam da intuição e de sugestões para impressionar. São espertalhões, com culpa ou sem culpa”, continua padre Quevedo, que aponta um perigo resultante desse tipo de previsão. “A pessoa pode não lutar para vencer as previsões, modificá-las. Ou ainda quando a pessoa acredita que foi vítima de feitiços, e não tem forças para lutar”, completa.

O parapsicólogo Valter da Rosa Borges, do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (IPPP), reforça a avaliação de padre Quevedo. “Búzios, tarô, borra de café, constituem meros indutores que levam o ‘vidente’ a um estado alterado de consciência, no qual ele, dizendo-se assistido por seres espirituais, ou utilizando os seus recursos divinatórios, faz previsões sobre o futuro dos seus consulentes, quase sempre errôneas ou simplesmente óbvias. Não há nenhuma técnica para se adivinhar o futuro. É simples questão de sorte.”

“Quem consulta adivinhos, geralmente acredita que eles são capazes de adivinhar o seu futuro. E fornece pistas sobre o que deseja, deixando-se levar pela astúcia e manipulação deles”, diz Rosa Borges, acrescentando que os temas das consultas são sempre os mesmos. “Mulheres que querem saber se os maridos as estão traindo, homens cujos negócios não estão indo bem e outros tipos de problemas que os adivinhos conhecem muito bem, já que são rotineiros, e sempre dão soluções que agradam seus clientes. Quem está de bem com a vida, pensa racionalmente, não consulta videntes.”

 

JORNAL DE BRASÍLIA – 1

10 de julho de 2010′

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