FENÔMENO
A morte do diplomata brasileiro, Sérgio Vieira de Mello, no Iraque, reacendeu o questionamento sobre a possibilidade de se prever o futuro. E alimentou ainda mais a discussão levada ao ar pela novela Mulheres Apaixonadas, em que a garota Salete previu o fim trágico da mãe, Fernanda. Na vida real, a mãe de Mello revelara, antes do atentado, ter sofrido com maus pressentimentos. As duas tragédias, fictícia ou real, geraram polêmicas e dividiram opiniões. Mas muitos dizem não ter como negar a existência do fenômeno – chamado de premonição por alguns e intuição ou pressentimento por outros.
Para a auxiliar de enfermagem Magna Maria Souza, 31 anos, a denominação pouco importa. A experiência fala por si. Em poucos minutos de conversa, ela é capaz de enumerar quase uma dezena de acontecimentos que ocorreram na sua vida. Numa delas, em forma de sonho, a avó pedia a dois de seus filhos – um era o pai de Magna, Luiz Antônio, e outro um tio, José Antônio – que a ajudasse. Ao acordar no dia seguinte, a auxiliar de enfermagem contou o caso ao pai, que soube que a mãe adoecera ao se encontrar com irmão. Detalhe: uma distância superior a 500 quilômetros separava Magna da avó.
De acordo com o parapsicólogo Valter da Rosa Borges, a maioria das experiências de precognição – nome científico de premonição – é explicável pela telepatia. “Geralmente está relacionada a casos traumáticos, mas também a momentos felizes”, assegurou. Mas, segundo ele, nem todos os casos possuem explicação e o ser humano precisa ser humilde para entender isso. “A ciência é conhecimento provisório. O que admite-se hoje como verdade pode ser derrubado amanhã”, pontuou.
Rosa Borges destaca que a Parapsicologia não questiona se o futuro é predeterminado e sim como um elenco de probabilidades. No caso do diplomata, acredita ele, a mãe sabia dos riscos enfrentados pelo filho ao ser enviado ao Iraque, o que certamente contribuía para ela interagir telepaticamente com outras pessoas. “Grande parte das premonições ocorrem entre pessoas com relações afetivas fortes”, justificou. Quanto a isso, o diretor de Assistência Espiritual da Federação Espírita Pernambucana, João Brito, concorda. Mas a sua explicação é bem diferente para as premonições. “Tais fenômenos se baseiam na mediunidade”, afirma, explicando que eles ocorrem porque os períspiritos – também conhecido como corpo espiritual ou astral – das pessoas se comunicam mesmo com o corpo físico distante. Em momentos difíceis, defendeu Brito, espíritos amigos também ajudam.
O bispo auxiliar da Igreja Anglicana, no Recife, dom Filadelfo Oliveira Neto, reconhece que tais pressentimentos existem. “São mistérios da relação humana, que ainda não compreendemos”. O religioso alerta, entretanto, ser necessário não confundir esses fatos com adivinhações, que são condenadas pela Bíblia. As críticas aos adivinhos, exemplificou, estão em vários livros sagrados.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO.
24 de agosto de 2003